Geórgia — Internato Santa Casa _ Quatro meses depois...— Você deveria estar contente por estar indo embora, Halina. Não é o que sempre desejou?Observo a madre Carmen se servir com uma xícara de chá enquanto tenta me convencer que será melhor eu obedecer às ordens deixadas pelo meu pai e seguir o meu destino. Bom, ela sabe que tenho um casamento arranjado, o que ela não sabe é que o meu destino está fadado a me casar com um homem bem mais velho que eu.Madre Carmen tem razão em uma coisa: eu sempre desejei ficar longe deste lugar, nunca gostei das rezas, da cantoria, do "isso pode, isso não pode", porém, neste exato momento, eu gostaria de ficar para sempre aqui.— Mas também não quero ir para o inferno que meu pai escolheu para mim. — respondo, tentando manter a calma.Madre Carmen me olha com uma expressão misturada de pena e firmeza.— Halina, você precisa entender que, às vezes, não temos escolha. Há sacrifícios que precisamos fazer pelo bem de nossas famílias.Eu reviro os olhos
Embarcamos no avião do Dom, o que me deixou um pouco aliviada já que não conseguia parar de chorar. Entrei e me sentei em um canto isolado.Enquanto o avião decola, sinto a pressão no meu peito aumentar. A visão das nuvens lá fora não traz a tranquilidade que eu esperava. Em vez disso, só me sinto mais presa. Tento distrair a mente olhando pela janela, mas as lágrimas ameaçam voltar. O silêncio no avião é opressor.Decido buscar um pouco de consolo em uma das cartas que Paola me trouxe. Com as mãos tremendo, retiro o envelope da bolsa e começo a ler. As palavras dela, cheias de amor e apoio, me aquecem um pouco. As lembranças dos momentos que passamos juntas me trás um pouco de paz. Se Paola acredita tanto em mim, talvez eu consiga encontrar uma forma de enfrentar o que está por vir. Fecho os olhos por um instante, respirando fundo, tentando não me deixar abater. Esse não ser o fim da minha história.Quando desembarcamos a primeira pesssoa que avisto é Paola, meu coração se enche d
Paola foi embora exatamente há duas horas. Agora são quase uma da manhã e, sem conseguir dormir, decido sair para caminhar um pouco lá fora.Visto um vestido longo rosado, coloco uma rasteirinha e saio. O elevador chega imediatamente e desço para passear no jardim do condomínio.Vejo alguns guardas a postos; uns me cumprimentam, outros me ignoram.O lugar aqui é lindo. Tem algumas árvores e muitas flores, a grama verdejante se perde entre as árvores, criando um tapete natural que se estende pelo jardim.Enquanto caminho, sinto a fragrância das flores que permeia o ar, uma mistura suave e revigorante que acalma meus sentidos. As árvores, altas e imponentes, oferecem sombra e abrigo, seus galhos balançando suavemente com a brisa noturna. Cada folha parece sussurrar segredos antigos, histórias de tempos passados.As flores, em suas cores vibrantes, pintam o cenário com toques de alegria e vida. Margaridas, tulipas, rosas – todas em plena floração, como se estivessem comemorando a beleza
À medida que ele se aproxima, as luzes fracas do condomínio iluminam parcialmente seu rosto. Meu coração bate ainda mais rápido, e um frio percorre minha espinha. Tento lembrar de onde conheço aquele rosto, mas as luzes fracas dificultam meus pensamentos.Ele para a poucos metros de mim, seu olhar varrendo o jardim como se estivesse à procura de algo – ou de alguém. O ar parece mais denso, e eu prendo a respiração.Finalmente, nossos olhares se encontram. Por um breve momento, o tempo parece parar. Ele franze a testa, como se tentasse me reconhecer, e um misto de curiosidade passa por seus olhos. Minha mente corre com perguntas e suposições, mas minha boca permanece fechada, incapaz de emitir qualquer som.De repente, ele dá um passo em minha direção, e meu corpo reage instintivamente. Eu me levanto e dou um passo para esquerda, afundando minha sandália na grama macia, mas algo me impede de fugir completamente. Talvez seja a curiosidade, ou talvez seja o estranho magnetismo que ele pa
