Parecia que estávamos ali há séculos, mas tinha apenas uma semana. Uma longa e cansativa semana. Talvez mais longa e cansativa para mim, pro Alexis, o Tales e a Thalisa do que para qualquer outro que estivesse por ali.
Estávamos de guarda no porto, esperando o ataque que havia sido previsto para breve. Iríamos por em prática o plano que havíamos criado há algum tempo. Esperava não ter que utilizá-lo. Não apenas por Monterra, mas por conta do cansaço que eu me encontrava. Tínhamos criado um sistema de revezamento, mas há dois dias que eu, Alexis, Tales e Thalisa estávamos sem descansar direito.
Cosmo, Neandro e Nicardo ficaram no castelo, caso algum imprevisto acontecesse. Talvez eles estivessem mais descansados do que nós. Eles seriam mais úteis aqui do que no castelo. Levinda e Camila também estavam no castelo por motivos de segurança.
Tentava manter o foco a todo custo. Era difícil, mas estava conseguindo. Andar de um lado para o outro e jogar copos de água gelada no rosto ajudam um bocado a ficar acordado. Alguns comerciantes que ainda continuaram a morar próximos ao posto nos ajudavam dando alimentação, apesar do prejuízo.
Todos os homens – e algumas mulheres – que estavam no esconderijo de Tales em Padja foram trazidos para a Capital. Ficaram apenas as crianças e um pequeno grupo de mulheres que não quiseram abandonar seus filhos ou não estavam preparadas para uma guerra.
O cansaço me dominou e acabei não suportando mais e resolvi me deitar um pouco. Fechei os olhos, mas tentei ficar atenta a tudo o que estava acontecendo ao meu redor. Não poderia me deixar levar pelo sono também. Mas quem consegue lutar contra isso quando se está próximo ao seu limite?
– Eles estão chegando! – ouvi uma voz perto de mim.
Demorei um pouco para entender o que aquele aviso significava. E se eu continuasse deitada no canto sem fazer nada acabaria morrendo sem saber o que me atingiu.
Levantei como um relâmpago. Um pulsar de energia dentro de mim acabou me revitalizando para a batalha que estava prestes a começar, exatamente como havia sido previsto.
Homens de armadura preta descem aos montes de vários barcos que chegam bem próximos ao porto. Estávamos todos prontos para a batalha. E eles também.
– Leone não parece estar entre eles! – disse a Tales que estava do meu lado.
– Não creio que ele apareça tão cedo. – Tales estava apenas esperando pelo primeiro ataque – Leone só irá aparece quando as batalhas menores acabarem. Ele nós quer sozinhos.
Antes que todos os “homens de preto” terminassem de entrar no porto o nosso plano foi descoberto. Saímos todos dos nossos esconderijos e começamos o ataque. Obviamente os homens de Leone revidaram.
Alguns homens me cercaram e começaram a me atacar. Não tinha muito tempo para tentar lançar alguma magia, por isso apenas me defendi da melhor maneira que pude até Alexis e Tales aparecerem para me ajudar.
Continuamos apenas nos defendendo dos golpes. Revidamos algumas vezes, mas estávamos esperando o momento certo para começar a atacar de verdade.
Tales e Alexis estavam se dividindo, atacando em parceria. Eu e Thalisa começamos a fazer o mesmo.
Atacamos dois deles com golpes na altura do estômago. Tentamos atingir as cabeças, mas eles as protegiam muito bem e sempre conseguiam desviar os golpes. Reparei que Alexis e Tales estavam tendo a mesma dificuldade.
Pouco depois finalmente consegui me distanciar da batalha e voei até alguns metros para analisar a batalha de um modo mais amplo. A batalha estava favorável para o nosso lado. Os homens de Leone pareciam inexperientes e estava sendo muito fácil de derrotá-los. Poucos homens que estavam no nosso grupo foram atingidos e a maior parte deles haviam sido feridos de raspão.
