Rowan Allers mantinha um ritual em sua vida; todas as sextas-feiras ele colocava flores no túmulo da irmã. Ursulla as adorava enquanto viva, e ele queria que o lugar onde ela repousaria por toda a eternidade ficasse sempre belo, com um aspecto de vida e não de morte. Aquele era um compromisso que não deixara de cumprir desde que ela se fora, sete meses atrás.
Ainda sofria com a morte prematura da única irmã. Apesar de serem de sexos diferentes e terem gostos e formas de pensar distintos, eram amigos inseparáveis. Sentia falta de chegar tarde do trabalho e ver que ela o estava esperando na sala, para falar sobre seu dia ou sobre um novo namorado. Sempre foram assim desde crianças e ainda seriam se ela não tivesse morrido.
Nunca encontrara ninguém ali e, por serem
Faith passou a noite inteira pesquisando coisas sobre Ursulla Allers na internet e acabou dormindo com a cabeça debruçada sobre a mesa, mal percebendo a hora passar enquanto lia sobre a jovem. Alguns jornais mencionavam coisas sobre sua vida e concordavam que era uma boa moça, de uma família bastante proeminente. Ao ler tudo aquilo, Faith agradecia por não ser uma pessoa interessante para a mídia. Exatamente como Rowan dissera, eles transformaram toda a história em um circo e conseguiram perturbar uma alma que precisava de descanso. Acordara, portanto, com o telefone tocando ao seu lado, fazendo um barulho mais estridente do que o normal. Estava exausta e teria amaldiçoado quem ligava se não fosse Tatianna do outro lado da linha. — Prima? — Tatianna chamou, perceb
Voltou para casa com o céu já escuro e se deu conta de que nem percebera o tempo passando tão rápido. Era bom desligar-se do mundo por um tempo, deixando de se preocupar com todas as coisas que a afligiam. Costumava ser assim antigamente, quando tinha uma vida mais simples, sem complicações, cheia de sorrisos e notícias boas, vivendo apenas cercada por suas flores e pelas pessoas que amava. Não se dera conta do quanto aquelas coisas faziam falta até se sentir tão bem na companhia de amigos tão queridos. Porém, não contava em sair da casa dos Ruther e perder todo aquele clima de felicidade que reconquistara depois de tanto tempo. Assustou-se, portanto, quando chegou em casa e viu a irmã com uma expressão muito estranha, sentada à sua porta. Correu para ela, rezando para que não fosse nada grave
Depois que Cailey foi embora bem cedo no domingo, Faith ficou muito ansiosa, esperando pelo contato de Steve. Pelo menos com a irmã ali, ela se sentira distraída e se esquecera um pouco do caso. Mas ao se ver sozinha, não conseguia parar de pensar no rosto bonito de Rowan, tão cheio de dor e sofrimento. Queria ajudar. Claro que ele não era o único motivo pelo qual desejava descobrir alguma coisa. Era principalmente por causa do resto da família da moça e pela estranha ligação que sentira com ela. Nunca tivera uma “visão” com alguém que não conhecia e, por esse motivo, não poderia ter sido em vão. Porém, acabou passando o dia inteiro sem resposta e foi somente na segunda-feira que recebeu qualquer notícia de Steve. Ele apareceu em sua estufa bem cedo, com duas pastas nas mãos. Com certeza tivera um imenso trabalho para juntar todas aquelas informa&
A semana passou depressa, e ainda era bem cedo quando Faith despertou. Ela estava começando a tomar seu café-da-manhã, quando sentiu aquele odor especial do Amaranto e, outra vez, viu a imagem da sepultura de Ursulla Allers. Era mais um sinal de que havia mesmo alguma ligação entre elas. E não apenas isso, era como se suas flores quisessem que ela se intrometesse na história, que ajudasse a família Allers em sua dificuldade. Era como se precisasse fazer tudo aquilo por ela mesma, por algum motivo... Tentou encontrar uma maneira de conciliar sua sexta-feira de trabalho com uma breve ida ao cemitério; para isso, chamou Thomas e ofereceu-lhe dinheiro para que ele cuidasse da floricultura por algumas horas. Ele era um pouco atrapalhado, mas nada que pudesse lhe prejudicar. Assim
Faith passou o dia inteiro ansiosa para que aquela noite chegasse. Trabalhou, olhando a todo o momento para o relógio, contando os minutos, jurando que sua ansiedade não tinha nada a ver com o fato de que veria Rowan. E ele chegou tão pontualmente que ela mal acreditou. Ficou observando-o enquanto ele saltava de seu belo carro preto, em seu terno elegante, o mesmo que usara naquela manhã. Com certeza nem tivera tempo de passar em casa, mas quando se aproximou, Faith reparou que ele ainda estava muito cheiroso, com um leve aroma de madeira de algum perfume caro. Assim que ele pisou na floricultura, teve a estranha sensação de estar entrando em um lugar mágico. Era como se todas aquelas flores conversassem entre si e lhe desejassem boas vindas. Faith se encaixava perfeitamente naquele lugar,
Uma das primeiras coisas que Faith fez no dia seguinte foi tirar cópias dos relatórios policiais dos casos de assassinato de Ursulla e Trudy e mandou-os para Rowan por intermédio de Thomas. A princípio sua ideia era levar as pastas até ele, mas desistiu e pediu para o rapazinho fazê-lo, não querendo que ele pensasse que estava se oferecendo. Em seu íntimo queria vê-lo, mas seria melhor se o evitasse o máximo possível, pois a tentação era grande demais. Focou então em seu trabalho, tentando esquecer a noite anterior. Pelo menos seu dia estava cheio; precisava preparar uma decoração para uma festa de debutante e uma entrega de um enorme buquê de Camélias para um de seus fregueses mais especiais. Todos os meses ele mandava flores para a esposa, e Faith recordava-se exatamente do primeiro dia
Faith estava emocionada. Não tivera a chance de ser mãe, pois a oportunidade lhe fora roubada naquele acidente, mas adoraria receber uma mensagem como aquela de um filho algum dia. Era impressionante que Cailey tivesse escrito aquilo em tão pouco tempo e parecesse estar dando tão pouco valor a tão belas palavras. Ela realmente não reconhecia seu próprio dom. Era como se tivesse vergonha de suas habilidades como escritora, e sua intenção fosse apenas usá-las como um desabafo. Seus textos não mereciam ficar trancados dentro de uma gaveta. Mereciam ser lidos, compartilhados. — Está maravilhoso! — foi tudo que ela conseguiu dizer. — Tem certeza? Posso fazer melhor... — Cailey insistia naquela modéstia desnecessária.<
Horas depois, pouco antes do nascer do sol, alguns policiais se reuniam em torno de um corpo. A vítima era uma jovem mulher de aproximadamente trinta anos; loira, magra, de compleição frágil e bonita, apesar do rosto estar bastante desfigurado. Ela fora apunhalada várias vezes, e seu cadáver boiava dentro de um rio quando foi encontrada. Dois policiais locais responderam primeiro ao chamado por estarem nas redondezas, mas ao verem as circunstâncias da morte, Jayce Hernandez e Debra Winney foram convocados. Ambos observaram a cena com cuidado e avaliaram o corpo superficialmente. Apenas um exame mais detalhado lhes traria pistas concretas, mas de cara, ambos repararam que o belo anel de noivado em seu dedo parecia muito recente, não havia sequer deixado uma marca no dedo da moça.&nbs