Infelizmente, foi tudo o que eu pude analisar, pois precisei sair correndo. Não tive intenção de tentar me comunicar com eles, afinal seria inútil: tudo que eles queriam era garantir algumas mordidas em minha carne e eventualmente transformar-me em um dos seus.
Enquanto o monstro sem olho andava a passos lentos e arrastados; o segundo, logo ao trocarmos olhares, iniciou uma corrida determinada. Se fosse só o seu companheiro, eu poderia ter fugido tranquilamente, porém precisei me apressar e correr o mais rápido que eu pude em direção ao corredor que ligava o prédio da biblioteca com o de sala de aulas.
A primeira coisa que notei foi que um deles era rápido. Muito mais rápido.
A segunda é que eles estavam mais machucados. Diferentemente daqueles com quem dividi o banheiro, que possuía, que possuíam um ou outros machucados aparentes, mas conservavam a sua aparência de quem um dia foi humano, mas conservavam a sua aparência de quem um dia foi humano, estes tinham a pele encinzentado coberta por veias e machucados severos. Um deles – o mais lento – estava com uma um buraco onde deveria ficar seu olho direito. Os dois tinham marcas de mordida e sangue escorrendo pelo corpo, aparentando ter passado por ataques mais selvagens do que aquele que acabou coma vida de Soraia. Ambos eram homens.
O horror estava na realização de que os conhecia. Mais do que isso, além de usar o mesmo uniforme, até algumas horas atrás estávamos na mesma sala, acompanhando a mesma aula.
O garoto (ou monstro?) sem o olho era um pouco mais baixo, um menino marrento que se chamava Arthur. O outro, mais alto, chamava-se Alex e tinha beijado a minha melhor amiga na festa de final de semestre do ano passado.
Infelizmente, foi tudo o que eu pude analisar, pois precisei sair correndo: não tive intenção de tentar me comunicar com eles, afinal será inútil: tudo que eles queriam era garantir algumas mordidas em minha carne e eventualmente transformar-me em um dos seus.
Enquanto o mostro sem olho andava lentos e arrastados; o segundo, logo ao trocarmos olhares, iniciou uma corrida determinada. Se fosse só o seu companheiro, eu poderia ter fugido tranquilamente, porém precisei me apressar e correr o mais rápido que eu pude em direção ao corredor que ligava o prédio da biblioteca com o de sala de aulas.
Corri movida a adrenalina e medo. Eu jogava handebol desde os meus 11 anos e representava meu colégio em jogos nacionais desde os 13, então correr nunca foi um problema para mim, o que certamente auxilio para que eu escapasse com a maior velocidade possível para o meu objetivo: a porta de vidro que indicava o fim da biblioteca.
Ela estava escancarada, como sempre ficava enquanto a biblioteca estava aberta para os estudantes. Imediatamente olhei para e fechadura, onde uma chave prateada com uma placa de identificação estava pendurada.
Olhei para trás de relance e tive certeza de que se eu não tivesse começado a correr com vantagem, ele teria me alcançado. Eu sabia que Alex não era nenhum corredor, tampouco praticava esportes o que me deixou ainda mais intrigada com a velocidade que ele tinha.
Corri movida a adrenalina e medo. Eu jogava handeball desde os meus 11 anos e representava meu colégio em jogos nacionais desde os 13, então correr nunca foi um problema para mim, o que certamente auxiliou para que eu escapasse com a maior velocidade possível para o meu objetivo: a porta de vidro que indicava o fim da biblioteca.
Ela estava escancarada, como sempre ficava enquanto a biblioteca estava aberta para os estudantes. Imediatamente olhei para a fechadura, onde uma chave prateada com uma placa de identificação estava pendurada.
Olhei para trás de relance e tive a certeza de que se eu não tivesse começado a correr com vantagem, ele teria me alcançado. Eu sabia que Alex não era um corredor, tampouco praticava esportes, o que me deixou ainda mais intrigada com a velocidade que ele tinha.
