A minha dor em ver o Rei Célio morto só não era maior que a dor que eu vi nos olhos de Neandro. Ele estava completamente arrasado. Mas arrasado do que eu poderia imaginar – se é que algum dia eu fosse imaginar algo tão cruel.
A Rainha Alina estava viva, eu podia sentir. Reparei que ela não estava jogada como quando vi pelo espelho. Ela parecia ter sido posta de uma forma mais confortável. Provavelmente Neandro a deixou daquele jeito antes de correr em direção ao corpo do pai.
Leone estava fazendo um trabalho manual. Depois de jogar coisas e pessoas ao vento apenas com o estalar de dedos achei que tivesse se esquecido. Ele pegava o trono que havia sido jogado para o outro lado da sala e colocava em seu lugar. Provavelmente ele queria sentir o prazer de fazer isso com as próprias mãos.
Depois de colocar o trono no lugar, Leone seguiu em direção ao corpo do Rei Célio. Neandro tentou pará-lo, mas foi em vão. Leone esticou a mão e segurou Neandro pela cabeça, faze
Sem dúvida alguma aquela seria uma cena que guardaria para o resto da minha vida. Nunca imaginei que um momento tão triste pudesse ser também um momento tão belo. Rei Célio havia partido de forma honrosa. E agora eu sabia que não poderia deixar mais ninguém morrer em vão. Eu precisava acabar com Leone. E precisava fazer isso rápido. Não sei dizer por quanto tempo ficamos naquele jardim. A Rainha Alina ainda estava desacordada, mas parecia bem melhor deitada ao lado das flores e sobre a sombra de uma árvore. Talvez ela tenha sentido a essência do Rei Célio tomando conta do lugar. Neandro resolveu deixar a Rainha no jardim. Não estava tão certa de que seria seguro deixá-la daquele jeito, mas Neandro parecia confiar bastante no que estava decidindo. – Eu me sinto péssima. – disse – Deveria ter chegado a tempo. – Não foi sua culpa, Beatriz. – Neandro parecia bem mais calmo – Acredito que era para ser assim. Infelizmente. – Mas eu estava vendo tudo
Leone ergueu as mãos e vários buracos no chão apareceram ao lado das gaiolas. Com outro movimento ele foi levando as gaiolas para dentro dos buracos, que foi caindo lentamente. Os buracos se fecharam com um último gesto de Leone. – O que você fez com essas pessoas? – perguntei. – Por enquanto nada. – Leone agora andava pelo salão vazio – Eu estou apenas guardando para quando chegar a hora de me livrar de pesos indesejáveis. – Você é um monstro. – falei. – Sou apenas um mal compreendido. Tudo o que estou fazendo é para o bem de Monterra. – Talvez você não seja mesmo um monstro. – Amadeus falou com fúria – Só um louco mesmo. – De você eu não permito esses tipos de abuso! – Leone iniciou um gesto, mas se interrompeu – Acho melhor começarmos a nossa brincadeira. Leone desapareceu. – Cretino, covarde! – Alexis gritou – Está fugindo maldito? Volte e brigue feito homem! – Alexis... – tentei dizer algo. – Vejam!
Fiquei durante algum tempo observando a cena. Aos poucos Leone parecia estar se dissolvendo, mas algo ainda o matinha inteiro. O cristal brilhava, bem forte, e quase não conseguia enxergar o que estava ao redor. – O que está esperando? – Leone gritou – Acabe logo comigo! – Você jamais iria mudar! – não sei por que disse isso. Talvez já tenha ouvido tanta coisa parecida em filmes que quis fazer igual. – Mudar? Sério? Beatriz, que decepção! – Leone tentou gargalhar, mas não conseguiu – Tenha mais respeito pela minha pessoa. Acabe logo com isso. Me destrua de uma vez! Faça o que sempre disse que iria fazer! Só então notei, ou melhor, senti que o que mantinha Leone era o meu poder. Eu o estava desintegrando e eu que estava segurando-o neste mundo ainda. De fato era hora de terminar o que tinha começado. – O que aconteceu? – Leone gritou – Está com medo? – Cale a boca, Leone! – respondi. O cristal que tinha aparecido em cima de Leon
