De repente eu me vi sem ação. Eu estava no comando e sabia exatamente o que eu queria fazer, mas eu teria mesmo que dar ordens a Amadeus e Nicardo? Não que isso fosse algo ruim, pelo contrário, mas não seria algo fácil. Pelo menos não da parte de Nicardo.
– Cadê a cicatriz no seu braço? – Nicardo falou alto – Ela parece estar sumindo.
– O que você disse? – disfarcei.
– Achei que não soubesse como fazer o antídoto. – Nicardo puxou meu braço – Está sarando rápido.
– Tire as mãos do meu braço cabeça de pedregulho! – puxei meu braço para longe das mãos de Nicardo – Não é nada disso.
– Então o que é? – Nicardo perguntou.
– Eu... Eu esfreguei as folhas no meu braço – continuei disfarçando – Foi isso.
– Sério? – Nicardo não estava acreditando – Não acho que seja assim tão simples.
– Pois eu acho que pode ser mais simples do que imagina. – bufei – Você é muito desconfiado.
– E você não dá motivos para acharmos que está
Leone sorria tão maliciosamente que chegava a dar nojo. Para ser totalmente honesto, apenas falar o nome dele já dava nojo. Acho que podemos triplicar esse nojo e ainda somá-lo com mais dois pontos de raiva e alguns muitos pontos de vontade de apertar o pescoço de um. Exagero? Sem dúvida não para quem já o viu sorrindo tão debochadamente. – Como assim "eu estava esperando por vocês? – Nicardo interrompeu minhas contas. – Exatamente o que parece. – Leone se sentou novamente – Eu estava esperando por vocês. Todos vocês. Até mesmo esse outro principezinho, mas achei que ele não conseguiria chegar tão longe. Vejo que é mais forte e esperto do que pensei. Pena estar do lado deles. – O lado certo! – Amadeus disse como se fosse homem. – O lado do mau! – Leone gritou – O lado arcaico e que não aceita mudanças. O pior lado para se estar! Um lado que não vai levar a nada. Será que vocês não enxergam que tem muito mais a ganhar ficando comigo do que contra mim?<
Beatriz Misse As coisas por aqui estavam extremamente entediantes. Tudo beirava ao insuportável às vezes e a solidão não era exatamente uma ajuda. Era um problema. Um grande problema para ser bem honesta. A minha casa viva quase um silêncio absoluto. De vez em outra alguém batia na porta – sempre fechada – como se eu nunca tivesse descoberto a verdade sobre eles. Eu nunca abria. Nunca. Esperava até o momento em que desistissem. Eu tinha muito medo deles. Minha única distração eram meus momentos com os cadernos. Televisão e computador estavam ali apenas de enfeite. Nenhum deles funcionava. Sequer tinha tomadas para tentar ligá-los. Acabava passando meu tempo escrevendo. E o tempo era "generoso" comigo e me deixava ficar escrevendo até minha mão ficar dormente. Eu escrevia sobre tudo. Desde minhas frustrações em não conseguir escapar dali, passando pela minha saudade do Alexis, em como a dispensa estava sempre cheia e os momentos
Fiquei algum tempo fitando o espelho. Estava me sentindo ridícula, mas se fosse o que eu desconfiava ser eu teria um conforto enquanto não fosse liberada daqui. Bati de leve no espelho, esfreguei, tirei do lugar e nada. Ele continuava exatamente o mesmo espelho velho de sempre – talvez não tão velho já que aquele não era o meu espelho. Resolvi arriscar. – Alexis? – falei – Se for você que está me observando através deste espelho, faça algo. Eu preciso de algum tipo de confirmação. Qualquer coisa. – não obtive resposta. Tentei novamente encontrar algo que me desse à confirmação que precisava, mas não havia um único sinal suspeito. A única pista que tinha era a sensação guardada em meu peito de que era mesmo o Alexis que estava me observando. Talvez esse fosse o sinal. – Alexis, eu espero que esteja bem. – comecei a falar – Estou me sentindo tão sozinha sem você. Leone está me mantendo prisioneira, mas acho que já sabe. Eu te amo muito, nunca se
As chamas logo se apagaram. Não conseguia ver se foi algum tipo de defesa do castelo ou se havia sido Leone que estava brincando com a cara deles mais uma vez. Mas era bem provável que fosse as duas coisas. Tentei desesperadamente sair daquele lugar. Era muita crueldade me fazer assistir aquilo sabendo que eu estava de mãos atadas. Mas mesmo sabendo que já havia feito de tudo, continuei tentando achar uma forma de voltar para Monterra. Tentei novamente magia, tentei encontrar passagens e tive que resistir ao impulso de pular para cima do espelho. Nada funcionava. Eu estava condenada a ver a Capital sendo destruída e não poder fazer nada para ajudar. Neandro, Tales e Cosmo estavam fazendo a defesa, enquanto Lifa e Thalisa faziam a retaguarda. Vários soldados estavam espalhados em pontos estratégicos, atacando cada avanço que Leone e seu exército davam. Leone brincava no céu com seu cavalo alado feito de sombras. Mas ele não parecia estar se divertindo.