Comecei a jogar algumas bolas de fogo e água em alguns homens de Leone, que caiam como se não tivessem ossos, todos desconjuntados. E todos mortos. Ou pelo menos muito feridos para levantarem. E isso era muito estranho.
O que Leone pretendia mandando homens tão despreparados? Isso, sem dúvida alguma, não era apenas uma escalação ruim. Será que Leone estava obrigando seus prisioneiros a lutarem? Será que todos essas pessoas com quem estávamos lutando eram pessoas inocentes, vitimas de Leone?
– Alexis! – gritei enquanto voltava para o chão – Acho que estamos cometendo uma atrocidade!
– O que você está falando? – Alexis perguntou assustado.
– Esses homens... Olhe como eles morrem com facilidade! – disse desesperada.
– Sim, eu reparei nisso também e estranhei. São inexperientes demais para uma batalha como essa. – Alexis tentava se esconder. Só então reparei que ele estava com um ferimento na mão direita.
– O que foi isso? – perguntei quase gritando.
– Não foi nada. – Alexis orgulhoso como sempre.
– Nada não, isso é alguma coisa sim! – o ajudei a se esconder.
– Foi apenas um golpe de raspão. O soldado me atingiu por sorte. – Alexis segurava a mão.
Realmente o corte não parecia nada de grave, mas ele estava impossibilitado de usar espadas. Daquela família o único que sabia usar com perfeição espadas segurando apenas com a mão esquerda era Neandro, que não estava ali. Peguei uma faquinha que estava pendurada em minha cintura e rasguei um pedaço da roupa de Alexis.
– O que você está fazendo? – Alexis gritou zangado.
– Um curativo de emergência nesse corte. – respondi amarrando o tecido na mão de Alexis.
– Ai! – ele resmungou quando apertei o nó – E tinha que ser com a minha roupa? Por que não tirou da sua?
– Quer parar de reclamar? – usei da mesma arrogância – Achei que você já tinha aprendido a ser mais agradecido, mas parece que você continua o mesmo príncipe autoritário e arrogante de sempre.
– O que vocês estão fazendo ai? – Tales nos descobriu – Essa não é a hora para ficar de namorico.
– Nós não estamos de namorico. – Alexis disse bufando.
– Também é uma péssima hora para discutir relacionamento. – Tales aproveitou o esconderijo para recarregar energia.
– Alexis se cortou e eu estava cuidando do ferimento. – respondi com a tranquilidade que a situação permitia. Ou seja, nenhuma.
– Mas você estava falando sobre os homens de Leone? – Alexis voltou ao assunto inicial.
– Vocês também notaram que eles estão morrendo com facilidade? – Tales perguntou.
– Isso não é estranho demais? – perguntei.
– Sim isso é...
– Tales cuidado! – Alexis interrompeu Tales.
Um soldado estava vindo em direção a Tales, que conseguiu desviar a tempo. Tales derrubou o homem com um golpe nas costas e o segurou pelo braço.
– Mas o que é isso? – Tales disse completamente confuso.
Tales jogou o soldado no chão e arrancou seu capacete. Todos nós levamos um grande susto com o que vimos em seguida. A armadura estava vazia. Completamente oca.
No mesmo instante mesmo instante todas as armaduras que estavam lutando caíram inanimadas no chão, se desmontando inteiras. Todas tão ocas quanto a que havíamos visto. Uma fumaça negra começou a dissolver as armaduras até que todas elas desapareceram.
– Mas o que foi isso? – Alexis perguntou confuso.
– Armaduras enfeitiçadas! – Tales falou para ele mesmo e depois repetiu gritando com um tom de ódio – Armadura enfeitiçadas!
– Enfeitiçadas? – perguntei.
– Claro, como não desconfiei antes? – Tales continuava com o tom de ódio – Era para se esperar que Leone fosse brincar com a nossa cara com esse tipo de truque!
