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sem revisão

Dimitri estava no seu escritório, na mansão Klines, aproveitando o breve sossego que a manhã de um domingo poderia lhe dar antes que os sogros aparecessem para o aborrecer com discursos moralistas e ofensas nada discretas, claro que a tradicional família Granger não abaixava a cabeça diante das ações do genro, mesmo ele sendo dono de quase tudo que um dia já pertenceu à eles, incluindo a mansão Granger, hoje em dia Klines.

Batidas na porta interrompem seu breve momento de paz.

— Seu café senhor — a governanta entra sem esperar a permissão para isso.

— Toma um gole primeiro — ordena seriamente, ele faz isso desde a morte de sua esposa, quando Polly, a governanta o acusou aos berros que havia matado Amanda, a menina dos olhos de toda a família Granger, não poderia correr o risco de morrer envenenado pela governanta em busca de justiça.

A mulher lança um olhar altivo para ele e o obedece.

— Espero que goste de beber café com saliva da criadagem. — Fala colocando a bandeja com a xícara em cima da mesa de mármore.

— Já tomei coisas muito piores que café babujado pela governanta decrépita — o sarcasmo dele não incomoda Polly. Ela era fiel as suas crianças, e ter perdido uma delas a machucou muito, ainda machucava.

— Se não está satisfeito com meu trabalho, porque não me demite? — A mulher o confronta. Era sempre assim, todas as manhãs. Era como se Dimitri sentisse prazer em atormentar a funcionária.

— Não me tenta, posso gostar da ideia de me ver livre da sua cara feia. — O homem sorriu, adorava a fúria que tomava conta do rosto da mulher sempre que ele a atormentava.

Polly não se deixou abater, nem tão pouco leva a sério a ameaça que a persegue há 9 anos, quando Dimitri se tornou dono quase absoluto da mansão Granger e de tudo que pertencia a família.

— Me demita, se é o que quer. — Polly fala dando meia volta para sair do escritório, — o Dionísio já chegou, quer vê-lo? — pergunta por sobre o ombro.

— Não — A frieza em sua voz fez Polly o odiar ainda mais.

— Esse é o motivo pelo qual não me demite. — Alfineta antes de deixar o homem sozinho.

A governanta cria o garoto desde o nascimento e Polly era a única que ousava confrontá-lo em relação ao filho, o único sobrevivente do acidente que matou Amanda, um parto rápido e preciso, que garantiu que um deles sobrevivesse.

Dimitri olha para o retrato da esposa, que a governanta insiste em manter na sua mesa, não adianta ele jogar fora, esconder, ela sempre retornar com um retrato novo, então ele desistiu de tentar esquece-la, agora o filho, o filho é alguém que ele não sabe lidar, não sabe controlar, Dimitri gosta de Dionísio, isso é uma certeza mas amar... amor foi algo que os irmãos Klines nunca receberam então como ele, o homem frio e impiedoso que todos conhecem e temem poderia um dia de fato amar?

Apesar de serem dois abutres, até mesmo Anastácia demonstrava algum afeto pelos filhos e eles não têm mais nada, exceto o que ficou com Augusto e Amélia na cosmética, uma porcentagem considerável que o impede de gerir a m*****a empresa do jeito que quer, mas até mesmo os Granger são tratados com punhos de aço.

Agora, ele tenta retomar o prazer de ficar sozinho sem que qualquer ser humano estúpido venha importunar esse momento de sossego.

Meia hora depois Augusto Granger entra no escritório sem bater. Aquele era o maldito dia daquela família encher o saco.

— É bom que seja importante pra invadir meu escritório sem autorização — Dimitri ameaça sem olhar para o homem.

— Soube que vai exportar para França a nova linha de perfumes — Augusto fala sem rodeios.

— Sim, eu vou. — O outro responde tomando um gole de café com saliva da governanta. — E também vamos lançar uma linha de skincare nova e sim, fiz tudo isso sem te consultar, agora me diga Augusto porque eu faria isso? — Dimitri olha para a janela, a semelhança entre o cunhado e a esposa é impressionante. Mais uma vez o pensamento da noite anterior surgiu "como duas pessoas podem ser tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidos?" Amélia não parecia em nada com os irmãos, exceto quando sorria. Quando abria aquela maldito sorriso com covinhas não tinha como negar que eram irmãos.

— Porque detenho 50% da empresa, você deve me consultar antes de tomar qualquer decisão em relação a empresa da minha família. — Augusto estava furioso pelo homem a sua frente insistir insistir em tomar decisões sem consultá-lo, já bastava ter se tornado dono de tudo que um dia pertenceu por completo a sua família.

