Barbara acordou sentindo-se tonta. Coçou os olhos e forçou-os a abrir. Sentiu como as pálpebras estavam pesadas e isso era angustiante. A memória era um tumulto de lembranças que ela não sabia se eram reais. Olhou para os lados e viu que ainda estava dentro do seu carro. Vagarosamente, sentou-se. Ali dentro estava abafado e escuro. Ela se sentia um pouco sem ar. Os vidros estavam levemente embaçados. Passou a mão na janela e observou lá fora. Tentou identificar onde estava. Era uma garagem, mas não a da casa do Matheus. O seu coração bateu acelerado. Observou mais o lugar e viu que as paredes eram velhas e sujas. Os cantos estavam cheios de teia de aranha e havia muitas caixas de madeira ali, além de alguns barris de plástico azul. De repente, uma batida forte a assustou. Ela sobressaltou no banco, com medo. Então, escutou de novo. Era como se alguém socasse a traseira do carro.— Socorro! — Escutou alguém pedir. A voz soava abafada, mas parecia estar próxima. — Socorro! Alguém aí? —
Rafa e Barbara se embrenharam na mata e continuaram a correr. Rafa olhou para trás e viu três homens os seguirem.— Parem! — gritou Tiago, atirando em direção deles.Barbara gritou apavorada, parando.— Não! Continua! — disse Rafa, puxando-a mais uma vez.Mais tiros foram ouvidos e, desta vez, um deles acertou Rafael na panturrilha. Ele gritou de dor e caiu de joelhos.— Eles estão se aproximando. Levanta! — falou ela.Rafa se colocou de pé e eles continuaram a tentar correr, mas não o suficiente. Os outros estavam chegando perto demais. De repente, Rafa escorregou por um pequeno desfiladeiro escondido atrás do mato alto. Quando chegou lá embaixo, sentiu muita dor na perna ferida. Olhou para cima e viu Barbara com um olhar assustado.— Você precisa descer, vem! — ele a chamou.Ela olhou para trás e viu que os três homens estavam há menos de cinco metros de distância. Sentou-se no chão para escorrer, respirou fundo e quando tentou, foi agarrada pelos cabelos e puxada para trás.— Me so
Um dos homens abriu o carro e pegou uma pequena bolsa, jogando-a aos pés do Tiago. Ela caiu pesada e ele pode sentir que o que desejava tanto estava ali dentro. Tiago empurrou Barbara em direção à Carlos.— Não! — disse ela com pavor, tentando se agarrar ao braço do Tiago.— Saí fora! — falou ele, livrando-se dela.Carlos a pegou pelos ombros e puxou-a para ele, tirando-a de perto do seu sequestrador. A centímetros de distância, eles se encararam. O olhar do seu pai era frio e odioso. Perverso e vazio como o olhar escuro de um demônio.Tiago se abaixou e abriu a bolsa. Riu extremamente feliz quando viu as duas barras amarelinhas reluzir na baixa iluminação do local. Mas ele foi surpreendido com algo. Um tiro que lhe acertou o crânio de cima a baixo, ceifando sua vida medíocre. O estouro assustou Barbara, que gritou e sobressaltou. Apavorada, olhou para o lado e viu Tiago morto, sangrando sobre o ouro.— Tem mais alguém aqui? — Carlos perguntou a sua filha, usando de um tom rude. — Bar
Após o banho, ela vestiu o roupão e sentou-se na cama. Lá fora a chuva castigava caindo forte e em abundância. Barbara sentiu o bebê se mexer, trazendo-lhe um pouco de alívio e mísero conforto. Sentia saudade do Matheus e da sua cama naquele quarto apertado. Sentia falta até mesmo da Gabriela naquele momento.A porta foi aberta e Carlos entrou. Logo depois dele, passou uma das empregadas e o homem que havia ficado de guarda na sua porta. Ele seria um grande empecilho para sua tentativa de fuga. A mulher colocou uma bandeja com comida sobre os pés da cama e se retirou em seguida. Carlos se aproximou da filha com um olhar falsamente afetuoso do qual agora ela sentia nojo e medo. Levou tempo para que ela entendesse que esse carinho era apenas uma forma de manipulá-la. Ele ergueu a mão para tocá-la, mas Barbara se arrastou para o outro lado da cama, impedindo que ele a tocasse. O olhar dele mudou repentinamente.— Não fica chateada. O seu lugar é aqui e verá isso. Aquele homem fez uma lav
