Mais tarde, após voltarem de um jantar na cidade onde o seu pai bebeu mais do que devia, Barbara se preparava para dormir quando escutou um grito vindo do andar debaixo. Ela se assustou e abriu a porta correndo em direção à escada.— Pare com isso! — escutou a sua mãe dizer.— Cale a maldita boca! — gritou o seu pai.Barbara desceu às pressas, mas antes que pudesse alcançar a mãe que estava perigosamente perto demais do Carlos, ele desferiu um soco contra o rosto de Ângela, que caiu no chão.— O que está fazendo? — ela gritou para o pai, abaixando-se ao lado da mãe. — Você a machucou! — disse ao ver a maçã do rosto dela inchada.— Se acalme, Carlos! — pediu Cássio, entrando no caminho entre Ângela e ele.— Ela acha que pode se meter nos meus negócios, mas não pode! — gritou.Barbara olhou com olhos cheios de lágrimas para o pai. Desde que tinha dez anos, nunca mais o viu agredir a sua mãe, embora soubesse que ainda fazia. Carlos viu a feição da filha. Uma mistura de reprovação e trist
Na manhã seguinte, Carlos já estava de malas prontas quando a mulher e a filha acordaram. Cássio tentou o convencer de ficar um pouco mais para virada de ano, mas ele estava irredutível. Dizia que a esposa não merecia isso e que lugar de gente que não sabe se comportar é trancada em casa. Mas, no fundo, a verdade é que Carlos estava envergonhado pela ação da noite anterior. Não envergonhado por ter agredido alguém, mas por outras pessoas terem visto.Ele agradeceu a hospitalidade e seguiram para pequena pista de voo onde o mesmo jatinho que os trouxeram, aguardava por eles. Os três embarcaram e seguiram para casa. No caminho, houve discussão onde Carlos culpou Ângela por ele ter se comportado daquela forma. Barbara tentou dizer que ele não poderia estar mais errado, mas ele mandou que ela calasse a maldita boca. Mas uma vez ela se surpreendeu com seu comportamento.Ao chegarem, Barbara pegou a sua mala e caminhou em direção à saída, sem se despedir dos pais.— Espera! Aonde vai? — per
Já passava das onze quando bateram na porta do Matheus. Estava apenas ele e a mãe em casa, sentados no sofá, assistindo à programação da TV para aquela noite. Naquele momento passava o rotineiro show do cantor Roberto Carlos. A sua mãe amava. Ele se levantou e foi até a porta, abrindo-a.— E ae? O chefe tá te chamando.— São onze da noite. Está só eu e a minha mãe em casa.O homem à sua frente esgueirou a cabeça para espiar dentro da casa. Viu a mulher acomodada na sala vendo TV. Ele bufou e revirou os olhos.— Cola lá. Eu fico de olho na velha pra tu.— Beleza.Ele passou pelo homem que todos na comunidade chamavam de Flecha, e subiu mais o morro em direção à Boca 1. Ao entrar, encontrou Bodão sentado no sofá velho que ficava no canto do cômodo. Ele tinha duas mulheres abraçadas a ele.— Qualé... — disse Matheus, parando à frente dele.— Tô precisando de você, Matheusinho. Tá a fim de ir a uma festa? — perguntou com um sorriso marcando o canto da sua boca, enquanto a garota à sua dir
O homem subiu a mão lentamente pelas coxas dela, entrando com os dedos debaixo do vestido que reluzia como uma estrela sob as luzes no teto. Então, ele viu uma cena que explodiu algo dentro dele de maneira feroz, tornando-o em um irracional medíocre. Barbara segurou a nuca do homem e ergueu a cabeça, permitindo ser beijada por ele. Matheus sabia que estava errado, mas sua ira o controlou naquele momento. Desceu a escada e andou a passos largos em direção dela. Quando se aproximou, puxou o homem pelo braço e o empurrou.— Mas que merda é essa? — perguntou o estranho.As pessoas ao lado se assustaram, enquanto outras mais distantes nem sequer perceberam o que havia acabado de acontecer. Barbara olhou para o lado, confusa, e viu Matheus parado bem ali. Ele encarava o homem com olhos vidrados e raivosos, respiração pesada e punhos cerrados. De repente, o estranho o acertou com um soco. Matheus cambaleou para trás, quase indo ao chão. Embora concordasse que merecesse, não esperava por aqui
