A escada de emergência sacudia com o vento, criando um balanço incômodo, seguido pelo barulho da estrutura de metal batendo contra a parede do prédio. Cada batida era pontuada por um gritinho de Mayara, que tremia logo a minha frente. Ellen ao meu lado, encarava ela com reprovação, revirando os olhos e os pousando em mim, buscando identificar a minha opinião sobre aquilo. Concordou silenciosamente com ela, dando um riso de deboche para tentar expressar minha reprovação.
Mayara, será que você não pode calar essa boca? Perguntou Anny a sua frente focada nos degraus e apertando com força o corrimão de segurança.
Mayara manhou baixinho tentando segurar o próximo gritinho, conforme a estrutura em que estávamos sacudia.Quando ela se virou para o próximo lance de escadas, pude olhar para seu rosto e vi que dois caminhos de lágrimas se destacavam em sua bochechas bronzeadas.
E por qual caminho vamos? Perguntou Valentina baixinho...Como vamos ter que passar na casa da Mayara que é na Avenida das Torres acho que a gente pode seguir essa rua e descer até a principal. De lá a gente segue até a sua casa e depois nós vemos o que fica melhor pode ser? Guga olhou para mim e para Cláudio que concordamos sem realmente ter uma ideia melhor.Rute pode guiar o caminho e eu e o Guga ficamos atrás para proteger vocês de qualquer coisa que vier. Cláudio continuou... vamos correndo então mantenham o ritmo... falem baixo e mais importante absolutamente em circunstâncias nenhuma gritem ou façam algo que chame a atenção deles.Conseguimos afastar alguns e abrir distância, mas se vários vierem para cima de nós...Ele deixou a frase morrer no ar criando uma onde de tensão que passou por todos nós que ali estavam...<
Ellen foi a última a pular o portão fazendo-o com agilidade de um gato e pousando no chão com graça. Sem maiores problemas (além da blusa meio rasgada de Anny) todos conseguiram jogar suas mochilas para o outro lado e escalar o portão tranquilamente. Enquanto a última a travessia era feita eu junto de Cláudio e Guga permanecemos um pouco afastados tentando anteceder a movimentação de qualquer um dos cadáveres que viesse em nossa direção. Dois se moviam lentamente cindo da direção que devíamos seguir naquela rua. Outros dois estavam deitados no chão aparentemente imóveis, mas havíamos percebido movimentos menores que nos permitiam detectar que ainda restava vida (não vida) neles. Vamos rápido agora... Guga olhou para nós sua voz pouco mais do que um cochicho não precisa bater neles até eles pararem só se certifiquem de dar uma porrada boa o suficiente para afastá-lo ou derrubá
Quando voltei a olhar para frente foi a tempo de me preparar para bater novamente em um zumbi, dessa vez acertando em cheio o seu rosto e conseguindo mandá-lo para longe. Deixei uma pequenina onda de satisfação percorrer meu corpo percebendo como se tornou mais fácil.Qual deles, Mayara? Aproveitei aquela pequena pausa para virar para trás vendo a garota de cabelos loiros correndo ofegante em minha direção.A... Aquele! Ela apontou... o de vidro verde...Vi para qual prédio ela apontava, grande, imponente e de concreto branco, circulando por um resistente vidro cujo reflexo era verde-água. Eu, com meu lapso de noção de distância, diria que talvez a 70 metros.Haviam mais pessoas naquela avenida, algumas completamente vivos, correndo a esmo de um lado para outro. Ninguém parecia particularmente interessado no grupo de jovens uniformizados, dando prioridade às suas próprias vidas. Outros berravam e pediam por ajuda, mas o terror que dominava me
Um pouco envergonhada sai de cima de Guga que deu um torturado gemido de dor devido a queda. A batida na minha barriga tornava um pouco mais árdua a tarefa de respirar. Quase quis rir, mas um grito familiar invadiu meus ouvidos fazendo com que uma onda de desespero avançasse sobre meu corpo. Tentei ajudar Guga Fui a última a passar pela porta de entrada e, sem esperar nenhuma confirmação peguei a chave, fechei a porta atrás de mim e tranquei por dentro.Eu… não sei... Valentina arfava e logo um copo de água foi esten9. Continuação
A brisa suave da noite de verão refrescou o meu rosto, fazendo um calafrio percorrer minha coluna. Eu ainda estava sozinha, apoiada no corrimão gelado da sacada, encarando com raiva a tela do meu celular, que novamente me dizia que a ligação não pode ser finalizada. Todos já haviam chorado por isso, começando a entrar em um constante nervosismo por não conseguirem mais contato com os seus parentes e amigos. Eu controlei bem a minha ansiedade até então, mas temia vê-la saindo de controle a qualquer instante. Finalmente desistir e coloquei o celular no bolso, recusando-me a ver as redes sociais repleta de mais repercussão dos casos, debates intermináveis sobre qual seria o destino das cidades e textos de lutos que só faziam meu coração doer mais. Quando olhei novamente para o cenário embaixo de mim, voltei a me atentar para os gemidos. Eles não haviam cessado nenhuma vez desde que eu estava ali, mas as vezes eu quase conseguiria distrair-me deles, quando havia algo para prende
A situação na ponte está ficando bem assustadora… ele olhou novamente para o celular, como quem conferia algo, e voltou a olhar para mim. Estou acompanhando nos jornais, mas aparentemente a movimentação acabou atraindo os zumbis, mas os militares não abriram a barreiral. Estão falando que está começando a virar uma carnificina aquela ponte.Ah… então eram militares…Por que trancaram a ponte? Perguntei, aproximando-me dele, deixando as minhas coisas próximas ao sofá.Pensavam que o foco estava só aqui desse lado. Intromete-se Cláudio, que encerrou o assunto com Guga assim que começamos a falar.Sim. Elton assentiu… a coisa saiu do controle primeiro por aqui, provavelmente porque como uma ilha é um espaço menor, então ficou mais perceptível. Mas a infecção já está lá também, já está tudo começando a se comprometer.Por que continuam com esse bloqueio estúpido então? Perguntou Anny, descr
Conforme as notícias de que os respectivos governos conseguiram dar conta do controle da infestação e as políticas de quarentena se instauraram, tudo voltou ao que poderíamos chamar de normal. Até aquela manhã… Rute? Senti meu corpo reagir com um pulo ao chamado que me pegou bem desprevenida. Virei de costas e me deparei com Mayara, que usava um pijama de alcinhas rosa. Ela deu um sorriso tímido e adentrou na varanda para onde eu fora já havia meia hora. Está sem sono? Dessa vez virei-me de costas para o corrimão, apoiando as costas nele e olhando para Mayara. Já era a segunda vez que ela tentava se aproximar de mim e dessa vez eu me esforçar para tratá-la melhor, ainda que não me sentisse a vontade. Ela simplesmente não parava de ser hospitaleira e gentil e quase senti inveja de sua índole, tendo certeza que eu não tomaria essas mesmas atitudes pelo bem de pessoas que pouco conheço. Nã