Puxo uma cadeira e me sento pacientemente. Estamos na sala de interrogatório da máfia: eu, Alexander, Rodolfo e Salma. A mulher, no entanto, não parece disposta a colaborar. Ela administra um prostíbulo no sul do Bronx, mas sua maior fonte de renda hoje é o tráfico de mulheres. Salma seleciona as vítimas uma a uma, decidindo seus destinos sem qualquer consentimento. Alexander conduz o interrogatório, mas quando as perguntas começam a tocar assuntos ligados à 'Ndrangheta, Salma se fecha completamente. Ela detém informações que poderiam facilitar nossa negociação com Giovanni, mas se recusa a ceder. — Francesco Bianchi sabe onde você está? — Alexander volta a questioná-la, sua voz carregada de autoridade. Salma, no entanto, responde com um sorriso debochado, como se a pergunta fosse um jogo tolo. — Você sabe que ele sabe. Por que pergunta? — Ela balança a cabeça, e seus cabelos loiros presos no topo se movem ligeiramente. Sua pele clara e os olhos cor de mel me trazem um lembrete i
— Neste mundo, sentimentos são fraquezas. Eu fiz o que precisava para sobreviver longe daquele lunático. Não era meu dever amar ou cuidar dela, nem de ninguém. Eu não abriria mão dos meus desejos, dos meus sonhos, por causa dos filhos de Francesco. Ela me encara como se suas palavras fossem justificativas válidas, mas tudo o que sinto é desprezo. — É fácil para você me cobrar agora, em um tempo em que tudo está mudando, mas na minha época... você acha justo que eu me sacrificasse para o bem deles? — Ela gesticula com desdém, referindo-se a Desirée e ao falecido irmão, como se fossem insignificantes. — Nenhum dos dois mereciam minha atenção. Tive-os contra minha vontade, fui obrigada a engravidar e gerá-los. Dar a vida a cada um deles já foi o suficiente. Achei que ela se calaria, mas ela continua, implacável. — Pois entenda, Otávio, Desirée ficou melhor nas mãos de Paulo. Ela foi cuidada, da maneira torta dele mais foi. Se ela estivesse ficado nas mãos de Francesco ou até mesmo na
Assim que saio do RH, Melissa me para no corredor, avisando que Otávio está aguardando meu comparecimento em sua sala. Apesar de trabalharmos no mesmo andar, não o vi pela manhã, e à tarde ele teve que sair para resolver algo com Alexander.Abro a porta e o encontro sentado, mas sua expressão muda no instante em que me vê. Um sorriso radiante ilumina seu rosto, e sinto meu coração acelerar. Caminho até ele com passos apressados, quase involuntários, enquanto ele gira a cadeira para o lado, ajustando sua posição.Quando estou próxima o suficiente, ele me puxa com firmeza, me aninhando em seus braços de um jeito que me faz perder o fôlego por um momento.— Como foi seu dia? — Sua voz é baixa, e o calor de sua presença quase dissipa o cansaço que carrego.— Foi produtivo. — Mantenho o tom leve, embora a verdade seja que o dia foi exaustivo e cheio de problemas. Beijo sua bochecha com suavidade e deixo meus dedos deslizarem pelo tecido de sua gravata vinho, me concentrando em seu toque re
Eu sempre me considerei uma pessoa pragmática. Para mim, não faz sentido sentir o que estou sentindo por Otávio em tão pouco tempo. Não quero ser imprudente, mas talvez seja hora de reconsiderar meus verdadeiros desejos. A palavra amor sempre me trouxe lembranças de frustração, de coisas que nunca aconteceram da maneira que eu queria. Passei tanto tempo lutando para ser o centro da atenção de alguém e, agora que estou sendo, isso parece tão inaceitável.Eu não sou mais aquela menina que buscava desesperadamente a aprovação do meu pai, dos colegas da escola ou até mesmo da minha melhor amiga, Marcela. Mas a forma como Otávio me olha, como me chama de любовь, desperta algo incômodo dentro de mim. É como se um novo caminho se abrisse, um que eu nunca imaginei trilhar.Talvez seja hora de aceitar que, de vez em quando, eu também mereço ser amada. Não apenas com palavras, mas com gestos, com ações. Talvez esse novo eu esteja pronta para ser cuidada, reverenciada por alguém como Otávio.Ess