Parei segundos antes de passar pela porta, certificando-me de puxar a chave com violência. Quando passei, agarrei o puxador, trazendo a porta junto comigo para que ela se fechasse com um barulho abafado. Logo em seguida um novo estrondo se fez presente conforme o menino que um dia chamei de Alex jogava o seu peso contra ela, forçando a porta (que se abria para dentro da biblioteca) a ficar fechada. Ele bateu as mãos ensanguentadas no vidro deixando marcas vermelhas onde encostava. Também tentou abocanhar a porta com tamanha força que vi um de seus dentes entortando um uma posição agoniante. Ele pareceu não sentir a dor.
Sem maior vontade de perder tempo observando-o enfiei a chave na fechadura e tranquei a porta atrás de mim por precaução.
Não muito tempo depois, o outro garoto chegou e se juntos ao colega zumbi em sua tentativa de arranjar e mordiscar a porta, embora com uma atitude muito menos enérgica. Ambos tinham os olhos vidrados de ódio e fome em mim, porém com comportamentos claramente diferentes. Era evidente que o que quer que envenenara a todos, também chegou até eles, mas por que eram tão diferentes? Enquanto Soraia também apresentava um comportamento predatório, Arthur ainda que mortal parecia muito lento. Pouco eu era capaz de lembrar, mas mão acreditava que aquela era alguma característica inerente a ele enquanto pessoa.
Por que eu já vão bia mais nenhum deles como pessoa?
Percebi que, na minha mente, chamei-os de "zumbi" e aquilo me incomodou. Eram seres horrorosos e mortais, mas chamá-los por uma nomenclatura tão popular fazia parecer que aquilo se tratava de um sonho. Infelizmente eu não estava sonhando.
Não sonhei da primeira vez em que vi seus comportamentos assassinos em vídeos na Internet. Não sonhei no momento em que vi minha melhor amiga ser puxada por um grupo deles e devorada bem na minha frente.
Não sonhei nenhuma vez presa há quem dirá quantas horas com dois deles e um cadáver no banheiro. Mesmo dormindo hoje a noite também não sonharia; sei que haveriam somente pesadelos.
Por instintos ainda não treinados por aquele mundo, só depois de vários segundos tive o impulso de virar para trás para ver se o corredor estaria livre.
Me deparei com um corredor quase vazio, mas não foi isso que me fez embrulhar o estômago.
Apenas após tirar a minha atenção dos dois zumbis que tentavam abrir um buraco na porta de vidro, meus ouvidos se adequaram para diferenciar um som que me pareceu familiar: salas de aula movimentadas. Eu ouvia sons por trás das portas de madeira, porém não eram sons comuns de conversas entre alunos, grunhidos raivosos, batidas nas portas e - bem baixinho, lá no fundo - gritos agoniados de pessoas como eu, como um lembrete atordoante de que nem todos tiveram a sorte se escapar.
Algumas salas, porém tinham as portas abertas e estavam presumivelmente vazias. Ainda assim, imagino quantas pessoas tiveram o azar de ver-se presas, sem poder alcançar a porta que se separava suas vidas da morte. Portas trancadas como a que estava atrás de mim, tendo sido selada em um ato que poderia ser suficiente para ceifar a vida de qualquer alma ainda humana que estivesse lá dentro.
A perturbação que essa observação me trouxe, porém não foi maior do que o medo em ver outros seres - um total de 4 naqueles corredor- seguindo em minha direção. Todos tinham passos lentos, ainda assim ininterruptos, determinados e vinham em minha direção. A maioria estava de uniforme, mas dessa vez não perdi muito tempo tentando identificá-los e imediatamente comecei a correr para o lado oposto, que me levaria até uma escadaria.
Um pensamento inquietante abriu espaço em minha cabeça: estava eu louca, ou aqueles eram mais baixo? Tão pequenos que poderiam ser...
Afastei aquela ideia, sentindo uma inclinação absurda em não completar a frase.
Corri pelo corredor coberto por ladrilhos brancos, olhando de canto pelos vidros das janelas posicionadas ao longo da parede, em espaços iguais. Como eu gostaria de não ter olhado.
Se a minha situação lareira desesperadora, correndo de crianças zumbi (eu não falei isso eu não falei isso eu não falei isso) trancada num prédio de colégio, aquele festival hediondo a céu aberto parecia uma rejeitará do inferno. Havia algumas pessoas correndo, eu podia ouvir gritos de desespero e havia uma cor predominante naquela pintura blasfema: o vermelho do sangue. Qualquer ideia de seguir a escadaria em direção ao pátio morreu em seu próprio nascimento.
