Dias atuais...
Desço do carro e me encosto no veículo, observando o mar de árvores altas e antigas cujas copas se entrelaçam no alto, formando um dossel verdejante que filtra a luz do sol em suaves raios dourados. Alexander escolheu um lugar realmente lindo para morar. A paz que este lugar inspira me faz refletir sobre o que eu pretendo fazer de verdade com o meu futuro. Talvez se eu tivesse continuado sendo apenas o executor da máfia, as minhas decisões não seriam tão difíceis de tomar, mas agora, como subchefe, o que vivo é uma tremenda dor de cabeça. Tomar decisões importantes que afetam não só a minha vida, mas também a vida de todos ao meu redor, não é fácil. Olho pela janela do carro e observo a foto de Halina no banco. Ela está sorrindo genuinamente, e me questiono se vale a pena arriscar tantas coisas por uma mulher que ainda nem conheci pessoalmente. É claro que Alexander vai tentar barrar este casamento. Ele já proibiu casamentos arranjados, e garotas com menos de 20 anos só entram em um casamento por livre e espontânea vontade. Os únicos casamentos arranjados que ainda permanecem são os decretados pelo meu pai antes de ser morto, e esses não conseguimos cancelar. Por isso, sei que terei que encontrar outra maneira de tirar Halina das garras de Antônio. O pior é que não posso simplesmente eliminá-lo, pois isso acarretaria uma guerra. Já perco a paciência só de pensar nessa situação. Entro na casa e vejo Alice brincando de carrinho com Lucas. — Olha quem chegou — falo, fechando a porta. — Tio! — Alice corre para mim, e eu a pego no colo, recebendo um abraço incrível. — Tio! — Meu pequeno também vem com suas perninhas curtas em uma velocidade invejável. Eu me abaixo para pegá-lo também. Lucas é um garoto esperto, a melhor parte de toda aquela bagunça que nos aconteceu. No começo, eu detestava Helena. Eu tinha medo de que Alexander se perdesse ainda mais e, se isso acontecesse, eu descontaria minha raiva nela. Por isso, estava sempre de olho, até que as coisas mudaram como num passe de mágica, e sinceramente, estou feliz pelo meu irmão. — A mamãe tá braba com o papai — diz Alice, chamando minha atenção. Franzo a testa ao ouvir suas palavras. Me sento, colocando Alice no sofá e continuando com Lucas no colo, enquanto ele se interessa por um dinossauro que estava segurando. — Você ouviu os dois brigando? — pergunto, preocupado. Alexander morre de medo que Alice veja esses tipos de cenas. — Não — ela balança a cabeça. — Eles não brigam, só que a mamãe disse que estava braba, e o papai riu. — Por que ela tá brava? — Porque o seu idolatrado irmão não quer tomar remédio — diz Helena, descendo as escadas com uma expressão nada boa. — Quando era eu, ele vivia me forçando a tomar comprimidos, agora é minha vez de me vingar. Alice querida vá brincar com seu irmão. — Pronúncia se aproximando. Rio alto, não acreditando na situação. Alice sai e eu observo Helena. Ela está usando um vestido longo branco bem solto, seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo, sem maquiagem nem joias, e ainda assim é incrivelmente bonita. Também percebo que ela é um pouco doida, fala o que pensa e não está nem aí para a opinião dos outros. — Cunhada, ele odeia remédio e também odeia hospital — respondo, colocando Lucas no chão. — Engraçado, eu também não gosto e nem por isso dei tanto trabalho assim para ele — ela bufa, revirando os olhos, e eu rio ainda mais. — Mas é aquele velho ditado: o pior filho é o da sua sogra. — Meu Deus, você é terrível. Ela faz uma careta. — Vou para a cozinha ajudar a preparar algo para ele comer. Você gostaria de alguma coisa? — Eu aceito qualquer coisa, desde que não seja algo igual o bolo que você preparou da última vez. — Nossa, esquece isso — ela ri, e eu me levanto. — Vou subir — aviso. — Fique à vontade — pronúncia, seguindo para a cozinha. (๑๑˙❥˙๑๑˙❥˙๑๑˙❥˙๑๑˙❥˙๑๑˙❥˙๑๑)✍️ Abro a porta e encontro Alexander concentrado no notebook. Caralh0, nem quase aleijado o homem para. Encaro sua perna esticada em cima da cama, enquanto a outra está apoiada em um banquinho no chão. Ele ergue os olhos ao perceber minha presença e fecha o notebook com um suspiro. — Você não deveria estar descansando? — pergunto, cruzando os braços. — Tenho muito trabalho acumulado — responde, tentando disfarçar o desconforto. Me aproximando da cama. — Como está se sentindo? — Como alguém que foi atropelado por um caminhão, mas ainda assim, vivo — diz com um meio sorriso. Olho para sua perna novamente, lembrando-me do motivo da minha visita. — Precisamos conversar — começo, sentando-me em uma cadeira ao lado da cama. — Sobre a irmã de Paola. Ele franze a testa, já prevendo a seriedade do assunto. Eu havia comentado algo com ele ao