Os olhos dele alcançaram os dela outra vez.— Cansei de me sentir vazio. Eu vou dar um jeito em toda a merda.Uma lágrima escorreu pelo rosto dela.— Esteja certo disso. Se for embora mais uma vez... você não volta mais para minha vida. É bom que não cruze nem mesmo o meu caminho.Um pequeno sorriso se formou nos lábios dele. Ele gostava dessa Barbara valente, marrenta. Ele precisa ser mais como ela. Tinha muito o que aprender com a sua amada.— Não serei mais um covarde.Os lábios dele se juntaram ao dela em um beijo inicialmente simplório, enquanto os braços se enroscavam no corpo pequeno e magro. Lentamente os lábios dela se abriram para ele. A língua do Matheus sentiu um pequeno choque repleto de desejo quando se encontrou com a dela, que gemeu baixinho. Ali a música não era tão alta e nem havia tanta gente.— Dois minutos! — Alguém gritou atrás deles e logo todos saíram correndo dali.— Vem! — chamou Barbara, pegando-o pela mão e o levando para o banheiro feminino, que já se enco
Barbara acordou e não viu Matheus na cama. Sentou-se tentando ouvir se vinha algum barulho do banheiro, mas nem um ruído saia de lá. Ela se levantou e olhou o chão em busca das roupas dele, mas não as viu. O coração bateu acelerado, nervoso. Recusou-se acreditar que ele tinha ido outra vez sem se despedir. Pegou o roupão, o celular e vestiu-se a caminho da sala. Quando chegou lá, a porta foi aberta e Matheus entrou com dois capacetes na mão.— Bom dia — ele sorriu.— Onde foi?— Precisava devolver o carro e entregar a mochila. Desculpe não estar com você quando acordou. — Selou os lábios dela, que suspirou com alívio.— Achei que tivesse me deixado outra vez.— Não vou. — Acariciou a sua face. — Não sei o que estar com você vai me custar, porém, não vou te deixar. — Segurou as mãos dela.— Quem quer nos impedir de ficar juntos, Matheus? Converse sobre isso comigo. Você precisa ser claro.Ele abaixou a cabeça. Queria contar a verdade, mas sentia que ainda não devia. Barbara, sem dúvida
Uma semana havia se passado desde aquela noite. Todos os dias, depois das oito da noite, Matheus ia até Barbara. Por duas vezes ele a levou para caminhar na orla. Os dois estavam vivendo uma história secreta de paixão. O sexo era cada vez mais incrível. Eles estavam cada dia mais apaixonados e viciados um no outro.— Aah! — Barbara gemeu ofegante em pleno êxtase.Matheus ergueu a cabeça de entre as suas pernas e sorriu de um jeito safado, mordendo o lábio inferior.— Você simplesmente tem o melhor gosto do mundo.— Eu posso dizer o mesmo — disse ela, quando ele se deitou sobre o seu corpo.— Eu tenho que ir.— Não. Durma essa noite.— Não posso. Preciso estar bem cedo na Boca.Barbara suspirou frustrada. Matheus se levantou da cama e começou a se vestir.— Já criou algum plano?— Tenho algo em mente.— O quê? — Sentou-se na cama.— Fazer uma mala e fugir com você — disse sério.Por um segundo ela o encarou cheia de esperanças, mas logo percebeu que ele apenas brincava.— Não está fala
Barbara passou pela porta e atravessou o corredor até a cozinha dos empregados. Ao entrar, todos ali se colocaram de pé e um silêncio mórbido reinou no espaço.— Barbara... Que bom te ver — disse Cátia, a governanta. Ela estava há anos na família, basicamente viveu para os Falcão desde a adolescência quando foi empregada por eles. Quando a família se mudou, ela desejou ir junto.— Bom te ver também. A minha mãe quer um vinho. Pode servir? Acho que ela deve estar na sala de estar.— Mas é claro. — Cátia seguiu para adega.Barbara encarou a mulher que estava com o seu pai.— Quem é você? Ainda não a conheço.— Maiara, senhorita Falcão. Estou na casa há duas semanas.— Uau! Duas semanas? — Maiara assentiu. — E já conquistou o coração do meu pai. — Forçou uma pequena risada.Os outros membros da equipe de empregados olharam para Maiara, que abaixou a cabeça, constrangida.— O que ela está dizendo? — perguntou outra funcionária. Marta era o seu nome. Ela trabalhava há uns cinco anos na cas