Acordo ao som de murmúrios ao longe, suaves e indistintos. Meu corpo se mexe na cama com calma, uma sensação de leveza me envolve, como se algo em mim tivesse se transformado. Sinto-me mais viva.Ontem não foi a minha primeira vez. Já havia feito sexo antes, umas cinco vezes, talvez. Sempre com o mesmo cara, alguém que, quando percebi que estava me apaixonando, resolvi afastar. Era mais seguro terminar do que mergulhar em algo incerto. Mas ontem... Ontem foi diferente. Não era apenas sexo, nem o desejo cru e imediato. Foi além disso. Algo mais profundo, mais íntimo.Eu amei.Por mais que eu e Otávio tenhamos nos entregado um ao outro várias vezes na noite passada, meu corpo ainda clama por ele. É uma novidade avassaladora, algo que nunca experimentei antes. Um querer que transcende o físico e invade minha alma, me deixando perplexa e, ao mesmo tempo, eufórica.Levanto-me ao perceber que os murmúrios cessaram. Meu olhar vagueia pela cama antes de alcançar o vestido dobrado cuidadosamen
Depois de vasculhar as coisas de Otávio, encontrei tudo o que precisava na segunda gaveta; pasta, escova e ate um secador que decido não usar. Ajusto a toalha nos cabelos, visto o vestido e saio do banheiro. Ele está na varanda, sentado em uma poltrona no canto, concentrado no celular.O terno impecável molda sua figura com uma elegância natural. Os cabelos, cuidadosamente penteados, emolduram um rosto que combina poder e sedução de uma forma quase injusta. Há algo incrivelmente atraente nele, algo que nunca falha em mexer comigo.Dou alguns passos, segurando a toalha na cabeça, e ele ergue o olhar. Seu sorriso, fácil e encantador, se espalha pelo rosto, aquecendo meu coração sem esforço.Não me preocupo em estar assim na frente dele. Descalça, simples, brigona e teimosa. Quem quiser estar comigo terá que aceitar isso.— Minha calcinha — digo, estendendo a mão assim que paro na sua frente.Otávio arqueia uma sobrancelha, a sombra de um sorriso brincando em seus lábios.— Achei que, a
— Você está atrasada com os documentos de hoje. Isso tem algo a ver com a hora em que resolveu aparecer? A voz do cão ecoa pelo andar, carregada de autoridade forçada, mas eu ignoro, mantendo meu foco nos papéis à minha frente. Sem levantar a cabeça, aponto para a pasta ao meu lado esquerdo, falando com indiferença: — Está aqui o fechamento do evento. Já negociei a decoração, o senhor Alexander analisou, assinou, e todo o projeto feito pela senhora Helena Gambino já está arquivado. Coloco a folha que estava segurando em cima da mesa e me encosto na cadeira, cruzando os braços enquanto a encaro. Tatiane pega a pasta e começa a folhear lentamente, como se quisesse encontrar alguma falha. Ela parece não ter entendido quando eu disse que Alexander já havia analisado todo o documento. — Vermelho e dourado? — Ela questiona, com um tom de desdém. — Eu nunca deveria ter confiado esse projeto a você. Com certeza, não deu a eles mais opções para escolher. Sorrio com calma, sabendo exatament
Puxo uma cadeira e me sento pacientemente. Estamos na sala de interrogatório da máfia: eu, Alexander, Rodolfo e Salma. A mulher, no entanto, não parece disposta a colaborar. Ela administra um prostíbulo no sul do Bronx, mas sua maior fonte de renda hoje é o tráfico de mulheres. Salma seleciona as vítimas uma a uma, decidindo seus destinos sem qualquer consentimento. Alexander conduz o interrogatório, mas quando as perguntas começam a tocar assuntos ligados à 'Ndrangheta, Salma se fecha completamente. Ela detém informações que poderiam facilitar nossa negociação com Giovanni, mas se recusa a ceder. — Francesco Bianchi sabe onde você está? — Alexander volta a questioná-la, sua voz carregada de autoridade. Salma, no entanto, responde com um sorriso debochado, como se a pergunta fosse um jogo tolo. — Você sabe que ele sabe. Por que pergunta? — Ela balança a cabeça, e seus cabelos loiros presos no topo se movem ligeiramente. Sua pele clara e os olhos cor de mel me trazem um lembrete i