telefone, mas o assunto é muito delicado e teria que ser discutido pessoalmente. Alexander suspira profundamente, passando a mão pelo rosto. — Sei que você quer barrar o casamento, mas isso não resolve o problema. Antônio não vai desistir tão facilmente, e se formos direto ao ponto, teremos sérios problemas. — Já pensei nisso. — Digo, sentindo algo que não sei explicar. — Vamos precisar de uma estratégia mais cuidadosa, algo que não coloque todos em risco. Alexander me encara por um momento, então acena com a cabeça. — Por que quer jogar este jogo? Você nem conhece a garota — questiona, e eu fico sem saber o que dizer. Por que estou entrando nessa merda toda? — Eu... — começo, procurando as palavras. — Acho que é porque não consigo ignorar a situação dela. Ele fica em silêncio por um momento. — Você não tem outro motivo? Encaro meu irmão, já sabendo para onde ele deseja ir com essa conversa. — Não. Não tem outro motivo. Prometi a Paola proteção e estou tentando cumprir com minha palavra. Alexander me olha intensamente, tentando decifrar minha expressão. Finalmente, ele suspira e balança a cabeça. — Tudo bem, confio em você. Só quero ter certeza de que você sabe o que está fazendo. Sinto um peso ser tirado dos meus ombros. — Por onde começamos? — pergunto, não posso fazer nada sem falar com ele. — Espere minha perna melhorar — anuncia.— Faremos uma reunião e veremos no que dá. Assinto, entendendo a necessidade de esperar. — Combinado.Dois meses depois...Fizemos uma reunião para decidirmos o futuro de Halina. Sim, parece até engraçado dizer isso, nós, meros mortais, decidindo o futuro de alguém? Palhaçada.Na época em que meu pai era o chefe, eu não me importava com essas coisas. Tanto que, sem pensar duas vezes, aceitei me casar com Paola sem ver problemas. Mas agora, não consigo enxergar muita coisa dentro da máfia da mesma forma. Alexander conseguiu mudar minha maneira de pensar.O ambiente dentro da máfia e as dinâmicas de poder são bem mais complexos do que eu imaginava. Antes, via tudo em termos simples e aceitava as decisões sem pensar muito. Agora, com a responsabilidade de tomar decisões importantes e proteger aqueles que amo, vejo as coisas de um jeito diferente.A maneira estratégica e cuidadosa de Alexander me mostrou que há muito mais nuances e consequências do que eu percebia antes. Aprendi que nossas ações e decisões realmente influenciam o futuro das pessoas. Isso mudou a forma como encaro minhas
Geórgia — Internato Santa Casa _ Quatro meses depois...— Você deveria estar contente por estar indo embora, Halina. Não é o que sempre desejou?Observo a madre Carmen se servir com uma xícara de chá enquanto tenta me convencer que será melhor eu obedecer às ordens deixadas pelo meu pai e seguir o meu destino. Bom, ela sabe que tenho um casamento arranjado, o que ela não sabe é que o meu destino está fadado a me casar com um homem bem mais velho que eu.Madre Carmen tem razão em uma coisa: eu sempre desejei ficar longe deste lugar, nunca gostei das rezas, da cantoria, do "isso pode, isso não pode", porém, neste exato momento, eu gostaria de ficar para sempre aqui.— Mas também não quero ir para o inferno que meu pai escolheu para mim. — respondo, tentando manter a calma.Madre Carmen me olha com uma expressão misturada de pena e firmeza.— Halina, você precisa entender que, às vezes, não temos escolha. Há sacrifícios que precisamos fazer pelo bem de nossas famílias.Eu reviro os olhos
Embarcamos no avião do Dom, o que me deixou um pouco aliviada já que não conseguia parar de chorar. Entrei e me sentei em um canto isolado.Enquanto o avião decola, sinto a pressão no meu peito aumentar. A visão das nuvens lá fora não traz a tranquilidade que eu esperava. Em vez disso, só me sinto mais presa. Tento distrair a mente olhando pela janela, mas as lágrimas ameaçam voltar. O silêncio no avião é opressor.Decido buscar um pouco de consolo em uma das cartas que Paola me trouxe. Com as mãos tremendo, retiro o envelope da bolsa e começo a ler. As palavras dela, cheias de amor e apoio, me aquecem um pouco. As lembranças dos momentos que passamos juntas me trás um pouco de paz. Se Paola acredita tanto em mim, talvez eu consiga encontrar uma forma de enfrentar o que está por vir. Fecho os olhos por um instante, respirando fundo, tentando não me deixar abater. Esse não ser o fim da minha história.Quando desembarcamos a primeira pesssoa que avisto é Paola, meu coração se enche d
