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Heloísa estava tendo um típico dia de tédio na Glover Time quando o sino da porta bateu anunciando a chegada de alguém.

Geralmente são pessoas curiosas que primeiro dão uma olhada e depois saem, então ela ignorou por completo o visitante e continuou a ver a programação do cinema para o domingo, Pietro deu uma ótima ideia para ela sobre o que fazer com sua manhã de folga. Ela só não queria fazer com ele.

— Bom dia.

A mulher sentiu um arrepio na espinha ao ouvir a voz forte e imponente.

— Bom dia. — Heloísa disse em resposta ao cumprimento, levantando a cabeça para ver o dono da bela voz, seu coração quase parou ao ver que era o homem da área vip.

O cara que estava na Star Wars e quase a fez perder a voz com o mesmo meio sorriso que está em seu rosto naquele momento, pelos céus, se fosse apenas o sorriso, o homem à sua frente é muito lindo. Um verdadeiro deus grego, não, não, ele estava mais para um deus nórdico.

Eles ficaram um tempo se encarando até que ela percebeu o relógio que estava em cima do balcão com a mão grande e dedos longos por cima.

— Como posso ajudá-lo? — Perguntou sem deixar de sentir certo alívio por não ter gaguejado, intimidada com a presença imponente do homem.

— Eu quero reformar esse relógio o mais rápido possível. — Ele respondeu sem desviar os olhos dos dela.

— Certo, mas o prazo de entrega é dado depois da avaliação do chefe. Terá que retornar na segunda para falar diretamente com o meu patrão, pois hoje ele não trabalha." Heloísa explicou com mais confiança.

Ela trabalha na Glover Time há sete anos, seu Francisco foi um homem muito gentil em dar emprego a uma garota recém-chegada do interior e sem experiência em nada.

— Dinheiro não é problema, mas o tempo sim, preciso dele na segunda. — O homem explica.

Helô percebeu algo, esse homem não era o mesmo da boate, o sorriso parecia o mesmo e o olhar, mas a postura é diferente, bem mais relaxada e ele parece ser menor, só um pouco menor, com certeza são irmãos e ela os confundiu ou não, talvez seja apenas alguém parecido e ela esteja confundindo as coisas.

— Tem como falar com seu chefe para ele vir pra cá? Como já disse, dinheiro não é problema. — O homem perguntou com certa preocupação e urgência.

— Posso ligar pra ele mas sinto dizer que meu patrão vai dizer o mesmo, volte na segunda e sem falar pelo tamanho, pelo grau de desgaste e pelos detalhes, esse relógio ficará pronto no mínimo em um mês, isso se o senhor Francisco o colocar na frente dos outros relógios que estão na fila para reforma. — Ela foi sincera e o homem pareceu não gostar nada do que acabou de ouvir.

— São tantos assim? — O homem duvidava que aquele lugar tivesse tantos relógios para restauro.

Ela sorriu e ele pareceu balançar com o sorriso.

— Desculpa, mas já nos conhecemos? — Ele perguntou como se tentasse recordar de onde.

— Se já esteve na boate Star Wars, talvez. — Heloisa precisava tirar a dúvida, ela nunca foi boa observadora e poderia estar enganada, ele continuou a olhar para ela de modo inquisidor.

— Não! nem sabia que existia uma boate com esse nome, o seu sorriso me é familiar, me faz lembrar de alguém. — Heloísa titubeou e o sorriso sumiu de seu rosto.

— Vai deixar o relógio ou vai procurar outro restaurador? — Helô perguntou mudando a postura dócil para uma mais azeda.

— Vou deixar o relógio, pode colocar o meu nome. — O homem fala sem parecer incomodado com a súbita mudança no humor da atendente. — Insisto que já nos vimos antes. — Ele insistiu, olhando para Heloísa tentando lembrar de onde a teria visto. Ela lembrava alguém, mas não conseguia dizer quem com certeza. Na verdade, sabia, mas não conseguia entender o porquê.

— Acredito que esteja enganado, se não me lembraria de um homem tão lindo quanto você. — Ela fez uma breve insinuação em você.

Falar em tom provocador sempre deu certo para afastar os homens que não tinham interesse nela, mas que insistiam em pedir descontos ou queriam que ela fizesse a ponte entre o indivíduo e a Mackenna.

