Rodolfo finalmente solta um suspiro, como se estivesse absorvendo o peso das minhas palavras.— Eu entendo — responde calmamente. Ele encara o lago, e eu faço o mesmo, observando as luzes brincando na água enquanto uma brisa suave toca meu rosto. — Todos nós que nascemos neste meio passamos por essa mesma situação. Pode acreditar em mim, Halina, nenhum de nós tem direito de escolha.Suas palavras carregam uma verdade amarga, algo que ressoa profundamente em mim. A sensação de estar presa em um destino que não escolhi, compartilhada por ele, traz uma compreensão mútua. É como se, por um momento, não estivéssemos sozinhos em nossa resignação, mas ao mesmo tempo, a realidade de nossas vidas parece ainda mais sufocante.— Você já foi obrigado a fazer algo que não quis? — pergunto, minha voz suave, mas carregada de curiosidade.Rodolfo pondera por um momento, como se estivesse revivendo memórias que preferiria esquecer. Ele parece pesar suas palavras antes de responder, como se a verdade f
Sou despertada pelo som estridente da campainha. Ainda meio grogue, me pergunto se o mundo está pegando fogo para alguém me acordar tão cedo. Apresso os passos até a porta, destrancando-a rapidamente. Quando abro, dou de cara com Paola, que está acompanhada por uma senhora e um senhor, ambos carregando uma quantidade impressionante de sacolas. — Bom dia, querida! — Paola cumprimenta, entrando como se já estivesse em casa. — Espero que esteja pronta para um dia agitado. Olho para as sacolas e depois para eles, tentando processar a cena. — O que está acontecendo? — pergunto, ainda meio atordoada. — Precisamos nos preparar para o noivado, lembra? — Paola diz, desanimada. Minha mente, ainda lutando para acompanhar, finalmente desperta por completo ao perceber que o dia que eu temia se aproximava. O noivado estava cada vez mais perto. — Deixa eu te apresentar. Essa é Rose — Paola diz, abraçando a mulher pelos ombros, que me sorri calorosamente. — Ela ficará aqui com você para te aux
O dia foi como imaginei: cansativo e cheio de obrigações que não me deixaram um minuto para pensar em paz. Entre os preparativos do noivado, as idas e vindas para acertar detalhes que pareciam nunca acabar, e as conversas insistentes sobre temas que não me interessavam, senti o peso de tudo o que está por vir.Enquanto Paola discutia cores de flores e tipos de tecidos para a decoração, minha mente vagava, presa nas lembranças daquela manhã. O aviso velado que Paola me deu sobre Rodolfo ecoava em meus pensamentos, e quanto mais eu tentava afastá-lo, mais ele se fixava em minha mente. Depois da conversa com ele, algo em mim despertou. Tento convencer a mim mesma de que estou criando expectativas demais, que estou sonhando acordada e que isso não é real. Mas não consigo evitar. Aqueles olhos verdes, claros e intensos, pareciam penetrar em minha alma, dissipando qualquer escuridão que ali habitava. E aquele sorriso... genuíno e envolvente, me transportava para lugares que eu nunca imagi
Hoje foi um dia terrível. As demandas da máfia às vezes me enlouquecem e me deixam à beira da insanidade.Minha mente está um turbilhão de pensamentos, e um deles é Halina. O encontro com ela foi completamente diferente do que eu havia imaginado. Foi estranho, mas de uma forma que eu não esperava.Ela estava deslumbrante, muito mais linda e atraente do que na foto. Seu sorriso... eu adoraria poder ver aquele sorriso todos os dias. Esses pensamentos estão me consumindo.Eu esperava que o encontro fosse um choque de realidade, algo para me lembrar de manter a distância. No entanto, o oposto aconteceu. Conhecê-la foi uma experiência incrivelmente agradável. Conversar e sorrir com ela me deixou encantado e, de certa forma, até mesmo desarmado.Eu juro que pensei que, ao vê-la, a realidade seria diferente. Quem é louco o suficiente para se apaixonar por alguém apenas com base em uma foto? Eu, aparentemente. O que preciso fazer agora é desviar meu foco dela, antes que isso se transforme em
