A segunda chegou arrastada e carregada de apreensão e incertezas. A venda da Parilla poderia mudar tudo. Estava me agarrando a ideia de que quem quer que fosse o comprador, seguiria com os negócios da empresa e não mudaria muito as coisas por aqui.
Tentando ser otimista, respirei fundo, segurando com força a bolsa em meu ombro quando Samuca me deixou na porta de entrada da Revista e eu me apressei em ultrapassá-la, espantando qualquer pensamento que pudesse me acovardar. Nada parecia estar fora do lugar, mas a apreensão era nítida no rosto de todos os funcionários.
No decorrer do dia, terminei o meu material e encaminhei-o para Verônica.
Lorena atravessou a porta da minha sala como um furação e soltou a revista do mês sobre minha mesa. Ergui o olhar devagar da mão dela para o rosto e encarei-a com estranheza, sem entender o motivo do alvoroço.
— Olha! — Apontou com a unha longa, recém-feita, do dedo indicador, sem ao menos esperar que perguntasse o que estava acontecendo.
Dei de ombros ainda sem entender, abaixando o olhar para onde ela estava apontando na revista aberta.
— Verônica é o cacete. O seu nome deveria estar aqui!
Suspirei no momento em que entendi o que estava acontecendo. Abaixei os óculos e arrastei a cadeira um pouco mais para trás.
— Mas Lor... — tentei dizer, porém ela me cortou antes mesmo do meu pronunciamento.
— “Mas Lor” — rebateu com impaciência, me imitando com uma careta e uma voz infantil — eu vi quando você escreveu esse artigo, até de madrugada. — ela fez questão de ressaltar — Por que você está deixando que ela leve todo mérito pelo seu trabalho?
Encolhi-me entre os ombros em resposta.
Não podia fazer nada além de observar e continuar o trabalho.
— Eu também não gosto da ideia, mas ela pode me demitir. — Ela arqueou a sobrancelha em resposta a minha justificativa, desprezando o meu argumento ao franzir o cenho e balançar a cabeça — Eu preciso do emprego, poxa! — Reforcei, deixando transparecer a minha frustração também. — Lembra o que aconteceu com a Najolin?
— A Najolin não se sujeitou a isso... — Lor pontuou, sentando-se na ponta da mesa.
— Por isso ela foi demitida. — Evidenciei.
— Você é uma boa funcionária, Nina. Trabalha demais, reclama de menos. É responsável, comprometida. Com certeza merece mais do que isso...
Lorena abaixou a guarda, esboçando piedade ao coçar o cabelo curto, com as pontas cacheadas, virando-se e ficando de costas para mim por alguns segundos.
— Você encontraria coisa melhor fora daqui. — Respondeu, virando-se outra vez para mim.
O salário que eles me pagam aqui é bem maior do que o que as outras me pagariam enquanto estagiária. Sem deixar de mencionar que eu não tenho como comprovar a minha experiência, ainda mais agora que outra pessoa estava assinando pelas minhas matérias. Eu não podia correr esse risco, precisava juntar dinheiro para pagar o financiamento estudantil e meus gastos mensais fixos.
— Eu não posso fazer isso agora. — disse, puxando a revista, olhando a matéria com admiração.
“Toda mulher é forte”, esse era o título.
— Ficou muito bom, não ficou? — Perguntei com nítido orgulho de cada palavra que havia escolhido.
— Você não tem jeito, Nina... — comentou num tom recriminativo ao balançar a cabeça — eu vou voltar pra minha mesa. — disse, abrindo a porta. — Se essa maluca voltar... — A voz dela foi abafada pela porta que se fechou atrás de si.
Lorena era a secretária da Verônica e tanto ela quanto eu sabíamos que a megera era bastante trapaceira, aproveitadora e muito vingativa. Sendo assim, eu não tinha a menor intenção de entrar na lista negra dela, já que ela, ainda por cima, era a minha chefe.
No final do expediente, arrumei a minha bolsa, seguindo para o elevador e encontrei Fernanda descendo para o térreo também.
— Disseram que vai ter um coquetel agora. — Fê comentou enquanto procurava o telefone dentro da bolsa. — Provavelmente para esclarecer toda essa a situação... — deduziu, franzindo os lábios, olhando para a tela do celular.