Pela primeira vez comecei a perceber que haviam várias marcas de tênis no chão, que estava sujo de sangue. Perguntei me se era seguro continuar com tamanha velocidade em uma direção onde eu não sabia o que me esperava, mas não havia escolha.
Diminui o passo para um caminhar rápido, conforme percebi que já me afastava suficientemente dos infectados atrás de mim. Se não se movem até algo atrair sua atenção, imaginei que buscar fazer menos barulho com as minhas passas seria o ideal.
Pensei comigo mesma se deveria buscar algo para usar de arma, mas nem ao menos tive certeza se seria capaz de usar algo contra aquelas coisas. Não seria capaz de cuspir no fato de que, apesar de o que quer que eu tenha acontecido com eles, autrora foram humanos - poderiam voltar a ser?
Ha ha. Que tola...
Quando o corredor desembocou em uma área mais ampla, que dava acesso à escadaria, tomei ainda mais cuidado com os meus movimentos. O chão é as paredes brancas estavam repletos de manchas de sangue. O cheiro era tão forte que me obrigou a trancar a respiração.O cheiro ou a meia dúzia de monstros que se reuniam no canto da sala.Eu pude ver algumas partes que apareciam por baixo de montoeira de corpos: pernas, braços, cabeças completamente desfiguradas. As coisas banqueteavam-se em meio a cadáveres ensaguentados e me obriguei a desviar o olhar para não enlouquecer. O impulso de vomitar me dominou de novo, mas precisei ignorá-lo.Passei a me mover lentamente as costas coladas na parede atrás de mim sem me importar se manchava a blusa polo branca do meu uniforme. Estavam distraídos, faziam sons guturais e era possível ouvir o barulho de carne se rasgando conforme jogavam as cabeças para trás, puxando violentamente pedaços em seus dentes. O cheiro de morte e podr
Não, eu não estava. Digo, ele não havia me arrastado para qualquer tipo de perigo. É só que “a salvo” simplesmente era uma coisa que tinha deixado de existir, embora naquela altura eu ainda não soubesse. A primeira pessoa que eu vi foi Cláudio Dultra: outro terceiranista, mas familiar para mim por estudarmos na mesma sala. Tinha a pele escura, olhos e cabelos negros e uma expressão de poucos amigos. Diferente da maioria dos nossos colegas, tinha músculos definidos e traços mais adultos. Estava de braços cruzados próximo à porta de madeira que dividia o corredor de onde vinhamos do resto das salas de ensino médio, em uma curva acentuada. Quando nos viu, assumiu uma postura nervosa ao perceber como corríamos rápido. Notei que segurava uma barra de ferro na mão. Havia sangue nela. Guga não pareceu estar surpreso, conforme continuava correndo em direção à porta. Aquela altura eu já havia conseguido estabelecer equ
Mayara olhou para ela com os olhos arregalados em reprovação, mas não falou nada.Sorri de volta para Valentina, mas não consegui disfarçar por muito tempo o meu incomodo conforme me aproximei delas.Mayara, o que houve com sua perna? Perguntei, finalmente compreendendo que o professor Roberto amarrava uma gaze suja de sangue em volta de sua coxa.Mayara olhou para mim, intrigada pela abordagem repentina.Ela não foi atacada. Cláudio quem respondeu, atrás de mim. Cortou a perna em um arame enquanto tentávamos sair do pátio. Estava sangrando bastante, mas não é nada sério.Desculpa ser tão indelicada, é só que… comecei olhando nos úmidos olhos cor de mel da garota.Não, tudo bem… ela olhou para a perna dando de ombros. Acho que é uma preocupação válida. Conversar parecia acalmá-la um pouco.Então você conseguiu? Perguntou Anny
Você vai sozinha? Perguntou Cláudio, levemente surpreso, enquanto me seguia porta afora. Eu não sei o que vocês vão fazer, mas eu vou voltar para casa hoje. Quando falei isso, vários olhares vieram em minha direção. O professor Roberto já estava em pé, de braços cruzados e olhou para mim: Você acha que é seguro tentar ir pra casa, Rute? Indagou, com a voz preocupada, todo mundo está dizendo que o transporte publico parou. Olhei para ele e agradeci a preocupação… Não tem problema, professor. Eu vou a pé, se precisar, só teria de atravessar a ponte, falei, calmamente, preciso encontrar com a minha avó e com a Mel… justificando sem perceber que talvez eles não soubessem de quem eu estava falando. Como você pretende sair do colégio? Perguntou-me a garota negra de cabelos crespos. Ela parecia bastante calma diante da situação. O pátio está uma loucura, e para chegar a qualq
