— Não sei o que ela tem! Não fiz nada. Acho que a sua amiga bebeu demais, só isso. Estava tentando cuidar dela. — Gustavo andou alguns passos para trás e parou colocando as mãos na cintura.— Ah, claro! Vou acreditar em você. — Foi irônico, usando de um tom bem irritado. — Essa daqui não, Guto. Já devia saber!Edgar pegou Barbara nos braços e a levou para o seu carro, colocando-a sentada no banco passageiro da frente.— Ela está bem? — perguntou a menina com quem ele estava minutos atrás.— Sim. Foi mal, tenho que levar ela para casa.— Me liga. — Sorriu para ele e deu uma última olhada para Barbara.— Claro. — Voltou e fechou a porta.A garota que ele não recordava o nome se foi. Olhou para trás à procura de Gustavo, queria ter a oportunidade de xingá-lo, mas não o viu mais. Edgar sabia que aquilo não era excesso de cerveja. Já havia visto outras garotas ficarem mal daquele jeito em festas onde o seu amigo de infância estava presente.Entrou no carro e ligou o motor. Dirigiu de volt
Matheus acordou cedo naquele domingo. Sentou-se na cozinha e olhou a sua foto com Barbara. Desde o dia que a deixou, nunca mais havia falado com ela ou a visto. Ele se sentia um grande cretino pelo que fez. Sentia o coração latejar de saudade dela. Sentia a alma doer toda vez que pensava nela e no fato de que não podiam ficar juntos. Ou seja, a todo instante.Como podia uma escolha de anos atrás afetar tanto o seu futuro com a pessoa por quem está apaixonado? Barbara logo tinha que ser filha do chefe do tráfico? Quão caro ele pagaria se decidisse quebrar as regras e a promessa de ficar longe dela? O que lhe custaria deixar o crime, afinal? Iriam atrás dele até do outro lado do mundo? Pensava nisso o tempo todo. No fundo, mesmo que inconscientemente, ele não havia desistido da Barbara. Às vezes, se pegava pensando em uma solução ou jeitinho que fosse funcional.Abriu o aplicativo de mensagem e tocou no nome dela. Olhou para as últimas conversas. De repente, viu que ela estava online. A
Mais tarde, após voltarem de um jantar na cidade onde o seu pai bebeu mais do que devia, Barbara se preparava para dormir quando escutou um grito vindo do andar debaixo. Ela se assustou e abriu a porta correndo em direção à escada.— Pare com isso! — escutou a sua mãe dizer.— Cale a maldita boca! — gritou o seu pai.Barbara desceu às pressas, mas antes que pudesse alcançar a mãe que estava perigosamente perto demais do Carlos, ele desferiu um soco contra o rosto de Ângela, que caiu no chão.— O que está fazendo? — ela gritou para o pai, abaixando-se ao lado da mãe. — Você a machucou! — disse ao ver a maçã do rosto dela inchada.— Se acalme, Carlos! — pediu Cássio, entrando no caminho entre Ângela e ele.— Ela acha que pode se meter nos meus negócios, mas não pode! — gritou.Barbara olhou com olhos cheios de lágrimas para o pai. Desde que tinha dez anos, nunca mais o viu agredir a sua mãe, embora soubesse que ainda fazia. Carlos viu a feição da filha. Uma mistura de reprovação e trist
Na manhã seguinte, Carlos já estava de malas prontas quando a mulher e a filha acordaram. Cássio tentou o convencer de ficar um pouco mais para virada de ano, mas ele estava irredutível. Dizia que a esposa não merecia isso e que lugar de gente que não sabe se comportar é trancada em casa. Mas, no fundo, a verdade é que Carlos estava envergonhado pela ação da noite anterior. Não envergonhado por ter agredido alguém, mas por outras pessoas terem visto.Ele agradeceu a hospitalidade e seguiram para pequena pista de voo onde o mesmo jatinho que os trouxeram, aguardava por eles. Os três embarcaram e seguiram para casa. No caminho, houve discussão onde Carlos culpou Ângela por ele ter se comportado daquela forma. Barbara tentou dizer que ele não poderia estar mais errado, mas ele mandou que ela calasse a maldita boca. Mas uma vez ela se surpreendeu com seu comportamento.Ao chegarem, Barbara pegou a sua mala e caminhou em direção à saída, sem se despedir dos pais.— Espera! Aonde vai? — per
