Hardin
Gargalhadas do lado de fora chamavam a minha atenção. Eu odiava toda essa merda. Bagunça não era o tipo de atitude esperada em uma empresa como a RageTech. Sério, mudei as câmeras do meu computador aberto sobre a mesa. Os meus olhos estavam atentos, como se buscasse por qualquer deslize, mas as pessoas apenas pareciam conversar, animadas. – Eu estava dizendo que... – Eliot continuou. O meu foco ainda estava naquele maldito corredor, e eu não fazia idéia do motivo para estar tão curioso. Poderia chamar a segurança e pedir que calassem os malditos funcionários, ou poderia sair e adverti-los pessoalmente, mas precisava saber o que pretendiam. Os meus olhos se apertaram. – O que acha, Hardin? – Uma voz me alertou. – O que? – Eu parecia distraído, e odiava não ser atencioso com a empresa. – Está tudo bem? Precisa de uma pausa? – Eliot se levantou ao me perguntar. Espalmei a mão no ar. – Está tudo bem. Continuem! – Eu disse. Os meus olhos finalmente estavam voltados para a reunião, mas a câmera ainda continuava a gravar o que acontecia do lado de fora, e eu estava sentindo o meu sangue ferver com os risos e vozes altas. A senhorita Clarke saiu pelo elevador no exato momento em que os meus olhos, curiosamente se voltaram para as câmeras novamente. E lá estava eu, divagando do trabalho. O maldito funcionário se escondia na lateral da parede. O que ele pretendia com isso? Me levantei, sem me importar que a apresentação ainda estava em curso. Eliot me lançou um olhar de advertência. Merda, isso tudo é meu! Eu cuido dos meus funcionários, eu cuido da minha indústria! Abri a porta, apenas para ver que a senhorita Clarke chorava no chão, completamente molhada por café que se espalhava pelas roupas e pelo chão. A encarei com uma expressão completamente vazia. – O que está acontecendo aqui? – Eles sabiam que não seria fácil me convencer de que eram pessoas inocentes. – Perdão, senhor! – a recepcionista lamentou. Mas eu sabia que ela só lamentava por si mesma e pelos malditos peitos grandes que a blusa não conseguia disfarçar. – Eu perguntei o que aconteceu aqui. Não me façam ter que perguntar outra vez! – Todos se olhavam, e sabiam que as consequências seriam ainda piores. O maldito funcionário deu um passo a frente, mas era incapaz de ser homem e olhar nos meus olhos. As minhas mãos estavam posicionadas atrás do corpo, e para uma empresa de armas, o gesto parecia quase alarmante. – Sua assistente caiu, senhor. Muito desastrada, a coitada! Olhei para a senhorita Clarke. – Você caiu? – Minha sobrancelha estava arqueada, e eu ainda esperava pela resposta. A mulher apenas continuava ali, completamente molhada por café, e eu só consegui notar naquele momento, o quanto a senhorita Clarke estava a cima do peso, o que parecia estranho, já que tinha braços e pernas realmente finos, em comparação com a barriga. – Senhor... – a boca dela se abriu, mas não continuou sua fala. – Senhor, ela apenas tropeçou... – Na sua perna? – Perguntei. Os olhos dele estavam arregalados, e eu sei que a m*****a expressão de assustado no rosto feio significava mais que a culpa. – Não. Não, senhor. Ela só tropeçou. Me aproximei, olhando fixamente no rosto dele, mas o olhar ainda estava baixo. Claro que estaria, ele era um covarde. – Mesmo? Acha que eu sou idiota? – Sim, senhor. – Ele sacudiu a cabeça. – Quer dizer, não! Não senhor. Claro que não! – Então por que está tentando me enganar? – Não estou, senhor. – Como é o seu nome? – Liam... Senhor. – Pegue as suas coisas e caia fora daqui, Liam. – O que? – Você está demitido! – Senhor, eu tenho família. Eu tenho uma mãe para criar. Quero dizer, cuidar. Ela é doente. Ela é... – Todo mundo tem alguém, Liam. Isso não importa para mim. Eu não vou tolerar isso aqui. – Que maltrate a sua secretária feia? – Que maltrate qualquer pessoa. E que minta. Agora vai embora. Não se preocupe, eu vou pagar o tempo em que você trabalhou aqui. – O senhor é um cretino, senhor Hardin. – Diga uma coisa que eu não saiba. – Continuei olhando para ele, até que Liam finalmente fugiu, entrando no elevador. Olhei para a senhorita Clarke, e aquela forma passiva de agir me incomodava. M*****a assistente que não sabe se defender. Eu odeio esse tipo de mulher. A encarei. – Levante-se daí! – Ordenei. – Procure algo para vestir e se limpar. – Sim senhor! – A senhorita Clarke tinha os olhos mais tristes que eu já vi, e por um segundo, senti arrependimento de ser tão duro. Me virei para a recepcionista. – E você, cuidado, ou eu a coloco na rua, junto com seus peitos. Ela olhou para baixo, e eu vi o instante em que seu rosto se tornou pálido e