Eu ainda olhava fixamente para ele, enquanto o olhar dele não recuava sobre a minha figura feia. Meu rosto estava tremendo tanto quanto as minhas mãos, e eu tinha certeza de que não deveria estar sentido tanto estresse. Não fazia bem para o bebê, e era assustador que ele ainda não se mexesse dentro da minha barriga. – Ninguém! – Eu respondi, olhando no interior dos olhos azuis intensos do meu chefe. – Ninguém? – O senhor Hardin jogou o corpo para frente, aproximando o rosto do meu. – Então como explica ter desenhado um projeto com todos os dados, números, cálculos. Isso não é possível, senhorita Clarke. – Eu não usei os seus números, senhor. – Meus olhos estavam grudados no chão mais uma vez. Eu não podia olhar para ele assim. Não depois do que havia feito. Eu sempre soube, desde que pisei nessa empresa pela primeira vez que haviam termos de responsabilidade, e o mais importante deles era que eu não deveria bisbilhotar ou deixar vazar informações de dentro. E agora, eu estava pres
Surpreendentemente o senhor Hardin sorriu. Parecia genuinamente feliz, pela primeira vez. Eu sequer me lembrava a última vez que o vi daquela maneira, sorrindo. Acredito que nunca deva ter acontecido, e que eu tenha apenas sonhado acordada. Uma onda de choque percorreu da cabeça aos pés em uma velocidade alarmante, quando os braços fortes dele me envolveram em um abraço, e eu senti o meu mundo inteiro girar. O que estava acontecendo? Por que os meus pés não tocavam o chão? Eu flutuava? Não. Eu apenas estava suspensa no ar, por um homem muito, muito forte. – Obrigada! Você é um gênio, senhorita Clarke. – Eu sou? – A minha barriga estava esmagada entre nós dois, e eu podia começar a sacudir os meus pés a aquela altura. O senhor Hardin ainda me esmagava, e os olhares assustados das pessoas pareciam estranhar toda a situação. – Eu me enganei com você. – Senhor Hardin... O senhor poderia...– Claro que eu vou te promover. – Oh, isso é...– Não gostou? – Claro que sim, senhor. Ele p
– Obrigado, hein... – Eliot brincou. – Achei que eu fosse a sua pessoa! O senhor Hardin continuava sério, esperando que eu o cumprimentasse de volta, mas a minha mente pairava na mentira que eu contei, e no bebê. O bebê na minha barriga que chutava leve e quase imperceptível. Eu senti medo de mentir. – O que há? – O senhor Hardin perguntou. A sobrancelha dele estava ligeiramente arqueada, e eu senti um pânico ainda maior. – Senhor... É que eu... Eu estou... – Eu segurei na mão dele, e senti o aperto forte, o polegar massageando a minha mão. Aquilo não parecia normal, e ele nem mesmo parecia notar que estava fazendo. – O que? Pode dizer, seja o que for. Depois do que você fez hoje. – O meu chefe parecia sincero, mas parecia preocupado, e um pouco decepcionado também. O meu coração afundou dentro do peito. Eu não podia decepciona-lo depois de o deixar tão feliz. Eu finalmente estava sendo promovida e conseguiria comprar o enxoval do bebê. Eu finalmente compraria a minha cama! – Eu
– Eu? – Desviei os meus olhos. Era claro que eu não o amava. Sabia bem o meu lugar, e o dele. Eu sabia que alguém como ele jamais olharia para mim. – Você enlouqueceu! Mas ela apenas sorriu. Mexendo em um dos bolsos, retirou um cartão e me entregou. – Pegue isto, caso queira mudar de ideia. – Eu não quero. – Recusei. As mãos dela ainda estavam erguidas, esperando que eu agarrasse aquele cartão. – Livia... – Livy. Senhorita Clarke para você. – Que seja. Tanto faz. – Os olhos dela rolaram pela calota craniana, antes de se fixarem em mim novamente. Eu podia sentir cada traço de falsidade que emanava dela, me intoxicando como um veneno mortal. – Pegue isso. Quinhentos mil pelos desejos, Clarke. Pense nisso. Você pode sair dessa empresa, deixar o seu lindo chefe egoísta e reconstruir a sua vida longe daqui. Pode abrir uma empresa sua. – Por que não faz isso? Por que trabalha na recepção se tem tanto dinheiro? – Oh, eu tenho uma missão aqui, meu bem. E você? – Eu também tenho! – Erg
