Liz puxa o panfleto sobre as lendas da ilha de dentro da bolsa que carregava, dobra estrategicamente para que apenas a coluna sobre "come identificar uma bruxa" fique visível, e me entrega.
-- Percebeu alguma dessas coisas nele, Meg?
Releio a coluna do panfleto, em seguida olho pra ela.-- Você não está insinuando o que eu acho que está, né?
Liz parece um pouco envergonhada, ela olha para baixo ao continuar falando, insegura, como se desse o benefício da dúvida a si mesma.
-- Não acha estranho ele lidar com isso com tanta facilidade? A final, como foi que eles descobriram que devolver o objeto à ilha resolveria o problema? Ele disse que seu caso não é o primeiro, mas como foi que eles descobriram na primeira vez?
É uma dúvida que eu tive também, mas isso não é um motivo para jogar alguém na fogueira.-- Não sei, quando estava perguntando sobre, chegamos ao meu quarto, ele ignorou tudo o que eu estava afalando e mudamos de assunto. Falando em voz alta parece bem mais suspeito. Liz arregala os olhos e parece bem mais confiante quando diz:-- Você nem parece ser apaixonada por filmes de fantasia não achando isso suspeito, não está obvio o motivo pelo qual ele mudou de assunto?-- Ou ele simplesmente enjoou das minhas perguntas, não há como saber. Liz estava agindo como uma criança que inventa coisas por falta do que fazer.--...Tive uma ideia-- Liz diz esboçando um sorriso. Inclino a cabeça para o lado e faço cara de decepcionada, já tenho uma boa noção do que vem por aí.-- Você precisa conversar com ele de novo, cumprimente-o a preste atenção em qual mão ele vai estender para você, se for a esquerda, tente descobrir qual mão ele usa para fazer o restante das coisas, se ele for destro, temos um ponto para bruxo."Depois, tente entrar no assunto sobre bruxas e observar suas reações, e enquanto faz isso, observe o corpo dele, acredito que isso não será nenhum castigo (ela diz sorrindo maliciosamente), e procure por alguma marca de cor um pouco mais escura que a cor da pele. "— Como tem tanta certeza de que vou ter a chance de falar com ele de novo? — Pergunto.Liz ri— O cara simplesmente surgiu pra falar com você hoje em plenas 6 da manhã, acho que você não teria problema em conseguir mais um diálogo. Encaro Liz por alguns segundos, não acredito no que eu acabei de ouvir, ela realmente acha que Nicholas é um BRUXO?-- Vamos Meg, não lhe custaria nada. Pondero sobre o assunto, talvez concordar a faça feliz, então...-- Se eu encontra-lo de novo, posso tentar reparar nas coisas que você me indicou, mas não lhe prometo nada. Liz abriu um grande sorriso.-- Ótimo! agora vamos descer antes que seus pais venham nos procurar. Nos levantamos, pego minha bolsa e saímos do quarto. Quando tranco a porta e me viro, Liz está parada na minha frente.-- Meg, se o fantasma te incomodar outra vez, me conte, está bem? Sorrio com a preocupação dela-- Claro. * * * Sentada no carro, com fones de ouvido, torcendo para que ninguém fale comigo e observando as praias pelas quais passamos, começo a remoer minhas poucas conversas com Nicholas. Quando conversamos pela primeira vez, tivemos um pequeno desentendimento quando eu estendi a mão direita e ele a esquerda para me cumprimentar, porém, no dia em que nos conhecemos, ele anotou o endereço para mim usando a mão direita, não foi? Tentando me lembrar, parece que sim, mas não há como ter certeza, porque não prestei atenção em nada disso. Os funcionários, incluindo ele, me tratavam de uma maneira muito estranha e rude, e isso parou do nada... Não, não pode ter sido do nada, acredito em coincidências, mas todos os funcionários do hotel mudarem a maneira como se relacionam comigo exatamente ao mesmo tempo não pode ser normal. Deve haver algum motivo... Percebi a mudança na forma como me tratam hoje, porém não me lembro de ninguém me tratar assim ontem... ontem a noite. Mas antes disso sim. O que aconteceu ontem a noite que fez com que todos mudassem com relação a mim? Pense, pense... Ontem a noite... ontem a noite Nich...-- Meg!-- Liz interrompe meus pensamentos, me fazendo pular no banco. -- Já chegamos. Desço do carro.-- A trilha tem cerca de 5 quilômetros até chegarmos á praia, não deve demorar muito.