Sentada atrás da escrivaninha no escritório, passei o dedo indicador pela longa tecla de espaçamento do notebook, acompanhando o movimento e encarei as últimas palavras escritas ali, com a mente distante e afogada em meus problemas mais importantes.
Esperava o momento certo de agir, mas isso não parecia acontecer nunca e, à medida que os dias foram passando, sentia que o tempo que precisava para pensar e, finalmente tomar uma atitude, estava se esgotando. Percebi que Samuca se tornava distante e isso me doía. Porque, por mais que ele soubesse que alguma coisa de muito errado estava acontecendo, ainda assim, ele estava esperando que eu tomasse a atitude de conversar a respeito, mas eu simplesmente não conseguia fazer isso.
Ele sempre soube esperar e isso sempre me encantou. Mas, estava com medo de magoá-lo e uma palavra errada poderia pôr tudo a perder. Samuca era importante demais para mim, e a ideia
Me Gusta da Anitta preenchia num volume agradável o ambiente. Nós estávamos sentadas na mesa do pub, na nossa reunião de sexta à noite. Fernanda estava de frente para mim e ao lado da Mari, sentadas do outro lado da mesa. Lor à minha esquerda.— Eu ainda não consigo acreditar que o Thomas está saindo com a Carolina. — Desabafei, dando um gole na minha cerveja. Os pares de olhos ergueram-se em minha direção no mesmo instante. — Quero dizer... — A minha voz se arrastou um pouco mais. O teto do Brews já tinha girado duas vezes para mim essa noite, depois da quinta rodada de chope. Apoiei o cotovelo sobre a mesa e os meus dedos emaranharam-se nos cabelos, ao apoiar a cabeça na mão e avaliei o rosto das minhas amigas uma última vez. Certamente era o álcool falando por mim, mas o sentimento estava latejando como uma ferida funda e aberta
Senti como se tivessem tirado alguma coisa de mim. Os lábios quentes e úmidos de Thomas cobriam os meus de um jeito tão incrivelmente delirante. A mão dele passeava pelo meu pescoço, acariciando a pele, fazendo com que correntes elétricas se espalhassem para todo o meu sistema nervoso. Naquele momento, não existia nada além de nós. Por um instante, tinha esquecido tudo. Eram apenas Thomas e eu compartilhando esse momento. O nosso momento.Era o que eu sentia. Um misto de inquietação e desejo que vibrava e ardia em nossas peles.Senti quando, aos poucos, a pressão e o ritmo sobre meus lábios foi diminuindo ao se afastar, a realidade começava a recair pesada sobre a minha consciência. Nós éramos pessoas diferentes em tantos aspectos.Então, o que mais me preocupava era: o que ele tinha visto em
Arrumei a mala, colocando algumas coisas leves, biquínis e sapatos. Passaria o final de semana na praia e a previsão era de sol. Lor e Mari decidiram passar a noite aqui. Então, a Mari ficou no meu quarto e Lor no da Fê.— Boa noite, Mari. — disse para ela, que estava deitada no colchão ao chão, antes de apagar a luz das luminárias.A minha cabeça girou num turbilhão quando as lembranças do dia da copinha de primavera me vieram à mente, e isso me fez balançar a cabeça em negativa, recusando o trânsito de memórias. A minha mente estava me condenando, então chutei qualquer recordação que envolvia Thomas, focando apenas em Samuca, e no quanto me sentia culpada pelo momento que estávamos vivenciando.Conforme o tempo passava, as coisas iam ficando cada vez mais delicadas, e o pior de tudo: eu era a única e exclusiva cu