Parecia que estávamos ali há séculos, mas tinha apenas uma semana. Uma longa e cansativa semana. Talvez mais longa e cansativa para mim, pro Alexis, o Tales e a Thalisa do que para qualquer outro que estivesse por ali. Estávamos de guarda no porto, esperando o ataque que havia sido previsto para breve. Iríamos por em prática o plano que havíamos criado há algum tempo. Esperava não ter que utilizá-lo. Não apenas por Monterra, mas por conta do cansaço que eu me encontrava. Tínhamos criado um sistema de revezamento, mas há dois dias que eu, Alexis, Tales e Thalisa estávamos sem descansar direito. Cosmo, Neandro e Nicardo ficaram no castelo, caso algum imprevisto acontecesse. Talvez eles estivessem mais descansados do que nós. Eles seriam mais úteis aqui do que no castelo. Levinda e Camila também estavam no castelo por motivos de segurança. Tentava manter o foco a todo custo. Era difícil, mas estava conseguindo. Andar de um lado para o outro e jogar copos de água
Chegamos a casa de Neandro quase que desmaiando. Estávamos todos muito, mas muito cansados. Neandro e Levinda tiveram que carregar Thalisa até o sofá. Eu e Alexis estávamos bem próximos de chegar aquele extremo de não se aguentar em pé. – Mas o que houve com vocês? – Levinda perguntou preocupada. – Tudo que não poderia acontecer! – Alexis respondeu ofegante. – Vocês andaram do porto até aqui a pé? – Neandro perguntou assustado. – Sim! – respondi também ofegante – Não havia cavalos. Os que estavam com nosso grupo acabaram sendo levados para o castelo. Eles não chegaram? – Não. – Neandro respondeu confuso. – Eu vou pegar uma jarra de água. Não, duas. Vocês estão horríveis! – Levinda estava desnorteada. Deveríamos estar muito horríveis mesmo. – Conte o que aconteceu? – Neandro perguntou. – Poderia nos dar um tempo para recuperarmos nossas forças? – Alexis já estava fechando os olhos – Iremos contar tudo, prometo.
Corremos imediatamente para o castelo de Nebro. Como se não bastasse todas as coisas ruins que nos aconteceu nos últimos dias, ainda acontece isso. Eu estava com tanta pena do Alexis. Nunca gostei de ver ninguém sofrendo, ainda mais alguém que amo.Estávamos sem cavalo, por isso demoramos mais tempo para chegar ao castelo. A ferida tinha parado de crescer, mas metade da mão de Alexis estava cheia de ferimentos pequenos, enquanto o ferimento inicial tinha estacionado pouco depois do fim da mão.Alexis não tirava os olhos dos ferimentos e, consequentemente, eu também fiquei olhando sua mão de minuto a minuto. Estava com tanto medo de que Alexis pudesse perder o braço. Ele ficaria péssimo se isso acontecesse.O castelo parecia bem mais triste agora do que da primeira vez em que o vi. Eu não sei dizer quando ele começou a parecer mais sombrio. Neste momento desejei muit
Eu havia visto aquele rosto apenas uma vez, mas já era o suficiente para gravá-lo para o resto da vida. Aqueles cabelos loiros, os olhos esverdeados e o porte de nobreza faziam dele uma pessoa única. Ainda usava um brinco na orelha, mas já havia abandonado a velha e gasta armadura dourada que o vi usando da primeira vez. – Você conhece esse jovem? – Rei Célio perguntou. – Não exatamente. – falei aproximando-me do rapaz – Nós nos conhecemos na época em que fui presa em Koram com o Nicardo. Ele não é uma pessoa ruim. Deixem que entre. – Tem certeza? – Alexis perguntou desconfiado. – Acho que sim. – minha resposta não o agradou. Rei Célio fez um sinal com a mão permitindo que o jovem entrasse. O que ele queria? Como esse rapaz havia me encontrado? Eu não me lembrava das coisas que conversamos, mas tinha quase certeza de que não havia dito nada que o fizesse chegar até aqui. Mas isso agora não importava. Fomos para a sala do trono e Alexis
Já estava começando a ficar com raiva de não poder ter mais um segundo de sossego. Qual era a intenção de Leone? Nós deixar loucos? Se for ele está conseguindo. Essa guerra estava ficando cada vez mais complicada. – Nós temos que verificar isso imediatamente! – Alexis não pensou duas vezes. – Sim, vão e tomem cuidado. – Rei Célio parecia ficar muito triste por não poder ajudar nas batalhas. – Eu vou também! – Amadeus se prontificou a nos ajudar. – Mas não vai mesmo! – Alexis começou a implicar. – Alexis, achei que já tínhamos resolvido isso. – falei irritada. – Não resolvemos não! – Alexis gritou – Você e meu pai decidiram isso, mas os outros do grupo nem sabem da existência dessa pessoinha. Se for para ser justo... – Que justo? Justo o que? – perguntei – Por favor, Alexis... – Eu não quero! – Alexis bateu o pé feito criança. – Alexis cresça! – briguei. – Isso não é questão de ser ou não ser infantil – A