— O que você está tentando dizer? — As palavras dele saem arrastadas, mas antes que eu possa responder, o choro agudo de Íris rasga o silêncio do quarto. Num impulso, trocamos um olhar e corremos para o berço.Meus dedos tremem levemente quando a pego nos braços, sentindo o calor frágil do seu corpo pressionado contra o meu. Íris se debate, soluçando de forma sentida, o rostinho contorcido em angústia.— O que foi, amor? — murmuro, embalando-a contra o peito. O peso dela é familiar, reconfortante, mas seu choro insistente faz meu coração apertar.Otávio se aproxima, atento. Com um movimento cuidadoso, ele encosta as costas da mão na testa dela, avaliando sua temperatura.— Ela não está febril — diz, sua voz grave e controlada. — Pode ter sido um sonho ruim.— Talvez… — murmuro, ainda preocupada. — Mas isso nunca aconteceu antes.Sem alternativas, me sento no sofá, ajeitando Íris em meus braços. Otávio se acomoda ao meu lado, os olhos fixos em cada um dos meus gestos. Deslizo a alça fi
Abraço seu corpo enquanto ela chora, trazendo-me uma angústia profunda. Eu a pego no colo, sem pensar duas vezes. A levo para a cama, deito-a com cuidado e me deito ao seu lado. Apago a luz e a envolvo em meus braços, sentindo o corpo dela ainda trêmulo.Nunca pensei que a veria assim. Desirée sempre foi forte, decidida, uma muralha intransponível. Eu me acostumei com seu olhar firme, com a forma como erguia o queixo diante das dificuldades, com sua postura de quem nunca se deixa abater. Mas agora… agora ela chora nos meus braços, e eu me sinto um maldito inútil.Seu corpo estremece contra o meu, os soluços rasgam o silêncio do quarto, e tudo dentro de mim dói. Eu a seguro com força, como se pudesse impedir que a dor a levasse para longe, como se pudesse protegê-la de algo que, no fundo, eu mesmo causei. Como não percebi antes? Como fui cego ao ponto de achar que ela estava bem?Uma mágoa amarga se instala no meu peito. Eu deveria ter previsto isso. Eu deveria ter visto além da armad
Passei horas organizando as coisas que Otávio trouxe, revendo cada item com um misto de alívio e inquietação. Para minha surpresa, muitas das minhas coisas que ficaram para trás estavam ali — roupas, livros, alguns pertences pessoais. Mas entre todas elas, duas coisas me fizeram estacar: o álbum de casamento e o vestido de noiva.Minhas mãos hesitaram sobre o tecido branco, deslizando pelos bordados delicados. Embora aquele dia estivesse envolto em tristeza e dúvidas, eu não conseguia deixar de sentir uma melancolia amarga ao encarar o vestido. Ele era a lembrança de um momento que deveria ter sido feliz, mas que, para mim, foi uma prisão.Coloquei-o de lado, como se afastá-lo pudesse afastar também as memórias, e me sentei no chão, com o álbum no colo.As fotos estavam intactas. O sorriso que eu ostentava nelas, porém, era quase um insulto agora. Olhei para cada imagem, estudando meu próprio rosto, tentando enxergar além da aparência serena que tentei manter naquele dia. Meus olhos n
Eu estava sentado à mesa do escritório, os papéis espalhados diante de mim. Relatórios, contratos, números que precisavam ser analisados. Parecia até mesmo um dia comum de trabalho, um cenário que, em outros tempos, seria familiar para mim. Mas, dessa vez, eu não estava sozinho.Íris brincava no tapete, cercada por alguns brinquedos. Um ursinho de pelúcia barulhento e um chocalho que também fazia um barulho irritante sempre que ela o sacudia. Ela se recusava a largá-lo, batendo o objeto contra o urso de tempos em tempos, enquanto soltava risadinhas baixas, completamente imersa na própria diversão.Olhei para ela e por um momento todos os problemas que rondavam minha mente pareceram menos pesados. Era quase inacreditável como uma criança tão pequena podia trazer tanta luz para a minha vida.Mas a verdade era que os problemas não sumiam.Eu tinha tanta coisa para dizer a Desirée. Nossa última conversa foi difícil, e a maneira como ela reagiu no final provou que aquele não era o momento
Eu estava prestes a entrar no escritório quando ouvi sua voz.— Alexander, eu quero distância de tudo que envolva Cosa Nostra. E mais ainda, quero a 'Ndrangheta bem longe da Desirée e da minha filha.Parei imediatamente, minha mão no batente da porta. O coração acelerou no peito. Eu não deveria estar ouvindo essa conversa, mas agora que tinha ouvido, não conseguia simplesmente ignorar.Uma parte de mim se sentia culpada por escutar algo que não era para mim. Mas a outra... a outra parte sentiu um alívio tão grande que precisei me apoiar na parede.Ele podia me dizer um milhão de vezes que não voltaria para aquela vida, mas uma parte de mim nunca conseguia acreditar totalmente. Porque, no fundo, eu sabia que o que ele vivia antes de mim não era apenas um trabalho ou um dever. Era uma parte dele. Como Zenaide me disse, entre eu e a máfia, a máfia sempre viria em primeiro lugar.Eu já sabia disso.E eu vivi isso na pele.Fui colocada nesse jogo sem saber exatamente qual era o meu papel.
