Fui a última a passar pela porta de entrada e, sem esperar nenhuma confirmação peguei a chave, fechei a porta atrás de mim e tranquei por dentro.
Eu… não sei... Valentina arfava e logo um copo de água foi esten
A brisa suave da noite de verão refrescou o meu rosto, fazendo um calafrio percorrer minha coluna. Eu ainda estava sozinha, apoiada no corrimão gelado da sacada, encarando com raiva a tela do meu celular, que novamente me dizia que a ligação não pode ser finalizada. Todos já haviam chorado por isso, começando a entrar em um constante nervosismo por não conseguirem mais contato com os seus parentes e amigos. Eu controlei bem a minha ansiedade até então, mas temia vê-la saindo de controle a qualquer instante. Finalmente desistir e coloquei o celular no bolso, recusando-me a ver as redes sociais repleta de mais repercussão dos casos, debates intermináveis sobre qual seria o destino das cidades e textos de lutos que só faziam meu coração doer mais. Quando olhei novamente para o cenário embaixo de mim, voltei a me atentar para os gemidos. Eles não haviam cessado nenhuma vez desde que eu estava ali, mas as vezes eu quase conseguiria distrair-me deles, quando havia algo para prende
A situação na ponte está ficando bem assustadora… ele olhou novamente para o celular, como quem conferia algo, e voltou a olhar para mim. Estou acompanhando nos jornais, mas aparentemente a movimentação acabou atraindo os zumbis, mas os militares não abriram a barreiral. Estão falando que está começando a virar uma carnificina aquela ponte.Ah… então eram militares…Por que trancaram a ponte? Perguntei, aproximando-me dele, deixando as minhas coisas próximas ao sofá.Pensavam que o foco estava só aqui desse lado. Intromete-se Cláudio, que encerrou o assunto com Guga assim que começamos a falar.Sim. Elton assentiu… a coisa saiu do controle primeiro por aqui, provavelmente porque como uma ilha é um espaço menor, então ficou mais perceptível. Mas a infecção já está lá também, já está tudo começando a se comprometer.Por que continuam com esse bloqueio estúpido então? Perguntou Anny, descr
Conforme as notícias de que os respectivos governos conseguiram dar conta do controle da infestação e as políticas de quarentena se instauraram, tudo voltou ao que poderíamos chamar de normal. Até aquela manhã… Rute? Senti meu corpo reagir com um pulo ao chamado que me pegou bem desprevenida. Virei de costas e me deparei com Mayara, que usava um pijama de alcinhas rosa. Ela deu um sorriso tímido e adentrou na varanda para onde eu fora já havia meia hora. Está sem sono? Dessa vez virei-me de costas para o corrimão, apoiando as costas nele e olhando para Mayara. Já era a segunda vez que ela tentava se aproximar de mim e dessa vez eu me esforçar para tratá-la melhor, ainda que não me sentisse a vontade. Ela simplesmente não parava de ser hospitaleira e gentil e quase senti inveja de sua índole, tendo certeza que eu não tomaria essas mesmas atitudes pelo bem de pessoas que pouco conheço. Nã
Mayara, não vou mentir que para nós o mais fácil é ir sozinhos, com menos pessoas. Menos gente é menos preocupação , menos risco de perder alguém. Vi que seu lábio tremeu um pouco confor5me eu falava e me apressei para concluir a minha ideia. Mas eu seria egoísta e hipócrita se não lhe dissesse que concordo com o que você pensa. Respeitaria se você resolvesse ficar, mas acho que isso só representa mais riscos e incertezas.Não quis falar que, caso os pais dela não conseguissem voltar, isso só resultaria em uma adolescente assustada e completamente sozinha presa em sua casa, mas tive a decência de parar.Ela olhou para o chão, seu lábio tremeu mais algumas vezes, mas eventualmente voltou a olhar para mim.Você é tão sensata, Rute… ha alguns segundos atrás era perceptível em seu semblante que ela choraria. Foi assustadora até para mim a facilidade em como seu lábio parou de tremer e ela deu um sorrisinho. Sabe eu sei que as circunstâ