Saiu perguntando-se para onde foram ou o que aconteceu após saírem dali. Matheus voltou para o estacionamento e parou, observando o local. Olhou para cima, nas paredes e viu câmeras de segurança. Então ele foi até a recepção do térreo e perguntou onde ficava a sala da segurança. A mulher informou que no primeiro andar do subsolo. Ele desceu até lá, mas de nada adiantou. Os seguranças disseram que sem um advogado e mandado da polícia, eles não poderiam liberar as imagens. Matheus retornou para fora do hospital cuspindo fogo pelas narinas. Estava ficando cada segundo mais irritado. Ele começou a sentir no seu coração que ela não estava em segurança.— Ae, tio. Tem uns dois reais ae?! — perguntou um menino ao se aproximar.Matheus o olhou de cima a baixo, viu que ele não devia ter mais do que uns dez anos.— Fica aqui todo dia?O menino assentiu.— O dia todo? — repetiu a pergunta, chegando mais perto dele.— É, eu fico.— Viu essa mulher?Sacou o celular do bolso e mostrou a foto da Bar
Usando da mesma muleta que Matheus usou meses atrás, Rafa saiu de casa. Pegaram um carro e armas emprestadas na Boca, e seguiram estrada a fora. Estava escuro e Rafa não conseguia mais reconhecer o caminho. Matheus estava nervoso, mas tentava não se alterar. Isso com certeza não ajudaria em nada. Ele parou o carro e colocou faróis altos. Respirou fundo e desceu. Já não chovia mais, mas a estrada de terra estava bem lamacenta. Matheus olhou para o céu com olhos marejados e respirou fundo.— Por favor, Deus. Se existe um momento pra me mostrar que não sou um abandonado, a hora é agora. Preciso achar a Barbara. Onde é essa maldita casa?Rafa viu o sofrimento do amigo. Sentia-se culpado por ter corrido e deixado Barbara para trás. Ela estava grávida. Via-se como um covarde. Desceu do carro e foi até o Matheus.— Vamos achar ela.— Se ele tivesse sequestrado a Barbara para pedir resgate, acha que pediria para mim? Acha que ele sabe que ela é minha namorada?— Eu não sei se sabe. Mas se não
Matheus dirigiu de volta para o morro e deixou Rafa em casa. Levou o carro para Boca 1 e entrou devolvendo a arma para o exato lugar de onde a pegou.— O que está fazendo ae? — perguntou Bodão.— Devolvendo uma arma.— O que você quer com uma arma? Pensei que não gostasse delas.— Não gosto, mas foi necessário.— Ah, é? — Entrou no quartinho onde ficava o armamento. — Para onde você e o Rafa foram?— Atrás do Tiago.— E vocês o encontraram? — perguntou com o olhar cerrado e um sorriso sarcástico.— Encontramos. — A resposta pegou Bodão de surpresa, a expressão mudou completamente. Ele ficou sério e com ombros inflados.— Onde esse cretino está?— Em uma zona de mata, fora da cidade. E ele tá morto.— Morto? Cadê a cabeça desse infeliz?Matheus sacou o celular do bolso de trás da calça, abriu a galeria de fotos e tocou na imagem feita por Rafa, da cabeça do Tiago com um furo atravessando o crânio. Ampliou e entregou o aparelho para o Caio.— Filho da puta. E quanto aos outros?— Não es
A corrente atada ao tornozelo da Barbara nem sequer permitia que ela fosse ao banheiro ou chegasse perto da janela. O café da manhã ainda estava servido na bandeja de prata sobre os pés da cama. Apesar da fome que sentia e de saber que precisava se alimentar, tinha medo de comer e a comida estar envenenada com algo que lhe causasse um aborto.Dos olhos, não paravam de sair lágrimas. Ainda tentava entender que diabos estava havendo na sua vida. Do céu ao inferno em questão de meses. Perguntava-se como viveu tantos anos sem conhecer a verdadeira face do pai que apenas era taxado de chato.A porta foi aberta e Barbara se pôs de pé, secando os olhos molhados. Carlos adentrou com outro homem que vestia jeans e camisa branca. Ele portava uma maleta preta e um jaleco dependurado no braço. Aparentava ter cinquenta anos, ou talvez um pouco mais. O brutamontes lá fora fechou a porta, dando-os privacidade.— Barbara, este é Agnaldo. Ele vai examinar você.— Como vai? — Forçou um sorriso simpátic