Eu estava novamente presa no banheiro.
Dessa vez ele menor, sufocante, se eu tentasse me mexer de qualquer forma sentia o frio incomodo da parede ladrilhada. Não havia nenhum vão entre a porta e o chão ou o teto, transformando aquele já pequeno cubículo em um caixa fechada. Eu suava, mas não estava quente. Haviam coisas se movendo do lado de fora, gemendo, rosnando. Eu somente as ouvia, mas havia algo mais que me indicava que estavam lá… sua presença me tirava o ar, como se já estivessem ao meu lado, esmagando minha garganta com suas mãos ossudas.
Eu ouvi um grito e a sensação de ser sufocada se dissipou, pelo menos um pouco. A voz que ouvira era a mesma proferido por uma das meninas que estava presa do outro lado da porta. Mas dessa vez ele não ficou somente longe, ele veio de encontro a porta socando-a com forma, criando um barulho ensurdecedor na caixa de concreto que me prendia.
SOCORRO! Ouvi o grito. ABRA, SE NÃO ELE VAI ME PEGAR! Ela implorava, a voz su
Vocês namoravam? A essa altura eu não saberia dizer se estava genuinamente interessada na conversa ou apenas com vontade de me enturmar um pouco mais.Mayara deixou um riso escapar sem graça...Claro que não. Nós demos uns beijos só... até eu descobrir que preferia dar uns beijos em meninas.Ela sorriu para mim... você já tentou?Senti minhas bochechas esquentarem um pouco surpresa tanto com sua revelação quanto com a pergunta. Mayara tocava naqueles assuntos de maneira tão natural que era ate chocante.Tudo bem, talvez eu seja um pouco careta... respondi sem jeito.Mayara olhou para mim por um instante imediatamente deixando uma risada escapar. Que foi seguida por Valentina. No começo senti um pouco de vergonha, mas até eu acabei caindo na gargalhada o que só resultava em
Eu nunca imaginei que poderia ser tão difícil assim sair de lá.Digo, dessa vez a dificuldade não estava em lugares obstruídos por acidentes, mortos-vivos tentando nos devorar ou em qualquer oposição feita por um dos meus colegas. A dificuldade estava somente no terrível medo que se apossara de todos nós.Era surreal como aquele pequeno espaço de tempo em que pudemos relaxar e nos sentir seguros tornou aquela realidade apocalíptica ainda mais dura e assustadora para nós.Estávamos deliberadamente voltando para a linha de fogo colocando as nossas cabeças em jogo depois de termos nos deliciado com a segurança.Parecia loucura como as minhas pernas tremiam quando passei pela porta do apartamento de Mayara. Quem visse o bastão de baseball em minha mão acharia que ele próprio estava com medo, não inseguro que par
Agradeci de coração sua preocupação, mas quando me recompus, já havia afastado aqueles sentimentos perigosos. Medo, nervosismo, apatia, todos aqueles sentimentos me eram reais, porém entregar-me a eles significaria somente condenar-me a um fim onde estas sensações seriam as minhas únicas. Eu tinha que lutar… havia quem me esperasse e haviam pessoas bem ao meu lado que também precisavam de mim para ajudá-los em suas próprias lutas. Respirei, Gu! Segurei seu braço, iniciando uma corrida para voltarmos ao grupo. Dessa vez, ele quem precisou se apressar para seguir meu passo, não vai acontecer de novo! Ele me respondeu, mas não ouvi o que disse, concentrando-me somente no barulho do vento em meus ouvidos. Já havíamos saído da rua principal, porém algumas daquelas criaturas, as mais rápidas, estavam tendo facilidade em se aproximar. Tensionei os músculos, trazendo o meu bastão para trás e desferindo com toda força ao meu primeiro golpe com ele em um erran
