Uma multidão estava ao meu redor. A minha visão ainda não havia se restaurado completamente, mas os olhos do Daren me encontraram. Eu toquei no rosto macio, e o encarei com firmeza e uma sincera preocupação.
– Eu tive um pesadelo terrível! – Revelei. Daren sorriu. – Você está bem agora! – Nem mesmo o melhor dos atores poderia fingir como ele. – Acho que sim. O que aconteceu? – Enquanto olhava ao redor, as pessoas começavam a se afastar de mim, mas ainda podia escutar cada murmúrio. “fraca, e feia... Ninguém merece”, “ Ela era mesmo um estorvo.” – Você desmaiou! – Daren segurou a minha mão, ajudando a me levantar, e então quando finalmente estava de pé, me tocou nas costas. – Vamos subir. Nós temos que ver isso. – Não acha que os seus convidados ficarão chateados? – Perguntei. Havia uma sincera preocupação da minha parte. – Não se preocupe com isso. Temos que resolver isso aqui primeiro. Meu coração aqueceu. Um alívio estava a todo momento percorrendo o meu corpo, e devolvendo cor ao meu rosto completamente pálido. Nunca soube que mulheres grávidas pudessem ter alucinações, mas agora, eu estava completamente apavorada, e se o resto da gestação fosse da mesma maneira, eu estaria perdida em um mar de desespero. Subi as escadas com cuidado, enquanto Daren caminhava logo atrás de mim. – Por aqui, Livy... – Daren indicou a porta entreaberta. Não sabia o motivo, mas o meu coração acelerou ao ver a sala obscura logo a minha frente. Nada, no entanto, me impediria de agradar o meu marido, como a minha mãe me ensinou... Maila estava sentada na poltrona do senhor Holloway, girando em um claro deboche. Me virei para o Daren e o encarei. O meu sorriso ainda estava presente, mas começou a morrer, enquanto a minha mente finalmente entendia que tudo não passou da mais pura e cruel realidade. – O que ela faz aqui? – Perguntei. Havia uma clara indignação na minha voz. – Maila é a minha prima. E você sabe, também é uma ótima advogada! Ela representará as indústrias Holloway de agora em diante. Franzi as sobrancelhas. – E por que precisa de mim aqui? – Hoje você vai assinar os papéis mais importantes da sua vida. Um filme começou a passar pela minha cabeça. Havia sido realmente um pesadelo, ou Daren Holloway estava me traindo esse tempo todo? – Vocês estão juntos. Nunca foi um pesadelo, não é? – Não! – Daren afirmou. Seu rosto ainda mantinha a mesma expressão divertida de sempre. – Você gosta de se enganar, Livy Clarke. Acha que eu me casaria com você e te amaria algum dia? Não. Isso só acontece nos filmes chatos que você tanto gosta. Lágrimas começaram a preencher os meus olhos, embaçando a visão ainda mais. Minhas mãos tremiam, e estavam na barriga outra vez. – Eu pensei que você tivesse se casado comigo por que gostava de mim. – Me casei com você por que foi uma condição do meu pai. Agora que ele se foi, não tenho mais que cometer essa atrocidade. – Atrocidade? – Perguntei. A lágrima escorria pelo meu rosto, e a cada vez que olhava para o sorriso do Daren Holloway, meu coração sentia mais um impacto de dor. – Dormir com você, querida! – Daren disse de uma forma tão descontraída que quase não pareceu uma ofensa. E então, ele se aproximou e deixou um beijo amargo nos meus lábios. – Você nunca mais dormiu comigo! Do que está falando? Daren liberou uma gargalhada sinistra, e o meu corpo inteiro estremeceu. Eu não estava pronta para aquele dia, e jamais estaria preparada para o que o Daren me diria. – Falo sobre dormir mesmo, Livy. Que cabecinha depravada você tem. Acha que eu transaria com você algum dia? Seria no mínimo, nojento... Encarei a minha barriga, e uma lágrima deslizou até ela. A primeira noite em que estivemos juntos havia sido tão doce, e não importou que eu fosse tímida ou ingênua. Não importou quanta vergonha eu senti do meu corpo, ou o quanto eu achei que seria estranho e feio, Daren havia me tratado tão bem que pensei estar sonhando. Ergui os meus olhos mais uma vez, e então o encarei. – Como você pode dizer isso? Não vê que nós vamos ter um bebê? Não tem como negar. Daren riu mais uma vez, olhou para a amante, então para mim novamente. – Isso me leva a outra questão! – Daren andou até a mesa, e ao segurar na mão da Maila, se sentou na mesa de madeira. – Quem é o pai? – O que? – Os meus olhos estavam saltados para fora, e o meu rosto tão pálido quanto um floco de neve. – Você me escutou muito bem, Livy Clarke. Eu perguntei de quem é esse bebê na sua barriga! – Ele é seu filho! – Cuspi as palavras, e elas soaram com tanta indignação que o Daren recuou para trás, antes de sorrir novamente. Maldito Daren Holloway. Minha mente não parava de voltar aos momentos românticos daquela noite. A voz levemente