envergonhado. – Sim, senhor. – As mãos dela balançavam, e eu podia notar o quanto estava nervosa. Os encarei uma ultima vez, e então parei na porta. – Limpe-se e depois, senhorita Clarke, traga os cafés! – Sim senhor. – Ela já estava de pé, e eu tinha que admitir. A m*****a feia tinha muito empenho... Fechei a porta e sentei na minha poltrona. – Vocês podem voltar. – Onde paramos? – Eliot perguntou. – Do início. O rosto dele estava em pleno choque, mas como eu conseguira ter foco, quando haviam coisas para resolver? – Claro. Sim, senhor. – mas eu podia ver em sua expressão, o quanto estava confuso. O olhar me perguntava o que havia acontecido. Eu nunca, nos últimos anos, estive tão distraído em uma reunião. – Como sabem, nós precisamos entregar o projeto, mas há algo de errado. – Como há algo de errado? – O protótipo sempre tem algum tipo de falha, e nós ainda não conseguimos identificar qual é o problema. – Você diz isso agora? – Bati contra a mesa. – Sinto muito, chefe. Achei que conseguiríamos resolver até esta reunião, mas nenhum dos nossos engenheiros encontra o problema. Esfreguei as minhas mãos no rosto, e quando finalmente abri os olhos, o meu celular tocava insistentemente. – Daren Holloway chamando... – Li baixo. Merda, o que ele quer agora?Livy Clarke Meu corpo ainda ardia, coberto pelo café quente que começava a esfriar. Minha roupa encharcada estava grudada no meu corpo, e eu era incapaz de continuar de pé. A minha barriga doía tanto, e eu praguejei. Sentia tanto medo de perde-lo. – Oh meu bebê, por favor, não vá... Por favor... – Implorei, olhando para baixo. Em um ato instintivo, minhas mãos tocaram na barriga. – Por favor...Os meus olhos se voltaram para a devastação no rosto de uma mulher logo a frente. A forma como ela me encarava, com seus olhos grandes arregalados. Estava claro que ela não tinha a menor noção de que eu esperava um bebê, e para a minha sorte, espero que mais ninguém descubra. – Você... Você não é estranha. Você só está... – Os olhos dela ainda estavam em puro choque. – Você está gravida? – Ela praticamente cuspiu as palavras aos meus pés. – Por favor, fala baixo. – Implorei, olhando para os lados. As minhas mãos estavam no ar, pedindo que ela dissesse mais uma única palavra. O rosto ainda
Abri os meus olhos no tempo que achei ser dois segundos após fecha-los. Um som irritante me tirou de um lindo sonho, onde nada disso precisava estar acontecendo. Meu semblante se tornou triste e desesperado, e o badalar ainda estava presente, irritante como na primeira vez que o escutei. Meus olhos se moveram em direção ao som, e então eu pulei da cadeira como um gato assustado. Me levantei e encarei o meu chefe, olhando para mim com toda sua expressão fria. Os dedos rápidos batiam fortes sobre a pilha de papéis e desenhos espalhados. – Chefe! – Os meus olhos estavam arregalados, e eu esperava que a franja pudesse esconde-los ao menos um pouco. – Gostou da minha sala? – O senhor Hardin perguntou. – Acho que deveríamos colocar uma cama, bem ali! – Ele se levantou e andou até a parede vazia. – O que acha, senhorita Clarke? Dessa forma você teria um descanso muito melhor. O que acha da ideia? Meu rosto queimava de vergonha. Eu sei que deveria explicar que o bebê me causava sono, e que
– Na minha vida? – Na sua vida, senhorita Clarke. O que há para saber? – Eu não sou interessante, senhor Hardin. Eu não tenho nada a dizer. – Tem certeza? Eu posso descobrir... – Ele segurou o telefone e o colocou no ouvido. O meu coração acelerou, mas eu tentei manter qualquer nervosismo afastado de mim. Se o Daren souber que eu estou trabalhando, vai garantir que a minha vida seja arruinada outra vez. Respirei fundo. – Espera! Ele me encarou. Parecia completamente vitorioso, e eu soube no mesmo instante que tudo não passava de um jogo de poder para ele. Meu arrependimento gritava, e eu deveria me demitir se pudesse, mas eu precisava responder as perguntas do meu chefe tirano. – Eu tenho um casamento falido com um homem rico que me traiu. Eu tenho uma mãe morta, sou imigrante, e só consegui estudar por que ajudei um homem no passado e ele acreditava que me devia algo. Eu não tenho nada no mundo, senhor Hardin, além desse emprego. E se o senhor me demitir, eu provavelmente não c
