Encolhi minhas pernas na cadeira, observando o pôr do sol. Balancei levemente minha xícara de chá de amora, apreciando seu aroma maravilhoso, enquanto memórias da madrugada preenchiam minha mente. Sempre quis me sentir amada e acolhida. Sonhava com um príncipe de vestes brancas e um cavalo perfeito, mas nunca sabemos o que o amanhã nos reserva até que ele chega e transforma tudo. Será que alguém já adormeceu com vários planos na cabeça e, ao acordar, sentiu que nada do que havia planejado fazia sentido? Por exemplo, pensou em largar tudo e viver uma vida tranquila no campo, mas um dia, ao acordar, simplesmente desistiu. Eu sonhava com o dia em que sairia do orfanato, moraria sozinha em um apartamento com vista para o Central Park, abriria meu próprio restaurante, me formaria em gastronomia e passaria todas as tardes com meu cachorro, dino, para ver o pôr do sol juntos. Hoje, já não tenho mais vontade de morar sozinha. Não tenho tempo para cuidar de um cachorro, muito menos para sa
— Eu não acredito que você transou com ele. Eu sinceramente não acredito.Paola soltou essas palavras enquanto eu abaixava a cabeça, encarando meu prato de macarrão com molho. Sentia-me morrendo de vergonha, mas mal conseguia conter um riso. Definitivamente, este não era o melhor momento.Decidi contar a ela o que aconteceu e onde ocorreu. No entanto, para minha surpresa, ela teve um mini surto, dizendo que eu era louca e estava errada, sem mencionar que ela garantiu que agora estou completamente ferrada.— Meu Deus, ontem você estava dizendo que não queria se casar, e agora de manhã isso? Você definitivamente é louca.Levanto minha cabeça para observá-la.Sim, eu estava dizendo que não queria me casar; na realidade, ainda não quero. Paola precisa entender que uma coisa não tem a ver com a outra.Eu não tenho culpa de não conseguir pensar direito perto daquele homem.Suspirei frustrada, peguei meu copo de suco de morango e bebi tudo de uma vez.— Escute — comecei a dizer. — Eu gostei.
— Em uma escala de 0 a 10, o quanto esse restaurante é importante para você?Rodolfo pergunta enquanto observamos a obra. Ele não veio diretamente para cá; fez questão de ir até minha casa me buscar, o que eu quase não gostei.Já faz uns 20 minutos que estamos analisando algumas coisas juntos e conversando com os rapazes que trabalham no local.Rodolfo me deu várias ideias legais e também me ajudou a escolher as cores. Fiquei surpresa; achei que o subchefe só sabia ser subchefe.— 100. — Respondo à pergunta, abraçando-o pela cintura. Pouso minha cabeça em seu peito e consigo sentir os batimentos do seu coração.— Então quer dizer que, entre eu e o restaurante, você preferiria o restaurante? — percebo um tom de desapontamento em sua voz.Rio ao sentir suas mãos em meus cabelos. — Não me faça escolher. Eu escolheria o restaurante; é meu sonho de criança.— E eu sou o seu sonho de adulta.Não consigo segurar uma gargalhada. — Não dá para brincar de esconde-esconde com você, né?Levanto a
— Corta mais fino. — Peço, pegando uma fatia de tomate mal cortada e comendo.Rodolfo ri, negando com a cabeça. — Sim, chefe.Ele começa a cortar os tomates com tanta precisão que chega a me surpreender.— Nossa, como você consegue?Levanto uma rodela de tomate perfeita e quase transparente.— Tenho certa habilidade com a faca.Um arrepio percorre minha coluna, e um pequeno fragmento do meu sonho vem à mente.— O que foi? — Pergunta Rodolfo, deixando a faca de lado e segurando meu queixo.Olho para suas mãos e, por um momento, me lembro das mãos do jovem no sonho.— Nada. — Respondo, me afastando e virando-me para o fogão. Levanto a tampa e sinto o aroma incrível do risoto.— Halina. — Ele me abraça e fecho os olhos, encostando minha cabeça em seu peito. — O que foi, vida minha?— Lembranças do sonho.— Você precisa me contar. Como vou saber o que fazer se você não me diz nada?Viro-me e encaro seu olhar. Seu rosto perfeito está envolto em uma carranca questionadora. Eu sei que deveri
