Saiu perguntando-se para onde foram ou o que aconteceu após saírem dali. Matheus voltou para o estacionamento e parou, observando o local. Olhou para cima, nas paredes e viu câmeras de segurança. Então ele foi até a recepção do térreo e perguntou onde ficava a sala da segurança. A mulher informou que no primeiro andar do subsolo. Ele desceu até lá, mas de nada adiantou. Os seguranças disseram que sem um advogado e mandado da polícia, eles não poderiam liberar as imagens. Matheus retornou para fora do hospital cuspindo fogo pelas narinas. Estava ficando cada segundo mais irritado. Ele começou a sentir no seu coração que ela não estava em segurança.— Ae, tio. Tem uns dois reais ae?! — perguntou um menino ao se aproximar.Matheus o olhou de cima a baixo, viu que ele não devia ter mais do que uns dez anos.— Fica aqui todo dia?O menino assentiu.— O dia todo? — repetiu a pergunta, chegando mais perto dele.— É, eu fico.— Viu essa mulher?Sacou o celular do bolso e mostrou a foto da Bar
Usando da mesma muleta que Matheus usou meses atrás, Rafa saiu de casa. Pegaram um carro e armas emprestadas na Boca, e seguiram estrada a fora. Estava escuro e Rafa não conseguia mais reconhecer o caminho. Matheus estava nervoso, mas tentava não se alterar. Isso com certeza não ajudaria em nada. Ele parou o carro e colocou faróis altos. Respirou fundo e desceu. Já não chovia mais, mas a estrada de terra estava bem lamacenta. Matheus olhou para o céu com olhos marejados e respirou fundo.— Por favor, Deus. Se existe um momento pra me mostrar que não sou um abandonado, a hora é agora. Preciso achar a Barbara. Onde é essa maldita casa?Rafa viu o sofrimento do amigo. Sentia-se culpado por ter corrido e deixado Barbara para trás. Ela estava grávida. Via-se como um covarde. Desceu do carro e foi até o Matheus.— Vamos achar ela.— Se ele tivesse sequestrado a Barbara para pedir resgate, acha que pediria para mim? Acha que ele sabe que ela é minha namorada?— Eu não sei se sabe. Mas se não
Matheus dirigiu de volta para o morro e deixou Rafa em casa. Levou o carro para Boca 1 e entrou devolvendo a arma para o exato lugar de onde a pegou.— O que está fazendo ae? — perguntou Bodão.— Devolvendo uma arma.— O que você quer com uma arma? Pensei que não gostasse delas.— Não gosto, mas foi necessário.— Ah, é? — Entrou no quartinho onde ficava o armamento. — Para onde você e o Rafa foram?— Atrás do Tiago.— E vocês o encontraram? — perguntou com o olhar cerrado e um sorriso sarcástico.— Encontramos. — A resposta pegou Bodão de surpresa, a expressão mudou completamente. Ele ficou sério e com ombros inflados.— Onde esse cretino está?— Em uma zona de mata, fora da cidade. E ele tá morto.— Morto? Cadê a cabeça desse infeliz?Matheus sacou o celular do bolso de trás da calça, abriu a galeria de fotos e tocou na imagem feita por Rafa, da cabeça do Tiago com um furo atravessando o crânio. Ampliou e entregou o aparelho para o Caio.— Filho da puta. E quanto aos outros?— Não es
A corrente atada ao tornozelo da Barbara nem sequer permitia que ela fosse ao banheiro ou chegasse perto da janela. O café da manhã ainda estava servido na bandeja de prata sobre os pés da cama. Apesar da fome que sentia e de saber que precisava se alimentar, tinha medo de comer e a comida estar envenenada com algo que lhe causasse um aborto.Dos olhos, não paravam de sair lágrimas. Ainda tentava entender que diabos estava havendo na sua vida. Do céu ao inferno em questão de meses. Perguntava-se como viveu tantos anos sem conhecer a verdadeira face do pai que apenas era taxado de chato.A porta foi aberta e Barbara se pôs de pé, secando os olhos molhados. Carlos adentrou com outro homem que vestia jeans e camisa branca. Ele portava uma maleta preta e um jaleco dependurado no braço. Aparentava ter cinquenta anos, ou talvez um pouco mais. O brutamontes lá fora fechou a porta, dando-os privacidade.— Barbara, este é Agnaldo. Ele vai examinar você.— Como vai? — Forçou um sorriso simpátic
