Charlie MacAleese
Donna diz que a vida sempre está pronta para nos surpreender, a nos ensinar alguma coisa ou nos ajudar a superar algo, e é verdade. A vida tem seus momentos e um deles foi a repentina chegada de Cameron, meu irmão, à minha vida.
Olhando ele e Riley correndo na areia da praia junto com o filhote de pastor alemão que ele deu de presente ao sobrinho, me pergunto se a vida poderia ficar mais perfeita. Claro que sim, desvio o olhar e comtemplo minha princesa, embaixo de um sombreiro, amamentando nossa menina.
Sorrio de volta quando Donna sorri para mim. Ela teve uma gravidez tranquila e não enjoou tanto quanto foi na de Riley. E quando ela entrou em trabalho de parto, quase perdi o nascimento da minha pequena, pois a apressadinha se adiantou e resolveu chegar dois dias antes do previsto, como eu estava viajando, peguei um voo de emergência e corri direto para o hospital.
"Em meio ao sufoco de lutar pela sobrevivência, seu amor vem como um sopro de ar fresco, revelando e expondo sentimentos."Donna ReidProstrada diante do vaso, já não tenho mais nada para colocar para fora, apenas a bile que sai com um gosto amago, queimando minha garganta. Os espasmos foram tantos, que fiquei com dor abdominal.Tem poucos minutos que cheguei de mais uma balada das tanta que vou. Estava tão bêbada, que não consegui me segurar nas próprias pernas e como meus amigos estavam do mesmo jeito, a moça do bar que conhece minha amiga Vick, ligou e pediu que ela fosse me buscar e foi assim que cheguei a minha casa. Desta vez não contaria com a proteção do senhor Pitter, que por vezes me seguia, pensando que eu não notava, e me levava para casa.Quando Vick chegou, ao ver meu estado, seu olhar de reprovação me magoou, mas eu tinha que continuar com minhas festas, esse era meu anestésico, o combustível que me dava forças para continuar. Fazia um tempo que eu não a locais assim, a
Charlie MacAleeseEu estava incrédulo.Não podia acreditar no que tinha acabado de ouvir. Dentre todas as pessoas, ele sabia que aquilo estava fora de questão.— Como pôde garantir em meu nome que eu traria a sobrinha dele em segurança? — cruzei os braços, estreitando os olhos enquanto o homem à minha frente coçava a nuca, desconfortável.— Escute! Você é o melhor e ele está disposto a pagar o que for preciso — disse. — Vá falar com ele e o convença de que seu trabalho valerá cada centavo. Mostre que a lenda não está enferrujada.— Por que ele não chama os caras? O FBI, a S.W.A.T? O homem é podre de rico.— Às vezes um homem faz o que é melhor para sua família, não para ele.Olhei para meu amigo de longa data. Depois que me afastei de tudo, ele era o único que sabia minha localização. Durante muitos anos estivemos juntos em situações complicadas demais devido ao nosso passado mercenário. Éramos respeitados e temidos por muitos homens. Homens sábios. E aqueles que não detinham tanta sa
Donna ReidDesde a hora que acordei que tento entrar em contato com meu tio nos Estados Unidos e não consigo. Parece haver algum tipo de interferência e a chamada não é completada. Preciso saber se ele vai realmente enviar o valor prometido para ajudar no tratamento do pequeno Osmin, uma criança com uma anomalia genética e por isso é alvo das gozações dos colegas, o que o deixa arredio e introspectivo. O problema é que sua família não tem condições e antes de dar uma esperança a eles, entrei em contato com meu tio.Eu sei que não deveria me envolver tanto e que não poderei ajudar a todas as famílias necessitadas desse país. Mas assim que cheguei, me senti facilmente acolhida por eles, e o pequeno se aproximou de mim de forma tão carinhosa, deixando até mesmo seus pais surpresos e, com o passar dos meses, fui me afeiçoando a cada um de forma especial."— Não se apegue muito" — disse Victória quando se despediu de mim, três meses depois de ter chegado e seu trabalho ter sido concluído.
