Me levantei da cama improvisada no chão. Minhas costas doíam, e o meu rosto estava marcado pelo óculos que eu esqueci de tirar antes de dormir. Os livros que havia estudado ainda estavam abertos quando sai do quarto, usando a primeira roupa que encontrei. Deveria ter saído de casa a meia hora. É isso, vou perder o emprego que acabei de conseguir.
Corri o mais rápido que podia. Ser feia te impede de coisas fáceis, como conseguir que um táxi pare. Quase precisei ser atropelada para conseguir um. Meu cabelo estava um caos, e eu só vi quando olhei pelo retrovisor. O motorista me encarava, carrancudo, como se eu fosse uma visão ingrata às seis e cinquenta da manhã. – Para onde vai? – RageTech! – Trabalha limpando? – Sou a secretária do senhor Hardin! – Respondi. Estava orgulhosa, mas as minhas mãos suavam de medo. O motorista riu. Parecia incrédulo. – Entendi! – Disse algo de errado? O homem me encarou pelo retrovisor, enquanto finalmente partia. – Nada. É que você tem cara de... Inteligente! – E então sorriu novamente. Parecia insinuar, mas eu não perguntei. Estava acostumada a momentos como aquele. Uma lágrima se formava nos meus olhos, enquanto eu tentava esquecer o que havia acontecido na festa. Eu precisava confessar a mim mesma que ainda amava o Daren. E eu me odiava por isso. Mas ele havia sido o meu sonho desde a adolescência. Eu fui preparada para ele desde o instante em que salvei o senhor Holloway de um ataque de asma, e seu filho se tornou uma recompensa por isso. O taxi parou na frente do suntuoso prédio, e eu sequei as lágrimas, abri a bolsa e joguei as notas no banco da frente. – Obrigada! – Eu precisava correr. – E o troco? – Ele me perguntou, mas eu não tinha tempo para isso. Entrei no prédio, corri até o elevador, e lá estavam os meus companheiros de trabalho. – Espera! – Gritei para que a porta do elevador se mantivesse aberta, mas notei quando riram de mim. Um deles acenou ao zombar, antes de deixar a porta se fechar totalmente. Olhei para o relógio. Faltava exatos quinze minutos. Eram vinte e cinco andares, e eu estaria exausta se tentasse correr nos lances de escada, mas que escolha eu tinha? Toquei na barriga e olhei para ela. – Desculpa a mamãe por isso. – Tomei fôlego e corri, morrendo de medo que acabasse caindo. Quando finalmente cheguei a cobertura, mal conseguia respirar. Estava tão ofegante, e não parava de tentar puxar o ar. Bebi um copo de agua e sentei na minha mesa. Quando o telefone tocou, eu o atendi. – Senhorita Clarke, venha a minha sala! A voz era conhecida, e mal humorada. Olhei para o relógio e respirei aliviada. Ainda faltava dois minutos para acabar o meu tempo. Me levantei e andei até a sala, tentando disfarçar a visível exaustão de ter corrido tanto. – Sim, senhor? – Minhas mãos estavam prontas para anotar o que ele precisasse que fosse feito. – Quero que busque cafés. – O senhor Hardin sequer me encarou. – Cafés? – Dois cafés duplos. Café preto para cinco pessoas. E um descafeinado. Ainda me esforçava para anotar tudo que precisava. Desde que fiquei grávida, havia me tornado mais lenta, e os meus dedos inchados impediam que eu conseguisse escrever bem o bastante. – E um... – Eu tinha toda a minha atenção na tarefa. O senhor Hardin ergueu os olhos e me encarou. Eu ainda estava com a cabeça baixa, anotando, mas podia sentir os olhos dele me queimando completamente. Eu sei, ele me odeia, e hoje é só o meu primeiro dia. – Quer que eu mesmo vá buscar? – O senhor iria? – Meus olhos estavam arregalados, e obviamente havia sido tola. Os olhos de reprovação me atingiram como um soco. – Oh, me perdoe, senhorita Clarke. Pedir algo assim é demais para o seu intelecto? Será que devo contratar uma secretária para você? Meus olhos estavam ardendo. Não era um motivo para chorar, mas a gravidez me tornou quase louca. – Me desculpe, senhor farei isso agora. O senhor Hardin manteve os olhos baixos. – Você tem dez minutos, senhorita Clarke. Fiquei parada como uma imbecil. Dez minutos... Só de pensar nas escadas novamente, meu coração acelerava. – Dez... – Resmunguei. O olhar sem expressão se fixou em mim. A caneta dele estava paralisada nas mãos, logo a cima do documento importante que ele deveria assinar. – Agora! Anda! Um estalar de dedos como de eu fosse o cachorro de estimação, e eu finalmente corri. Passando pelo corredor, o homem que fechou o elevador para mim, conversava com uma mulher, debruçado sobre a mesa dela. Os dois riam de mim. Eu não podia parar. Tinha pouco tempo. – Corre. Você precisa perder uns quilos. – O homem odioso gritou, enquanto eu alcançava o elevador. – Deveria