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Capitulo 2 - A ilha da magia

A viagem foi tranquila e breve, cerca de 3 horas depois, aterrissamos no aeroporto de Florianópolis, e fizemos mais um percurso de 2 horas e meia até a Praia do Forte.

Quando chegamos, era um pouco mais de uma da tarde, e Liz dizia que iria morrer de fome se não comesse rápido.

O hotel é um dos mais lindos que eu já vi. Apesar de ser mais distante da praia do que eu gostaria, o Faial Prime Suítes tem uma decoração toda feita em madeira escura, o piso, os móveis e as paredes são todos no mesmo tom, e a iluminação com luzes amarelas deixa tudo ainda mais lindo e confortável.

Subimos para deixar as malas, eu, Liz e meus pais ficamos em quarto separados uns dos outros. Em seguida, descemos para procurar por um restaurante para almoçar.

A recepção do hotel está cheia de novos hospedes, e assim que desço, uma sensação estranha me invade, uma mistura de animação, ansiedade e saudade. Tento ignora-la, mas a animação só aumenta quando Liz desce e para ao meu lado, estava tão elétrica que só faltava dar pulinhos, e sua eletricidade me contagia.

Meu pai me pede para pedir um mapa e recomendações de restaurantes para o recepcionista que estava livre, enquanto ele busca o carro alugado e minha mãe e Liz decidem os planos do dia.

O recepcionista a quem me dirijo é um rapaz alto, mas que aparenta ser bem mais novo do que os recepcionistas que já vi na vida. Seus cabelos são de um loiro escuro, mas tem um brilho dourados lindo na luz amarela, e a pele clara tem o mesmo brilho, como um bronzeado leve.

-- Oi. – Digo tentando parecer simpática

-- Oi. – Ele responde sem olhar para mim

-- Vocês têm algum mapa turístico da ilha por aí?

-- Temos sim, aqui está.

Ele me passa um mapa que tirou de baixo do balcão e finalmente me olha. É um rapaz muito bonito, e quando meus olhos focam os dele, percebo uma diferença: eles são heterocrômicos. O olho direito é verde, e o esquerdo é um tom do mel, quase dourado, assim como todo o resto dele.

Ele desvia os olhos, devo ter encarado por mais tempo do que deveria

-- Precisa de mais alguma coisa?

-- Ah, sim, é a minha primeira vez aqui, você pode me indicar algum restaurante?

Ele abaixa a cabeça novamente

-- O restaurante do hotel é ótimo, mas se estiver procurando algo mais perto da praia, indico o "Por do sol", é um restaurante simples, mas a comida é muito boa.

Quando penso que ele está apenas evitando olhar para mim, ele me estrega um papel, estava anotando o endereço dos dois restaurantes que me indicou. Pego o papel.

-- Certo, obrigada.

-- Ao seu dispor.

Dou um sorriso e aceno com a cabeça para dar tchau, e ele faz o mesmo, mas o sorriso me parece incrivelmente forçado. Saio dali e volto para onde minha mãe e Liz estão.

  Liz está me olhando com um sorriso maior que o próprio rosto, claro que ela reparou no moço bonito.

-- Uau uau, não sei se é um feiticeiro, mas já me enfeitiçou – Disse Liz á risadinhas com minha mãe.

Franzo o cenho, essa foi uma referência tão aleatória que nem eu mesma entendi.

Liz, ciente de que eu não sei de onde ela tirou feiticeiro, me passa um panfleto turístico, com o título

                           ILHA DA MAGIA

    Peça licença às bruxas e conheça as lendas de Floripa.

                                                             ***

10 minutos depois, meu pai aparece na recepção.

-- Vamos meninas, o carro está esperando lá fora.

Minha mãe ama quando meu pai diz "meninas" e inclui ela, ela diz se sentir mais jovem, então meu pai faz isso com frequência. São um exemplo de casal, espero ter a sorte deles um dia.

Antes de darmos um passo na direção dele, ele entra e se aproxima.

-- Vamos comer aqui mesmo ou vocês querem sair?

-- Podemos sair? Talvez pudéssemos visitar alguns dos locais das lendas hoje – Liz sugeriu animada.

-- Que lendas? – Perguntou meu pai.

Balancei o panfleto com o título na frente dele.

-- Essas. Mas todas se passam longe daqui. Acho que deveríamos apenas ir ás praias próximas e deixar isso para amanhã.