O tilintar do elevador soou e a porta metálica se abriu de frente para a recepção do prédio da Revista e um garçom passou por nós com uma bandeja servida de taças de espumante.
Champanhe. Olhei para Fê por um instante, esperando a reação dela e franzi o cenho em estranheza, mas capturei uma taça da bandeja, bebericando-a.
— Você conseguiu descobrir alguma coisa? — Inquiri à Fê, deixando a ansiedade transbordar sobre as palavras.
Ela balançou a cabeça em resposta antes de se pronunciar.
— Ninguém está sabendo de nada. — Complementou.
Observei o salão encher, em silêncio, e quando o garçom passou outra vez, peguei mais uma taça de champanhe, devolvendo a que estava em minha mão à bandeja.
Definitivamente eu não sabia esperar.
A Mari e a Lorena se aproximaram da gente.
— Mais alguém tá à beira de ter um troço? —Mari perguntou de braços cruzados e angustiada.
Eram cinco e quarenta e todos os funcionários já estavam no salão. As pessoas conversavam entre si, provavelmente especulavam o que estava prestes a acontecer. A notícia se espalhou por toda a cidade e ficava difícil conter os pensamentos. Era uma revista internacional e a bomba tinha sido jogada na mídia, a angústia sobre o futuro pairava sobre a cabeça de todos.
— Espero que o novo dono seja bem melhor do que os antigos... — Lor comentou, por cima da taça de cristal.
— Eu não sei, não... — contra argumente, passando o cabelo para trás da orelha. — A Revista é uma herança da família dos Parilla e os filhos assumiriam a quarta geração. Se eu fosse a falecida, estaria me revirando no túmulo.
Ergui o meu olhar quando de repente um movimentar de pessoas e alguns seguranças chamaram a minha atenção ao avançarem pelo rool do prédio.
— Gente, olha.... —Fê indicou num sussurro agitado, cutucando o meu braço e apontando com o nariz para um homem de cabelos pretos bem cortados que começou a cumprimentar algumas pessoas de costas para a gente, e eu prendi o olhar descaradamente nele.
O advogado moreno que estava na televisão passou por entre as pessoas, acompanhando o homem que esbanjava comprimentos, a figura da Carolina se fez presente ao lado deles por todo o tempo. No entanto, no momento em que o homem de cabelos escuros recém-cortados e terno bem feito, até eu diria que sob medida se virou para cumprimentar, apertando a mão do grupo administrativo que estava no meio do rool, o meu coração parou, e eu quase tive um enfarto ao me deparar com os olhos azuis turquesa, que mais pareciam um céu limpo de manhã ensolarada das quis lutara por anos para esquecer.
Isso não podia, de forma alguma, estar acontecendo.
Só podia ser um pesadelo.
Pisquei algumas vezes seguidas, baixando o olhar para a taça de champanhe em minha mão e imaginei ter bebido demais, porque o chão começou a se tornar movediço sob os meus pés e precisei levar a mão ao peito, deixando escapar um resmungo arrastado de dor. Foi possível sentir o sangue do se esvair por completo do meu corpo e o coração parar de bater dentro do peito. Minhas pernas bambearam sobre os saltos e a única atitude enviada pelo cérebro para o corpo foi a de me esconder atrás das meninas antes que ele se deparasse comigo.
— O que diabos está acontecendo, Nina? — Fê perguntou num cochicho, assim que me viu escondida. — Tá parecendo que viu um fantasma.
É...
É muito provável que tenha visto um fantasma.
Meu estômago se revirou ao constatar a realidade.
Um fantasma dos velhos tempos.
Tomei a taça de champanhe que estava na mão de Fê, bebendo-a em apenas um gole urgente, e me atrevi a dar mais uma olhadela por cima do ombro dela, temendo que o homem viesse até aqui para nos cumprimentar.
Eu só podia estar ficando maluca.
Certamente ele jamais se dignaria a me cumprimentar.
Talvez ele não me odiasse depois de tanto tempo. Dizem que ele cura tudo.
Pura balela! — Meu inconsciente berrou apavorado.
