Logo todos nós estávamos mexendo nos celulares, como se esse fosses mais um dia normal em que as pessoas estivessem somente ocupadas com suas próprias vidas.
A primeira coisa que tentei fazer foi ligar para minha avó novamente. Ouvi cada barulho de indicação de chamada, mas esta nunca foi atendida. Senti como um pedaço de tijolo tivesse estalado na minha garganta.
Disquei o número do meu pai, porém também não houve resposta (a ligação nem havia sido completada). Não vendo outra alternativa, também tentei ligar para o meu irmão, mas novamente sem respostas, o que realmente não me surpreendeu: Victor nunca foi particularmente próximo de nenhum de nós e esse afastamento apenas piorou quando meu pai se mudou. Senti um pouco de raiva por ele nem ao menos ter tentado se comunicar comigo, esperando que, pelo menos, tenha tido a
Tudo aconteceu tão rápido que somente consigo me lembrar de borrões indistintos: tão logo aquele grito horrível nos tirou de nosso estado relaxado, Amanda imediatamente começou a correr em direção a escadaria. Foi um microssegundo em que todos nos olhamos, como se buscando a confirmação um dos outros, antes de dispararmos atrás dela.Ao subir o lance de escadas, deparamo-nos com a garota de cabelos azuis estarrecida, os olhos arregalados em horror. Não precisou de muito para entendermos o que a deixaria assim, somente passar por ela com pressa e adentramos na sala humilde daquela casa que agora estava completamente suja de sangue.A cena de horror que se desenrolara parecia provinda de pesadelos profanos. Um homem já de idade, cabelos ralos e brancos e com uma barriga proeminente estava sentado no sofá com a televisão ligada no canal de notíc
Aqui... ele me indicou com um sussurro, apontando para o quarto com a barra de ferro. Não que houvesse necessidade, afinal a trilha de sangue guiava somente a um dos quartos.A cena tendia sempre a ser a mesma mudando apenas a localização e os detalhes: um corpo desfigurado, sangue espalhado e o cheiro hediondo da morte. Senti um desconforto incrível em perceber que aquela cena já estava se tornando comum para mim.A cabeça de quem outrora dividirá um romance com a moça zumbi estava sem devorada, deixando alguns vislumbres do branco de seus ossos em um dos lados; a outra metade da cabeça estava relativamente intacta com o único olho fechado aparentando serenidade. Um dos braços estava tão comido que quase parecia se soltar do corpo.Você acha que tá morto? Perguntei para Cláudio sem tirar os olhos daquela massa de carne grotesca. Meu estô
Desviei o olhar quando a luz do sol amanhã encontrou meu rosto, interrompendo meu bocejo. A sensação de medo estava lá, provavelmente ela sempre estaria, porém seu gosto gélido em minha garganta começava a se tornar tão habitual que, sem perceber, talvez eu tenha me acostumado.Partir. Deixa a segurança. Colocar a vida em risco novamente.Mais um dia comum.Eu conseguia reconhecer essas mesmas sensações no rosto dos meus colegas: sempre havia o medo e o nervosismo, claro. Mas logo também começavam a lutar por um espaço em nossos corações. Coragem, seria o nome correto? Instinto de sobrevivência?Todos pareciam determinados a fazer tudo o mais rápido e precisaremos possível hoje. Havia a possibilidade de atravessarmos o mar nesse mesmo dia, agora com uma ideia muito melhor do que a que tínhamos.Também est
É melhor fazer isso de longe por enquanto alertou Elton. Mesmo que menos letal também te coloca menos em risco. Precisamos fazer rápido.Meus braços doeram somente de pensar em usar o bastão e logo essa dor tornou se realidade. Eles começavam a se aproximar e precisei deixar a formação para mantê-los longe. Puxei o bastão para trás buscando impulso e com força acertei o primeiro. Sangue e pedaços que eu preferi não pensar muito sobre voaram pelo ar. Logo precisei de outra batida para afasta o zumbi que se aproximava de mim sem muito preparo. Pó sorte o terceiro que certamente me pegaria foi interceptado por Elton.Quando conseguimos limpar aquela leva de mortos começamos a acelerar o passo. Amanda e Cláudio constantemente ficavam em cima de Valentina perguntando como ela se sentia.
Quando finalmente chegamos, minhas pernas doíam e meu corpo estava suado. Sentia meu rosto e braços ardendo gracas ao incessante sol que permaneceu alto no céu pela maior parte do dia, mesmo que tivéssemos descansado sob a sombra da varanda de uma casa ao meio dia.É até estranho contar como o dia havia sido tranquilo, mesmo com a longa, quente e exaustivaa caminhada que dominou a maior parte dele. Ainda assim não era o suficiente para nos enganar: durante todo o caminho, estivemos cercados por, pelo menos, meia dúzia daquelas coisas. Algumas próximas o suficiente par exigir que fizéssemos esforço enquanto outros eram apenas vultos ao longe que vagavam, parecendo nos mimicar de maneira sádica. Embora persistentes, não nos causaram maiores problemas.O que também não nos fez ser descuidados. Mantivemo-nos a maior parte do caminho em silêncio, com passadas lenta
Confesso que por um momento eu senti o impulso de protestar para que de fato procurássemos nas casas por sobreviventes, mas apesar de minha empatia, o que Guga havia dito estava certo: que poderíamos fazer? E valeria a pena colocar as nossas próprias vidas em rico, entrando em casas escuras sem saber o que poderíamos encontrar?Vamos primeiro ficar em segurança depois nos concentramos em oferecer ajuda. Dessa vez Elton quem falou, a voz um pouco mais alta. Embora ele não estivesse dando nenhuma ordem, sua opinião acabou sendo a palavra final e seguimos andando, um pouco mais lentos agora.Meus braços já ardiam e minhas costas pareciam destruídas quando finalmente após precisarmos afastar provavelmente cerca de 10 zumbis, colocamos enfim nossos pés na curta faixa de areia da praia. O cenário mesmo com manchas de sangue na areia e barcos destru&iac
A paz passou a ser incomoda.Até alguns dias eu imaginava que nunca conseguiria me acostumar com a ideia de viver em fuga correndo pela vida ou precisando lutar fisicamente contra seres que queriam me devorar, porém imediatamente a ideia da calma passou a ser igualmente perturbadora.Perturbadora por que ela era boa, mas sempre havia aquele sentimento de que não duraria.E quando você está em paz, você pode pensar e pensar também pode ser perigoso. Nos dá a oportunidade de rever os nossos erros o que pode ser aprendizado, mas também um martírio.Se eu tivesse um pouco mais preparada naquela hora, se a Rute de alguns dias atrás fosse a mesma de agora, certamente Duda estaria a salva.Se eu tivesse sido um pouco mais corajosa, poderia ter saldo as duas garotas do banheiro.Se eu tivesse mais malícia, poderia ter percebido que
A primeira vez é a pior, depois você se acostumar, sério… Anny, falou um pouco menos animada. Mesmo que não se acostume, é importante que você não precise depender dos outros.É… eu sei… a loira disse apertando o botão que desligava a tela do celular, deixando-nos iluminadas somente pela lua cheia. Eu fiquei muito triste quando Elton me considerou como alguém que precisava ser protegida hoje… eu sei que não é mentira, mas eu queria me esforçar um pouco para começar a valer o meu próprio peso. Claro que não vou virar nenhuma Rute ou Cláudio, mas só… não ser um estorvo…Você não é um estorvo, interrompi… nem ouse pensar nisso… tudo o que você fez pela gente até agora é mais do que