Fiquei paralisado diante da cena que os meus olhos captavam. Olhei atentamente esperando que ela desse algum tipo de sinal de vida. – Senhorita Clarke? – Chamei. Nenhum sinal novamente. Ela nem mesmo se movia enquanto eu continuava parado ali, esperando por alguma explicação. O que ela fazia sentada na minha poltrona, dormindo, enquanto eu estava fora?– Hardin, nós temos... – Um segundo de pausa. – O que é isso? – Eliot perguntou. – Aparentemente, uma assistente dormindo... Na minha sala... – Havia um amargor nas minhas palavras. Por que raios a senhorita Clarke estava sempre dormindo tanto? – Nossa. Você deveria esconder isso. – O que? – O encarei. Estava com medo de que ele pudesse prever os meus pensamentos. – Ela é horrorosa, mas dormindo... Nossa. Ela se supera, Hardin. – Esqueça isso. – O repreendi. Eliot colocou a pasta em cima da minha mesa, gerando um barulho alto, mas a senhorita Clarke ainda não se movia. – Não, é serio. Pensa comigo. Se você colocar ela bem escondi
Desde o maldito incidente com a Maila, sempre costumava observar câmeras em todos os lugares do meu prédio. Eu sei o quanto parecia estranho e mórbido observar os meus funcionários. E eu tentava manter o máximo de privacidade que poderia, mas essa situação precisava de uma intervenção. Eu tinha que descobrir o que estava acontecendo com a Senhorita Clarke antes que pensar nela me deixasse louco. Aquela mulher não é o tipo de imagem que um homem gostaria de ter na mente por tanto tempo. Liguei o meu computador e encarei as imagens na tela. Dias e dias a fio, observando em uma velocidade nada razoável. O vídeo seguia rápido, deixando a pobre assistente ainda mais estranha que o normal. A maneira como ela andava torta como um pinguim. A forma como estava sempre correndo para todos os lados. Eu precisava admitir, eu a fazia trabalhar demais. Decidi mudar as imagens, avançando em horas e dias. Aproximei quando encontrei algo que parecia me interessar. A senhorita Clarke tinha um semblan
Acordei no dia seguinte sentindo mais dores que o normal. Faltava exatamente dois dias para receber o meu salário, eu sabia bem o que devia fazer com ele. As cartas de cobranças costumavam chegar sempre as sete e meia. Pontuais... Olhei para o relógio e percebi que estava atrasada. Agarrei a minha bolsa e sai correndo como uma maluca. O ônibus me deixou em frente a empresa, e eu podia notar os olhares das pessoas rindo de mim. Todos eles tinham carros, suas casas, e suas roupas caras, e tudo que eu tinha era um bebê que não parava de chutar. Peguei o elevador e eu já estava suada. O senhor Hardin pigarreou no fundo do elevador, delatando que estava ali, ao lado do senhor Eliot. Grandes olheiras faziam parte do visual do seu dia. Não era comum que o senhor Hardin parecesse menos que um deus grego, e no entanto, naquele momento, parecia não ter dormido muito. – Bom dia, senhor. Uma pausa se prolongou até que estivesse constrangedora. – Bom dia, Livy Clarke! – Eliot respondeu. Ele, a
Mantive os meus olhos fixos na tela, enquanto continuava a ouvir as informações pelo telefone. Por fora, não havia qualquer demonstração de fraqueza ou tristeza, mas por dentro eu sentia vontade de quebrar a sala inteira. Quando finalmente desliguei o telefone, disquei para a minha assistente. – Senhorita Clarke.– Senhor? – A voz dela soava irritante pela primeira vez. Nunca tinha me ocorrido o quanto eu gostava de ouvi-la antes. – Venha a minha sala imediatamente. Agora! Esperei por cerca de quarenta segundos até que ela abrisse a porta da minha sala. Parada ali, segurando no batente, ela me encarou com o seu olhar confuso e inocente. Mas eu já não a via mais como um ser inofensivo e incapaz de me trair. Eu não a via mais como alguém que eu pudesse confiar a minha vida, e droga, essa empresa era tudo para mim. Era a minha família. Eu sacrifiquei demais por ela, para desistir por alguém assim. - Sente-se, por favor. - Sim, senhor. – Os olhos dela ainda evitavam me encarar, e na