– Mas do que ele está falando? – perguntei a Alexis.
– Armaduras enfeitiçadas eram muito usadas em épocas de guerra. – Thalisa se aproximou – Elas eram usadas com o objetivo de distrair o inimigo e cansá-lo, assim quando houvesse o ataque real todos estariam cansados demais para lutar e seriam facilmente vencidos.
– Já aconteceram casos de batalhas onde os dois reinos mandavam armaduras enfeitiçadas para guerrear, o que acabava causando um grande constrangimento por ambas as partes. – Tales começava a se acalmar – Esse truque acabou deixando de ser usado por conta da facilidade em que se descobria a armação, fazendo com que os soldados que estavam sendo atacados ignorarem a presença do falso exército.
– Mas eles deixavam as armaduras atacarem e não faziam nada? – perguntei.
– As armaduras só atacam se forem atacadas. – Thalisa explicou – Elas não tem inteligência e apenas reagem da mesma maneira em que o ambiente onde ela se encontra está. Se esse ambiente estiver em guerra, ela ficará em guerra. Se estiver em paz, ela ficará em paz.
– E nós fomos os idiotas que caímos no truque mais velho que existe! – Tales voltava a ficar com ódio.
– Vocês estão querendo dizer que toda essa batalha foi em vão? – perguntei assustada.
– Infelizmente. – Thalisa baixou a cabeça – Provavelmente Leone queria nos distrair e nos cansar, como nos tempos antigos.
– E agora? – estava sem ação.
– Bem, não podemos deixar de vigiar. – Alexis continuava segurando a mão – Leone pode ter armado esse truque para nós pensarmos que ele começará a invadir em outra parte da Capital.
– E pode também ter planejado esse falso ataque para que nós pensássemos que ele queria nos afastar daqui pra justamente atacar em outro local. – Thalisa mostrou a outra possibilidade.
– Acho que o melhor agora é pensarmos com calma em nossos próximos passos! – Alexis estava mais calmo.
– Espero que não aconteça mais nenhuma surpresinha hoje. – Tales também havia se acalmado – Caso contrário nem eu, nem vocês e nenhum dos meus soldados resistirão. Estamos todos exaustos. Fomos levados aos nossos limites nessa brincadeirinha.
– Mas esse falso ataque não foi tão ruim assim. – Thalisa era quem estava mais centrada – Agora nós já sabemos que Leone pode querer “brincar” mais um pouquinho com todos nós. Mas se isso acontecer já estaremos preparados e atentos para o verdadeiro embate entre as nossas tropas com as de Leone.
– A Thalisa está certa! – tentei não parecer nervosa – Temos que aproveitar o dia de hoje e tomar como um aprendizado. Eu nunca participei de uma guerra antes, mas tenho certeza de que agindo desta forma estaremos mais preparados para lutar.
– Beatriz tem razão. – Alexis deu um sorriso tímido – Tudo o que precisamos agora é prestar mais atenção e reforçar nossa vigilância para que isso não aconteça novamente.
– Agora acho melhor...
– Senhor, senhor – um dos homens de Tales o interrompeu – Rápido. É o Acelo.
– Não diga que...
Tales olhou para o rosto do rapaz que o devolveu com um olhar de que não tinha boas notícias. Tales colocou as mãos na cabeça e respirou fundo. Ele olhou para nós como se procurasse uma saída. Só não conseguia entender se ele queria que nós déssemos uma saída pra ele ou se ele procurava uma saída para engabelar-nos.
– Podemos ajudar em algo? – perguntei.
– Não! – ele falou em um tom alto e desesperado.
– Mas se for o que estou pensando...
– Seja lá o que você está pensando, não! – Tales falou um pouco mais baixo – Eu não quero que ninguém venha atrás de mim.
– Mas Tales...
– Beatriz, não! – Tales estava nervoso.
– Será que ao menos podemos saber o motivo? – Thalisa perguntou preocupada.
