Com certeza, é o menininho de uns dois anos que está no meu colo. Ele soluça um pouco, ainda assustado, enquanto eu tento acalmá-lo. Seguro-o firme contra mim, sinto seu corpinho tremer de medo. Olho em volta, procurando pela família dele. Eles estão todos alvoroçados, em estado de pânico. Quando dois homens me avistam segurando a criança, algo muda na expressão deles. Seus rostos se transformam numa mistura de raiva e desespero, e, de repente, começam a marchar na minha direção como touros enfurecidos.— Devo solo avere tra le mani quel bastardo! Molestatore di bambini! — Um deles rosna algo em italiano, os olhos me encarando com um ódio puro.Não entendo o que eles dizem, mas uma coisa é clara: querem acabar comigo. Eu dou um passo para trás, instintivamente, enquanto os homens avançam. Antes que cheguem mais perto, coloco a criança no chão. Ela corre de volta para um deles, que a pega no colo e a leva até outro homem, de sobretudo negro, com um olhar severo. Ao lado dele, está uma
Estou sentado em uma mesa impecável de um restaurante requintado, o tipo de lugar que jamais imaginaria pisar por conta própria. O terno que uso é elegante, caro. Foi entregue em minha casa com uma mensagem clara: "Vista-se bem. Você terá um encontro importante". Estou agitado, mas tento manter a calma, mexendo no nó da gravata como se ela estivesse me sufocando.À minha frente, está Don Vincent Bertizzolo, o homem que comanda tudo com uma aura de poder que transborda da postura ereta e dos olhos penetrantes. Ao seu lado, Antony Mancini, o consigliere da família. Ele me observa com um meio sorriso, a expressão enigmática, enquanto descreve para o Don a forma como nos conhecemos.— Você é bem jovem. Quantos anos tem? — Don Vincent me pergunta, a voz suave, mas carregada de uma autoridade que me faz endireitar a coluna.— Vinte e dois anos — respondo, tentando não soar nervoso. Sei que essa é a idade em que eles costumam recrutar. Jovens que ainda podem ser moldados, como argila nas mão
A noite cai, mas o sono não chega. Estou deitado na cama, fitando o teto, com a mente a mil por hora. As luzes da rua entram pelas frestas da janela, dançando nas sombras do quarto. Tento apagar os pensamentos, mas é impossível. O convite da máfia ecoa em minha cabeça, reverberando como um sino que nunca cessa.Meu salário é ridículo. Mal cobre as contas básicas. Os ganhos com as lutas só ajudam a pagar o aluguel e garantir que eu não passe fome, mas nunca são suficientes para algo mais. Nada de casamento, nada de filhos, nada de futuro. Tento encontrar uma saída há anos, mas é como um labirinto sem fim. Sempre tropeço nas mesmas paredes, as mesmas portas trancadas.Quando me olho no espelho, o reflexo é um rosto marcado, cheio de cicatrizes de lutas que se acumulam. Um homem que está sempre cansado, com os punhos doendo e os olhos fundos de exaustão. Talvez seja por isso que nunca consigo um emprego decente. Meus currículos são rejeitados antes mesmo de serem lidos. Quem contrataria
KateDeus! O que estou fazendo? Não consigo suportar vê-lo assim, todo machucado, mas a ideia de ficar longe dele é ainda pior. Eu me sinto perdida, mas sei que o amo. Amo cada parte dele, mesmo quando ele tenta esconder essa vida dura de mim.Eu o abraço com força, como se o apertar contra mim pudesse curar todas as feridas.— Tudo bem, Daniel. Não vamos mais falar nisso. Eu não tenho planos de deixar seu mundo, então não se preocupe. Eu te amo.Ele me puxa para mais perto, suas mãos firmes segurando meu traseiro, e um sorriso lascivo se espalha pelo seu rosto. Fecho os olhos, tentando ordenar meus pensamentos. Saudade e dor se misturam, como duas correntes de um rio turbulento. Mas quando ele me beija, roubando meu fôlego, todo o resto desaparece. O desejo se acende em meu corpo como fogo em palha seca. Não penso em mais nada, apenas na urgência de senti-lo.— Vem, vamos para o quarto — ele sussurra contra minha pele, e eu mal consigo responder, minhas mãos já percorrendo suas costa