A vila estava iluminada por centenas de pequenas luzes penduradas entre as árvores e postes, criando um brilho dourado que contrastava com o céu escuro e estrelado. As ruas de paralelepípedos estavam repletas de pessoas sorrindo, dançando e celebrando a estação das flores.A brisa da primavera era morna, carregada com o perfume suave das flores recém-desabrochadas. O aroma de pétalas de laranjeira e lavanda misturava-se ao cheiro de comida sendo preparada nas barracas espalhadas pela praça. O som de risadas e conversas se misturava à melodia animada que ecoava pelo lugar.A música era um convite para o corpo se mover, com violinos, sanfonas e violões tocando ritmos animados que faziam os casais girarem pelo salão improvisado no centro da praça. Algumas crianças corriam entre os adultos, segurando pequenos ramalhetes de flores que compravam nos estandes.Parei por um momento para observar Desirée. Ela parecia diferente ali, sob aquela luz suave e quente. O brilho das lanternas refletia
Depois de um jantar agradável na vila e um passeio tranquilo pelas ruas iluminadas, Otávio me trouxe de volta para a fazenda. No entanto, em vez de seguirmos para a casa principal, ele desviou o caminho, guiando o carro por uma estrada de terra que serpenteava entre as colinas.— Para onde estamos indo? — perguntei, observando a paisagem escura ao redor, apenas iluminada pelos faróis do carro e pelo brilho distante da lua crescente.Ele sorriu de lado, mantendo uma das mãos no volante e a outra descansando sobre minha perna.— Você vai ver. Confia em mim?Suspirei, cruzando os braços.— Você sempre me pergunta isso, como se eu ainda tivesse opção.Ele riu, acelerando levemente. O vento morno da primavera no Texas entrava pelas janelas abertas, trazendo o cheiro da terra úmida e do capim recém-cortado.Depois de alguns minutos, ele estacionou ao lado de uma cabana de madeira no topo de uma colina. Eu já havia estado ali antes, depois do nascimento de Íris, acompanhada de Colton e Zenai
Otávio deslizou o vestido para fora do meu corpo com uma calma quase cruel, como se saboreasse cada segundo de minha exposição. Suas mãos quentes começaram a explorar minha pele, deslizando do meu pescoço até os ombros antes de pararem sobre o sutiã. Com um gesto preciso, ele desabotoou o fecho frontal e o deslizou por meus braços, jogando-o ao chão como se fosse uma peça inútil. Seus olhos verdes escurecidos queimavam sobre mim, como se cada detalhe do meu corpo estivesse sendo gravado em sua memória. — Você não tem ideia do que me faz sentir... — seu tom roucoe possessivo, inundou a minha alma de expectativa. — Tão perfeita... e só para mim. Permaneci sentada, permitindo que ele me tocasse, absorvendo o calor de suas mãos firmes e seguras. Sentia falta disso—do seu toque, da maneira como seus dedos pareciam desenhar promessas invisíveis sobre minha pele. Meu peito subia e descia em expectativa, meu corpo inteiro ansiando por mais. Quando sua mão finalmente tocou meu seio expost