Este era o acesso a um lance contínuo e escadas em formato de cascata, que ficavam a parte, mas uniam todos os andares do prédio. O espaço era largo e conseguimos entrar todos sem problemas. Estava aparentemente vazio e silencioso, porém uma pequena trilha de sangue na escada me fez sentir um enorme calafrio. Alguma coisa já passou por ali…A escada para cima está limpa, vamos subir de uma vez, murmurou Roberto, buscando falar baixo.Sem nenhuma objeção, Guga fechou a porta de acesso ao corredor e seguimos para cima, apenas o barulho dos nossos passos chegando aos ouvidos. Era possível ouvir, bem ao longe, alguns gemidos. Olhei para baixo, mas não tinha ninguém atrás de mim além de Cláudio e Guga.Subimos em silêncio dois lances de escadas, que terminaram em um pequeno espaço plano antes da porta de madeira de aparência velha, porém imponente. Com um pouco de esperança, Roberto ten
Imediatamente amaldiçoei a minha decisão burra de gritar. Não contentes somente em arrancar pedaços de carne da minha amiga estirada na escadaria, três deles viraram as cabeças grotescas para mim e começaram a subir em minha direção. Não eram rápidos, mas isso não os tornava menos assustadores. Rute??? Ouvi a voz de Valentina ecoar acima de mim... Lorena? Eu estou bem! Gritei de volta, sem saber como informar o estado de Lorena. Virei-me a fim de subir correndo de volta para o meu corpo, mas tropecei e caí no chão. Minha canela bateu contra a quina do degrau e um grunhido de dor vazou por meus lábios. Só então percebi como eu tremia. A barra de metal batia continuamente no chão, emitindo um som metálico constante, pela falta de instabilidade com que eu segurava ela. Sem tempo a perder, apoiei-me nos braços e subir alguns degraus de quatro mesmo, até conseguir focar em pé. Corri
Com o nosso colégio ficava em uma parte mais elevada do resto da cidade tínhamos uma visão privilegiada da cobertura, bela em todos os outros dias. Hoje porém este camarote só nos dava uma perspectiva pior do fim do mundo que se estendia sob nós.Havia muita fumaça e isso era o mais perceptível de imediato. Vários focos de uma espessa fortuna negra subiam aos céus provindos de chamas altas de incêndio. Quase todas as ruas que vi encontravam se completamente dominadas por carros parados em fila indiana e só então o barulho das buzinas tornou-se evidente. E estas eram as boas e nas outras ruas era possível ver engavetamentos grotescos, batidas de quase 10 carros de uma só vez. Mas o pior eram as pessoas correndo como milhares de formiguinhas desesperadas corriam descontroladamente de seres grotescos infernais, mas tão parecidos com as presas que perseguiam.Naquele cenário profano o caso mostrou-se como a única lei e ao longe da cidade o tapete azul do mar se estendia até
A escada de emergência sacudia com o vento, criando um balanço incômodo, seguido pelo barulho da estrutura de metal batendo contra a parede do prédio. Cada batida era pontuada por um gritinho de Mayara, que tremia logo a minha frente. Ellenao meu lado, encarava ela com reprovação, revirando os olhos e os pousando em mim, buscando identificar a minha opinião sobre aquilo. Concordou silenciosamente com ela, dando um riso de deboche para tentar expressar minha reprovação. Mayara, será que você não pode calar essa boca? Perguntou Anny a sua frente focada nos degraus e apertando com força o corrimão de segurança.Mayara manhou baixinho tentando segurar o próximo gritinho, conforme a estrutura em que estávamos sacudia. Quando ela se virou para o próximo lance de escadas, pude olhar para seu rosto e vi que dois caminhos de lágrimas se destacavam em sua bochechas bronzeadas.