DanielEla está em meus braços, seu corpo nu quente pressionado contra o meu. Sua cabeça repousando sobre o meu peito. Ela traça minha tatuagem no meu peito, suspirando levemente. Eu também estou assim, me sinto pacífico agora que o desejo foi satisfeito e ao mesmo tempo agitado diante dos últimos acontecimentos.— Você já trouxe meninas para cá? — De repente, ela me pergunta.Eu abro os olhos e a encaro. Eu não consigo dizer que sou virgem. Sinto vergonha. Sempre se espera que um homem seja experiente. Isso explica a ausência da camisinha. Kate é a primeira mulher que tive relação sexual. Sempre trabalhei até a exaustão. E as garotas daqui nunca me interessaram.Ela fica tensa.—Oh, desculpe-me. Eu não quero saber...—Você é a primeira. —Digo sem muitas explicações. Melhor!—Sério?Eu aceno um sim, ela sorri. Eu amo seu sorriso. Parece tão errado ela aqui do meu lado. Tenho tão pouco a oferecer do muito que ela merece. Sem querer bocejo. Estou cansado, não dormi nada essa noite pensa
Eu aperto meus lábios com raiva e marcho para o interior da casa. E foi o que fez, tão logo ele estaciona, entra na sala e agora me olha como uma fera ferida.—Eu não acreditei em meus olhos quando vi você com aquele marginal! Então é isso que você anda fazendo! — Grita e caminha na minha direção, parando na minha frente para olhar para mim da cabeça aos pés. — Você está pulando na cama de um bandido, do outro lado da cidade, sem instrução, que vende drogas?—Quem disse que ele vende drogas? Ele é um homem direito.—Mas você é muito ingênua mesmo! Você com esse cara é um desgosto. Olha o tipo de gente que você está se metendo. Ele não tem nada de bom para passar para você.—Ele tem me ensinado muito. Ser uma fortaleza em momentos difíceis. Ser direito e trabalhador mesmo que surjam várias oportunidades de dinheiro fácil.Meu pai cerra os dentes. —Quanto tempo vocês estão juntos?—Quase um mês!—Digo com o nariz empinado.—Deus! Você tem me enganado todo esse tempo?—Pai, eu amo Daniel
DanielNo meu rosto está estampado a tristeza. Eu não tiro a razão do pai dela. No fundo eu admiro sua preocupação. Quem me dera um dia ter um pai que se preocupasse comigo. Afasto meus pensamentos imediatamente, mesmo porque não me permito revisitar meu passado.A expressão de Kate não me sai da cabeça. O jeito que ela ficou olhando para mim, seu olhar triste me cortando como uma lâmina afiada. Mas acredito que Kate não irá desistir de nós.Sorrio comigo mesmo ao me lembrar de seu jeito determinado em lutar pelo nós e eu gosto muito daquele olhar, gosto da sensação que me causa. Eu me sinto tão importante na vida dela....Deus! Como eu gostaria que ela se orgulhasse de mim!A semana seguinte eu trabalhei empurrado, tentando descobrir porque diabos eu ainda insistia no meu emprego. Lavar pratos, enfrentar a cara feia do dono, toda vez que eu apareço com o rosto inchado.Minha aparência está melhor. A pele do meu olho esquerdo está agora num tom esverdeado.Sei que não verei Kate tão c
Assim que entro no meu quarto, fecho a porta atrás de mim, me sentindo encurralada. Preciso pensar, preciso encontrar uma maneira de me comunicar com Daniel. A situação está insuportável. Meu pai não apenas me aprisionou em casa, mas também confiscou meu celular. Ele disse que era para o meu próprio bem, para me manter longe das "más influências". Como se isso fosse suficiente para me afastar do Daniel. Ele não entende que quanto mais ele tenta me separar, mais sinto a necessidade de lutar pelo nosso amor.Olho ao redor, procurando papel e caneta. Encontro um bloco de anotações na minha escrivaninha e rabisco algumas palavras, a mão tremendo de ansiedade e frustração. Cada frase é um desabafo, uma tentativa desesperada de alcançar Daniel, de fazê-lo sentir que, mesmo com toda essa tempestade, meu sentimento por ele continua inabalável."Daniel,Estou sendo vigiada. Meu pai tirou meu celular e me proibiu de sair de casa. Ele está tentando me afastar de você de todas as formas. Mas eu p