Hardin Vasculhei por todos os lugares, procurando pela maldita roupa. Maila provavelmente as jogou fora quando eu finalmente a demiti daqui. Dois anos em que eu não me relacionava seriamente com alguém, e quando finalmente abri o meu coração, aquela maldita o quebrou. Se eu ao menos tivesse raciocinado por um minuto... Se eu não tivesse assinado o maldito papel... Andei sem roupas pelo escritório, esperando que a minha assistente voltasse, mas já se passou quinze minutos desde que ela saiu, e eu ainda continua a esperar. Andei até os quadros agressivos presos nas minhas paredes e pensei no maldito erro do projeto. Maila me custou alguns milhões, e essa merda me custará ainda mais... Uma bebida seria o ideal agora. Andei até o armário e me servi. Só estava tentando afogar a maldita amargura que se instalou em mim.A porta se abriu. Os olhos dela eram incapazes de me olhar, e eu precisava admitir que achava, ao menos, adorável... O que havia da senhorita Clarke que me fazia acha-la ad
As pessoas me encaravam como se eu estivesse ao lado de uma aberração, e eu senti uma maldita vergonha por isso. Caminhei ao lado dela, e me sentei em uma mesa reservada para seis pessoas. A senhorita Clarke tentava manter a postura, embora estivesse sempre demonstrando um pouco de corcunda, ao ficar sempre com os ombros para baixo. Puxei a cadeira, mas ela se sentou em outra, totalmente alheia ao meu gesto. Eu odeio ser um homem cavalheiro com quem não presta atenção. Revirei os olhos, ainda segurando a maldita cadeira aberta, e então me sentei na cadeira que deveria ser dela. Uma garçonete andou até nós, levando com ela os cardápios. Encarei a senhorita Livy Clarke, e eu consegui notar cada traço de decepção nos olhos dela. Provavelmente pensava no quanto aquilo parecia absurdo, mas esqueça, não somos um casal e jamais vamos ser. – O que você quer comer? – Não sei. Não entendo muito do que está escrito aqui. – Não faz mal. É só me dizer do que gosta. Mas ela continuava encara
– Chega! – Bati o punho na mesa. – Você poderia deixar ela falar? – Não estava confiante, mas se ela ao menos pudesse convence-los. – Sei que o senhor tem tempo para nos dar. – Nós não temos. Ela o encarou. Nem parecia a mesma mulher medrosa de sempre. – Acredito que o senhor precisará de muito mais tempo se pedir um projeto em outra empresa. Entende que tudo terá que começar do princípio? – Entendo, senhorita, mas... – Mas estamos falando de meses de testes e projetos. Eu não acredito que o ministro da defesa fique satisfeito. Os homens se olharam. – E de quanto tempo estamos falando? – Dois dias? Eles olharam um para o outro novamente, e eu estava ali, paralisado. Esse tipo de coisa nunca aconteceu comigo. Ninguém jamais lutou por mim como ela fazia naquele momento. – Dois dias. Está bem! Mas nem mais um segundo. Ela os encarou e sorriu. – Entendo que estão com pressa, mas sei que esperariam por mais. – Mas... – Não se preocupem, não vai ser necessário.– Muito bem, senh
O meu coração estava disparado. Eu senti o momento em que o sangue foi drenado do centro do meu rosto para os meus pés. Eu estava paralisada, os meus olhos arregalados, e eu sentia cada olhar que o senhor Hardin direcionava para mim. Eu conhecia aquele olhar enviesado de maldade naquela mulher. Eu soube no mesmo instante em que aquele acordo de segredo custaria muito caro para mim. Ela encarou o chefe e os olhos dela pareciam ter tanto medo quanto os meus. – Senhor? O senhor Hardin caminhou na direção da minha mesa, e ele parecia um Deus, dono de todo o mundo. Tocou na mesa e a encarou ,de cima, como sempre costumava fazer. Dono dela, dono do projeto, dono de tudo! – Eu espero que tenha uma ótima explicação para estar mexendo nos arquivos da minha secretária. – Si-sim? – A recepcionista afirmou, mas nem mesmo ela parecia ter certeza. – E qual seria? – Ele continuava encarando, com os olhos severos que podiam queima-la. – Ainda estou esperando a sua resposta. – O rosto dele não p
Eu ainda olhava fixamente para ele, enquanto o olhar dele não recuava sobre a minha figura feia. Meu rosto estava tremendo tanto quanto as minhas mãos, e eu tinha certeza de que não deveria estar sentido tanto estresse. Não fazia bem para o bebê, e era assustador que ele ainda não se mexesse dentro da minha barriga. – Ninguém! – Eu respondi, olhando no interior dos olhos azuis intensos do meu chefe. – Ninguém? – O senhor Hardin jogou o corpo para frente, aproximando o rosto do meu. – Então como explica ter desenhado um projeto com todos os dados, números, cálculos. Isso não é possível, senhorita Clarke. – Eu não usei os seus números, senhor. – Meus olhos estavam grudados no chão mais uma vez. Eu não podia olhar para ele assim. Não depois do que havia feito. Eu sempre soube, desde que pisei nessa empresa pela primeira vez que haviam termos de responsabilidade, e o mais importante deles era que eu não deveria bisbilhotar ou deixar vazar informações de dentro. E agora, eu estava pres