Eu nunca imaginei que poderia ser tão difícil assim sair de lá.Digo, dessa vez a dificuldade não estava em lugares obstruídos por acidentes, mortos vivos tentando nos devorar ou em qualquer oposição feita por um dos meus colegas. A dificuldade estava somente no terrível medo que se apossara de todos nós.Era surreal como aquele pequeno espaço de tempo em que pudemos relaxar e nos sentir seguros tornou aquela realidade apocalíptica ainda mais dura e assustadora para nós.Estávamos deliberadamente voltando para a linha de fogo colocando as nossas cabeças em jogo depois de termos nos deliciado com a segurança.
Eu nunca imaginei que poderia ser tão difícil assim sair de lá.Digo, dessa vez a dificuldade não estava em lugares obstruídos por acidentes, mortos vivos tentando nos devorar ou em qualquer oposição feita por um dos meus colegas. A dificuldade estava somente no terrível medo que se apossara de todos nós.Era surreal como aquele pequeno espaço de tempo em que pudemos relaxar e nos sentir seguros tornou aquela realidade apocalíptica ainda mais dura e assustadora para nós.Estávamos deliberadamente voltando para a linha de fogo colocando as nossas cabeças em jogo depois de termos nos deliciado com a segurança.
Aquela manhã parecia quase um lapso do que era a vida normal. Claro com pessoas que em outras circunstâncias nunca estariam em minha casa, mas dessa vez me permiti sentir o doce gosto da ilusão de que o mundo não caminhará para seu fim.Quando acordei desfrutei de uma café da manhã que me lembrava meus tempos de crianças quando viajava para o interior com a minha avó a fim de visitar sua família. Sempre havia uma mesa cheia de comida não porque havia particular fartura, mas sim para alimentar a todos os meus parentes. Aos finais de semana fazíamos um enorme café da manhã na casa onde a minha bisavó morava onde todos os tios e primos reuniam se para confraternizar.Novamente aquele café da manhã nada mais era do que uma lembrança ilusória, mas suficiente para acalentar meu coração. Não estávamos diante de nenhuma fartura em particular, mas podíamos tomar café quente (embora a maioria de nós realmente nem gostasse de café) e havia pão e cereais para todos comerem o suficiente. O que rea
Poderiam ter sido dias calmos aqueles que se seguiram, em que passamos juntos a família Rosana e seus dois convidados, como um agradável lapso de paz em meio a constante luta pela vida da nova realidade em que vivíamos. Mas como a sutil promessa da morte, algo sorrateiro rastejava em meio aos possíveis sentimentos tranquilo, a esperança irreal que enfim buscávamos. A cada novo dia, banhando pelo medo ao invés dos raios de sol; a cada esquina que viravamos, quando nos víamos novamente em meio às ruas dominadas pela morte; a casa refeição silenciosa que compartilhavamos com aquelas pessoa com quem cada vez mais criaram-se laços e rejeitavamos a ideia de uma possível separação. Como o meu grupo bem sabia, a fragilidade daquele sonho de paz era notável, e seu declínio, iminente.A cada dia a quantidade de comida em nossos pratos diminuía, e as olheiras na expressão ansiosa de Carla... A responsável por nossas reservas... tornavam se maiores. A maioria das casas emum raio de duas quadras
Meu coração cavalgou novamente ao lembrar da necessidade de sair daquele lugar, como se a simples menção dessa ideia já evidenciasse a minha ruína. Ainda assim, fato era quem em uma manhã eu já havia visto mais carnificina do que se quer seria capaz de figurar em meus pesadelos mais viscerais e sobreviver aquele show de horrores para morrer de medo trancado em uma cabine de banheiro que parecia ser a coisa menos digerível do meu dia. Pesei que se fosse para morrer, que fosse de exaustão tentando lutar contra esses monstros, em vez de padecer com um rato assustador.Uma pena que esses pensamentos heroicos fossem inúteis para me motivar a deixar aquele banheiro fétido em que eu estava trancada. A coragem é linda nos livros, mas na vida real ela pesa em uma tonelada e fede como a morte.
Quando, por fim, calaram-se, o silêncio caiu sobre o banheiro e choramos juntas. Elas, em prantos e eu, baixinho. Meu corpo estava congelado e a vergonha de ter me escondido por esse tempo todo me castigava. Ainda assim, não era capaz de sentir nem o menor impulso pra sair daquela cabine.Uma das garotas perguntou a outra se deveriam sair, ouviu uma negação, e o silêncio volto9u a predominar. Isso resumiu as horas que se seguam. As vezes, uma das duas chorava e a outra dava algum tipo de consolo. Tentavam uma conversa, esboçavam planos de sair dali, mas logo o assunto morria em seus lábios. Assim como eu, temiam a inevitável hora em que se viram obrigadas a sair daquele banheiro. Uma hora tentaram forçar a porta da cabine em que eu me escondia, o que quase me levou ao infarto, mas logo desistiram.Quando finalmente a monotonia se interrompeu, foi apenas iniciar nossos pesadelos.Um novo som chegou aos meus ouvidos, diferente de todos os outr
Eu já não era capaz de dizer o que guiava: o medo de definhar até morrer, presa com um demônio saído de pesadelos profanos;O horror de se quer imaginar o inevitável confronto que se desenharia casos eu tentasse fugir ou a mais pura insanidade; Vamos dizer que, por absolutamente nenhum motivo além do impulso natural de sobrevivência, arrisquei uma nova olhada, ciente que ou eu encontraria uma forma de sobreviver agora ou cederia meu último resquício de sanidade pra este espetáculo de horror. Abaixei o meu corpo ao máximo que fui capaz, com lentidão e esmero, aproximando a cabeça do vão entre a porta do banheiro e o chão gelado. Era quase insuficiente para espremer meu rosto de forma que permitisse a visão. Também me mantive atenta e tomei cuidado de não encostar a cabeça na porta, evitando a todo custo produzir qualquer ruido que fosse. Eu sabia que o único motivo de continuar viva até que aquele momento era o fato de não me ter feito até então. A tal altu
A passagem daquela divisória para a seguinte me deixou ainda mais tensa, tomando cuidado dobrado para evitar qualquer ruído. Caso algo desse errado, meu ceifador estaria logo abaixo de mim. Pude perceber que, mesmo diminuindo os ruídos ao mínimo, a minha sombra ainda se fazia presente, passando por sobre cabeça daquele ser, que não parecia se importar. Suas visões eram perfeitas, tais como eram quando seres humanos? Como seriam seus sentidos?Haveria a necessidade de me preocupar tanto?Quando terminei a travessia, virada com ambas as pernas para a cabine a minha frente, percebi como meus músculos estavam tensionados e tentei relaxar, sem muito sucesso. Agora estava as duas cabines de distância da porta. O corpo da última menina - a única, de fato, morta - estava logo em frente a porta da última cabine. Eu pretendia descer e sair pela porta, mas logo entendi que a ideia seria falha: a parte de cima do seu corpo estava apoiada na porta da cabine, o que dificultaria