A viagem do Rio para Cabo Frio durou certa de duas horas, e eu já estava enjoada da estrada quando Samuca manobrou o carro na garagem da casa.Eu tinha me esquecido de quão incrível esse lugar conseguia ser. Há dois anos, Marco, o pai de Samuca, se cansou de ficar preso ao escritório e passou a Pontes Torres, a firma de advocacia da família, para seu único filho. Decidido a aproveitar ao máximo a sua aposentadoria, se mudou para cá há um ano e meio, e estava vivendo tranquilamente nesta casa linda no interior do Rio de Janeiro.O lugar era de tirar o fôlego. O céu azul por cima do cenário ampliava a beleza dos longos vidros da casa de dois andares que refletiam a paisagem que a cercava. A vegetação era estratificada e ia de pequenas plantas rasteiras como samambaias e orquídeas bambus, a incríveis e antigas quaresmeiras que formavam um jardim nas latera
Subi no píer e franzi os olhos quando vi ao longe um amontoado no chão. A minha cabeça processou a situação com um soco no estômago.— Samuel! — Grite, desesperadamente.Foi a única coisa que eu consegui proferir antes de correr em direção ao corpo da minha mãe. Ela estava caída no meio do caminho e quando me aproximei, vi que ela tinha desmaiado.— Mãe... — Abaixei-me ao lado dela com urgência, tocando em seu braço e sacudindo-o suavemente, tentando acordá-lo. — Mãe... — insisti, a garganta seca e apertada pela tensão de sentir seu braço mole e sem vida.— Samuca, ela desmaiou. — informei com pressa, erguendo olhar para ele.— Precisamos levá-la para dentro. — disse, abaixando-se e passando os braços por trás das pernas e dos braços dela,
Segunda-feira. Oito da manhã, e eu subia o elevador com Fernanda ao meu lado. Ela segurou a minha mão de repente quando o tilintar ressoou, e me fitou com nítida apreensão no rosto.— Você vai ficar bem? — Ela perguntou, demonstrando preocupação.— Vou sim. — Respondi, fitando-a depois de mirar sua mão, mesmo sabendo que não era verdade.Fernanda soltou a minha mão e levou o braço até o meio da porta antes que se fechasse comigo dentro.— Não fica assim. — Pediu, ela estava tentando melhorar o meu humor, e eu lhe dei um sorriso grato. — Eu tenho uma tia que teve câncer de mama, se tratou e hoje leva uma vida super normal — comentou, balançando a cabeça ao dispensar o que disse. — Vai ficar tudo bem, Nina.— Estou tentando ser otimista, mas obrigada por ficar do meu lado. — So
O meu almoço não passou de duas barrinhas de cereais de banana, aveia e flocos de arroz, mas nem tempo para descansar eu tive. O telefone notificou à uma hora um compromisso que eu tinha esquecido. Então, desci até o quinto andar. A porta se abriu e eu me deparei com a situação da minha sala. Já não havia mais a parede que ladeava o corredor, e todos os cascalhos tinham sido praticamente removidos.Passei pela cena, ainda sem acreditar na nova realidade. Sem paredes de concreto. Parecia bom, Thomas estava certo, embora não assumisse isso em voz alta. O andar ficaria muito mais amplo com menos paredes, mas uma obra em pleno outubro? Bufei, dando de ombro para a ideia.Maluco!Respirei fundo ao me lembrar que com ele tudo era para onde e pelo visto, isso não tinha mudado. O corredor terminou e eu passei pelo balcão onde a Lor estava, deslizando a ponta das unhas pela madei
A madrugada não estava sendo agradável. Já se passava de meia noite, e a minha mente não conseguia mergulhar no cansaço que pesava nos meus músculos. Eu bufava, virava e revirava na cama, até os meus batimentos estavam me deixando inquietas. Tudo estava acelerado e se resumia a condição de saúde da minha mãe. O câncer dela estava em estágio dois, mas saber que existem dois tipos de câncer, um mais leve e outro mais agressivo me deixou alarmada. Eu só conseguia implorar aos céus que não fosse um câncer tão nocivo, e que ela passasse por tudo isso e vivesse bem, depois do tratamento.O sono me abandonou, e de repente o teto girou. O quarto se tornou pequeno demais para mim. Livrei-me dos lençóis e sentei abruptamente à beira da cama, arquejando enquanto tentava levar oxigenação ao cérebro. Quando a sensa&cced