O homem fitou seu olhar por mais tempo.

— Me acha bonito? — O homem a surpreendeu ao perguntar com um sorriso típico de um cafajeste experiente. — Que coincidência! Pois também a acho linda e por este motivo que insisto, sinto que a conheço ou no mínimo me lembra alguém, nunca esquecemos um anjo quando vemos um. — Ele disse.

A postura de Heloísa ficou rígida, não deu certo, ele não ficou abalado, horrorizado ou incomodado com o súbito interesse dela, mas porquê? E ele ainda não a tinha visto, não foi ele quem sorriu pra ela na noite anterior, Helô teve certeza, era outro homem bem parecido com o que estava a sua frente.

— Desculpa, mas creio ser impossível nos conhecermos, o senhor é um homem elegante e creio que não fazemos parte do mesmo círculo social, se pareço com alguém, é realmente pura coincidência. — Helô disse de forma bem polida.

— Tem razão, deve ser isso. — O homem concordou focando bem em seu rosto. — Mas voltando ao relógio, pode colocar no meu nome, Demétrio Klines. —

Heloísa tentou não parecer chocada ao ouvir o sobrenome do homem à sua frente.

É claro que a achava parecida com alguém, ele deve ser parente do porco safado que foi casado com sua irmã, com certeza Demétrio já viu uma foto dela quando adolescente, só não lembrou naquele momento, mas ela teve que manter a postura. Sua vida tranquila dependia disso.

— Está bem — sorriu, sem demonstrar o quanto o sobrenome dele a deixou abalada, pegou um adesivo de etiqueta, anotou o nome e pregou no relógio que com certeza ia demorar um tempo para ser restaurado, a loja podia não ter ninguém mas o patrão era conhecido por seu trabalho de restaurador de relógios antigos e tinha muitos clientes importantes.

No entanto, ela nunca pensou que pessoas tão próximas da sua família se interessariam por relógios antigos ou se dariam ao trabalho de ir pessoalmente até a loja para levar o objeto de restauração. Eles sempre delegam tal função para outras pessoas.

— Pronto, deixe o seu contato para avisá-lo quando o relógio estiver pronto. — Helô pede, louca para se livrar do homem.

— Não precisa, eu voltarei na segunda para falar com seu chefe. — O homem disse olhando pela primeira vez ao seu redor. — Esse é um bom motivo para retornar aqui mais cedo, não é verdade? — Demétrio abre um meio sorriso de tirar o fôlego de qualquer uma, mas o súbito interesse que a mulher teve no início se dissipou no exato momento que soube quem ou melhor a qual família pertence aquele homem.

— Não, não acho. — Heloísa foi fria em sua resposta.

— Que pena. — Ele disse com a mudança de postura dela, mas sem perder o riso fácil, disse: — Mas eu acho que é sempre bom rever um anjo... e eu gostaria muito de saber o nome de tal ser celestial. — Demétrio informa em tom galante.

Aquela cantada era tão ridícula que sentiu até vergonha alheia pelo homem.

— Heloísa — ela responde sem se deixar afetar por ele.

— Heloísa, gostei...até segunda Heloísa. — depois de pronunciar pela segunda vez seu nome de forma sensual, Demétrio deu meia volta e saiu da loja.

— Isso não deveria ter acontecido! — fala exasperada para uma loja vazia. — Tantos anos para ser vencida por um relógio, velho e acabado. — Disse frustrada. — Ele vai me reconhecer, ele é irmão do meu cunhado. — Heloísa fechou os olhos. Lembrou-se da razão dele achar que já a conhecia, o sorriso! O maldito sorriso que é a marca registrada dos irmãos Granger, que caía perfeitamente no rosto de anjo dos seus irmãos, mas que era um pecado no rosto dela, um sorriso que não combinava com a garota feia e sem graça.

Heloísa sorriu, exasperada ao lembrar que ganhou apelido de patinho feio, uma garota feia, gorda e desengonçada, ela nunca deixaria de ser a irmã gorda do anjo, a irmã imperfeita da senhorita perfeição, a irmã que precisou ser mandada para longe para não envergonhar a família, não, isso… ela jamais poderia aceitar novamente, esse mundo de novo, um mundo que nunca a aceitou do jeito que era e nunca aceitaria.

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