Meu pai assentiu, e enquanto saíamos para ir ao restaurante Por do Sol, Liz continuava com o assunto das lendas, as quais intrigaram meu pai.

-- Basicamente, acredita-se que, na época da colonização da ilha, ela era habitada por bruxas, é uma história bem tosca na verdade, e a maioria das pessoas acreditam que elas estão por aqui até hoje – Explico.

-- Não só as bruxas como há muitas lendas com fantasmas, lobisomens e luzes misteriosas – Continuou Liz.

-- E o que diz a lenda sobres a bruxas?

Meu pai estava claramente interessado, minha mãe e eu parecíamos ser as únicas a não dar bola para isso.

-- Já vou avisando, é pior do que história para criança dormir.

Começo a ler o panfleto:

   "Estamos no século XVI, tempos de Inquisição. Bruxas eram vistas como seres demoníacos que deveriam ser queimadas na fogueira. O medo dessas personagens espreitava a todos, tanto na Europa, como os que para cá vieram! Aqui, elas eram, além de malignas, travessas, pois roubavam os barcos dos pescadores, brincavam com suas redes de pesca e adoravam dar nós nas crinas dos cavalos. Para identificarem uma bruxa, era só encontrar nelas nela o sinal da bruxa, uma marca que dizia ter sido feita pelo próprio diabo para poder identifica-las. Se elas possuíssem um sinal mais escuro que não sangrasse, iam para a fogueira. Outra maneira era observar que mão elas estendiam para cumprimentar, se fosse a direita, ufa, mas se fosse a esquerda, era melhor bater em retirada."

-- Uau, eles inventaram até uma maneira de exterminar os canhotos e furar os manchados—Disse minha mãe em tom de sarcasmo.

-- Você não dirá isso quando ouvir a lenda de Anhatomirim – Disse Liz

A conversa finalmente se sessou quando chegamos ao restaurante.

Depois do almoço, passamos o resto do dia intercalando entre praias e lojinhas próximas ao hotel. A viajem de avião cansou a todos nós, e depois do almoço ninguém tinha ânimo para ir muito longe.

Liz voltava no assunto das bruxas sempre que via alguma velha de aparência suspeita, aparentemente, eu não poderia ter escolhido um momento pior para reler todos os livros de Harry Potter se já ia ter bruxas na minha cabeça o dia todo.

                                                                           ***

Voltamos ao hotel por volta das 17:00, jantamos lá mesmo e decidimos ir para o quarto cedo por estarmos todos muito cansados.

Antes de ir para o quarto, Liz vai comigo até a recepção pedir uma toalha de rosto, já que meu quarto estava sem. Quando chegamos á beirada do balcão, vejo o rapaz que me atendeu mais cedo virado de costas e mexendo em alguns papeis.

Liz começa a me dar cotoveladas quando percebe que é o moço bonito.

Se ele se virar e ver a cena ridícula que ela está fazendo eu juro que viro as costas e saio.

Por sorte ela para antes que eu faça qualquer barulho.

Eu o chamo, mas ele estremece e se vira antes mesmo de eu respirar para falar

-- Com licença -- Ele já estava olhando para mim, e não é quem eu estava esperando.

O moço parado diante de nós é extremamente parecido com o moço dos olhos heterocrômicos, poderia até mesmo dizer que são gêmeos se ele não parecesse ser um pouco mais velho, e não pude deixar de reparar nos olhos. Ambos eram de um verde tão vibrante que pareciam brilhar no escuro.

Porém, seu rosto expressava o mesmo desconforto que o do outro rapaz.

Eles têm algum problema com paulistas?

-- Pois não?

-- Preciso de uma toalha de rosto.

-- Só um minuto.

Ele sai de trás do balcão, vai para um armário ao lado e pega uma tolha branca. Juro que vi ele respirar bem fundo e soltar o ar antes de voltar me entregar a toalha.

-- Obrigada.

-- Ao seu dispor.

Além do comportamento esquisito, até o jeito de falar deles é parecido, será que são mesmo irmãos?

Liz e eu subimos e vamos cada uma para seu quarto, após entrar, visto um pijama e vou para o banheiro para tirar a maquiagem, e volto para acama após olhar para o espelho e me lembrar de que não passei nada no rosto.

Pego o livro "Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban" e decido ler até dormir.

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