-- Meu pai disse. Hoje nós optamos por uma praia deserta e paradisíaca, que só tem acesso por meio de trilhas. Então, se eu não quiser cair e me machucar durante o caminho todo, acho melhor deixar para pensar sobre isso quando chegar lá, e agora, prestar atenção nos meus passos. * * * Uma hora depois, chegamos à praia, que esta praticamente deserta, com exceção de alguns poucos grupos de pessoas. Estendi uma toalha sob a sombra de uma árvore e me enchi de protetor visando evitar qualquer tipo de queimadura solar, e lá, e deitei e tentei continuar a linha de raciocínio de onde parei. Ontem a noite... Ontem a noite foi quando Nicholas falou comigo... Ele trabalha no hotel. Mais que isso, é o filho do dono. A reação das pessoas perante a mim pode ter algo haver com isso. O que mais aconteceu? Será que ele notou que eu sou apenas um ser humano inofensivo e que não há por que agir assim? Não, não conversamos o suficiente para ele ter qualquer tipo de opinião sobre mim. Pensa, o que mais aconteceu ontem? Teve... o colar. Claro, o colar que Nicholas me deu!Seguro o colar enquanto penso. Esse gesto aleatório e totalmente inesperado, não é normal dar uma joia para alguém que se quer conhece. Talvez... Será? será possível? Não, não há como essas coisas terem ligação uma com a outra, um simples acessório não mudaria a opinião de tantas pessoas sobre mim. Mas... A postura tensa e até rude que Nicholas aparentava antes de eu colocar do colar foi totalmente substituída por uma personalidade descontraída e relaxada assim que eu o coloquei. Seria possível essas coisas terem relação? Como? Não posso me dar ao luxo de pensar que Nicholas Daren é um bruxo e colocou um feitiço no meu colar para fazer as pessoas gostarem de mim. essa é uma ideia infantil, vergonhosa e inviável. Porque bruxos não existem, e se existirem, certamente não lançam feitiços. Se lançarem... bem, eles não iriam perder tempo me ajudando de graça. Então é isso, a hipótese de bruxos foi desconsiderada. Mas de qualquer forma, as peças se encaixam. Uma pessoa que não me conhecia me presenteou com uma joia em um momento completamente aleatório afirmando ter feito isso apenas porque achou que o presente combinaria comigo. No mesmo momento, todas as pessoas que antes me tratavam mal passam a me tratar bem. Essas coisas tem que ter ligação uma com a outra, parece loucura, mas também faz sentido. Acho que só me resta uma opção, tenho que falar com Nicholas e tentar comprovar minhas hipóteses, e, a parte mais difícil, sem parecer uma maluca no processo. Que Deus me ajude.-- Então você acha que o seu colar contém algum feitiço que fez com que as pessoas gostassem de você?-- Não, eu não acho que o colar seja magico, mas ele pode ter algo haver com o que está acontecendo. -- Por que complicar tanto? Diga logo que você acredita nas minhas teorias.-- Para isso eu teria que me desfazer de uma grande parcela de orgulho, uma que eu ainda quero manter comigo. Liz revira os olhos e sorri, convencida de que eu acredito nela. Sorrio de volta.-- E então qual é seu plano?-- Vou conversar com ele e ver o que eu descubro.-- Então o seu plano é basicamente o meu plano? -- Quem está rotulando é você, não eu. Liz me olha semicerrando os olhos. Olho de volta para ela sorrindo, além dela, o sol se encontrando com o mar mancha o céu de vários tons de amarelo, rosa, laranja e azul. A brisa com cheiro de mar balança nossos cabelos. Liz se vira para ficar de frente para o mar e ter a mesma visão que eu. Admiramos em
O relógio do meu celular acaba de marcar 9 da noite, caminhamos por uma calçada à beira da praia, está ventado forte e um pouco frio, sinto cheiro de chuva e ouço as ondas quebrando na costa. Essa seria minha definição perfeita de paz, se eu não estivesse indo à uma feira com dois rapazes que acabei de conhecer e, como se não bastasse, tenho um propósito para essa noite.Arrisco dizer que Liz concorda sobre isso não ser exatamente paz, pois posso sentir ela me fuzilando com o olhar, apesar de não me atrever a olhar de volta. Ainda vou pagar por isso.Eu e ela andamos lado a lado, Nick e Jeff caminham na nossa frente indicando o caminho, conversam alto e escandalosamente como dois adolescentes, se empurrando e se socando de vez em quando. Consigo avistar algumas luzes coloridas e um movimento maior de pessoas, o que indica que estávamos chegando.* * *Mais 5 minutos de caminhada e tínhamos chego ao local. Haviam várias barracas coloridas e improvisadas, iluminadas por lu
Observei Nick andar de costas até o banheiro, meu coração ainda não havia voltado ao compasso normal. Tudo bem que foi uma queda planejada, mas inda foi mais um mico na frente dele. Ou melhor, encima dele. Flashes de Nick me segurando começam a rodar em minha mente, e eu chacoalho a cabeça para afastar os pensamentos. Não preciso do meu rosto ainda mais corado. Olho novamente na direção do banheiro onde Nick entrou quando percebo alguém se sentando do meu lado. Viro a cabeça na mesma hora. O moço ao meu lado é bonito, alto, de pele bem clara e cabelos pretos e curtos. Usa uma jaqueta de couro preta, apesar de não estar frio o suficiente para isso. O restante das peças de roupa também parecem ser pretas, mas estava escuro demais para ter certeza. Ele parece exalar energia de bad boy, como se em sua testa tivesse uma placa escrito "corra". Mas, quando olhei para seu rosto me lembrei. É o rapaz que encarei descaradamente
