– Adivinha! – falou Peter.
Edmund, tranquilamente sentado na grama, desviou os olhos do livro e franziu o cenho para observar o amigo bloqueando a luz do sol.
– Finalmente tomaste coragem e pediste a srta. Bentley em casamento!
Peter bufou.
– Para de me pressionar, sabes que quero ter certeza de seus sentimentos antes de pedir...
– Ainda? O que mais ela pode fazer? Escrever "Eu amo Peter Langley" na testa?
Peter revirou os olhos.
– Chega, não?
– Diz logo o que é tão importante a ponto de interromper minha leitura.
Peter observou-o pôr o livro de lado e então falou:
– Já leste os jornais hoje?
Edmund respondeu que não e Peter começou a ler o jornal que levara consigo:
– Jude Hartford, o autor que, ultimamente, desrespeitou todos os valores morais possíveis e a própria instituição sagrada da família, – ele parou para revirar o
Jane adentrou a sala como um animalzinho inocente e assustado. Havia cerca de três semanas desde que ela se mudara com a irmã para a casa dos Bentley e ela não estivera no escritório do sr. Harvey sequer uma vez. De fato, ela evitara sair da casa durante todo aquele período e não lera nenhum jornal.Ela bem dissera ao pai, pouco antes de ir embora, que ela não iria se desculpar por quem era, mas a verdade era que, agora, este pensamento só lhe trazia vergonha. A mera ideia de sair e enfrentar a todos era completamente perturbadora e ela achou melhor pedir à Ge e Eleanor que não mencionassem o nome "Jude" por um tempo.Jude era corajosa, destemida na busca por seus sonhos apesar de todas as desvantagens, e Jane não se sentia nem um pouco como Jude agora.Enquanto ela não se julgasse digna de carregar o nome Jude Hartford junto de sua verdadeira identidade, não queria ouvir o
Poderia ter sido uma completa coincidência, mas a verdade é que Jane escolheu alugar aquele apartamento justamente porque percebeu que ele ficava perto de um endereço que ela estivera morrendo de vontade de visitar. Entre as muitas cartas de agradecimento que o sr. Harvey lera para ela um mês antes, uma continha um convite e ela não conseguira pensar em outra coisa desde então. Ela poderia, é claro, ter visitado a autora da carta, sra. Brown, e perguntado sobre o Chá das Damas, mas ela estava nervosa demais para isso. Jane pensava que a sra. Brown e as outras moças provavelmente tinham altas expectativas, que esperavam pela obstinada Jude, e por isso temia que se decepcionassem com sua personalidade pouco chamativa. Jude era como fogo nas páginas, mas Jane era frágil na vida real; não podia ser a heroína de alguém. Não fosse pelo acordo que fizera com Georgie, ela provavelmente demoraria uma eternidade para ir até lá ou talvez nem fosse. As irmãs deci
Ge insistiu em preparar o chá. Ela se sentia culpada porque Jane estava pagando por tudo, então ajudava com todo o resto, sem contar que ela realmente queria encontrar uma nova distração agora que não tinha mais acesso diário à biblioteca do sr. Bentley. Para a sorte dela, a maior das distrações decidiu fazer uma visita às irmãs Hartford naquele dia e estava sentada na pequena sala de estar aparentando desconforto e preocupação. –Eu ia te contar, mamãe–explicou Jane enquanto pegava uma xícara da bandeja.–Eu só queria esperar até que estivéssemos devidamente acomodadas. Lady Hartford entortou os lábios. –Claro que ia–disse sarcasticamente.–Como se eu não a conhecesse desde que era nascida... Jane franziu o cenho tristemente. –Eu ia, sim...–murmurou. Lady Hartford agradeceu à Georgie pelo chá e voltou-se para Jane novamente: –Aquele homem baixinho
–Está bem, Tom, mas eurealmentepreciso ir? Ele tirou os óculos, esfregou os olhos, massageou as têmporase disse-lhe que sim pela terceira vez. Houve um momento de silêncio enquanto Jane percebia que ele estava falando sério, então ela revirou os olhos impacientemente. –Estás lembrada de que o dono do teatro está financiando teu livro, certo?–ele perguntou.–Tutensque ir. E é melhor que leves alguns amigos porque há seis ingressos! –Seis? – ela ergueu as sobrancelhas. – O que o faz pensar que eu sequertenhocinco amigos para convidar? Tom franziu o cenho. Escritores eram, geralmente, bastante dramáticos, mas Jane conseguia levar as coisas a um outro nível. –Está bem!–ela disse, devolvendo-lhe dois ingressos.–Aqui um para ti e outro para tua esposa. –Jane, por Deus!–ele bateu
