CAPÍTULO 02 Rodolfo

Entro no quarto depois de um treino pesado e vejo Otávio atolado nos livros. Tiro a bermuda, jogando-a no cesto, e me preparo para entrar no banheiro quando sou parado por sua pergunta:

— Ele não vem hoje? — Me viro e observo o caçula.

Otávio, com 13 anos, ainda não foi inserido na máfia; em todas as seis tentativas, ele falhou miseravelmente. Tenho medo de que, em uma próxima falha, nosso pai o descarte.

— Alexander está ocupado com os estudos e os hotéis, mas ele virá para sua iniciação.

— Eu não quero isso, Rodolfo — diz, revoltado.

Suspiro frustrado, enrolando-me em uma toalha e me sentando em frente a ele.

— E você quer o que então? Morrer, já que não consegue matar?

Ele abaixa a cabeça, e sinto um pouco de culpa por ter usado essas palavras. Se Alexander estivesse aqui, ele saberia o que dizer.

— Eu não quero essa vida. Eu não nasci para isso.

Olho para ele, vendo o medo e a confusão em seus olhos. É difícil encontrar as palavras certas, mas sei que preciso tentar.

— Otávio, eu entendo que isso é difícil para você. A vida na máfia não é fácil, e nem todos são feitos para isso. Mas precisamos ser fortes para sobreviver. Nosso pai espera que sigamos o caminho dele, e não podemos falhar.

Otávio levanta os olhos para me encarar, e o que encontro é só tristeza.

— Mas, e se eu falhar de novo? E se eu não conseguir ser o que ele quer que eu seja?

Coloco uma mão no ombro dele, tentando passar algum conforto.

— Você é meu irmão, e sempre estarei aqui para te apoiar. Você não está sozinho nessa. Mas você precisa encontrar sua própria força, para não deixar que eu ou Alexander lute sozinho.

Otávio acena lentamente, absorvendo minhas palavras. Sinto que, embora ainda assombrado pela dúvida, ele pelo menos agora sabe que decisão tomar.

— Eu vou tentar, Rodolfo. Mas espero que um dia a gente possa escolher nossos próprios caminhos — ele diz, a voz mais firme, mas ainda carregada de incerteza.

Assinto. — No futuro, você poderá escolher o seu caminho, e eu te apoiarei seja qual for.

— É o que espero, — responde, voltando a se concentrar nos livros.

Fico observando Otávio por um momento, refletindo sobre suas palavras. A ideia de escolher nossos próprios caminhos parecia tão distante e quase impossível dentro do mundo em que vivíamos. Mas, por ele, estava disposto a acreditar nessa possibilidade. Com um suspiro, levanto-me e caminho em direção ao banheiro, decidido a encontrar uma maneira de ajudar meu irmão, não importa o que o futuro nos reserve.

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Uma semana depois...

Desço as escadas e escuto a voz alterada de meu pai, aos gritos com Alexander. Sinto a tensão no ar, cada passo meu parece mais pesado enquanto me aproximo da origem da discussão.

— Você acha que pode simplesmente negligenciar suas responsabilidades? — vocifera meu pai. — A máfia não é um jogo, Alexander! Ou você quer pôr tudo a perder?

— Eu sei disso! — Alexander responde, a frustração evidente em sua voz. — Estou tentando equilibrar tudo, mas é muita pressão! Você nunca me dá um momento de descanso!

Paro na base da escada, observando a cena. Alexander, com o rosto vermelho e os punhos cerrados, encara nosso pai, que está com os olhos cheios de raiva e decepção.

— A pressão faz parte da vida que escolhemos — replica nosso pai, a voz ainda alta. — Se não pode lidar com ela, então está falhando comigo, com nossa família, com tudo que construímos!

Alexander balança a cabeça, claramente exasperado. — Eu não estou falhando! Só preciso de um pouco mais de tempo para me ajustar. Não sou um robô, pai! Estou fazendo o meu melhor! — Alexander finalmente explode. — Mas não posso ser perfeito o tempo todo!

Meu pai não se acalma. — Seu melhor não é suficiente! Nesta família, não há espaço para erros. Ou você se ajusta, ou será substituído. Entendeu?

— Faça como você quiser — Alexander retruca, a voz carregada de desafio.

Meu pai avança, a raiva pulsando em seus olhos. Sem pensar, me coloco entre os dois, levantando as mãos para impedir qualquer conflito físico.

— Pai, calma! — digo com firmeza, tentando acalmar a situação. — Isso não vai resolver nada.

Meu pai para, o olhar ainda fervendo de raiva, mas minha intervenção parece detê-lo por um momento.

— Rodolfo, saia do caminho — ele ordena, a voz ainda dura.

— Não, pai — respondo, mantendo minha posição. — Precisamos resolver isso de outra maneira. Alexander está se esforçando, e todos nós estamos lidando com muita pressão.

Alexander continua observando nosso pai, e eu posso ver ódio em seu olhar. Nosso pai respira fundo, ainda furioso, mas a intensidade da situação começa a diminuir.

— Rodolfo, você é forte. Ensine ao seu irmão o que significa ser firme e leal — diz ele, ainda irritado, mas com um pouco mais de controle.

Ele lança um último olhar severo para Alexander antes de se afastar, deixando-nos sozinhos na sala. Aproximo-me de Alexander, colocando uma mão reconfortante em seu ombro.

— Você está bem?

Alexander suspira profundamente, os ombros caindo em resignação.

— Tentando estar, Rodolfo. Tentando estar.

— Eu sei que ele pega pesado, mas ele só quer nos garantir um futuro.

Alexander bufa, se levantando e pegando sua mala.

— Anote o que eu vou lhe dizer, Rodolfo — diz ele, com uma intensidade sombria no olhar. — Se decida, porque vai chegar o dia em que eu o matarei, e não importa quem se levantar para defendê-lo, morrerá também.

Fico em silêncio, sentindo o peso das palavras de Alexander. Ele se encontra a beira do desespero, a raiva em sua voz é palpável. Tento encontrar algo para dizer, algo que ao menos alivie a tensão, mas as palavras me escapam. Alexander me lança um olhar de desafio antes de sair da sala, me deixando sozinho com a nossa dura realidade.

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