– Eu? – Desviei os meus olhos. Era claro que eu não o amava. Sabia bem o meu lugar, e o dele. Eu sabia que alguém como ele jamais olharia para mim. – Você enlouqueceu! Mas ela apenas sorriu. Mexendo em um dos bolsos, retirou um cartão e me entregou. – Pegue isto, caso queira mudar de ideia. – Eu não quero. – Recusei. As mãos dela ainda estavam erguidas, esperando que eu agarrasse aquele cartão. – Livia... – Livy. Senhorita Clarke para você. – Que seja. Tanto faz. – Os olhos dela rolaram pela calota craniana, antes de se fixarem em mim novamente. Eu podia sentir cada traço de falsidade que emanava dela, me intoxicando como um veneno mortal. – Pegue isso. Quinhentos mil pelos desejos, Clarke. Pense nisso. Você pode sair dessa empresa, deixar o seu lindo chefe egoísta e reconstruir a sua vida longe daqui. Pode abrir uma empresa sua. – Por que não faz isso? Por que trabalha na recepção se tem tanto dinheiro? – Oh, eu tenho uma missão aqui, meu bem. E você? – Eu também tenho! – Erg
Fiquei paralisado diante da cena que os meus olhos captavam. Olhei atentamente esperando que ela desse algum tipo de sinal de vida. – Senhorita Clarke? – Chamei. Nenhum sinal novamente. Ela nem mesmo se movia enquanto eu continuava parado ali, esperando por alguma explicação. O que ela fazia sentada na minha poltrona, dormindo, enquanto eu estava fora?– Hardin, nós temos... – Um segundo de pausa. – O que é isso? – Eliot perguntou. – Aparentemente, uma assistente dormindo... Na minha sala... – Havia um amargor nas minhas palavras. Por que raios a senhorita Clarke estava sempre dormindo tanto? – Nossa. Você deveria esconder isso. – O que? – O encarei. Estava com medo de que ele pudesse prever os meus pensamentos. – Ela é horrorosa, mas dormindo... Nossa. Ela se supera, Hardin. – Esqueça isso. – O repreendi. Eliot colocou a pasta em cima da minha mesa, gerando um barulho alto, mas a senhorita Clarke ainda não se movia. – Não, é serio. Pensa comigo. Se você colocar ela bem escondi
Desde o maldito incidente com a Maila, sempre costumava observar câmeras em todos os lugares do meu prédio. Eu sei o quanto parecia estranho e mórbido observar os meus funcionários. E eu tentava manter o máximo de privacidade que poderia, mas essa situação precisava de uma intervenção. Eu tinha que descobrir o que estava acontecendo com a Senhorita Clarke antes que pensar nela me deixasse louco. Aquela mulher não é o tipo de imagem que um homem gostaria de ter na mente por tanto tempo. Liguei o meu computador e encarei as imagens na tela. Dias e dias a fio, observando em uma velocidade nada razoável. O vídeo seguia rápido, deixando a pobre assistente ainda mais estranha que o normal. A maneira como ela andava torta como um pinguim. A forma como estava sempre correndo para todos os lados. Eu precisava admitir, eu a fazia trabalhar demais. Decidi mudar as imagens, avançando em horas e dias. Aproximei quando encontrei algo que parecia me interessar. A senhorita Clarke tinha um semblan
Acordei no dia seguinte sentindo mais dores que o normal. Faltava exatamente dois dias para receber o meu salário, eu sabia bem o que devia fazer com ele. As cartas de cobranças costumavam chegar sempre as sete e meia. Pontuais... Olhei para o relógio e percebi que estava atrasada. Agarrei a minha bolsa e sai correndo como uma maluca. O ônibus me deixou em frente a empresa, e eu podia notar os olhares das pessoas rindo de mim. Todos eles tinham carros, suas casas, e suas roupas caras, e tudo que eu tinha era um bebê que não parava de chutar. Peguei o elevador e eu já estava suada. O senhor Hardin pigarreou no fundo do elevador, delatando que estava ali, ao lado do senhor Eliot. Grandes olheiras faziam parte do visual do seu dia. Não era comum que o senhor Hardin parecesse menos que um deus grego, e no entanto, naquele momento, parecia não ter dormido muito. – Bom dia, senhor. Uma pausa se prolongou até que estivesse constrangedora. – Bom dia, Livy Clarke! – Eliot respondeu. Ele, a
