CAPÍTULO 06 Halina

Geórgia — Internato Santa Casa _ Quatro meses depois...

— Você deveria estar contente por estar indo embora, Halina. Não é o que sempre desejou?

Observo a madre Carmen se servir com uma xícara de chá enquanto tenta me convencer que será melhor eu obedecer às ordens deixadas pelo meu pai e seguir o meu destino. Bom, ela sabe que tenho um casamento arranjado, o que ela não sabe é que o meu destino está fadado a me casar com um homem bem mais velho que eu.

Madre Carmen tem razão em uma coisa: eu sempre desejei ficar longe deste lugar, nunca gostei das rezas, da cantoria, do "isso pode, isso não pode", porém, neste exato momento, eu gostaria de ficar para sempre aqui.

— Mas também não quero ir para o inferno que meu pai escolheu para mim. — respondo, tentando manter a calma.

Madre Carmen me olha com uma expressão misturada de pena e firmeza.

— Halina, você precisa entender que, às vezes, não temos escolha. Há sacrifícios que precisamos fazer pelo bem de nossas famílias.

Eu reviro os olhos, exasperada.

— Sacrifícios? Madre, estou sendo vendida como um objeto. Isso não é um sacrifício, é uma sentença.

Ela suspira, olhando para mim com olhos cansados.

— Eu sei que parece injusto, mas talvez, com o tempo, você encontre uma maneira de tornar essa situação mais suportável. Às vezes, as pessoas mudam, as situações melhoram.

Eu sabia que ela estava tentando me consolar, mas suas palavras soavam vazias.

— E se não melhorarem? E se eu continuar presa a esse destino horrível? — pergunto, sentindo a raiva e o desespero crescerem dentro de mim.

Madre Carmen coloca a xícara de chá de lado e me olha diretamente nos olhos.

— Então, minha querida, você terá que encontrar forças dentro de você para sobreviver. E, quem sabe, um dia, mudar seu destino com suas próprias mãos.

Uma lágrima involuntária cai em meu rosto, eu me sinto tão vazia por dentro.

Madre Carmen se levanta e vem até mim, colocando uma mão reconfortante no meu ombro.

— Halina, eu sei que parece impossível agora, mas você é forte. Você vai encontrar uma maneira de seguir em frente.

Eu limpo a lágrima rapidamente, tentando não mostrar mais fraqueza.

— Obrigada, Madre. Eu só... só não sei se consigo.

Ela me dá um sorriso triste.

— Você consegue, minha filha. Confie em si mesma.

Eu me levanto, sentindo o peso do que está por vir.

— Vou tentar, Madre. Prometo.

Ela acena, ainda com a expressão preocupada.

— Lembre-se, estarei sempre aqui se precisar de alguém para conversar. E que Deus esteja com você.

Com um último aceno, saio da sala, sentindo-me um pouco mais para baixo, carregando o peso do meu futuro incerto.

Talvez se eu estiver com sorte, Cosa Nostra me ajude, assim como ajudou minha irmã.

Observo minhas malas prontas e vou até a cabeceira, pegando um porta-retrato onde estou com Paola. Ela é tudo o que me restou.

Paola e eu não somos filhas da mesma mãe. Minha mãe não conseguia engravidar, então meu pai arrumou uma amante, e foi assim que Paola nasceu. Depois do seu nascimento, ela foi criada por minha mãe, enquanto a amante do meu pai nunca deixou de ser amante. Cinco anos depois, eu nasci.

Quando minha mãe faleceu, eu tinha 9 anos e foi com essa idade que vim parar aqui.

Por causa dos sonhos perturbadores que tenho, ele não teve paciência para cuidar de mim. Muitas vezes, acordava aos gritos, e isso era o suficiente para fazê-lo gritar e me chingar. Com o tempo, ele me colocou em um colégio religioso, dizendo que isso iria exorcizar meus demônios. Sorrio com tristeza lembrando que este lugar não me ajudou em nada; ao contrário, me fez aprender a viver sozinha.

Vejo Paola uma vez por ano. Fora ela, não tenho mais ninguém. Quando ela vem me ver, traz várias cartas do meu primo Zael, que mora em Dubai. Ele disse que, se um dia eu precisar fugir, suas portas estão abertas. Fiquei tentada ao descobrir meu noivado com aquele homem, mas decidi não criar problemas para Zael. Ele e Paola são os únicos que se preocupam comigo; não quero ser uma dor de cabeça para ninguém.

É horrível sentir-se sozinha. A única amizade que fiz aqui foi com Natália, que também faz parte da máfia e saiu no mês passado.

Tirando ela, vivo sozinha. Aprendi a cuidar de mim mesma, a me consolar, guardar minhas feridas e mágoas, sorrindo como se nada estivesse acontecendo. Mas me sinto quebrada por dentro, e muitas vezes adormeço de tanto chorar.

Meus pensamentos são interrompidos pelo som de passos se aproximando. Eu levanto a cabeça e vejo Madre Carmen entrando no quarto novamente, a expressão no rosto dela é de preocupação.

— Halina, querida, um senhor está aqui para buscá-la. — ela diz, sua voz suave mas firme.

Meu coração se aperta. O momento que eu temia chegou. Tento me recompor, guardando o porta-retrato na bolsa e limpando qualquer vestígio de lágrimas do meu rosto.

— Estou pronta, Madre. — digo, tentando manter a voz calma.

Ela me dá um sorriso encorajador.

— Lembre-se do que conversamos, Halina. Você é mais forte do que pensa.

Com um aceno de cabeça, sigo Madre Carmen até a entrada principal do internato. Lá, vejo um homem, de pé ao lado de um carro preto e luxuoso. Ele me encara e vem ao meu encontro.

— Sou Apolo, o responsável pela sua segurança. — ele diz sem rodeios, acenando para o motorista colocar minhas malas no carro. — Vamos.

Observo o homem a minha frente abrindo a porta do carro, ele deve ser o homem que minha irmã tanto falou o ano passado.

Eu dou uma última olhada para trás, para o lugar onde passei tantos anos. Apesar de tudo, sentirei falta de algumas coisas e pessoas aqui.

Enquanto o carro se afasta do internato, minhas mãos apertam o porta-retrato dentro da bolsa. Eu não sei o que o futuro reserva, mas tenho que acreditar que de alguma forma, encontrarei uma saída. Talvez o Dom possa me ajudar, assim como ajudou Paola. Ou, em um momento de desespero, talvez eu precise recorrer à oferta de Zael em Dubai. De qualquer forma, eu não desistirei sem lutar.

Fecho os olhos e respiro fundo, tentando reunir toda a força e coragem que ainda tenho dentro de mim.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App