— Em uma escala de 0 a 10, o quanto esse restaurante é importante para você?Rodolfo pergunta enquanto observamos a obra. Ele não veio diretamente para cá; fez questão de ir até minha casa me buscar, o que eu quase não gostei.Já faz uns 20 minutos que estamos analisando algumas coisas juntos e conversando com os rapazes que trabalham no local.Rodolfo me deu várias ideias legais e também me ajudou a escolher as cores. Fiquei surpresa; achei que o subchefe só sabia ser subchefe.— 100. — Respondo à pergunta, abraçando-o pela cintura. Pouso minha cabeça em seu peito e consigo sentir os batimentos do seu coração.— Então quer dizer que, entre eu e o restaurante, você preferiria o restaurante? — percebo um tom de desapontamento em sua voz.Rio ao sentir suas mãos em meus cabelos. — Não me faça escolher. Eu escolheria o restaurante; é meu sonho de criança.— E eu sou o seu sonho de adulta.Não consigo segurar uma gargalhada. — Não dá para brincar de esconde-esconde com você, né?Levanto a
— Corta mais fino. — Peço, pegando uma fatia de tomate mal cortada e comendo.Rodolfo ri, negando com a cabeça. — Sim, chefe.Ele começa a cortar os tomates com tanta precisão que chega a me surpreender.— Nossa, como você consegue?Levanto uma rodela de tomate perfeita e quase transparente.— Tenho certa habilidade com a faca.Um arrepio percorre minha coluna, e um pequeno fragmento do meu sonho vem à mente.— O que foi? — Pergunta Rodolfo, deixando a faca de lado e segurando meu queixo.Olho para suas mãos e, por um momento, me lembro das mãos do jovem no sonho.— Nada. — Respondo, me afastando e virando-me para o fogão. Levanto a tampa e sinto o aroma incrível do risoto.— Halina. — Ele me abraça e fecho os olhos, encostando minha cabeça em seu peito. — O que foi, vida minha?— Lembranças do sonho.— Você precisa me contar. Como vou saber o que fazer se você não me diz nada?Viro-me e encaro seu olhar. Seu rosto perfeito está envolto em uma carranca questionadora. Eu sei que deveri
*** ONZE ANOS ATRÁS *** — Vamos, minha preciosa. — Mamãe diz entrando no quarto enquanto eu organizo minha mochila escolar. — Tô pronta. Sorrio e recebo um beijo na bochecha. Mamãe me pega no colo e me abraça. — Hoje, mamãe não vai poder ir com você. Minha dor de cabeça aumentou muito, preciso descansar mais. — Eu vou ter que ir com o papai? Ela assentiu. — Eu sei que você não é muito chegada a ele. — Sussurrou. — Mas faça um esforço para ir com ele por causa da mamãe. — Tudo bem. — Joguei meus braços em volta de seu pescoço e beijei seu rosto. — Te amo, mamãe. — A mamãe também te ama. — E a Paola? — Minha mãe suspira, fazia dois dias que eu não via minha irmã. — Continue tentando manter distância para o seu pai não brigar com ela, tá? Concordei triste, eu gosto tanto da minha irmã. — Um dia, vocês duas vão poder ficar juntas para sempre, mas enquanto isso, vamos obedecer às regras. Meu pai não gostava que eu e Paola ficássemos muito juntas. Paola vinha falar comigo quand
A vida parece conspirar para te derrubar. Quando você pensa que tudo está se ajeitando e que as coisas finalmente entraram nos eixos, ela te surpreende com uma rasteira fatal. E, quando você está no chão, o que vê é apenas a poeira, sentindo o quanto foi tolo em acreditar que, pelo menos uma vez, as coisas poderiam ser diferentes. Você se pergunta se algum dia vai conseguir se levantar ou se essa queda vai te definir para sempre. A sensação de impotência é esmagadora, e a dúvida sobre se algum dia a sorte vai mudar se torna uma constante. Por exemplo; Eu sabia desde o início que não ia gostar do que ouviria, e, por mais que algo me alertasse para não questioná-la, eu fui atrás. Agora que tudo veio à tona, me pergunto o que devo fazer. Sei que a vida de Halina virou de cabeça para baixo desde esse episódio. Ela passou por situações difíceis e foi obrigada a viver sozinha e se virar desde cedo. Eu queria consertar a situação, fazer com que o culpado pagasse por cada dano que causou a
Com uma força quase desumana, eu acertei o saco de pancada, fazendo-o balançar no ar com um impacto violento. Cada golpe, cada movimento estava carregado com a frustração e a raiva que eu não conseguia expressar de outra forma.Ele retornou com uma força brutal, mas eu estava preparado. Desferi um chute certeiro, e o saco explodiu, rasgando-se em pedaços. Inferno. O saco, agora em pedaços, jazia no chão, um reflexo físico da minha fúria interior. O estilhaçar do material não era o suficiente para aliviar o peso que eu carregava. A sensação de impotência me consumia, pois eu queria que o alvo da minha frustração fosse diferente. O saco de pancada era um substituto insatisfatório para a verdadeira fonte da minha irá, e a luta para lidar com a realidade me deixava ainda mais esgotado. — Pelo visto, as coisas ficaram intensas. — Olho por cima do ombro enquanto Alexander entra no galpão, vestindo seu habitual terno de negócios. — Quem foi o sortudo que resolveu te chatear? — Eu mesmo.