Vejo o sol nascer pela varanda do meu quarto. Não consegui pregar o olho a noite toda, e já sequei duas garrafas de uísque, mas meus pensamentos continuam os mesmos. Ela. Sempre ela. Passo as mãos pelos meus cabelos, lembrando da noite passada. Assim que cheguei em casa, a vi no jardim pela janela do meu quarto. Já era tarde da noite, o que me fez questionar o motivo dela ter perdido o sono de novo. O silêncio da madrugada parecia envolver tudo, exceto minha mente inquieta. Me pergunto se o que a manteve acordada de novo, foram os mesmos pensamentos que me atormentam agora. Será que ela também pensa em mim? Será que ela sente a mesma angústia que me consome? É impossível. Ela não iria se importar com um estranho que conheceu apenas uma noite. Mesmo assim, a sensação persiste.Talvez eu esteja apenas criando uma narrativa para justificar minha própria obsessão. Meus pensamentos giram em torno dela, e cada lembrança da noite retrasada é como um eco incessante em minha mente. Ser
O dia do meu noivado chegou. Deveria ser um dia feliz, mas não é. Já chorei tanto desde ontem que tenho certeza de que a maquiagem não conseguirá cobrir meus olhos inchados. Não consegui me alimentar, e por mais que tente, a vontade de sair da cama simplesmente não vem.Observo meu vestido pendurado na arara. É de um branco pérola magnífico, feito de um tecido que parece tão macio ao toque. Sorrio, pensando que deveria estar radiante, mas a tristeza é esmagadora.Com esforço, levanto-me e sigo para o banheiro, onde tomo um banho demorado, deixando a água tentar levar embora um pouco da amargura que carrego. Ainda não conheço meu noivo, mas tudo o que Paola me disse sobre ele já faz meu estômago se revirar. Um líquido verde é tudo que sai do meu estômago, limpo a boca e me levanto lentamente, tentando recuperar o equilíbrio. A cada pensamento sobre a minha situação, sinto a raiva e o angústia. Não quero ir, eu simplesmente não quero.Saio do banho e olho para o espelho. O reflexo que
— Não quero ser evasivo, mas o que sua irmã tem? — Questiona Apolo, entregando uma taça de bebida para Paola. — Alergia a velho nojento — diz ela, o que faz Apolo e eu a encararmos. Ele ri, balançando a cabeça e colocando a mão direita no bolso. Depois de tomar um gole do champanhe, olha para mim. — Eu não peguei uma taça para você por causa dos medicamentos — diz, rindo. — Você terá que continuar com o teatro. — Não se preocupe — digo. — Estou bem. Na verdade, eu não estava nada bem. Por dentro, a ansiedade e o medo estavam me consumindo, mas não podia demonstrar fraqueza. Continuamos a nos misturar entre os convidados, tentando manter as aparências enquanto meu coração batia descompassado. Ficamos alguns minutos conversando até que um homem jovem e muito bonito se aproxima de nós. — Apolo. — Ele estende a mão, e Apolo a aperta. — Otávio — responde Apolo. Os dois trocam um olhar significativo, e percebo que há algo mais nessa interação do que aparenta. — Paola. — Minha irm
Você não deveria ter ido ao noivado — Pronúncia Otávio, entrando no apartamento. O tempo está frio, e uma ventania desequilibra o ar. Da varanda, percebo que o balançar das árvores indica que uma tempestade se aproxima de Nova York. Olho para meu copo de Martini antes de contemplar as luzes da cidade. Há algo de especial em toda essa agitação nova-iorquina. Sorrio ao perceber que só agora notei isso. — Você não vai dizer nada? — Otávio se aproxima, puxa uma cadeira e se senta à minha frente. — A ordem era para você não ir. — Ele acha que é o dono dela, não acha? — Questiono, sentindo uma amargura nunca antes experimentada. — Rodolfo, querendo ou não, ele é o noivo dela. Sorrio sem humor, virando o copo de uma vez e enchendo-o novamente. — Por pouco tempo. — Por que não disse a Alexander desde o começo que a queria? Tenho certeza que ele teria dado um jeito. — Eu nem sei o que estou sentindo. Eu me sinto perdido. Nunca me senti assim. Otávio suspira, apoiando-se no encosto d