— Como se você realmente se importasse com a empresa da sua família, quantas vezes vai às cosméticas Klines? Me livre dessas cenas, quando tudo que quer fazer é vender a sua parte na cosmética e como eu não permito, você vêm pedir explicações descabidas. — Dimitri não se abala pela afronta do homem de pé a sua frente.

Augusto é engenheiro e só ainda não vendeu a parte dele na empresa porque Klines não permite que venda para outra pessoa que não seja ele.

— Tem razão, mas devo zelar pelo patrimônio da minha irmã. — Ele confirma sem se importar com as farpas de Dimitri, que por sua vez dá uma risada carregada de sarcasmo.

— Qual delas, a morta ou a desaparecida? — Klines pergunta divertido, pra ele é patético a lealdade que Augusto detêm às irmãs, sendo que Amélia sequer se importa com ele. A prova disso é que preferiu se jogar do carro ao invés de voltar para a sua família. Será que ela sobreviveu à queda? Pensou em ir atrás dela, mas depois desistiu, não iria ficar correndo atrás de alguém tão patética ao ponto de pular de um carro em movimento. Mulher maluca.

— Lava essa boca para falar delas e é óbvio que falo da Amélia, quando eu encontrá-la, sei que vai querer assumir o que é seu por direito. — Augusto se agarrava aquela certeza, até mesmo quando a certeza de que a irmã estava viva se esfriava, era naquilo que se agarrava. Nunca desistiu de encontrar sua irmã caçula. E nunca desistiria, fez aquela promessa diante da sepultura da irmã. Da sua outra metade. O seu Yang.

— Já parou para pensar que Amélia não queira ser encontrada? — Dimitri pergunta sério. — Depois do que seus pais fizeram com ela, eu duvido muito que queira voltar para um mundo onde ela não foi aceita nem pela própria família, ao ponto de mandá-la para aquele inferno. — Klines foi duro. Apesar dele e a esposa não estarem bem, na época da fuga da caçula Granger, Amanda moveu céus e terra para encontrá-la. Eles descobriram que aquele internato não era o que Anastácia havia dito, foi o fim para o lugar quando ela exigiu a completa ruína dele.

Sempre que se trata da cunhada que conheceu recentemente, Dimitri a entende mais do do que ninguém, uma criança que sofreu maus tratos em um colégio onde chegar ao peso ideal era o objetivo, ele sabe muito mais que a família Granger, Dimitri ainda têm os diários de Amélia, cadernos que encontrou nos pertences da esposa entregues por uma amiga da cunhada a esposa logo após o fechamento da escola, junto dos havia uma carta, destinada a esposa, pedindo para não procurarem por ela, porém Amanda não respeitou a vontade da irmã e continuou as buscas por Amélia até o dia da sua morte é claro.

— Ela quer ser encontrada, eu acredito que Amy tenha medo de voltar para casa, medo da família não a aceitar de volta. — Guto não estava muito convicto de que esse fosse o motivo, mas ele não admitiria isso para o cunhado, o homem que destruiu a vida da sua irmã.

— Quanta ingenuidade, sabe muito bem que sua irmã nunca foi aceita por essa família, aposta que odeia essa família tanto quanto você, se fosse ao contrário ela não teria fugido sabe deus pra onde, você recebeu o email dela, sabe do que estou falando, ela mandou uma carta para Amanda dizendo o mesmo. — Dimitri sabia que estava sendo cruel, mas aquela era a realidade. Augusto tinha que crescer, era um homem feito, sua irmã não queria ser encontrada e depois da noite anterior, duvidava muito que voltasse a vê-la. Ele também tinha consciência de que era perverso quando queria perturbar a vida do cunhado mas Augusto pediu por isso quando atrapalhou o momento de solidão dele, no entanto admirava a persistência do cunhado quando todos haviam desistido de Amélia, ele ainda não desistiu.

— Lembra de me consultar antes de tomar qualquer decisão sobre minha empresa — Augusto fala antes de sair do escritório...

O cunhado sempre fazia isso quando não tinha mais argumentos para levar adiante uma discussão com Dimitri, que por sua vez pegou o porta-retrato da esposa e disse:

— Ela não quer voltar, não pode me culpar por isso. — Então emborcou o retrato, fechou os olhos e respirou fundo. Infelizmente, saber que Amélia não queria voltar não o impediria de tentar trazê-la de volta. Precisava se livrar daquele maldito fantasma.

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