– Não! – ele voltou a falar alto – Será que vocês não podem respeitar o meu pedido?
– Tales, isso que você está fazendo não faz sentido. – Alexis se aproximou – Nós sempre lutamos juntos e sempre nos ajudamos. Sempre. De repente você não quer que nenhum de nós vá ajudar seu soldado. Por quê? Nós não iremos matar seu soldado.
– Alexis! – dei um beliscão nele.
– Ai! – Alexis resmungou – Não precisa disso.
– Alexis, Beatriz, Thalisa. Não é nada disso. – Tales se acalmou – Se a situação fosse outra eu até permitiria, melhor, adoraria ter a ajuda de vocês.
– Então por quê? – Thalisa perguntou.
– Eu não posso dizer a vocês o motivo. – ele parecia realmente triste em não poder aceitar nossa ajuda – Talvez, um dia, eu possa contar tudo a vocês.
– Conte agora! – Thalisa insistiu – Não há razões para esconder de nós seja o que for.
– Acredite, há razões! – Tales olhou triste para todos nós.
– Senhor, é melhor nos apressarmos. Já vai começar a anoitecer. – o soldado de Tales o apressou.
– Eu juro que eu irei contar quando for a hora. – Tales respirou fundo – Por enquanto eu peço apenas que respeitem minha decisão de tomar conta dos meus soldados sozinho.
– Se não existe outro jeito. – segurei nas mãos dele – Vá. Iremos te esperar na casa de Neandro, tudo bem.
– Obrigado! – Tales sorriu.
Tales e o soldados correram tão rápidos que nem pareciam ter ficado quase dois dias sem dormir e ainda participado de uma batalha, mesmo que não tenha sido tão longa quanto esperávamos que fosse.
– O que será que ele está escondendo de nós? – Alexis perguntou.
– Não sei. – respondi – Honestamente, eu não sei. Mas senti que ele está muito angustiado.
– Você não consegue mais ver o que se passa na mente dele? – Alexis ficou curioso.
– Não. E espero nunca mais conseguir isso. É horrível você saber o que passa na mente das pessoas.
– Nunca pensei que diria isso, mas gostaria que o cabeça de pedregulho estivesse aqui! – Alexis gostava mesmo de zoar com Nicardo. Aprendi a ignorar.
– Eu não sei o que pode ser, mas não estou gostando nada dessa história. – Thalisa continuava fitando o Tales levando o seu soldado para dentro de um dos estabelecimentos que foram abandonados.
– Confesso que essa história também não está me agradando. – disse em um tom mais baixo que o de costume – Acho que temos motivos para ficarmos bem preocupados.
– O que foi que você disse? – Alexis perguntou.
– Nada. – balancei a cabeça – Estava apenas pensando um pouco. Vamos?
– Vamos! – Alexis e Thalisa responderam juntos.
Seguimos para a casa de Neandro já planejando como iríamos contar o que aconteceu – isso é, se ele já não ouviu de outra pessoa. Não sabíamos se contávamos ou não da atitude de Tales em esconder-se e não deixar que ninguém ajudasse a cuidar de seus soldados. Talvez nem fosse preciso, o próprio com certeza falaria em outra ocasião.
Chegamos a casa de Neandro no meio da noite. Fiquei o tempo inteiro com o coração apertado – e os pulmões também, mas isso era por outro motivo. Tinha algo de muito grave acontecendo, isso eu podia sentir. Tales estava escondendo um segredo muito grande e provavelmente muito doloroso. Mas o que seria?