Já passava das onze quando bateram na porta do Matheus. Estava apenas ele e a mãe em casa, sentados no sofá, assistindo à programação da TV para aquela noite. Naquele momento passava o rotineiro show do cantor Roberto Carlos. A sua mãe amava. Ele se levantou e foi até a porta, abrindo-a.— E ae? O chefe tá te chamando.— São onze da noite. Está só eu e a minha mãe em casa.O homem à sua frente esgueirou a cabeça para espiar dentro da casa. Viu a mulher acomodada na sala vendo TV. Ele bufou e revirou os olhos.— Cola lá. Eu fico de olho na velha pra tu.— Beleza.Ele passou pelo homem que todos na comunidade chamavam de Flecha, e subiu mais o morro em direção à Boca 1. Ao entrar, encontrou Bodão sentado no sofá velho que ficava no canto do cômodo. Ele tinha duas mulheres abraçadas a ele.— Qualé... — disse Matheus, parando à frente dele.— Tô precisando de você, Matheusinho. Tá a fim de ir a uma festa? — perguntou com um sorriso marcando o canto da sua boca, enquanto a garota à sua dir
O homem subiu a mão lentamente pelas coxas dela, entrando com os dedos debaixo do vestido que reluzia como uma estrela sob as luzes no teto. Então, ele viu uma cena que explodiu algo dentro dele de maneira feroz, tornando-o em um irracional medíocre. Barbara segurou a nuca do homem e ergueu a cabeça, permitindo ser beijada por ele. Matheus sabia que estava errado, mas sua ira o controlou naquele momento. Desceu a escada e andou a passos largos em direção dela. Quando se aproximou, puxou o homem pelo braço e o empurrou.— Mas que merda é essa? — perguntou o estranho.As pessoas ao lado se assustaram, enquanto outras mais distantes nem sequer perceberam o que havia acabado de acontecer. Barbara olhou para o lado, confusa, e viu Matheus parado bem ali. Ele encarava o homem com olhos vidrados e raivosos, respiração pesada e punhos cerrados. De repente, o estranho o acertou com um soco. Matheus cambaleou para trás, quase indo ao chão. Embora concordasse que merecesse, não esperava por aqui
Os olhos dele alcançaram os dela outra vez.— Cansei de me sentir vazio. Eu vou dar um jeito em toda a merda.Uma lágrima escorreu pelo rosto dela.— Esteja certo disso. Se for embora mais uma vez... você não volta mais para minha vida. É bom que não cruze nem mesmo o meu caminho.Um pequeno sorriso se formou nos lábios dele. Ele gostava dessa Barbara valente, marrenta. Ele precisa ser mais como ela. Tinha muito o que aprender com a sua amada.— Não serei mais um covarde.Os lábios dele se juntaram ao dela em um beijo inicialmente simplório, enquanto os braços se enroscavam no corpo pequeno e magro. Lentamente os lábios dela se abriram para ele. A língua do Matheus sentiu um pequeno choque repleto de desejo quando se encontrou com a dela, que gemeu baixinho. Ali a música não era tão alta e nem havia tanta gente.— Dois minutos! — Alguém gritou atrás deles e logo todos saíram correndo dali.— Vem! — chamou Barbara, pegando-o pela mão e o levando para o banheiro feminino, que já se enco
Barbara acordou e não viu Matheus na cama. Sentou-se tentando ouvir se vinha algum barulho do banheiro, mas nem um ruído saia de lá. Ela se levantou e olhou o chão em busca das roupas dele, mas não as viu. O coração bateu acelerado, nervoso. Recusou-se acreditar que ele tinha ido outra vez sem se despedir. Pegou o roupão, o celular e vestiu-se a caminho da sala. Quando chegou lá, a porta foi aberta e Matheus entrou com dois capacetes na mão.— Bom dia — ele sorriu.— Onde foi?— Precisava devolver o carro e entregar a mochila. Desculpe não estar com você quando acordou. — Selou os lábios dela, que suspirou com alívio.— Achei que tivesse me deixado outra vez.— Não vou. — Acariciou a sua face. — Não sei o que estar com você vai me custar, porém, não vou te deixar. — Segurou as mãos dela.— Quem quer nos impedir de ficar juntos, Matheus? Converse sobre isso comigo. Você precisa ser claro.Ele abaixou a cabeça. Queria contar a verdade, mas sentia que ainda não devia. Barbara, sem dúvida