Quando amanheceu, uma fresta de luz que passava entre os tapumes, despertou Matheus ao arder contra o seu rosto. Ele olhou ao redor e viu como aquele lugar era sujo. Havia uma ossada ali, presa a pedaços de roupa. Desviou o olhar daqui e respirou fundo o odor de podridão no ar, buscando se acalmar enquanto tentava não vomitar novamente.As horas foram passando, o lugar foi ficando cada vez mais quente e sem ar, como dentro de uma estufa. O estômago roncou de fome e a boca colava de sede. Escutou passos lá fora e depois, conversa. Ouviu quando um deles mandou que retirassem ele lá de dentro para que descessem até a Boca 1. Mesmo que soubesse que sairia dali a caminho da morte, estava minimamente aliviado de deixar aquele barraco. A portinhola foi aberta e um homem entrou apontando-lhe uma arma.— Levanta, otário! — mandou, cutucando a sua cabeça com a ponta da pistola.— Estou com os pés atados. Não dá pra levantar.— Desamarra o pé do comédia.Outro homem se aproximou e desatou o peda
Lá fora, Carlos foi rapidamente colocado por dois homens em um carro e levado dali. Ele xingava, irado, por estar indo embora sem a cabeça do Matheus. Ele pretendia muito mostrá-la à filha quando retornasse para casa. Bodão atirou contra o carro, mas era blindado, assim como o seu. Chiclete, ou Lucas, menino de vinte anos, pai de duas crianças, caiu no chão sem vida, no mesmo segundo em que Caio derrubou um homem do outro lado com uma perfuração à bala no crânio.Matheus se ergueu e olhou pela janela. Viu que de uma lado, estava Bodão atirando sozinho. Do outro, três homens de terno preto. Dois afugentados atrás do SUV de cor grafite e outro atrás das ruínas de uma velha construção. Ele abriu a porta e pulou para fora.— Me dê uma arma! Deixe eu te ajudar! — gritou para o Caio.— Não!— Nós vamos morrer aqui. Me dê uma arma!Bodão olhou para ele, hesitante, mas logo retirou das costas outra arma, estendendo à Matheus, que a apanhou.— Me desamarra.Depressa, Bodão o soltou. Olhando po
Essas palavras doeram no fundo da alma da Barbara. Ângela é o ser que mais devia ter o desejo de protegê-la, mas isso não estava acontecendo. Barbara sentiu repulsa da mãe. Lágrimas desceram a face. Quando foi que ela se tornou essa pessoa? Será que sempre foi assim e Barbara nunca percebeu? A decepção foi imensa. Sentiu-se enganada pelo amor que achava ter dos seus pais. Aquilo sempre fora mentira, nunca passou disso para persuadi-la de maneira mais fácil a fazer o que eles queriam dela.Agarrando os punhos da Ângela com força, ela levou as suas mãos até a barriga, a obrigando tocá-la.— Este é o seu neto! — disse irada, entredentes. — Meu filho. Seu neto! — reforçou. Ângela a encarou tentando retirar suas mãos dali, mas Barbara não deixou. — Aqui dentro tem uma vida. E ao contrário de você que não daria a sua por mim, eu sou capaz de morrer por ele. — Sua mãe fechou os olhos e virou a cabeça para o lado. — Olha para mim. Olha para mim! — berrou, cravando as unhas em seus pulsos. Ela
Matheus encarava as madeiras que sustentavam as telhas de zinco manchadas. Deitado na cama, ele mantinha aquela posição desde às cinco da manhã. Os pensamentos viajavam longe. Mais precisamente, eles estavam em Barbara. Ele queria poder saber como ela e seu filho estão. Gostaria de poder perguntar se ela já se alimentou hoje? Será que estava tomando as vitaminas do pré-natal? Ele duvidava muito.Lágrimas escorreram por suas têmporas, traçando um caminho até suas orelhas, que sustentavam os pequenos diamantes. Sempre que se olhava no espelho, lembrava do bilhete guardado no fundo da sua gaveta. “Sua Barbara”. Ela era dele e seria eternamente, mesmo que ambos morressem lutando para ficarem juntos.— Ae! — chamou Rafa, da porta do quarto.Matheus se sentou às pressas quando o viu.— Eles voltaram?Rafael assentiu. Matheus levantou-se e saiu de casa correndo morro acima, sem esperar pelo amigo. Ao chegar à Boca 1, entrou sem fôlego, encarando os dois homens que haviam acabado de chegar.—