ir de escada novamente! Não importava os insultos. Eu não podia perder esse emprego por nada no mundo. Corri em direção a rua minutos depois. A fila estava enorme, e eu, gentilmente exibi a minha barriga escondida em baixo da blusa larga. Rapidamente, eu estava com uma grande bandeja de café, tentando inutilmente equilibrar enquanto corria de volta para o escritório. O meu coração estava palpitando como um desesperado, e os meus olhos começavam a ficar turvos. Eu sempre sentia fortes enjoos pela manhã, e olhando a figura miserável no espelho, senti vontade de chorar. Enquanto isso, os andares subiam, e subiam sem parar. Não era o momento para sentir tonturas, e não era a hora para desmaiar. Tentei me equilibrar. Sentir desejo por café era normal? Eu poderia beber todos eles, mas precisava entrega-los inteiros. O som da porta se abrindo parecia um grande alivio. Meu sorriso apareceu no rosto, e eu senti um calor, como se fosse iluminada. Fazia apenas oito minutos desde que sai do escritório. Eu definitivamente estava fazendo um bom trabalho. Olhei para a porta do escritório que já estava fechada, e a encarei com curiosidade. Eu deveria entrar? Eu deveria bater? Meu primeiro passo parecia tão seguro, mas eu me senti em queda livre.Hardin Gargalhadas do lado de fora chamavam a minha atenção. Eu odiava toda essa merda. Bagunça não era o tipo de atitude esperada em uma empresa como a RageTech. Sério, mudei as câmeras do meu computador aberto sobre a mesa. Os meus olhos estavam atentos, como se buscasse por qualquer deslize, mas as pessoas apenas pareciam conversar, animadas. – Eu estava dizendo que... – Eliot continuou. O meu foco ainda estava naquele maldito corredor, e eu não fazia idéia do motivo para estar tão curioso. Poderia chamar a segurança e pedir que calassem os malditos funcionários, ou poderia sair e adverti-los pessoalmente, mas precisava saber o que pretendiam. Os meus olhos se apertaram. – O que acha, Hardin? – Uma voz me alertou. – O que? – Eu parecia distraído, e odiava não ser atencioso com a empresa. – Está tudo bem? Precisa de uma pausa? – Eliot se levantou ao me perguntar. Espalmei a mão no ar. – Está tudo bem. Continuem! – Eu disse. Os meus olhos finalmente estavam voltados par
Livy Clarke Meu corpo ainda ardia, coberto pelo café quente que começava a esfriar. Minha roupa encharcada estava grudada no meu corpo, e eu era incapaz de continuar de pé. A minha barriga doía tanto, e eu praguejei. Sentia tanto medo de perde-lo. – Oh meu bebê, por favor, não vá... Por favor... – Implorei, olhando para baixo. Em um ato instintivo, minhas mãos tocaram na barriga. – Por favor...Os meus olhos se voltaram para a devastação no rosto de uma mulher logo a frente. A forma como ela me encarava, com seus olhos grandes arregalados. Estava claro que ela não tinha a menor noção de que eu esperava um bebê, e para a minha sorte, espero que mais ninguém descubra. – Você... Você não é estranha. Você só está... – Os olhos dela ainda estavam em puro choque. – Você está gravida? – Ela praticamente cuspiu as palavras aos meus pés. – Por favor, fala baixo. – Implorei, olhando para os lados. As minhas mãos estavam no ar, pedindo que ela dissesse mais uma única palavra. O rosto ainda
Abri os meus olhos no tempo que achei ser dois segundos após fecha-los. Um som irritante me tirou de um lindo sonho, onde nada disso precisava estar acontecendo. Meu semblante se tornou triste e desesperado, e o badalar ainda estava presente, irritante como na primeira vez que o escutei. Meus olhos se moveram em direção ao som, e então eu pulei da cadeira como um gato assustado. Me levantei e encarei o meu chefe, olhando para mim com toda sua expressão fria. Os dedos rápidos batiam fortes sobre a pilha de papéis e desenhos espalhados. – Chefe! – Os meus olhos estavam arregalados, e eu esperava que a franja pudesse esconde-los ao menos um pouco. – Gostou da minha sala? – O senhor Hardin perguntou. – Acho que deveríamos colocar uma cama, bem ali! – Ele se levantou e andou até a parede vazia. – O que acha, senhorita Clarke? Dessa forma você teria um descanso muito melhor. O que acha da ideia? Meu rosto queimava de vergonha. Eu sei que deveria explicar que o bebê me causava sono, e que