Céus! Eu o abandonei. É meio óbvio que ele me odeie até hoje, mas será que esse rancor resistiria a tantos anos?
O que eu deveria fazer?
Eu não tinha uma resposta plausível para isso, muito pelo contrário. O meu lado impulsivo e insensato começou a agir e conseguia pensar apenas, que em hipótese alguma, ele não poderia me ver aqui. Não poderia encarar esse homem depois de tantos anos. Não agora! A minha perna bambeou apenas por imaginar ficar cara a cara com ele.
— Preciso ir ao banheiro! — Notifiquei, apressando-me em fugir dali antes que Thomas se aproximasse da gente.
— Vou com você! — Fê prontificou-se em dizer.
Na minha fuga, tomei o corredor de paredes brancas, pouco iluminado agora, depois do expediente, seguindo-o a passos largos e apressados. O sapato colidindo e ecoando contra o chão junto aos de Fernanda que tentava me acompanhar.
— Nina... — Interpelou com nítida preocupação em seu tom de voz. — O que está acontecendo? — Fê insistiu em perguntar quando alcançamos o banheiro. — Você está bem?
Engoli a seco antes de me manifestar.
Como explicaria essa situação a ela?
Não parecia haver palavras. Eu não gostava de falar sobre isso, porque passei tanto tempo tentando ignorar o passado, ou pelo menos viver bem com ele, silenciando-o até que fosse esquecido. Precisava seguir em frente, continuar com a minha vida. Precisava arranjar um jeito de dar algum sentido ao meu futuro e isso só parecia ser possível me desapegando do passado.
— Fê... — balbuciei, suspirando e me escorando na pia do banheiro. — Por favor, tranca a porta. — Pedi, antes de começar a falar.
Assim ela o fez.
— Esse homem que entrou agora no salão... — comecei a dizer, mas parei por um instante, pensando o que realmente deveria falar para abreviar o assunto. — Você sabe que não tem tanto tempo assim que eu me mudei para o Rio de Janeiro, não sabe? — Indaguei, tentando contornar o assunto e ir não tão direto ao ponto.
Fê arqueou a sobrancelha em resposta e levou a mão à cintura.
— Sem rodeios, Nina. — Ela se aproximou, encurtando a distância. — Era para estarmos na reunião.
O meu estômago se revirou só de pensar em voltar para o salão.
— Eu não posso voltar para lá... — Decretei, apontando lá para fora. — Não dá para lidar com isso agora, porque o homem que entrou por último...
— O gato de olhos azuis? — Interrogou de cenhos franzidos.
Balancei a cabeça em concordando, encolhendo os ombros, cruzando-os e esfregando-os, intimidada com o que diria a seguir.
— O que tem ele? — Inqueriu quando o meu silêncio se tornou longo.
Engoli a seco prestes a revelar.
— Nós éramos namorados em Minas. — Cuspi logo de uma vez. — Eu o abandonei quando precisei me mudar para cá.
Uma lágrima escapuliu do meu rosto quando o meu cérebro me bombardeou com as memórias que trouxeram minha mãe e eu para o Rio. No entanto, não foi o que mais me doeu, porque meu coração se apertou ao me lembrar da forma como tudo acontecera.
— Certo. — Fê ponderou, respirando fundo e pensando mais racionalmente do que eu. — E você não esperava revê-lo. É isso? — Indagou complacentemente, passando o dedo pelo caminho trilhado pela lágrima, secando-a gentilmente.
Assenti que sim com a cabeça.
— Ele deve me odiar, Fernanda. — Declarei num choramingo o meu receio. — Eu não quero ter de lidar com isso.
Fernanda engoliu a seco e se apoiou ao mármore da pia também.
— Amiga, calma! — Instruiu, abraçando-me reconfortantemente. — Isso é passado. Nós somos funcionárias da revista e fomos convocadas para uma reunião em que, infelizmente, ele, por algum motivo, está. Você precisa ser madura o suficiente para lidar com isso. Não pode ficar aqui o resto da reunião. — Aconselhou, agitando-se e afastando-se da pia — sacode a poeira.