Rodolfo finalmente solta um suspiro, como se estivesse absorvendo o peso das minhas palavras.— Eu entendo — responde calmamente. Ele encara o lago, e eu faço o mesmo, observando as luzes brincando na água enquanto uma brisa suave toca meu rosto. — Todos nós que nascemos neste meio passamos por essa mesma situação. Pode acreditar em mim, Halina, nenhum de nós tem direito de escolha.Suas palavras carregam uma verdade amarga, algo que ressoa profundamente em mim. A sensação de estar presa em um destino que não escolhi, compartilhada por ele, traz uma compreensão mútua. É como se, por um momento, não estivéssemos sozinhos em nossa resignação, mas ao mesmo tempo, a realidade de nossas vidas parece ainda mais sufocante.— Você já foi obrigado a fazer algo que não quis? — pergunto, minha voz suave, mas carregada de curiosidade.Rodolfo pondera por um momento, como se estivesse revivendo memórias que preferiria esquecer. Ele parece pesar suas palavras antes de responder, como se a verdade f
Sou despertada pelo som estridente da campainha. Ainda meio grogue, me pergunto se o mundo está pegando fogo para alguém me acordar tão cedo. Apresso os passos até a porta, destrancando-a rapidamente. Quando abro, dou de cara com Paola, que está acompanhada por uma senhora e um senhor, ambos carregando uma quantidade impressionante de sacolas. — Bom dia, querida! — Paola cumprimenta, entrando como se já estivesse em casa. — Espero que esteja pronta para um dia agitado. Olho para as sacolas e depois para eles, tentando processar a cena. — O que está acontecendo? — pergunto, ainda meio atordoada. — Precisamos nos preparar para o noivado, lembra? — Paola diz, desanimada. Minha mente, ainda lutando para acompanhar, finalmente desperta por completo ao perceber que o dia que eu temia se aproximava. O noivado estava cada vez mais perto. — Deixa eu te apresentar. Essa é Rose — Paola diz, abraçando a mulher pelos ombros, que me sorri calorosamente. — Ela ficará aqui com você para te aux
O dia foi como imaginei: cansativo e cheio de obrigações que não me deixaram um minuto para pensar em paz. Entre os preparativos do noivado, as idas e vindas para acertar detalhes que pareciam nunca acabar, e as conversas insistentes sobre temas que não me interessavam, senti o peso de tudo o que está por vir.Enquanto Paola discutia cores de flores e tipos de tecidos para a decoração, minha mente vagava, presa nas lembranças daquela manhã. O aviso velado que Paola me deu sobre Rodolfo ecoava em meus pensamentos, e quanto mais eu tentava afastá-lo, mais ele se fixava em minha mente. Depois da conversa com ele, algo em mim despertou. Tento convencer a mim mesma de que estou criando expectativas demais, que estou sonhando acordada e que isso não é real. Mas não consigo evitar. Aqueles olhos verdes, claros e intensos, pareciam penetrar em minha alma, dissipando qualquer escuridão que ali habitava. E aquele sorriso... genuíno e envolvente, me transportava para lugares que eu nunca imagi
Hoje foi um dia terrível. As demandas da máfia às vezes me enlouquecem e me deixam à beira da insanidade.Minha mente está um turbilhão de pensamentos, e um deles é Halina. O encontro com ela foi completamente diferente do que eu havia imaginado. Foi estranho, mas de uma forma que eu não esperava.Ela estava deslumbrante, muito mais linda e atraente do que na foto. Seu sorriso... eu adoraria poder ver aquele sorriso todos os dias. Esses pensamentos estão me consumindo.Eu esperava que o encontro fosse um choque de realidade, algo para me lembrar de manter a distância. No entanto, o oposto aconteceu. Conhecê-la foi uma experiência incrivelmente agradável. Conversar e sorrir com ela me deixou encantado e, de certa forma, até mesmo desarmado.Eu juro que pensei que, ao vê-la, a realidade seria diferente. Quem é louco o suficiente para se apaixonar por alguém apenas com base em uma foto? Eu, aparentemente. O que preciso fazer agora é desviar meu foco dela, antes que isso se transforme em