DanielEu vivo num turbilhão, onde a tristeza é uma constante e a solidão me abraça como se fosse um velho amigo. Sinto um peso tão grande no peito que parece me consumir por dentro. Não sei mais como explicar o vazio que me corrói, essa falta de sentido que eu sempre tentei preencher com tudo, menos com amor. Mas, paradoxalmente, a felicidade que tanto procurei parece estar justamente naquilo que ela me oferece. E ainda assim, é estranho... ao mesmo tempo que a desejo, tenho vontade de afastá-la. Talvez eu tenha medo. Medo daquilo que não sei se sou capaz de sustentar, medo de um amor que não sei se mereço.Eu sinto raiva de mim mesmo pela minha fraqueza. Como posso desejar alguém com tanta intensidade e ao mesmo tempo temer o que isso pode significar? Eu sei que, no final, ela vai acordar para a realidade e eu vou ser apenas o cara que ela teve pena de amar. Mas, por mais que eu tente me convencer de que isso vai acontecer, por mais que eu me torture com esses pensamentos, ela não va
Eu caminho hesitante e me agacho. Meus dedos encontram suas mãos ensanguentadas, frias, quase desfalecidas. Ela não levanta os olhos para mim, mas as lágrimas caem sem freio pelo rosto abatido. Quando eu tento segurar suas mãos, ela as retira, como se meu toque fosse peso demais para suportar.Daniel entra apressado, um copo de água com açúcar nas mãos. Ele o entrega à mulher, que o segura com dedos trêmulos antes de beber pequenos goles. Então, a tensão no ar se intensifica. Uma garota entra na cozinha. Deve ter minha idade e carrega os mesmos traços da senhora. É de uma beleza impressionante: cabelos longos e negros que emolduram olhos grandes e profundos.— Mamá. — Sua voz é um sussurro carregado de dor. Ela se abaixa para abraçar a mulher, que soluça ainda mais ao vê-la. Depois, levanta-se e caminha até Daniel, envolvendo-o em um abraço desesperado.— Ellos mataron a mi hermano. — Sua voz se quebra.Fico paralisada, observando a cena como se fosse um espectador de algo que não deve
KateEu e Daniel temos nos visto há mais de quinze dias, e, para ser sincera, mal consigo ficar longe dele. Toda vez que tenho uma brecha, corro para encontrá-lo. Ele tem andado cabisbaixo, frustrado por não conseguir um emprego melhor. É difícil vê-lo assim, então tento de todas as formas animá-lo. Passo confiança, segurando suas mãos, olhando em seus olhos, e repetindo que ele é capaz de conseguir o que deseja. Quero que ele sinta o quanto acredito nele.O que sei com certeza é que, desde que começamos a nos ver, nosso mundinho se tornou colorido, vibrante e viciante. Estamos completamente loucos um pelo outro. Para mim, não importa se estar com ele significa enfrentar dificuldades financeiras. Eu o amo, e o amor é suficiente.Rose, minha irmã, graças a Deus, tem ficado na dela ultimamente. Acho que, no fundo, ela reconhece que Daniel é uma ótima pessoa, mesmo que ainda não diga isso em voz alta. Hoje é sábado, e eu estou ansiosa para vê-lo. Nunca conseguimos combinar nossos encontro
Com certeza, é o menininho de uns dois anos que está no meu colo. Ele soluça um pouco, ainda assustado, enquanto eu tento acalmá-lo. Seguro-o firme contra mim, sinto seu corpinho tremer de medo. Olho em volta, procurando pela família dele. Eles estão todos alvoroçados, em estado de pânico. Quando dois homens me avistam segurando a criança, algo muda na expressão deles. Seus rostos se transformam numa mistura de raiva e desespero, e, de repente, começam a marchar na minha direção como touros enfurecidos.— Devo solo avere tra le mani quel bastardo! Molestatore di bambini! — Um deles rosna algo em italiano, os olhos me encarando com um ódio puro.Não entendo o que eles dizem, mas uma coisa é clara: querem acabar comigo. Eu dou um passo para trás, instintivamente, enquanto os homens avançam. Antes que cheguem mais perto, coloco a criança no chão. Ela corre de volta para um deles, que a pega no colo e a leva até outro homem, de sobretudo negro, com um olhar severo. Ao lado dele, está uma