Realmente não dava para ficar escondida no banheiro enquanto a reunião da empresa em que trabalhava acontecia. Precisava ter uma postura adulta e firme para lidar com essa situação, mas quando cruzei a porta do banheiro, essa ideia me pareceu absurda demais e sentar no vaso e chorar as minhas dores parecia mil vezes melhor do que bater de frente com Thomaz a essa altura do campeonato.
— Ele deve ter raiva de mim... — Pensei em voz alta.
— Adulta, lembra? — A Fê fez questão de ressaltar quando travei na porta.
Certo. Precisava calçar os sapatos de adulta e me comportar como tal. Por isso, respirei fundo e encarei o corredor que nos levaria de volta para o salão. Nos aproximamos da Mari e Lor e ficamos em silêncio. Eu instintivamente tendendo a esconder atrás delas.
— O que está acontecendo? — Fê indagou a Mari num cochicho, inclinando-se.
A Mari levou a mão à testa como se não acreditasse no que iria dizer.
— Pelo que entendi, a Parilla foi vendida e ele é o novo dono...
A minha cabeça não conseguia focar no que estava sendo dito. A Carolina estava apresentando o novo dono, mas isso tudo me pareceu tão absurdo que não consegui digerir uma só palavra.
— O que? — Rebati imediatamente.
— É. — A Lor assentiu que sim com a cabeça. — Ven-di-da. — disse, pausadamente.
— Não! — Deixei escapar alto demais.
Essa não!
Você já parou para pensar sobre as coincidências da vida? Que o universo consegue ser irônico e muito inesperado, disso, todo mundo já sabe. Mas certas coisas, coisas estatisticamente quase improváveis de ocorrerem, simplesmente e inexplicavelmente acontecem. Parece que o destino faz questão de marcar algumas fichas do jogo, e certos eventos vão acontecer mesmo que pareçam impossíveis. Esse deve ser o nó que ata um individuo ao outro. Porque, em meio a 210 milhões de pessoas, eu fui encontrar a única que não esperava ver. Pensar nisso, me fez questionar o quão azarado um ser humano poderia ser? As probabilidades eram baixas, e eu me arriscaria, até, a dizer que, praticamente nulas. Uma pessoa no mundo inteirinho. Quais eram as chances? Eu só conseguia chegar a apenas uma conclusão: a vida queria mesmo rir da minha cara.As minhas pernas bambearam e eu com
— Mas de onde você o conhece? — Rebati, balançando a mão.— Eu não o conheço! — Rebateu de bate-pronto — ele conversou comigo lá no coquetel e depois perguntou se poderia me dar uma carona até em casa e eu aceitei, mas ele é tão gato, Nina... — Acrescentou, parecendo imersa nas lembranças. — Você tinha que ver.Franzi o cenho em resposta e apoiei o meu cotovelo na coxa, cobrindo a boca com a mão, sem desviar o olhar dela, e me perguntando mentalmente o que se passava na cabeça dela. Na teoria, eu sabia muito bem o que estava se passando agora, mas a minha pergunta não se tratava disso em si, mas do juízo propriamente dito que essa garota não tinha.Como ela conseguia ser assim tão desapegada das pessoas?— O que foi? — Questionou assim que constatou o meu olhar por muito tempo sobre ela.