Me afasto alguns passos do galpão, sentindo o peso do lugar ficar para trás, e paro diante da área de mata fechada à minha frente. As árvores altas, de troncos robustos, se erguem como sentinelas silenciosas, enquanto o vento suave balança as copas, criando um sussurro constante entre as folhas. O ar aqui parece diferente, mais fresco, mas também carregado de algo inexplicável, quase como se a própria floresta me observasse. O cenário é intimidante e fascinante ao mesmo tempo. A luz que atravessa as brechas entre os galhos forma desenhos irregulares no chão, como se a mata guardasse segredos esperando para serem descobertos. Por um momento, considero o que poderia existir além daquelas árvores, mas algo dentro de mim hesita. Talvez seja a consciência de que a mata, com toda a sua beleza, também pode ser traiçoeira. Dou um passo à frente, minha respiração ficando mais lenta enquanto tento escutar qualquer som além do vento e do ranger das árvores. Mas o que escuto e passos se aproxi
Desde o momento em que Otávio me pegou na faculdade, havia algo diferente nele. Não sei explicar ao certo, mas ele parecia mais leve, até mesmo... feliz. Era intrigante, porque em todo o tempo que o vi pelos corredores da empresa ou em reuniões, nunca o percebi assim. Isso era novo. E fascinante.Assim que chegamos ao meu apartamento, fui direto para o banho enquanto ele ficou no telefone, resolvendo algo que parecia importante. Agora, ao sair, o encontro de costas na minha pequena varanda, olhando o movimento tranquilo da avenida lá embaixo.Fecho a porta do banheiro com cuidado e vou até ele. Ele se vira assim que sente minha presença, e nossos olhares se encontram brevemente antes de eu me posicionar ao seu lado.— Você me parece extremamente contente esta noite — comento, enquanto seguro a barra de ferro pintada de branco, observando o fluxo calmo de carros.Ele ri, balançando a cabeça, como se a ideia fosse absurda.— Contente?— Sim. — Desvio o olhar para ele, percebendo que sua
Meus pensamentos vagueiam para o dia em que vi Desirée pela primeira vez. Ela estava saindo de casa, vestindo uma calça jeans surrada e uma regata lilás. Caminhava apressada, com o rosto carregado por uma expressão que denunciava irritação. Seus cabelos estavam amarrados no alto da cabeça, os pequenos cachos ruivos balançando a cada passo decidido. A certa altura, ela parou, puxou um casaco marrom de dentro da bolsa rosa e o vestiu com pressa. A segui até o ponto de ônibus, onde ela esperou impacientemente até embarcar e desaparecer em seu destino.Durante um mês e meio, foi assim: eu a observando de longe, encantado por suas múltiplas facetas. A vi alegre, triste, contrariada e até chorando. Cada emoção parecia desenhar uma nova camada da mulher que começava a dominar meus pensamentos.Eu a queria, por Deus... como a queria!Quando finalmente consegui trazê-la para perto de mim, pensei que seria minha vitória, mas foi minha derrota. Porque agora, ao invés de apenas vê-la, eu podia se
— Você é um pecado vivo, Otávio, — sua respiração ainda está descompassada, os olhos fechados enquanto tenta recuperar o controle sobre si mesma.Suas palavras me fazem sorrir, mas é o que vem em seguida que realmente me atinge.— Eu também te desejo, — ela continua, abrindo os olhos devagar.Imediatamente, paro tudo que estou fazendo. Quero que ela saiba que tem toda a minha atenção. Meu olhar se fixa no dela, sem perder nada do que está por vir.— E isso... — ela sussurra, sua voz carregada de algo entre medo e certeza. — Me assusta.Sorrio, reconhecendo exatamente o que ela está sentindo. Há algo profundamente gratificante em vê-la tão vulnerável e, ao mesmo tempo, tão corajosa em admitir o que começa a sentir por mim.— Assusta? — sussurro enquanto me inclino, apoiando uma das mãos no colchão para beijar sua testa suavemente. — Mas o que é o desejo, se não um pouco de caos que nos lembra que estamos vivos?Minha respiração pesa quando sinto o contato de seu corpo com o meu, o calo