As pessoas me encaravam como se eu estivesse ao lado de uma aberração, e eu senti uma maldita vergonha por isso. Caminhei ao lado dela, e me sentei em uma mesa reservada para seis pessoas. A senhorita Clarke tentava manter a postura, embora estivesse sempre demonstrando um pouco de corcunda, ao ficar sempre com os ombros para baixo. Puxei a cadeira, mas ela se sentou em outra, totalmente alheia ao meu gesto. Eu odeio ser um homem cavalheiro com quem não presta atenção. Revirei os olhos, ainda segurando a maldita cadeira aberta, e então me sentei na cadeira que deveria ser dela. Uma garçonete andou até nós, levando com ela os cardápios. Encarei a senhorita Livy Clarke, e eu consegui notar cada traço de decepção nos olhos dela. Provavelmente pensava no quanto aquilo parecia absurdo, mas esqueça, não somos um casal e jamais vamos ser. – O que você quer comer? – Não sei. Não entendo muito do que está escrito aqui. – Não faz mal. É só me dizer do que gosta. Mas ela continuava encara
– Chega! – Bati o punho na mesa. – Você poderia deixar ela falar? – Não estava confiante, mas se ela ao menos pudesse convence-los. – Sei que o senhor tem tempo para nos dar. – Nós não temos. Ela o encarou. Nem parecia a mesma mulher medrosa de sempre. – Acredito que o senhor precisará de muito mais tempo se pedir um projeto em outra empresa. Entende que tudo terá que começar do princípio? – Entendo, senhorita, mas... – Mas estamos falando de meses de testes e projetos. Eu não acredito que o ministro da defesa fique satisfeito. Os homens se olharam. – E de quanto tempo estamos falando? – Dois dias? Eles olharam um para o outro novamente, e eu estava ali, paralisado. Esse tipo de coisa nunca aconteceu comigo. Ninguém jamais lutou por mim como ela fazia naquele momento. – Dois dias. Está bem! Mas nem mais um segundo. Ela os encarou e sorriu. – Entendo que estão com pressa, mas sei que esperariam por mais. – Mas... – Não se preocupem, não vai ser necessário.– Muito bem, senh
O meu coração estava disparado. Eu senti o momento em que o sangue foi drenado do centro do meu rosto para os meus pés. Eu estava paralisada, os meus olhos arregalados, e eu sentia cada olhar que o senhor Hardin direcionava para mim. Eu conhecia aquele olhar enviesado de maldade naquela mulher. Eu soube no mesmo instante em que aquele acordo de segredo custaria muito caro para mim. Ela encarou o chefe e os olhos dela pareciam ter tanto medo quanto os meus. – Senhor? O senhor Hardin caminhou na direção da minha mesa, e ele parecia um Deus, dono de todo o mundo. Tocou na mesa e a encarou ,de cima, como sempre costumava fazer. Dono dela, dono do projeto, dono de tudo! – Eu espero que tenha uma ótima explicação para estar mexendo nos arquivos da minha secretária. – Si-sim? – A recepcionista afirmou, mas nem mesmo ela parecia ter certeza. – E qual seria? – Ele continuava encarando, com os olhos severos que podiam queima-la. – Ainda estou esperando a sua resposta. – O rosto dele não p
Eu ainda olhava fixamente para ele, enquanto o olhar dele não recuava sobre a minha figura feia. Meu rosto estava tremendo tanto quanto as minhas mãos, e eu tinha certeza de que não deveria estar sentido tanto estresse. Não fazia bem para o bebê, e era assustador que ele ainda não se mexesse dentro da minha barriga. – Ninguém! – Eu respondi, olhando no interior dos olhos azuis intensos do meu chefe. – Ninguém? – O senhor Hardin jogou o corpo para frente, aproximando o rosto do meu. – Então como explica ter desenhado um projeto com todos os dados, números, cálculos. Isso não é possível, senhorita Clarke. – Eu não usei os seus números, senhor. – Meus olhos estavam grudados no chão mais uma vez. Eu não podia olhar para ele assim. Não depois do que havia feito. Eu sempre soube, desde que pisei nessa empresa pela primeira vez que haviam termos de responsabilidade, e o mais importante deles era que eu não deveria bisbilhotar ou deixar vazar informações de dentro. E agora, eu estava pres