— Eu não sei mais o que fazer. — Fernanda declarou, batendo aborrecidamente a ponta do dedo na mesa do pub.Era sexta-feira, final do dia, nós estávamos sentadas no Brews desabafando sobre os nossos problemas. A semana tinha sido difícil para todas e a Fernanda foi a primeira a começar a reclamar.— O Augusto não me deixa em paz. — Comentou, apoiando os cotovelos na mesa ao apertar os olhos com as pontas dos dedos. — Todo santo dia ele está na Revista, já não aguento mais olhar para a cara dele. A minha vontade é de avançar em cima dele e esbofeteá-lo, só para ver se ele compreende, de uma vez por todas, que não estou minimamente interessada.— Mas Fê, por que você não quer sair com ele? — A Lor parecia se esforçar muito em tentar entender. — Ele é bonito, advogado, be
— Eu não sei se consigo mais lidar com isso. — Declarei com a voz trêmula, passando a mão pelo rosto, ainda me recuperando do choque.Sentia o coração bater na garganta e Samuca me fitou antes de entrar com o carro em movimento, seus olhos verdes agora estavam enevoados junto às sobrancelhas que se curvavam em nítida confusão.— Toda mudança é difícil, amor. — Ponderou, segurando a minha mão fria antes de engrenar o carro e começar a se movimentar pela rua. — Mas, você vai conseguir. Você sempre consegue.Com os pensamentos ao longe, apenas assenti que sim com um movimentar de cabeça e olhei-o antes de me pronunciar.Ele estava bonito, os cabelos loiros espetados estavam rente ao coro e ele vestia um terno preto sob medida com a gravata de seda azul marinho contratando sobre a blusa de baixo, branca. A barba tinha sido
As grades dos portões da escola eram enormes e feitas de aço fundido, cobertos por uma tinta branca, que começara a tomar uma coloração amarelada devido às ações do tempo. Sentei-me no antepenúltimo degrau da larga escadaria cimentada, que levava para a grande porta dupla, em forma de arco, do corredor principal, e puxei a mochila das costas, passando-a para o meu colo ao dar mais uma conferida, olhando por cima do ombro, a fim de verificar se Thomas já tinha saído da aula.Sacodi a tira da alça ao constatar que estava praticamente deserto. Puxei o celular do bolso pequeno da frente da mochila jeans, personalizada com flores coloridas e estampadas, drapeadas, e um “N” maiúsculo com letra enrolada bordado em paetês cor de rosa, e mexi na tela, abrindo na caixa de mensagem, preparando-me para digitar um texto direcionado à minha mãe.<
Sentada atrás da escrivaninha no escritório, passei o dedo indicador pela longa tecla de espaçamento do notebook, acompanhando o movimento e encarei as últimas palavras escritas ali, com a mente distante e afogada em meus problemas mais importantes.Esperava o momento certo de agir, mas isso não parecia acontecer nunca e, à medida que os dias foram passando, sentia que o tempo que precisava para pensar e, finalmente tomar uma atitude, estava se esgotando. Percebi que Samuca se tornava distante e isso me doía. Porque, por mais que ele soubesse que alguma coisa de muito errado estava acontecendo, ainda assim, ele estava esperando que eu tomasse a atitude de conversar a respeito, mas eu simplesmente não conseguia fazer isso.Ele sempre soube esperar e isso sempre me encantou. Mas, estava com medo de magoá-lo e uma palavra errada poderia pôr tudo a perder. Samuca era importante demais para mim, e a ideia
Me Gusta da Anitta preenchia num volume agradável o ambiente. Nós estávamos sentadas na mesa do pub, na nossa reunião de sexta à noite. Fernanda estava de frente para mim e ao lado da Mari, sentadas do outro lado da mesa. Lor à minha esquerda.— Eu ainda não consigo acreditar que o Thomas está saindo com a Carolina. — Desabafei, dando um gole na minha cerveja. Os pares de olhos ergueram-se em minha direção no mesmo instante. — Quero dizer... — A minha voz se arrastou um pouco mais. O teto do Brews já tinha girado duas vezes para mim essa noite, depois da quinta rodada de chope. Apoiei o cotovelo sobre a mesa e os meus dedos emaranharam-se nos cabelos, ao apoiar a cabeça na mão e avaliei o rosto das minhas amigas uma última vez. Certamente era o álcool falando por mim, mas o sentimento estava latejando como uma ferida funda e aberta
Senti como se tivessem tirado alguma coisa de mim. Os lábios quentes e úmidos de Thomas cobriam os meus de um jeito tão incrivelmente delirante. A mão dele passeava pelo meu pescoço, acariciando a pele, fazendo com que correntes elétricas se espalhassem para todo o meu sistema nervoso. Naquele momento, não existia nada além de nós. Por um instante, tinha esquecido tudo. Eram apenas Thomas e eu compartilhando esse momento. O nosso momento.Era o que eu sentia. Um misto de inquietação e desejo que vibrava e ardia em nossas peles.Senti quando, aos poucos, a pressão e o ritmo sobre meus lábios foi diminuindo ao se afastar, a realidade começava a recair pesada sobre a minha consciência. Nós éramos pessoas diferentes em tantos aspectos.Então, o que mais me preocupava era: o que ele tinha visto em