*** ONZE ANOS ATRÁS *** — Vamos, minha preciosa. — Mamãe diz entrando no quarto enquanto eu organizo minha mochila escolar. — Tô pronta. Sorrio e recebo um beijo na bochecha. Mamãe me pega no colo e me abraça. — Hoje, mamãe não vai poder ir com você. Minha dor de cabeça aumentou muito, preciso descansar mais. — Eu vou ter que ir com o papai? Ela assentiu. — Eu sei que você não é muito chegada a ele. — Sussurrou. — Mas faça um esforço para ir com ele por causa da mamãe. — Tudo bem. — Joguei meus braços em volta de seu pescoço e beijei seu rosto. — Te amo, mamãe. — A mamãe também te ama. — E a Paola? — Minha mãe suspira, fazia dois dias que eu não via minha irmã. — Continue tentando manter distância para o seu pai não brigar com ela, tá? Concordei triste, eu gosto tanto da minha irmã. — Um dia, vocês duas vão poder ficar juntas para sempre, mas enquanto isso, vamos obedecer às regras. Meu pai não gostava que eu e Paola ficássemos muito juntas. Paola vinha falar comigo quand
A vida parece conspirar para te derrubar. Quando você pensa que tudo está se ajeitando e que as coisas finalmente entraram nos eixos, ela te surpreende com uma rasteira fatal. E, quando você está no chão, o que vê é apenas a poeira, sentindo o quanto foi tolo em acreditar que, pelo menos uma vez, as coisas poderiam ser diferentes. Você se pergunta se algum dia vai conseguir se levantar ou se essa queda vai te definir para sempre. A sensação de impotência é esmagadora, e a dúvida sobre se algum dia a sorte vai mudar se torna uma constante. Por exemplo; Eu sabia desde o início que não ia gostar do que ouviria, e, por mais que algo me alertasse para não questioná-la, eu fui atrás. Agora que tudo veio à tona, me pergunto o que devo fazer. Sei que a vida de Halina virou de cabeça para baixo desde esse episódio. Ela passou por situações difíceis e foi obrigada a viver sozinha e se virar desde cedo. Eu queria consertar a situação, fazer com que o culpado pagasse por cada dano que causou a
Com uma força quase desumana, eu acertei o saco de pancada, fazendo-o balançar no ar com um impacto violento. Cada golpe, cada movimento estava carregado com a frustração e a raiva que eu não conseguia expressar de outra forma.Ele retornou com uma força brutal, mas eu estava preparado. Desferi um chute certeiro, e o saco explodiu, rasgando-se em pedaços. Inferno. O saco, agora em pedaços, jazia no chão, um reflexo físico da minha fúria interior. O estilhaçar do material não era o suficiente para aliviar o peso que eu carregava. A sensação de impotência me consumia, pois eu queria que o alvo da minha frustração fosse diferente. O saco de pancada era um substituto insatisfatório para a verdadeira fonte da minha irá, e a luta para lidar com a realidade me deixava ainda mais esgotado. — Pelo visto, as coisas ficaram intensas. — Olho por cima do ombro enquanto Alexander entra no galpão, vestindo seu habitual terno de negócios. — Quem foi o sortudo que resolveu te chatear? — Eu mesmo.
— Eu acordei e você não estava. Observo Halina enquanto ela esquenta o risoto para que possamos jantar. Depois de todas as revelações, deixei-a dormindo e fui direto para o porão da máfia, tentar esfriar a cabeça. — Tive que resolver um problema. — Levanto a taça de vinho e encaro o líquido. — Você está melhor? Ela se vira, com uma expressão calma. — Estou, sim. Não se preocupe, já estou acostumada com essa montanha-russa de sentimentos que me domina. — Ela cruza os braços e se encosta no armário. — Tem dias que estou bem, outros dias mal, tem momentos que surto, em outros só choro. —Ela sorri, um sorriso triste. — Se você realmente quer viver ao meu lado, terá que se acostumar com isso. Levanto-me e vou até ela, envolvendo-a em um abraço e deixando um beijo no topo da sua cabeça. — Você vai ficar bem. — Com você ao meu lado, eu sei que vou ficar bem. — Ela suspira e me abraça, eu levanto a cabeça, encarando o branco do armário. Deveria contar a ela, mas sou tão egoísta que não