Assim que consegui entrar, despenquei no chão somente então percebendo o quanto estava cansada. Alguns segundos depois o barulho metálico da porta de correr acabou com a iluminação natural, deixando-nos somente com a luz de uma lâmpada branca. Fechei os olhos por alguns segundos, tentando raciocinar.O que vocês estão fazendo lá fora? Sua voz era doce, porém parecia nervosa. Ela gaguejava um pouco.Abri os olhos e vi que os cabelos da garota eram tingidos de azul, com dois dedos da raiz escura aparecendo. Ela tinha o rosto arredondado e olhos também azuis, a combinação era bonita. Um pensamento bobou cruzou a minha cabeça: que bom que não pintei o cabelo de vermelho ano passado, seria realmente um problema encontrar tinta para retocar nesses caos. Imediatamente me senti mal por ainda ter disposição para pensar em coisas bobas.Estamos indo para o
Logo todos nós estávamos mexendo nos celulares, como se esse fosses mais um dia normal em que as pessoas estivessem somente ocupadas com suas próprias vidas.A primeira coisa que tentei fazer foi ligar para minha avó novamente. Ouvi cada barulho de indicação de chamada, mas esta nunca foi atendida. Senti como um pedaço de tijolo tivesse estalado na minha garganta.Disquei o número do meu pai, porém também não houve resposta (a ligação nem havia sido completada). Não vendo outra alternativa, também tentei ligar para o meu irmão, mas novamente sem respostas, o que realmente não me surpreendeu: Victor nunca foi particularmente próximo de nenhum de nós e esse afastamento apenas piorou quando meu pai se mudou. Senti um pouco de raiva por ele nem ao menos ter tentado se comunicar comigo, esperando que, pelo menos, tenha tido a
Tudo aconteceu tão rápido que somente consigo me lembrar de borrões indistintos: tão logo aquele grito horrível nos tirou de nosso estado relaxado, Amanda imediatamente começou a correr em direção a escadaria. Foi um microssegundo em que todos nos olhamos, como se buscando a confirmação um dos outros, antes de dispararmos atrás dela.Ao subir o lance de escadas, deparamo-nos com a garota de cabelos azuis estarrecida, os olhos arregalados em horror. Não precisou de muito para entendermos o que a deixaria assim, somente passar por ela com pressa e adentramos na sala humilde daquela casa que agora estava completamente suja de sangue.A cena de horror que se desenrolara parecia provinda de pesadelos profanos. Um homem já de idade, cabelos ralos e brancos e com uma barriga proeminente estava sentado no sofá com a televisão ligada no canal de notíc
Aqui... ele me indicou com um sussurro, apontando para o quarto com a barra de ferro. Não que houvesse necessidade, afinal a trilha de sangue guiava somente a um dos quartos.A cena tendia sempre a ser a mesma mudando apenas a localização e os detalhes: um corpo desfigurado, sangue espalhado e o cheiro hediondo da morte. Senti um desconforto incrível em perceber que aquela cena já estava se tornando comum para mim.A cabeça de quem outrora dividirá um romance com a moça zumbi estava sem devorada, deixando alguns vislumbres do branco de seus ossos em um dos lados; a outra metade da cabeça estava relativamente intacta com o único olho fechado aparentando serenidade. Um dos braços estava tão comido que quase parecia se soltar do corpo.Você acha que tá morto? Perguntei para Cláudio sem tirar os olhos daquela massa de carne grotesca. Meu estô
Desviei o olhar quando a luz do sol amanhã encontrou meu rosto, interrompendo meu bocejo. A sensação de medo estava lá, provavelmente ela sempre estaria, porém seu gosto gélido em minha garganta começava a se tornar tão habitual que, sem perceber, talvez eu tenha me acostumado.Partir. Deixa a segurança. Colocar a vida em risco novamente.Mais um dia comum.Eu conseguia reconhecer essas mesmas sensações no rosto dos meus colegas: sempre havia o medo e o nervosismo, claro. Mas logo também começavam a lutar por um espaço em nossos corações. Coragem, seria o nome correto? Instinto de sobrevivência?Todos pareciam determinados a fazer tudo o mais rápido e precisaremos possível hoje. Havia a possibilidade de atravessarmos o mar nesse mesmo dia, agora com uma ideia muito melhor do que a que tínhamos.Também est