Chegamos a casa de Neandro quase que desmaiando. Estávamos todos muito, mas muito cansados. Neandro e Levinda tiveram que carregar Thalisa até o sofá. Eu e Alexis estávamos bem próximos de chegar aquele extremo de não se aguentar em pé. – Mas o que houve com vocês? – Levinda perguntou preocupada. – Tudo que não poderia acontecer! – Alexis respondeu ofegante. – Vocês andaram do porto até aqui a pé? – Neandro perguntou assustado. – Sim! – respondi também ofegante – Não havia cavalos. Os que estavam com nosso grupo acabaram sendo levados para o castelo. Eles não chegaram? – Não. – Neandro respondeu confuso. – Eu vou pegar uma jarra de água. Não, duas. Vocês estão horríveis! – Levinda estava desnorteada. Deveríamos estar muito horríveis mesmo. – Conte o que aconteceu? – Neandro perguntou. – Poderia nos dar um tempo para recuperarmos nossas forças? – Alexis já estava fechando os olhos – Iremos contar tudo, prometo.
Corremos imediatamente para o castelo de Nebro. Como se não bastasse todas as coisas ruins que nos aconteceu nos últimos dias, ainda acontece isso. Eu estava com tanta pena do Alexis. Nunca gostei de ver ninguém sofrendo, ainda mais alguém que amo.Estávamos sem cavalo, por isso demoramos mais tempo para chegar ao castelo. A ferida tinha parado de crescer, mas metade da mão de Alexis estava cheia de ferimentos pequenos, enquanto o ferimento inicial tinha estacionado pouco depois do fim da mão.Alexis não tirava os olhos dos ferimentos e, consequentemente, eu também fiquei olhando sua mão de minuto a minuto. Estava com tanto medo de que Alexis pudesse perder o braço. Ele ficaria péssimo se isso acontecesse.O castelo parecia bem mais triste agora do que da primeira vez em que o vi. Eu não sei dizer quando ele começou a parecer mais sombrio. Neste momento desejei muit
Eu havia visto aquele rosto apenas uma vez, mas já era o suficiente para gravá-lo para o resto da vida. Aqueles cabelos loiros, os olhos esverdeados e o porte de nobreza faziam dele uma pessoa única. Ainda usava um brinco na orelha, mas já havia abandonado a velha e gasta armadura dourada que o vi usando da primeira vez. – Você conhece esse jovem? – Rei Célio perguntou. – Não exatamente. – falei aproximando-me do rapaz – Nós nos conhecemos na época em que fui presa em Koram com o Nicardo. Ele não é uma pessoa ruim. Deixem que entre. – Tem certeza? – Alexis perguntou desconfiado. – Acho que sim. – minha resposta não o agradou. Rei Célio fez um sinal com a mão permitindo que o jovem entrasse. O que ele queria? Como esse rapaz havia me encontrado? Eu não me lembrava das coisas que conversamos, mas tinha quase certeza de que não havia dito nada que o fizesse chegar até aqui. Mas isso agora não importava. Fomos para a sala do trono e Alexis
Já estava começando a ficar com raiva de não poder ter mais um segundo de sossego. Qual era a intenção de Leone? Nós deixar loucos? Se for ele está conseguindo. Essa guerra estava ficando cada vez mais complicada. – Nós temos que verificar isso imediatamente! – Alexis não pensou duas vezes. – Sim, vão e tomem cuidado. – Rei Célio parecia ficar muito triste por não poder ajudar nas batalhas. – Eu vou também! – Amadeus se prontificou a nos ajudar. – Mas não vai mesmo! – Alexis começou a implicar. – Alexis, achei que já tínhamos resolvido isso. – falei irritada. – Não resolvemos não! – Alexis gritou – Você e meu pai decidiram isso, mas os outros do grupo nem sabem da existência dessa pessoinha. Se for para ser justo... – Que justo? Justo o que? – perguntei – Por favor, Alexis... – Eu não quero! – Alexis bateu o pé feito criança. – Alexis cresça! – briguei. – Isso não é questão de ser ou não ser infantil – A