Mantive os meus olhos fixos na tela, enquanto continuava a ouvir as informações pelo telefone. Por fora, não havia qualquer demonstração de fraqueza ou tristeza, mas por dentro eu sentia vontade de quebrar a sala inteira. Quando finalmente desliguei o telefone, disquei para a minha assistente. – Senhorita Clarke.– Senhor? – A voz dela soava irritante pela primeira vez. Nunca tinha me ocorrido o quanto eu gostava de ouvi-la antes. – Venha a minha sala imediatamente. Agora! Esperei por cerca de quarenta segundos até que ela abrisse a porta da minha sala. Parada ali, segurando no batente, ela me encarou com o seu olhar confuso e inocente. Mas eu já não a via mais como um ser inofensivo e incapaz de me trair. Eu não a via mais como alguém que eu pudesse confiar a minha vida, e droga, essa empresa era tudo para mim. Era a minha família. Eu sacrifiquei demais por ela, para desistir por alguém assim. - Sente-se, por favor. - Sim, senhor. – Os olhos dela ainda evitavam me encarar, e na
Eu segurei a blusa o mais alto que conseguia. Encarei os olhos atentos do senhor Hardin descendo até a minha barriga inchada. Ele parecia calmo e sereno. Seu rosto era completamente desprovido de emoções, como sempre. Minhas mãos repousaram na altura do sutiã, e eu estava ali, mostrando o meu bebê. – Por isso! – Revelei. – O que? – O senhor Hardin praticamente praguejou as palavras. – Ela descobriu quando eu caí com todo aquele café. Desde aquele momento tenho sido coagida por ela. Mas eu estou cansada. Eu não quero mais fazer isso, e eu não quero trair ninguém. – Desde quando? – Ele me encarou. – Eu não sei. Acho que deve ter duas semanas. – A chantagem não. O bebê! – O senhor Hardin ainda mantinha os olhos perplexos na minha barriga protuberante. – Ah. Ele tem quase sete meses agora. – Olhei para a minha barriga, e estava orgulhosa. O senhor Hardin desviou o olhar lentamente. Parecia não querer encarar o bebê preso ali dentro. Em um movimento brusco, ele se levantou e andou
Olhei fixamente para ela, tentando manter a postura, mas não durou por mais de um segundo. Desviei o olhar novamente. Eu sentia mágoa, eu sentia raiva. Eu sentia vontade de arrancar o bebê dela. – Então explique-se. É a sua oportunidade, senhorita Clarke. Ela me encarou. – Para que? – Deu de ombros, e então limpou as lágrimas que inundavam seu rosto. – O senhor já tem suas conclusões sobre o que aconteceu comigo. Não importa provar quem eu sou ou o que eu fiz! Os pés dela giraram e eu a vi abrindo a porta da minha sala, com as mãos delicadas. O aroma de lavanda se afastando de mim. Ela era feia, mas o cheiro dela era reconfortante e familiar. – Espera! – Segui em direção a ela. – Senhor? – Os olhos da senhorita Clarke pareciam esperançosos. Ela me encarou, e estavam maiores que o normal. Lindos e grandes olhos puxados. – Leve isto com você! – Disse, entregando o maldito cheque a ela. – É o meu pagamento? – Você terminou o projeto. Você ganha isso, e é tudo que vai levar daqui!
O corpo dela estava paralisado no lugar. Eu sabia que aquela mulher estava com medo de mim. Eu sabia que ela não podia mover um único músculo sem a certeza de que seria presa quando passasse por aquela porta. Nós dois sabíamos que ela havia cometido um crime contra o próprio país. – O que você quer? – Aquela mulher ainda estava de costas, olhando para frente. Tudo em sua postura parecia ter mudado repentinamente. A forma como os ombros se ergueram, a postura se tornou mais forte e decidida... E eu soube que ela nunca havia sido apenas uma recepcionista. – Como é o seu nome? – Me sentei na cadeira.Estava com o corpo inclinado para a frente, quase tentado a pular aquela mesa e agarrar o pescoço da maldita. – Donovan. Marry Donovan. – O que você quer na minha empresa, senhorita Donovan. Ela caminhou na minha direção, se sentou e cruzou as pernas. Dentro da blusa sem sutiã, ela agarrou um maço de cigarro, e eu não estava surpreso por ela conseguir esconder objetos ali. Eram realment