Eu estava novamente presa no banheiro. Dessa vez ele menor, sufocante, se eu tentasse me mexer de qualquer forma sentia o frio incomodo da parede ladrilhada. Não havia nenhum vão entre a porta e o chão ou o teto, transformando aquele já pequeno cubículo em um caixa fechada. Eu suava, mas não estava quente. Haviam coisas se movendo do lado de fora, gemendo, rosnando. Eu somente as ouvia, mas havia algo mais que me indicava que estavam lá… sua presença me tirava o ar, como se já estivessem ao meu lado, esmagando minha garganta com suas mãos ossudas. Eu ouvi um grito e a sensação de ser sufocada se dissipou, pelo menos um pouco. A voz que ouvira era a mesma proferido por uma das meninas que estava presa do outro lado da porta. Mas dessa vez ele não ficou somente longe, ele veio de encontro a porta socando-a com forma, criando um barulho ensurdecedor na caixa de concreto que me prendia. SOCORRO! Ouvi o grito. ABRA, SE NÃO ELE VAI ME PEGAR! Ela implorava, a voz su
Vocês namoravam? A essa altura eu não saberia dizer se estava genuinamente interessada na conversa ou apenas com vontade de me enturmar um pouco mais.Mayara deixou um riso escapar sem graça...Claro que não. Nós demos uns beijos só... até eu descobrir que preferia dar uns beijos em meninas.Ela sorriu para mim... você já tentou?Senti minhas bochechas esquentarem um pouco surpresa tanto com sua revelação quanto com a pergunta. Mayara tocava naqueles assuntos de maneira tão natural que era ate chocante.Tudo bem, talvez eu seja um pouco careta... respondi sem jeito.Mayara olhou para mim por um instante imediatamente deixando uma risada escapar. Que foi seguida por Valentina. No começo senti um pouco de vergonha, mas até eu acabei caindo na gargalhada o que só resultava em
Eu nunca imaginei que poderia ser tão difícil assim sair de lá.Digo, dessa vez a dificuldade não estava em lugares obstruídos por acidentes, mortos-vivos tentando nos devorar ou em qualquer oposição feita por um dos meus colegas. A dificuldade estava somente no terrível medo que se apossara de todos nós.Era surreal como aquele pequeno espaço de tempo em que pudemos relaxar e nos sentir seguros tornou aquela realidade apocalíptica ainda mais dura e assustadora para nós.Estávamos deliberadamente voltando para a linha de fogo colocando as nossas cabeças em jogo depois de termos nos deliciado com a segurança.Parecia loucura como as minhas pernas tremiam quando passei pela porta do apartamento de Mayara. Quem visse o bastão de baseball em minha mão acharia que ele próprio estava com medo, não inseguro que par
Agradeci de coração sua preocupação, mas quando me recompus, já havia afastado aqueles sentimentos perigosos. Medo, nervosismo, apatia, todos aqueles sentimentos me eram reais, porém entregar-me a eles significaria somente condenar-me a um fim onde estas sensações seriam as minhas únicas. Eu tinha que lutar… havia quem me esperasse e haviam pessoas bem ao meu lado que também precisavam de mim para ajudá-los em suas próprias lutas. Respirei, Gu! Segurei seu braço, iniciando uma corrida para voltarmos ao grupo. Dessa vez, ele quem precisou se apressar para seguir meu passo, não vai acontecer de novo! Ele me respondeu, mas não ouvi o que disse, concentrando-me somente no barulho do vento em meus ouvidos. Já havíamos saído da rua principal, porém algumas daquelas criaturas, as mais rápidas, estavam tendo facilidade em se aproximar. Tensionei os músculos, trazendo o meu bastão para trás e desferindo com toda força ao meu primeiro golpe com ele em um erran