Donna ReidHoras mais tarde, já na minha casa, ouvi uma voz familiar perguntar."— Como está se sentindo?""— Estou com uma dor de cabeça horrível. Parece que vai estourar a qualquer momento.""— Não pode ficar fazendo esse tipo de coisa. Em pouco tempo não estarei mais aqui para lhe socorrer..." — estreitei os olhos para ela, imaginando o que aquilo significava. "— Vou viajar. Esqueceu o trabalho voluntário que aceitei na América Central?"Era verdade, eu tinha esquecido. Ela se sentou na beirada da minha cama e com uma voz conciliadora, começou a falar."— Donna, eu entendo que quando era mais nova, em se ver numa situação difícil com a perda dos pais, tenha se revoltado, eu mesma tive meu momento. Mas os anos se passaram e agora você é uma mulher adulta e, o que está fazendo da sua vida? Está se tornando uma pessoa sem conteúdo, sem moral. Diminuindo-se por nada.""— Você não sabe do que está falando" — revidei."— Sei que agindo desse jeito não está prejudicando ninguém além de si
Charlie MacAleeseDepois de um voo de quase cinco horas, finalmente estou em El Salvador. Como o tráfego aéreo está fechado para a Guatemala, precisei pensar em uma rota alternativa para entrar sem ser visto.Com as fronteiras fechadas, não seria um trabalho fácil, mas apesar de serem muitos, os rebeldes não poderiam cobrir todas as estradas e rios.Com uma mochila nas costas, segui para fora do aeroporto. Uma hora e meia, depois, estava entrando num bar que já tinha visto dias melhores. O local parecia uma espelunca caindo aos pedaços. Os homens que estavam ali pararam de conversar e ficaram me encarando. Me aproximei do balcão e falei para a mulher que era tão mal encarada quanto os homens daquele lugar.— Buenos días! Quiero hablar con Carlos Rocío (Bom dia! Quero falar com Calos Rocío) — ela me encarou e depois de limpar o nariz no avental que usava, respondeu.— En la parte trasera (na parte dos fundos) — fez um gesto com queixo. Com um aceno em agradecimento, segui até o local i
Donna ReidEu tive uma noite péssima. Fazia algum tempo que não tinha mais aquele sonho. Tinha me esquecido a sensação que ele me causava. Era sempre o mesmo som, como se minha mente tivesse gravado exatamente a sonoridade das batidas fortes e apressadas na porta.Nos primeiros três anos da morte deles, eu sonhava quase que diariamente, acordando no meio da noite com um policial batendo à porta e informando daquele desastre horrível que levou imediatamente minha mãe. Eu ainda senti esperança de que papai sobrevivesse, mais uma semana depois, minha esperança foi enterrada junto com ele. Eu nunca mais iria vê-los, ouvi-los ou abraçá-los. Nunca mais era tempo demais sem as duas únicas pessoas que eu amava incondicionalmente e que me amavam de volta.Só que dessa vez o sonho tinha algo diferente, em vez de um policial, eram os rebeldes vindo me buscar, batendo na porta com violência e me procurando em todos os cômodos. Eu assisti aquilo como se não estivesse ali, eles não me enxergavam, m
Charlie MacAleesePuxo mais uma vez o mapa, olhando exatamente o ponto marcado nele, se seguir as coordenadas contidas ali e não tiver mais nenhuma surpresa pelo caminho, em aproximadamente duas horas, chego ao meu destino: o local onde a senhorita Reid está. Ou ao menos é isso que espero. Com as tropas avançando cada vez mais rápido, ela pode não estar lá e ter tentado fugir, o que seria um grave erro. Estando sozinha e despreparada, torna-se um alvo fácil de ser capturado.Jogo o mapa no banco ao lado e procuro um lugar onde parar o jipe e me aliviar um pouco. Desde os primeiros raios de sol que estou dirigindo e já está entrando pela tarde.A chuva fina que cai é bem vinda para diminuir o calor, além disso, pode ajudar a retardar o avanço dos rebeldes. Desço sentindo uma ardência em meu braço direito ao sentir o corte que tem ali entrar em contato com os pingos de água de chuva, por sorte é um ferimento superficial.Ao me deparar com os três desconhecidos, eu cerrei os dentes com t
Charlie MacAleeseA parca luminosidade do ambiente era um lembrete claro da tempestade que se aproximava, a chuva fina tinha cessado, mas no céu, as nuvens carregadas e escuras anunciavam que ela logo cairia. Fazia quase uma hora que estava nessa sala esperando pela chegada do dono da casa e a Srta. Reid. Minha vontade era de ter ido até onde eles estavam, mas a mulher que me recebeu garantirá que eles não demorariam e que seria melhor não ser visto andando pela aldeia.A mulher morena, baixinha e corpulenta ficou relutante em me deixar entrar, mas diante das informações que lhe passei, mais confiante, me recebeu de forma acolhedora.Um som de um veículo se aproximando chamou minha atenção, eu caminhei até a janela mais próxima e afastei o tecido para espiar, antes mesmo de saltarem, eu sabia que eram eles. A mulher encaminhou-se para fora junto com as crianças e bem devagar, fiz o mesmo.Senti meu sangue se agitar ao olhar para a mulher que vinha apressadamente na companhia do homem.