bêbada pedindo que dissesse o nome dele. O corpo completamente nu encostado no meu. Não! Ele não faria isso comigo. Ele não mentiria assim, apenas para agradar uma m*****a mulher! – Você não vai fazer isso comigo! Não vai descartar a mim e ao bebê como se não fossemos nada! Você sabe que eu era virgem antes de te conhecer. – Eu imagino. Não consigo pensar em alguém que pudesse sentir desejo por isso. Meu coração palpitou como se estivesse prestes a falhar. Meu dedo indicador ajeitou o óculos que quase podia sumir atrás da franja na minha testa. Engoli a dor presa como um nó na minha garganta. – O bebê é meu, Daren Holloway. Apenas meu! – Ótimo. Por que eu sei que nunca dormi com você. Estava ao lado da Maila a noite toda, e você sabe que eu não teria coragem de tocar em você. – Me chamou aqui para dizer isso? – Chamei para que assine o divórcio. E é claro, não vai levar um centavo meu. Agarrei a caneta com todo o ódio e a dignidade que me restou. – Não se preocupe. Pode enfiar cada centavo na bunda! – Nossa, que boca suja! – Maila disse, rompendo o silêncio. – Ao menos em mim, só a boca é suja. E quanto a você? Deixei a minha assinatura e passei a caminhar a passos rápidos. – Adeus! – Espere! – Daren disse. Caminhou até mim e abriu a carteira. – Tome isto. São cinco mil. Vai pagar o aborto desse bastardo! Minha mão atingiu o rosto dele, e essa foi a última lembrança que deixei antes de finalmente partir.Aperta, solta, aperta, solta. Segurando uma bola de ansiedade, escuto o meu amigo falando sobre mulheres. Esse maldita conversa já chegou ao limite. Bato contra a mesa, e ele pula subitamente. – Chega! – Grito. Voltando a minha paz interior instantaneamente. Eliot me encara, tentando decifrar a minha expressão facial. Mas eu não tenho emoções no momento. – Você sabe que precisa disso. – Não quero outra maldita secretária! – Não pode continuar desse jeito. Tudo está desorganizado, e sabe que temos um prazo para entregar o projeto da operação Fire. Continuo pensativo. Eliot tinha razão, era evidente, mas desde que me envolvi com a última secretária, a RageTech esteve a beira da falência por quase cinco meses. Maila havia sido uma maldita traidora que roubou segredos da minha empresa, e compartilhou com os rivais por quase um mês, até que eu a desmascarasse. Agora, não confio em mais ninguém. – Eu sei. – Massageei a cabeça. Me levantei da poltrona e andei calmamente até o lado de f
Me levantei da cama improvisada no chão. Minhas costas doíam, e o meu rosto estava marcado pelo óculos que eu esqueci de tirar antes de dormir. Os livros que havia estudado ainda estavam abertos quando sai do quarto, usando a primeira roupa que encontrei. Deveria ter saído de casa a meia hora. É isso, vou perder o emprego que acabei de conseguir. Corri o mais rápido que podia. Ser feia te impede de coisas fáceis, como conseguir que um táxi pare. Quase precisei ser atropelada para conseguir um. Meu cabelo estava um caos, e eu só vi quando olhei pelo retrovisor. O motorista me encarava, carrancudo, como se eu fosse uma visão ingrata às seis e cinquenta da manhã. – Para onde vai? – RageTech! – Trabalha limpando? – Sou a secretária do senhor Hardin! – Respondi. Estava orgulhosa, mas as minhas mãos suavam de medo. O motorista riu. Parecia incrédulo. – Entendi! – Disse algo de errado? O homem me encarou pelo retrovisor, enquanto finalmente partia. – Nada. É que você tem cara
Hardin Gargalhadas do lado de fora chamavam a minha atenção. Eu odiava toda essa merda. Bagunça não era o tipo de atitude esperada em uma empresa como a RageTech. Sério, mudei as câmeras do meu computador aberto sobre a mesa. Os meus olhos estavam atentos, como se buscasse por qualquer deslize, mas as pessoas apenas pareciam conversar, animadas. – Eu estava dizendo que... – Eliot continuou. O meu foco ainda estava naquele maldito corredor, e eu não fazia idéia do motivo para estar tão curioso. Poderia chamar a segurança e pedir que calassem os malditos funcionários, ou poderia sair e adverti-los pessoalmente, mas precisava saber o que pretendiam. Os meus olhos se apertaram. – O que acha, Hardin? – Uma voz me alertou. – O que? – Eu parecia distraído, e odiava não ser atencioso com a empresa. – Está tudo bem? Precisa de uma pausa? – Eliot se levantou ao me perguntar. Espalmei a mão no ar. – Está tudo bem. Continuem! – Eu disse. Os meus olhos finalmente estavam voltados par