Não havia passado nem vinte minutos desde a chegada delas no teatro e Ge já estava ameaçando Jane de assassinato. –Eu não o convidei, Georgie. Eu juro! Os lábios de Ge se contorceram em descrença. Jane era uma boa mentirosa, mas era coincidência demais; não havia como convencê-la desta vez. –Chega, Jane. Eu sei que sim. Bem, de qualquer forma, não importa. Eu disse que jamais falaria com ele novamente e pretendo permanecer firme nesta decisão. Jane franziu o cenho. –Então, se o sr. Dawson vier até nós, tu vais simplesmente correr e se esconder? Ge sorriu de maneira irônica. –Precisamente. –Então vais simplesmente me largar aqui sozinha? Tu sabes que preciso ficar aqui no salão por ao menos um tempinho... –Ora, por favor, não sejas tão dramática! Teus amigos chegarão em breve, se alguém ficará sozinha esta noite, este alguém sou eu. Aliás, acho que irei procurar meu ass
Devia ser mesmo coisa do destino. Quais eram as chances de ver o homem sobre o qual ela estava escrevendo há poucos instantes passar pela janela da Casa de Chá no exato momento em que ela levantara a cabeça para olhar através dela? Ela até tentou, por alguns segundos, dizer a si mesma que ele parecia estar com pressa, mas a vozinha em sua mente dizendo que aquilo não podia ser coincidência logo a convenceu a ir atrás dele e então ela correu pela rua movimentada até alcançá-lo. –Edmund! Ele deu a volta e sorriu ao vê-la. –Que bom encontrá-lo, quanto tempo...–disse ela, imediatamente se arrependendo, pois não havia tanto tempo assim. –Sim, que bom! Nossa... Não a vejo desde a peça e, bem, pensei que a veria com mais frequência agora que tua amiga está noiva do meu amigo. Infelizmente, continua sendo só o casal e eu... a dois metros de distância deles–ele deu de ombros, fazendo-a dar uma risadinha. – 
Ed estava verdadeiramente agradecido pela oportunidade que Jane havia proporcionado a ele. Lord Hartford estava ensinando-lhe coisas que ele jamais aspirara aprender e era claramente um privilégio compartilhar de seu conhecimento. As aulas aconteciam na mansão Bridgewood e era realmente difícil para ele olhar a pintura de Jane no corredor que levava ao escritório e não desejar que pudesse mencioná-la. Ou quando conversava com a sorridente Lady Hartford, cuja bondade lembrava-o tanto dela. Ou mesmo quando via o pequeno Charles correndo pelos jardins com a mesma energia que ela possuía sempre que tinha uma pena na mão direita. Ele queria falar com Lord Hartford sobre ela, queria consertar as coisas como uma maneira apropriada de agradecer a ela por tudo que havia feito por ele, mas sempre que sugeria isto, ela o interrompia. Jane achava que o pai ficaria furioso a ponto de pôr um fim na pupilagem de Edmund. Não valeria à pena. Ed tinha a chance de estar em uma
No começo, Jane pensou que Arthur estivera exagerando, mas a casa dos Bentley realmente estava um pandemônio. Aparentemente, quase todas as pessoas que já haviam comparecido aos jantares estava lá e cada uma delas tinha uma opinião diferente de como deveriam prosseguir no momento de crise. Alguns argumentavam que este era um momento para se ter paciência, para observar cuidadosamente os passos dos adversários e se preparar para retaliação. Outros acreditavam que esperar era muito perigoso e que esta era a única chance que teriam de revidar. Peter Langley estava entre os últimos e acreditava firmemente que todos estariam condenados se não agissem imediatamente, mas Thomas Harvey discordava. –Pensa bem–Tom tentou explicar mais uma vez.–Isto é exatamente o que eles querem. O povo está tomado pelo medo. Por mais que esse governo seja instável, ninguém quer voltar para a instabilidade que imperava durante o fim da Monarquia. Não tería