Eu segurei a blusa o mais alto que conseguia. Encarei os olhos atentos do senhor Hardin descendo até a minha barriga inchada. Ele parecia calmo e sereno. Seu rosto era completamente desprovido de emoções, como sempre. Minhas mãos repousaram na altura do sutiã, e eu estava ali, mostrando o meu bebê. – Por isso! – Revelei. – O que? – O senhor Hardin praticamente praguejou as palavras. – Ela descobriu quando eu caí com todo aquele café. Desde aquele momento tenho sido coagida por ela. Mas eu estou cansada. Eu não quero mais fazer isso, e eu não quero trair ninguém. – Desde quando? – Ele me encarou. – Eu não sei. Acho que deve ter duas semanas. – A chantagem não. O bebê! – O senhor Hardin ainda mantinha os olhos perplexos na minha barriga protuberante. – Ah. Ele tem quase sete meses agora. – Olhei para a minha barriga, e estava orgulhosa. O senhor Hardin desviou o olhar lentamente. Parecia não querer encarar o bebê preso ali dentro. Em um movimento brusco, ele se levantou e andou
Olhei fixamente para ela, tentando manter a postura, mas não durou por mais de um segundo. Desviei o olhar novamente. Eu sentia mágoa, eu sentia raiva. Eu sentia vontade de arrancar o bebê dela. – Então explique-se. É a sua oportunidade, senhorita Clarke. Ela me encarou. – Para que? – Deu de ombros, e então limpou as lágrimas que inundavam seu rosto. – O senhor já tem suas conclusões sobre o que aconteceu comigo. Não importa provar quem eu sou ou o que eu fiz! Os pés dela giraram e eu a vi abrindo a porta da minha sala, com as mãos delicadas. O aroma de lavanda se afastando de mim. Ela era feia, mas o cheiro dela era reconfortante e familiar. – Espera! – Segui em direção a ela. – Senhor? – Os olhos da senhorita Clarke pareciam esperançosos. Ela me encarou, e estavam maiores que o normal. Lindos e grandes olhos puxados. – Leve isto com você! – Disse, entregando o maldito cheque a ela. – É o meu pagamento? – Você terminou o projeto. Você ganha isso, e é tudo que vai levar daqui!
O corpo dela estava paralisado no lugar. Eu sabia que aquela mulher estava com medo de mim. Eu sabia que ela não podia mover um único músculo sem a certeza de que seria presa quando passasse por aquela porta. Nós dois sabíamos que ela havia cometido um crime contra o próprio país. – O que você quer? – Aquela mulher ainda estava de costas, olhando para frente. Tudo em sua postura parecia ter mudado repentinamente. A forma como os ombros se ergueram, a postura se tornou mais forte e decidida... E eu soube que ela nunca havia sido apenas uma recepcionista. – Como é o seu nome? – Me sentei na cadeira.Estava com o corpo inclinado para a frente, quase tentado a pular aquela mesa e agarrar o pescoço da maldita. – Donovan. Marry Donovan. – O que você quer na minha empresa, senhorita Donovan. Ela caminhou na minha direção, se sentou e cruzou as pernas. Dentro da blusa sem sutiã, ela agarrou um maço de cigarro, e eu não estava surpreso por ela conseguir esconder objetos ali. Eram realment
Cheguei ao meu apartamento. As minhas mãos estavam suadas, e eu ainda precisava tentar me acalmar. Tudo aconteceu depressa, e foi tão ruim quanto eu imaginei que seria. Os olhos do meu chefe olhando para a minha barriga, como se abominasse a ideia era o que mais me magoava, e eu não conseguia tirá-lo da minha cabeça. Naquele momento, parecia doloroso pensar nele. Era doloroso pensar em qualquer homem que havia entrado na minha vida. Me sentei em uma cadeira no meio da sala. Era tudo que eu tinha. Sem televisão, sem sofá, sem estantes. Apenas eu e uma mesa de jantar para duas pessoas. Coloquei os meus cotovelos sobre a mesa e pensei em como faria com a minha vida a partir daquele momento. Os meus olhos se arregalaram quando lembrei do cheque dentro do bolso da calça jeans que quase não cabia em mim. Enfiei a mão e o peguei. Quando abri, tudo no meu corpo tremia. Eu sabia que aquele não era o mesmo cheque que a recepcionista havia me dado... Tinha o carimbo do meu chefe nele, e quand