— Eu acordei e você não estava. Observo Halina enquanto ela esquenta o risoto para que possamos jantar. Depois de todas as revelações, deixei-a dormindo e fui direto para o porão da máfia, tentar esfriar a cabeça. — Tive que resolver um problema. — Levanto a taça de vinho e encaro o líquido. — Você está melhor? Ela se vira, com uma expressão calma. — Estou, sim. Não se preocupe, já estou acostumada com essa montanha-russa de sentimentos que me domina. — Ela cruza os braços e se encosta no armário. — Tem dias que estou bem, outros dias mal, tem momentos que surto, em outros só choro. —Ela sorri, um sorriso triste. — Se você realmente quer viver ao meu lado, terá que se acostumar com isso. Levanto-me e vou até ela, envolvendo-a em um abraço e deixando um beijo no topo da sua cabeça. — Você vai ficar bem. — Com você ao meu lado, eu sei que vou ficar bem. — Ela suspira e me abraça, eu levanto a cabeça, encarando o branco do armário. Deveria contar a ela, mas sou tão egoísta que não
Será normal senti seu corpo entrar em combustão por alguém, como se, por mais que a pessoa se entregasse completamente a você, ainda não fosse suficiente para saciar a sede que você tem dela? É uma sensação fortemente avassaladora. Senti que o desejo por alguém é tão profundo que, mesmo após momentos íntimos, a necessidade de tê-la ainda permanecem forte. É como se houvesse uma chama interna que não se apaga facilmente, uma sensação constante de estar imersa em um rio e não conseguir se afogar. Rodolfo consegue me fazer esquecer todos os meus medos e desesperança. Seu toque se tornou meu vício, seu beijo, minha salvação. Cada momento com ele é uma fuga da realidade, um refúgio onde eu posso me perder e, paradoxalmente, me encontrar novamente. Ele é a única constante em um mar de incertezas, e cada vez que estamos juntos, a chama dentro de mim se renova, mantendo a esperança viva mesmo quando tudo parece desmoronar. Esse homem é a razão dos meus dias melhores. Por mais que ele não
Eu era livre, sem amarras, e podia ter quem eu quisesse, na hora que eu quisesse. Nunca precisei me preocupar com sentimentos ou com o que viria depois. E agora, aqui estou, velando o sono dela como se minha vida dependesse disso. Como se cada respiração dela fosse a minha também. O que aconteceu comigo? Como eu pude me apegar tanto a uma pessoa dessa maneira? Não consigo entender como me deixei levar a esse ponto, mas não posso negar que, apesar de tudo, essa nova sensação de querer cuidar, de proteger, de estar ao lado dela, me domina completamente. Antes, tudo era mais simples. Eu tinha minhas noites divertidas, quentes, com qualquer mulher que eu quisesse. E quando queria algo mais constante, Roberta estava sempre por perto. Eu tinha controle sobre minha vida, sobre minhas emoções. Eu era feliz... ou pelo menos, achava que era. Halina é diferente de qualquer mulher com quem já estive. É como se, de certa forma, ela tivesse nascido para mim. Com ela, tudo é mais intenso, mais