Amadeus contou toda a sua história a Neandro. Alexis fez questão de ressaltar os pontos que ele achava absurdo ou fictício. Mas Neandro não pareceu se deixar levar por Alexis. Ele parecia estar tão convencido de que Amadeus era quem dizia ser quanto seu pai. Claro, Alexis ficou furioso. – Eu achei que você teria um pouco mais de juízo! – ele gritou. – Eu não entendo o motivo de você não conseguir acreditar nessa história. – Neandro parecia tentar achar traços familiares em Amadeus. – Você quer que eu escreva? – Alexis debochou – Mas vou logo avisando que a lista é grande. – Alexis! – falei alto – Será que, por apenas um minuto, você não poderia ficar calado? – Vocês estão brigando de novo? – Neandro sorriu. – Estamos! – Alexis ficou emburrado. – Como é bom ver isso – Neandro achou graça. – Bom? – Alexis e eu gritamos juntos. – Claro. – Neandro sorriu debochado – É o único vestígio dos bons tempos de paz e tranqu
Minha cabeça doía muito. Era como se alguém tivesse me dado uma paulada. Sentia que havia feito um galo e tentei encostar, mas minhas mãos estavam presas. Abri os olhos e reparei que estava em um lugar que nunca havia visto na vida. Eu estava deitada em um tipo de caixão de vidro, o que me fez sentir a própria Branca de Neve, e estava com os braços e pernas amarrados ao caixão. O lugar era tão suspeito quanto à situação. O local parecia ser uma sala redonda e eu deveria estar no meio dela. A sala era toda feita de barro e havia vários armários embutidos na parede. No teto havia um lustre. Um lustre grande o suficiente para esconder uma pessoa. Concentrei-me e deixei que a energia do local fizesse o trabalho por mim. Não demorou muito e consegui fazer com que as amarras que me prendiam quebrassem. Mas não sai do caixão tão rapidamente. Ouvi barulhos e resolvi fingir que ainda estava desacordada. Entraram duas pessoas na sala. Ouvi passos me rodeando e
Saímos da salinha e fomos para outra sala, desta vez maior. Max abriu um baú e pegou um pedaço de papel enrolado, parecendo um pergaminho. Ele desenrolou e olhou bem para o pedaço de papel e depois olhou para mim e assentiu com alguma coisa. — Veja! — ele se aproximou. Peguei o pedaço de papel e desenrolei. Era uma pintura minha. Uma pintura perfeita. Se não fosse pelo cabelo preso em coque e o vestido de rainha, poderia dizer que alguém muito talentoso estava me observando e resolveu me pintar. — Mas é incrível! — admirei — É realmente incrível! — E tem mais. — Max estava todo animado — Veja o que está escrito em baixo. Olhei a frase que estava escrita no final da pintura. Uma frase estranha e perturbadora demais para ser verdade. — "Vida longa a Rainha Beatriz I, a imbatível." — estava chocada — Onde vocês conseguiram isso? — Roubamos há uns 100 anos atrás. — Ali respondeu — Na época em que o avó do Rei Célio governava.
Não precisei procurar muito por Alexis. Ele estava poucos metros de onde eu sai, amarrado dos ombros aos tornozelos em uma corda grossa, feita de um material que eu desconhecia e parecia bem forte. — Finalmente apareceu alguém! — Alexis gritou assim que nos viu chegar — Pensei que ficaria aqui igual a um carneiro posto para sacrifício. — Que exagero! — disse em tom de deboche — Carneiros não são sacrificados desta forma. — Engraçadinha. — ele fez língua — Agora me tirem daqui! — Você está muito arrogante para uma pessoa que está completamente imóvel. — resolvi brincar um pouquinho e fiquei rodeando a árvore. — Quer parar! — Alexis gritou — Você vai ficar dando voltas ou me tirar daqui? — Depende. — sorri maliciosa. — O que foi desta vez? — Alexis bufou. — O de sempre. — continuei sorrindo — As famosas palavrinhas mágicas que demonstram que, além de educação, você tem um pouco de humildade. — Então agora vai ser