Livy Clarke Meu corpo ainda ardia, coberto pelo café quente que começava a esfriar. Minha roupa encharcada estava grudada no meu corpo, e eu era incapaz de continuar de pé. A minha barriga doía tanto, e eu praguejei. Sentia tanto medo de perde-lo. – Oh meu bebê, por favor, não vá... Por favor... – Implorei, olhando para baixo. Em um ato instintivo, minhas mãos tocaram na barriga. – Por favor...Os meus olhos se voltaram para a devastação no rosto de uma mulher logo a frente. A forma como ela me encarava, com seus olhos grandes arregalados. Estava claro que ela não tinha a menor noção de que eu esperava um bebê, e para a minha sorte, espero que mais ninguém descubra. – Você... Você não é estranha. Você só está... – Os olhos dela ainda estavam em puro choque. – Você está gravida? – Ela praticamente cuspiu as palavras aos meus pés. – Por favor, fala baixo. – Implorei, olhando para os lados. As minhas mãos estavam no ar, pedindo que ela dissesse mais uma única palavra. O rosto ainda
Abri os meus olhos no tempo que achei ser dois segundos após fecha-los. Um som irritante me tirou de um lindo sonho, onde nada disso precisava estar acontecendo. Meu semblante se tornou triste e desesperado, e o badalar ainda estava presente, irritante como na primeira vez que o escutei. Meus olhos se moveram em direção ao som, e então eu pulei da cadeira como um gato assustado. Me levantei e encarei o meu chefe, olhando para mim com toda sua expressão fria. Os dedos rápidos batiam fortes sobre a pilha de papéis e desenhos espalhados. – Chefe! – Os meus olhos estavam arregalados, e eu esperava que a franja pudesse esconde-los ao menos um pouco. – Gostou da minha sala? – O senhor Hardin perguntou. – Acho que deveríamos colocar uma cama, bem ali! – Ele se levantou e andou até a parede vazia. – O que acha, senhorita Clarke? Dessa forma você teria um descanso muito melhor. O que acha da ideia? Meu rosto queimava de vergonha. Eu sei que deveria explicar que o bebê me causava sono, e que
– Na minha vida? – Na sua vida, senhorita Clarke. O que há para saber? – Eu não sou interessante, senhor Hardin. Eu não tenho nada a dizer. – Tem certeza? Eu posso descobrir... – Ele segurou o telefone e o colocou no ouvido. O meu coração acelerou, mas eu tentei manter qualquer nervosismo afastado de mim. Se o Daren souber que eu estou trabalhando, vai garantir que a minha vida seja arruinada outra vez. Respirei fundo. – Espera! Ele me encarou. Parecia completamente vitorioso, e eu soube no mesmo instante que tudo não passava de um jogo de poder para ele. Meu arrependimento gritava, e eu deveria me demitir se pudesse, mas eu precisava responder as perguntas do meu chefe tirano. – Eu tenho um casamento falido com um homem rico que me traiu. Eu tenho uma mãe morta, sou imigrante, e só consegui estudar por que ajudei um homem no passado e ele acreditava que me devia algo. Eu não tenho nada no mundo, senhor Hardin, além desse emprego. E se o senhor me demitir, eu provavelmente não c
Hardin Vasculhei por todos os lugares, procurando pela maldita roupa. Maila provavelmente as jogou fora quando eu finalmente a demiti daqui. Dois anos em que eu não me relacionava seriamente com alguém, e quando finalmente abri o meu coração, aquela maldita o quebrou. Se eu ao menos tivesse raciocinado por um minuto... Se eu não tivesse assinado o maldito papel... Andei sem roupas pelo escritório, esperando que a minha assistente voltasse, mas já se passou quinze minutos desde que ela saiu, e eu ainda continua a esperar. Andei até os quadros agressivos presos nas minhas paredes e pensei no maldito erro do projeto. Maila me custou alguns milhões, e essa merda me custará ainda mais... Uma bebida seria o ideal agora. Andei até o armário e me servi. Só estava tentando afogar a maldita amargura que se instalou em mim.A porta se abriu. Os olhos dela eram incapazes de me olhar, e eu precisava admitir que achava, ao menos, adorável... O que havia da senhorita Clarke que me fazia acha-la ad
As pessoas me encaravam como se eu estivesse ao lado de uma aberração, e eu senti uma maldita vergonha por isso. Caminhei ao lado dela, e me sentei em uma mesa reservada para seis pessoas. A senhorita Clarke tentava manter a postura, embora estivesse sempre demonstrando um pouco de corcunda, ao ficar sempre com os ombros para baixo. Puxei a cadeira, mas ela se sentou em outra, totalmente alheia ao meu gesto. Eu odeio ser um homem cavalheiro com quem não presta atenção. Revirei os olhos, ainda segurando a maldita cadeira aberta, e então me sentei na cadeira que deveria ser dela. Uma garçonete andou até nós, levando com ela os cardápios. Encarei a senhorita Livy Clarke, e eu consegui notar cada traço de decepção nos olhos dela. Provavelmente pensava no quanto aquilo parecia absurdo, mas esqueça, não somos um casal e jamais vamos ser. – O que você quer comer? – Não sei. Não entendo muito do que está escrito aqui. – Não faz mal. É só me dizer do que gosta. Mas ela continuava encara