— Neste mundo, sentimentos são fraquezas. Eu fiz o que precisava para sobreviver longe daquele lunático. Não era meu dever amar ou cuidar dela, nem de ninguém. Eu não abriria mão dos meus desejos, dos meus sonhos, por causa dos filhos de Francesco. Ela me encara como se suas palavras fossem justificativas válidas, mas tudo o que sinto é desprezo. — É fácil para você me cobrar agora, em um tempo em que tudo está mudando, mas na minha época... você acha justo que eu me sacrificasse para o bem deles? — Ela gesticula com desdém, referindo-se a Desirée e ao falecido irmão, como se fossem insignificantes. — Nenhum dos dois mereciam minha atenção. Tive-os contra minha vontade, fui obrigada a engravidar e gerá-los. Dar a vida a cada um deles já foi o suficiente. Achei que ela se calaria, mas ela continua, implacável. — Pois entenda, Otávio, Desirée ficou melhor nas mãos de Paulo. Ela foi cuidada, da maneira torta dele mais foi. Se ela estivesse ficado nas mãos de Francesco ou até mesmo na
Assim que saio do RH, Melissa me para no corredor, avisando que Otávio está aguardando meu comparecimento em sua sala. Apesar de trabalharmos no mesmo andar, não o vi pela manhã, e à tarde ele teve que sair para resolver algo com Alexander.Abro a porta e o encontro sentado, mas sua expressão muda no instante em que me vê. Um sorriso radiante ilumina seu rosto, e sinto meu coração acelerar. Caminho até ele com passos apressados, quase involuntários, enquanto ele gira a cadeira para o lado, ajustando sua posição.Quando estou próxima o suficiente, ele me puxa com firmeza, me aninhando em seus braços de um jeito que me faz perder o fôlego por um momento.— Como foi seu dia? — Sua voz é baixa, e o calor de sua presença quase dissipa o cansaço que carrego.— Foi produtivo. — Mantenho o tom leve, embora a verdade seja que o dia foi exaustivo e cheio de problemas. Beijo sua bochecha com suavidade e deixo meus dedos deslizarem pelo tecido de sua gravata vinho, me concentrando em seu toque re
Eu sempre me considerei uma pessoa pragmática. Para mim, não faz sentido sentir o que estou sentindo por Otávio em tão pouco tempo. Não quero ser imprudente, mas talvez seja hora de reconsiderar meus verdadeiros desejos. A palavra amor sempre me trouxe lembranças de frustração, de coisas que nunca aconteceram da maneira que eu queria. Passei tanto tempo lutando para ser o centro da atenção de alguém e, agora que estou sendo, isso parece tão inaceitável.Eu não sou mais aquela menina que buscava desesperadamente a aprovação do meu pai, dos colegas da escola ou até mesmo da minha melhor amiga, Marcela. Mas a forma como Otávio me olha, como me chama de любовь, desperta algo incômodo dentro de mim. É como se um novo caminho se abrisse, um que eu nunca imaginei trilhar.Talvez seja hora de aceitar que, de vez em quando, eu também mereço ser amada. Não apenas com palavras, mas com gestos, com ações. Talvez esse novo eu esteja pronta para ser cuidada, reverenciada por alguém como Otávio.Ess
Me afasto alguns passos do galpão, sentindo o peso do lugar ficar para trás, e paro diante da área de mata fechada à minha frente. As árvores altas, de troncos robustos, se erguem como sentinelas silenciosas, enquanto o vento suave balança as copas, criando um sussurro constante entre as folhas. O ar aqui parece diferente, mais fresco, mas também carregado de algo inexplicável, quase como se a própria floresta me observasse. O cenário é intimidante e fascinante ao mesmo tempo. A luz que atravessa as brechas entre os galhos forma desenhos irregulares no chão, como se a mata guardasse segredos esperando para serem descobertos. Por um momento, considero o que poderia existir além daquelas árvores, mas algo dentro de mim hesita. Talvez seja a consciência de que a mata, com toda a sua beleza, também pode ser traiçoeira. Dou um passo à frente, minha respiração ficando mais lenta enquanto tento escutar qualquer som além do vento e do ranger das árvores. Mas o que escuto e passos se aproxi