Estou sentado em uma mesa impecável de um restaurante requintado, o tipo de lugar que jamais imaginaria pisar por conta própria. O terno que uso é elegante, caro. Foi entregue em minha casa com uma mensagem clara: "Vista-se bem. Você terá um encontro importante". Estou agitado, mas tento manter a calma, mexendo no nó da gravata como se ela estivesse me sufocando.À minha frente, está Don Vincent Bertizzolo, o homem que comanda tudo com uma aura de poder que transborda da postura ereta e dos olhos penetrantes. Ao seu lado, Antony Mancini, o consigliere da família. Ele me observa com um meio sorriso, a expressão enigmática, enquanto descreve para o Don a forma como nos conhecemos.— Você é bem jovem. Quantos anos tem? — Don Vincent me pergunta, a voz suave, mas carregada de uma autoridade que me faz endireitar a coluna.— Vinte e dois anos — respondo, tentando não soar nervoso. Sei que essa é a idade em que eles costumam recrutar. Jovens que ainda podem ser moldados, como argila nas mão
A noite cai, mas o sono não chega. Estou deitado na cama, fitando o teto, com a mente a mil por hora. As luzes da rua entram pelas frestas da janela, dançando nas sombras do quarto. Tento apagar os pensamentos, mas é impossível. O convite da máfia ecoa em minha cabeça, reverberando como um sino que nunca cessa.Meu salário é ridículo. Mal cobre as contas básicas. Os ganhos com as lutas só ajudam a pagar o aluguel e garantir que eu não passe fome, mas nunca são suficientes para algo mais. Nada de casamento, nada de filhos, nada de futuro. Tento encontrar uma saída há anos, mas é como um labirinto sem fim. Sempre tropeço nas mesmas paredes, as mesmas portas trancadas.Quando me olho no espelho, o reflexo é um rosto marcado, cheio de cicatrizes de lutas que se acumulam. Um homem que está sempre cansado, com os punhos doendo e os olhos fundos de exaustão. Talvez seja por isso que nunca consigo um emprego decente. Meus currículos são rejeitados antes mesmo de serem lidos. Quem contrataria
KateDeus! O que estou fazendo? Não consigo suportar vê-lo assim, todo machucado, mas a ideia de ficar longe dele é ainda pior. Eu me sinto perdida, mas sei que o amo. Amo cada parte dele, mesmo quando ele tenta esconder essa vida dura de mim.Eu o abraço com força, como se o apertar contra mim pudesse curar todas as feridas.— Tudo bem, Daniel. Não vamos mais falar nisso. Eu não tenho planos de deixar seu mundo, então não se preocupe. Eu te amo.Ele me puxa para mais perto, suas mãos firmes segurando meu traseiro, e um sorriso lascivo se espalha pelo seu rosto. Fecho os olhos, tentando ordenar meus pensamentos. Saudade e dor se misturam, como duas correntes de um rio turbulento. Mas quando ele me beija, roubando meu fôlego, todo o resto desaparece. O desejo se acende em meu corpo como fogo em palha seca. Não penso em mais nada, apenas na urgência de senti-lo.— Vem, vamos para o quarto — ele sussurra contra minha pele, e eu mal consigo responder, minhas mãos já percorrendo suas costa
DanielEla está em meus braços, seu corpo nu quente pressionado contra o meu. Sua cabeça repousando sobre o meu peito. Ela traça minha tatuagem no meu peito, suspirando levemente. Eu também estou assim, me sinto pacífico agora que o desejo foi satisfeito e ao mesmo tempo agitado diante dos últimos acontecimentos.— Você já trouxe meninas para cá? — De repente, ela me pergunta.Eu abro os olhos e a encaro. Eu não consigo dizer que sou virgem. Sinto vergonha. Sempre se espera que um homem seja experiente. Isso explica a ausência da camisinha. Kate é a primeira mulher que tive relação sexual. Sempre trabalhei até a exaustão. E as garotas daqui nunca me interessaram.Ela fica tensa.—Oh, desculpe-me. Eu não quero saber...—Você é a primeira. —Digo sem muitas explicações. Melhor!—Sério?Eu aceno um sim, ela sorri. Eu amo seu sorriso. Parece tão errado ela aqui do meu lado. Tenho tão pouco a oferecer do muito que ela merece. Sem querer bocejo. Estou cansado, não dormi nada essa noite pensa