Fiquei paralisado diante da cena que os meus olhos captavam. Olhei atentamente esperando que ela desse algum tipo de sinal de vida. – Senhorita Clarke? – Chamei. Nenhum sinal novamente. Ela nem mesmo se movia enquanto eu continuava parado ali, esperando por alguma explicação. O que ela fazia sentada na minha poltrona, dormindo, enquanto eu estava fora?– Hardin, nós temos... – Um segundo de pausa. – O que é isso? – Eliot perguntou. – Aparentemente, uma assistente dormindo... Na minha sala... – Havia um amargor nas minhas palavras. Por que raios a senhorita Clarke estava sempre dormindo tanto? – Nossa. Você deveria esconder isso. – O que? – O encarei. Estava com medo de que ele pudesse prever os meus pensamentos. – Ela é horrorosa, mas dormindo... Nossa. Ela se supera, Hardin. – Esqueça isso. – O repreendi. Eliot colocou a pasta em cima da minha mesa, gerando um barulho alto, mas a senhorita Clarke ainda não se movia. – Não, é serio. Pensa comigo. Se você colocar ela bem escondi
Desde o maldito incidente com a Maila, sempre costumava observar câmeras em todos os lugares do meu prédio. Eu sei o quanto parecia estranho e mórbido observar os meus funcionários. E eu tentava manter o máximo de privacidade que poderia, mas essa situação precisava de uma intervenção. Eu tinha que descobrir o que estava acontecendo com a Senhorita Clarke antes que pensar nela me deixasse louco. Aquela mulher não é o tipo de imagem que um homem gostaria de ter na mente por tanto tempo. Liguei o meu computador e encarei as imagens na tela. Dias e dias a fio, observando em uma velocidade nada razoável. O vídeo seguia rápido, deixando a pobre assistente ainda mais estranha que o normal. A maneira como ela andava torta como um pinguim. A forma como estava sempre correndo para todos os lados. Eu precisava admitir, eu a fazia trabalhar demais. Decidi mudar as imagens, avançando em horas e dias. Aproximei quando encontrei algo que parecia me interessar. A senhorita Clarke tinha um semblan
Acordei no dia seguinte sentindo mais dores que o normal. Faltava exatamente dois dias para receber o meu salário, eu sabia bem o que devia fazer com ele. As cartas de cobranças costumavam chegar sempre as sete e meia. Pontuais... Olhei para o relógio e percebi que estava atrasada. Agarrei a minha bolsa e sai correndo como uma maluca. O ônibus me deixou em frente a empresa, e eu podia notar os olhares das pessoas rindo de mim. Todos eles tinham carros, suas casas, e suas roupas caras, e tudo que eu tinha era um bebê que não parava de chutar. Peguei o elevador e eu já estava suada. O senhor Hardin pigarreou no fundo do elevador, delatando que estava ali, ao lado do senhor Eliot. Grandes olheiras faziam parte do visual do seu dia. Não era comum que o senhor Hardin parecesse menos que um deus grego, e no entanto, naquele momento, parecia não ter dormido muito. – Bom dia, senhor. Uma pausa se prolongou até que estivesse constrangedora. – Bom dia, Livy Clarke! – Eliot respondeu. Ele, a
Mantive os meus olhos fixos na tela, enquanto continuava a ouvir as informações pelo telefone. Por fora, não havia qualquer demonstração de fraqueza ou tristeza, mas por dentro eu sentia vontade de quebrar a sala inteira. Quando finalmente desliguei o telefone, disquei para a minha assistente. – Senhorita Clarke.– Senhor? – A voz dela soava irritante pela primeira vez. Nunca tinha me ocorrido o quanto eu gostava de ouvi-la antes. – Venha a minha sala imediatamente. Agora! Esperei por cerca de quarenta segundos até que ela abrisse a porta da minha sala. Parada ali, segurando no batente, ela me encarou com o seu olhar confuso e inocente. Mas eu já não a via mais como um ser inofensivo e incapaz de me trair. Eu não a via mais como alguém que eu pudesse confiar a minha vida, e droga, essa empresa era tudo para mim. Era a minha família. Eu sacrifiquei demais por ela, para desistir por alguém assim. - Sente-se, por favor. - Sim, senhor. – Os olhos dela ainda evitavam me encarar, e na