Paola foi embora exatamente há duas horas. Agora são quase uma da manhã e, sem conseguir dormir, decido sair para caminhar um pouco lá fora.Visto um vestido longo rosado, coloco uma rasteirinha e saio. O elevador chega imediatamente e desço para passear no jardim do condomínio.Vejo alguns guardas a postos; uns me cumprimentam, outros me ignoram.O lugar aqui é lindo. Tem algumas árvores e muitas flores, a grama verdejante se perde entre as árvores, criando um tapete natural que se estende pelo jardim.Enquanto caminho, sinto a fragrância das flores que permeia o ar, uma mistura suave e revigorante que acalma meus sentidos. As árvores, altas e imponentes, oferecem sombra e abrigo, seus galhos balançando suavemente com a brisa noturna. Cada folha parece sussurrar segredos antigos, histórias de tempos passados.As flores, em suas cores vibrantes, pintam o cenário com toques de alegria e vida. Margaridas, tulipas, rosas – todas em plena floração, como se estivessem comemorando a beleza
À medida que ele se aproxima, as luzes fracas do condomínio iluminam parcialmente seu rosto. Meu coração bate ainda mais rápido, e um frio percorre minha espinha. Tento lembrar de onde conheço aquele rosto, mas as luzes fracas dificultam meus pensamentos.Ele para a poucos metros de mim, seu olhar varrendo o jardim como se estivesse à procura de algo – ou de alguém. O ar parece mais denso, e eu prendo a respiração.Finalmente, nossos olhares se encontram. Por um breve momento, o tempo parece parar. Ele franze a testa, como se tentasse me reconhecer, e um misto de curiosidade passa por seus olhos. Minha mente corre com perguntas e suposições, mas minha boca permanece fechada, incapaz de emitir qualquer som.De repente, ele dá um passo em minha direção, e meu corpo reage instintivamente. Eu me levanto e dou um passo para esquerda, afundando minha sandália na grama macia, mas algo me impede de fugir completamente. Talvez seja a curiosidade, ou talvez seja o estranho magnetismo que ele pa
Rodolfo finalmente solta um suspiro, como se estivesse absorvendo o peso das minhas palavras.— Eu entendo — responde calmamente. Ele encara o lago, e eu faço o mesmo, observando as luzes brincando na água enquanto uma brisa suave toca meu rosto. — Todos nós que nascemos neste meio passamos por essa mesma situação. Pode acreditar em mim, Halina, nenhum de nós tem direito de escolha.Suas palavras carregam uma verdade amarga, algo que ressoa profundamente em mim. A sensação de estar presa em um destino que não escolhi, compartilhada por ele, traz uma compreensão mútua. É como se, por um momento, não estivéssemos sozinhos em nossa resignação, mas ao mesmo tempo, a realidade de nossas vidas parece ainda mais sufocante.— Você já foi obrigado a fazer algo que não quis? — pergunto, minha voz suave, mas carregada de curiosidade.Rodolfo pondera por um momento, como se estivesse revivendo memórias que preferiria esquecer. Ele parece pesar suas palavras antes de responder, como se a verdade f
Sou despertada pelo som estridente da campainha. Ainda meio grogue, me pergunto se o mundo está pegando fogo para alguém me acordar tão cedo. Apresso os passos até a porta, destrancando-a rapidamente. Quando abro, dou de cara com Paola, que está acompanhada por uma senhora e um senhor, ambos carregando uma quantidade impressionante de sacolas. — Bom dia, querida! — Paola cumprimenta, entrando como se já estivesse em casa. — Espero que esteja pronta para um dia agitado. Olho para as sacolas e depois para eles, tentando processar a cena. — O que está acontecendo? — pergunto, ainda meio atordoada. — Precisamos nos preparar para o noivado, lembra? — Paola diz, desanimada. Minha mente, ainda lutando para acompanhar, finalmente desperta por completo ao perceber que o dia que eu temia se aproximava. O noivado estava cada vez mais perto. — Deixa eu te apresentar. Essa é Rose — Paola diz, abraçando a mulher pelos ombros, que me sorri calorosamente. — Ela ficará aqui com você para te aux
O dia foi como imaginei: cansativo e cheio de obrigações que não me deixaram um minuto para pensar em paz. Entre os preparativos do noivado, as idas e vindas para acertar detalhes que pareciam nunca acabar, e as conversas insistentes sobre temas que não me interessavam, senti o peso de tudo o que está por vir.Enquanto Paola discutia cores de flores e tipos de tecidos para a decoração, minha mente vagava, presa nas lembranças daquela manhã. O aviso velado que Paola me deu sobre Rodolfo ecoava em meus pensamentos, e quanto mais eu tentava afastá-lo, mais ele se fixava em minha mente. Depois da conversa com ele, algo em mim despertou. Tento convencer a mim mesma de que estou criando expectativas demais, que estou sonhando acordada e que isso não é real. Mas não consigo evitar. Aqueles olhos verdes, claros e intensos, pareciam penetrar em minha alma, dissipando qualquer escuridão que ali habitava. E aquele sorriso... genuíno e envolvente, me transportava para lugares que eu nunca imagi