A minha dor em ver o Rei Célio morto só não era maior que a dor que eu vi nos olhos de Neandro. Ele estava completamente arrasado. Mas arrasado do que eu poderia imaginar – se é que algum dia eu fosse imaginar algo tão cruel. A Rainha Alina estava viva, eu podia sentir. Reparei que ela não estava jogada como quando vi pelo espelho. Ela parecia ter sido posta de uma forma mais confortável. Provavelmente Neandro a deixou daquele jeito antes de correr em direção ao corpo do pai. Leone estava fazendo um trabalho manual. Depois de jogar coisas e pessoas ao vento apenas com o estalar de dedos achei que tivesse se esquecido. Ele pegava o trono que havia sido jogado para o outro lado da sala e colocava em seu lugar. Provavelmente ele queria sentir o prazer de fazer isso com as próprias mãos. Depois de colocar o trono no lugar, Leone seguiu em direção ao corpo do Rei Célio. Neandro tentou pará-lo, mas foi em vão. Leone esticou a mão e segurou Neandro pela cabeça, faze
Sem dúvida alguma aquela seria uma cena que guardaria para o resto da minha vida. Nunca imaginei que um momento tão triste pudesse ser também um momento tão belo. Rei Célio havia partido de forma honrosa. E agora eu sabia que não poderia deixar mais ninguém morrer em vão. Eu precisava acabar com Leone. E precisava fazer isso rápido. Não sei dizer por quanto tempo ficamos naquele jardim. A Rainha Alina ainda estava desacordada, mas parecia bem melhor deitada ao lado das flores e sobre a sombra de uma árvore. Talvez ela tenha sentido a essência do Rei Célio tomando conta do lugar. Neandro resolveu deixar a Rainha no jardim. Não estava tão certa de que seria seguro deixá-la daquele jeito, mas Neandro parecia confiar bastante no que estava decidindo. – Eu me sinto péssima. – disse – Deveria ter chegado a tempo. – Não foi sua culpa, Beatriz. – Neandro parecia bem mais calmo – Acredito que era para ser assim. Infelizmente. – Mas eu estava vendo tudo
Leone ergueu as mãos e vários buracos no chão apareceram ao lado das gaiolas. Com outro movimento ele foi levando as gaiolas para dentro dos buracos, que foi caindo lentamente. Os buracos se fecharam com um último gesto de Leone. – O que você fez com essas pessoas? – perguntei. – Por enquanto nada. – Leone agora andava pelo salão vazio – Eu estou apenas guardando para quando chegar a hora de me livrar de pesos indesejáveis. – Você é um monstro. – falei. – Sou apenas um mal compreendido. Tudo o que estou fazendo é para o bem de Monterra. – Talvez você não seja mesmo um monstro. – Amadeus falou com fúria – Só um louco mesmo. – De você eu não permito esses tipos de abuso! – Leone iniciou um gesto, mas se interrompeu – Acho melhor começarmos a nossa brincadeira. Leone desapareceu. – Cretino, covarde! – Alexis gritou – Está fugindo maldito? Volte e brigue feito homem! – Alexis... – tentei dizer algo. – Vejam!
Fiquei durante algum tempo observando a cena. Aos poucos Leone parecia estar se dissolvendo, mas algo ainda o matinha inteiro. O cristal brilhava, bem forte, e quase não conseguia enxergar o que estava ao redor. – O que está esperando? – Leone gritou – Acabe logo comigo! – Você jamais iria mudar! – não sei por que disse isso. Talvez já tenha ouvido tanta coisa parecida em filmes que quis fazer igual. – Mudar? Sério? Beatriz, que decepção! – Leone tentou gargalhar, mas não conseguiu – Tenha mais respeito pela minha pessoa. Acabe logo com isso. Me destrua de uma vez! Faça o que sempre disse que iria fazer! Só então notei, ou melhor, senti que o que mantinha Leone era o meu poder. Eu o estava desintegrando e eu que estava segurando-o neste mundo ainda. De fato era hora de terminar o que tinha começado. – O que aconteceu? – Leone gritou – Está com medo? – Cale a boca, Leone! – respondi. O cristal que tinha aparecido em cima de Leon