Nick expirou, audivelmente. Parece que minha determinação o deixou irritado novamente, muito irritado. E com certeza pressiona-lo nesse estado era algo bem idiota a se fazer.Porém, minha noite havia sido resumida em idiotices e eu ainda estava viva e intacta. Talvez por pouco, mas estava.Continuei o encarando, tentando manter uma expressão tão irritada quanto a dele no rosto. Ele não me diria nada se achasse que eu estava prestes a sair correndo e gritando por socorro.O que não estava muito distante da realidade, pois por mais que eu tentasse afastar qualquer pensamento amedrontador e segurasse meu corpo com força, ainda tremia junto com cada batida do meu coração. E torcia para que ele não reparasse.-- O que acha que viu? -- Ele perguntou, e eu já imaginava o que viria por aí. Li livros de fantasia o suficiente para saber que esse era o momento em que ele negaria tudo e me chamaria de maluca.-- Eu sei o que eu vi. Você quase asfixiou aquele garoto, e nem tocou n
Eram 6 da manhã e eu já estava de pé.Liz acordou consequentemente, e seu humor era melhor que o meu. Eu estava com sono, mas não conseguia dormir, minha cabeça doía e a cama começou a se parecer muito com um cacto.Estava pronta para o dia, sentada à mesinha que tinha em meu quarto e encarando o livro. Me faltava um capitulo, e eu estava totalmente sem coragem de ler. Liz estava no banheiro havia 20 minutos, se arrumando.Ela sugeriu que saíssemos para o jardim, queria pintar ao ar livre antes de sairmos para os planos do dia. Eu concordei. Não aguentava mais esse maldito quarto.Alguns 10 minutos depois, Liz finalmente saiu do banheiro, pronta. Levantei para ir em direção à porta quando ela deu um gritinho dizendo que esqueceu de passar rímel, e voltou para dentro do banheiro.Grunhi de desgosto.-- É melhor você se apressar ou vai ficar sozinha aqui. -- Disse para ela, já abrindo a porta.Gritei ao dar de cara com dois lindos olhos de cores diferentes.--
Aquelas simples palavras resultaram em um frio na barriga e um gosto amargo na boca, e imediatamente comecei a imaginar possíveis futuros em que os bruxos me sacrificavam em algum ritual sinistro, que eu realmente não queria conhecer.Comecei a me perguntar onde Liz estava e quando apareceria.-- Se lembra de sua visita a Anhatomirim? -- Sim.-- Antigamente, os bruxos eram os seres mais poderosos dessa ilha, não somente por conta da magia, mas possuíam uma fortuna maior que a de qualquer outro. Por isso, eram os que comandavam a região, coronéis e líderes, e foram eles os responsáveis por cada morte na ilha de Anhatomirim. "Como líderes, tinham a função de condenar e executar prisioneiros de todos os tipos, e após tantas mortes e atrocidades dentro de um mesmo de espaço, a ilha desenvolveu uma energia poderosa, como se o campo magnético de cada alma se juntasse e pairasse sobre ela. A forte energia resultada prendia cada alma executada, ali. Não que elas quisessem r
Eram mais de 7 da manhã quando finalmente saí da cama. Foi uma noite um tanto agitada, e me custei a dormir sabendo que Nick estava provavelmente sentado no chão na porta do meu quarto. Fui conseguir finalmente pegar no sono 2 horas depois que me deitei. Me arrumei o mais rápido que pude, a final, eu não tinha muito o que fazer além de vestir roupa e fazer uma maquiagem que levaria 5 minutos para ficar pronta. Abri a porta e dei um pulo para trás, pela segunda manhã dando de cara com um lindo par de olhos de cores diferentes. Meu grito ficou entalado na garganta. Talvez eu já esteja me acostumando com isso.-- Desculpe, já ia bater. -- Ele disse sorrindo.--Tem alguma ideia do quanto odeio levar sustos?-- Acredite, sei exatamente como se sente toda vez que leva um.-- Ele dizia sorrindo ainda mais. Definitivamente achava meu tormento algo muito engraçado. Por um momento, parei de me sentir mal por tê-lo d
Jeff ligou para o pai durante o caminho de volta. Nossas notícias não eram muito boas, e a situação não havia mudado. Ele disse que ainda não haviam encontrado um feitiço eficientemente forte para expulsar uma alma poderosa para uma distância tão grande. E Nick e Jeff seriam obrigados a passar por mais tempo de vigília.Chegamos ao hotel por volta das 9 da noite, e meus pais nos esperavam com feições muito infelizes na recepção. E se levantaram assim que pusemos os pés no recinto.-- Você por acaso sabe que horas são?!-- Gritou meu pai, dando passos pesados na nossa direção.Comecei a preparar minhas explicações, e a me preparar para um sermão sem fim, quando meu pai simplesmente...parou.E suas feições foram lentamente se acalmando.Olhei para minha mãe, e encontrei nela o mesmo efeito. Parecia tranquila.Nick abaixou a cabeça até ficar na altura do meu ouvido e sussurrou:-- Qual o nome do seu pai?-- Luiz -- Sussurrei de volta.Ele deu alguns passo até