Surpreendentemente o senhor Hardin sorriu. Parecia genuinamente feliz, pela primeira vez. Eu sequer me lembrava a última vez que o vi daquela maneira, sorrindo. Acredito que nunca deva ter acontecido, e que eu tenha apenas sonhado acordada. Uma onda de choque percorreu da cabeça aos pés em uma velocidade alarmante, quando os braços fortes dele me envolveram em um abraço, e eu senti o meu mundo inteiro girar. O que estava acontecendo? Por que os meus pés não tocavam o chão? Eu flutuava? Não. Eu apenas estava suspensa no ar, por um homem muito, muito forte. – Obrigada! Você é um gênio, senhorita Clarke. – Eu sou? – A minha barriga estava esmagada entre nós dois, e eu podia começar a sacudir os meus pés a aquela altura. O senhor Hardin ainda me esmagava, e os olhares assustados das pessoas pareciam estranhar toda a situação. – Eu me enganei com você. – Senhor Hardin... O senhor poderia...– Claro que eu vou te promover. – Oh, isso é...– Não gostou? – Claro que sim, senhor. Ele p
– Obrigado, hein... – Eliot brincou. – Achei que eu fosse a sua pessoa! O senhor Hardin continuava sério, esperando que eu o cumprimentasse de volta, mas a minha mente pairava na mentira que eu contei, e no bebê. O bebê na minha barriga que chutava leve e quase imperceptível. Eu senti medo de mentir. – O que há? – O senhor Hardin perguntou. A sobrancelha dele estava ligeiramente arqueada, e eu senti um pânico ainda maior. – Senhor... É que eu... Eu estou... – Eu segurei na mão dele, e senti o aperto forte, o polegar massageando a minha mão. Aquilo não parecia normal, e ele nem mesmo parecia notar que estava fazendo. – O que? Pode dizer, seja o que for. Depois do que você fez hoje. – O meu chefe parecia sincero, mas parecia preocupado, e um pouco decepcionado também. O meu coração afundou dentro do peito. Eu não podia decepciona-lo depois de o deixar tão feliz. Eu finalmente estava sendo promovida e conseguiria comprar o enxoval do bebê. Eu finalmente compraria a minha cama! – Eu
– Eu? – Desviei os meus olhos. Era claro que eu não o amava. Sabia bem o meu lugar, e o dele. Eu sabia que alguém como ele jamais olharia para mim. – Você enlouqueceu! Mas ela apenas sorriu. Mexendo em um dos bolsos, retirou um cartão e me entregou. – Pegue isto, caso queira mudar de ideia. – Eu não quero. – Recusei. As mãos dela ainda estavam erguidas, esperando que eu agarrasse aquele cartão. – Livia... – Livy. Senhorita Clarke para você. – Que seja. Tanto faz. – Os olhos dela rolaram pela calota craniana, antes de se fixarem em mim novamente. Eu podia sentir cada traço de falsidade que emanava dela, me intoxicando como um veneno mortal. – Pegue isso. Quinhentos mil pelos desejos, Clarke. Pense nisso. Você pode sair dessa empresa, deixar o seu lindo chefe egoísta e reconstruir a sua vida longe daqui. Pode abrir uma empresa sua. – Por que não faz isso? Por que trabalha na recepção se tem tanto dinheiro? – Oh, eu tenho uma missão aqui, meu bem. E você? – Eu também tenho! – Erg
Fiquei paralisado diante da cena que os meus olhos captavam. Olhei atentamente esperando que ela desse algum tipo de sinal de vida. – Senhorita Clarke? – Chamei. Nenhum sinal novamente. Ela nem mesmo se movia enquanto eu continuava parado ali, esperando por alguma explicação. O que ela fazia sentada na minha poltrona, dormindo, enquanto eu estava fora?– Hardin, nós temos... – Um segundo de pausa. – O que é isso? – Eliot perguntou. – Aparentemente, uma assistente dormindo... Na minha sala... – Havia um amargor nas minhas palavras. Por que raios a senhorita Clarke estava sempre dormindo tanto? – Nossa. Você deveria esconder isso. – O que? – O encarei. Estava com medo de que ele pudesse prever os meus pensamentos. – Ela é horrorosa, mas dormindo... Nossa. Ela se supera, Hardin. – Esqueça isso. – O repreendi. Eliot colocou a pasta em cima da minha mesa, gerando um barulho alto, mas a senhorita Clarke ainda não se movia. – Não, é serio. Pensa comigo. Se você colocar ela bem escondi