– Na minha vida? – Na sua vida, senhorita Clarke. O que há para saber? – Eu não sou interessante, senhor Hardin. Eu não tenho nada a dizer. – Tem certeza? Eu posso descobrir... – Ele segurou o telefone e o colocou no ouvido. O meu coração acelerou, mas eu tentei manter qualquer nervosismo afastado de mim. Se o Daren souber que eu estou trabalhando, vai garantir que a minha vida seja arruinada outra vez. Respirei fundo. – Espera! Ele me encarou. Parecia completamente vitorioso, e eu soube no mesmo instante que tudo não passava de um jogo de poder para ele. Meu arrependimento gritava, e eu deveria me demitir se pudesse, mas eu precisava responder as perguntas do meu chefe tirano. – Eu tenho um casamento falido com um homem rico que me traiu. Eu tenho uma mãe morta, sou imigrante, e só consegui estudar por que ajudei um homem no passado e ele acreditava que me devia algo. Eu não tenho nada no mundo, senhor Hardin, além desse emprego. E se o senhor me demitir, eu provavelmente não c
Hardin Vasculhei por todos os lugares, procurando pela maldita roupa. Maila provavelmente as jogou fora quando eu finalmente a demiti daqui. Dois anos em que eu não me relacionava seriamente com alguém, e quando finalmente abri o meu coração, aquela maldita o quebrou. Se eu ao menos tivesse raciocinado por um minuto... Se eu não tivesse assinado o maldito papel... Andei sem roupas pelo escritório, esperando que a minha assistente voltasse, mas já se passou quinze minutos desde que ela saiu, e eu ainda continua a esperar. Andei até os quadros agressivos presos nas minhas paredes e pensei no maldito erro do projeto. Maila me custou alguns milhões, e essa merda me custará ainda mais... Uma bebida seria o ideal agora. Andei até o armário e me servi. Só estava tentando afogar a maldita amargura que se instalou em mim.A porta se abriu. Os olhos dela eram incapazes de me olhar, e eu precisava admitir que achava, ao menos, adorável... O que havia da senhorita Clarke que me fazia acha-la ad
As pessoas me encaravam como se eu estivesse ao lado de uma aberração, e eu senti uma maldita vergonha por isso. Caminhei ao lado dela, e me sentei em uma mesa reservada para seis pessoas. A senhorita Clarke tentava manter a postura, embora estivesse sempre demonstrando um pouco de corcunda, ao ficar sempre com os ombros para baixo. Puxei a cadeira, mas ela se sentou em outra, totalmente alheia ao meu gesto. Eu odeio ser um homem cavalheiro com quem não presta atenção. Revirei os olhos, ainda segurando a maldita cadeira aberta, e então me sentei na cadeira que deveria ser dela. Uma garçonete andou até nós, levando com ela os cardápios. Encarei a senhorita Livy Clarke, e eu consegui notar cada traço de decepção nos olhos dela. Provavelmente pensava no quanto aquilo parecia absurdo, mas esqueça, não somos um casal e jamais vamos ser. – O que você quer comer? – Não sei. Não entendo muito do que está escrito aqui. – Não faz mal. É só me dizer do que gosta. Mas ela continuava encara
– Chega! – Bati o punho na mesa. – Você poderia deixar ela falar? – Não estava confiante, mas se ela ao menos pudesse convence-los. – Sei que o senhor tem tempo para nos dar. – Nós não temos. Ela o encarou. Nem parecia a mesma mulher medrosa de sempre. – Acredito que o senhor precisará de muito mais tempo se pedir um projeto em outra empresa. Entende que tudo terá que começar do princípio? – Entendo, senhorita, mas... – Mas estamos falando de meses de testes e projetos. Eu não acredito que o ministro da defesa fique satisfeito. Os homens se olharam. – E de quanto tempo estamos falando? – Dois dias? Eles olharam um para o outro novamente, e eu estava ali, paralisado. Esse tipo de coisa nunca aconteceu comigo. Ninguém jamais lutou por mim como ela fazia naquele momento. – Dois dias. Está bem! Mas nem mais um segundo. Ela os encarou e sorriu. – Entendo que estão com pressa, mas sei que esperariam por mais. – Mas... – Não se preocupem, não vai ser necessário.– Muito bem, senh
O meu coração estava disparado. Eu senti o momento em que o sangue foi drenado do centro do meu rosto para os meus pés. Eu estava paralisada, os meus olhos arregalados, e eu sentia cada olhar que o senhor Hardin direcionava para mim. Eu conhecia aquele olhar enviesado de maldade naquela mulher. Eu soube no mesmo instante em que aquele acordo de segredo custaria muito caro para mim. Ela encarou o chefe e os olhos dela pareciam ter tanto medo quanto os meus. – Senhor? O senhor Hardin caminhou na direção da minha mesa, e ele parecia um Deus, dono de todo o mundo. Tocou na mesa e a encarou ,de cima, como sempre costumava fazer. Dono dela, dono do projeto, dono de tudo! – Eu espero que tenha uma ótima explicação para estar mexendo nos arquivos da minha secretária. – Si-sim? – A recepcionista afirmou, mas nem mesmo ela parecia ter certeza. – E qual seria? – Ele continuava encarando, com os olhos severos que podiam queima-la. – Ainda estou esperando a sua resposta. – O rosto dele não p