Willow
Dias antes...
Me levanto do sofá, arrumando a blusa. Por pouco ele não me deixa com os seios de fora.
Ele se esparra no sofá.
― Por que faz isso, babe? Sabe que te desejo. Estamos sozinhos aqui ― reclama frustrado.
Já tem um ano que estamos juntos e Ricardo ainda não entendeu.
― Você sabe. Conversamos sobre isso. Não vamos transar antes do casamento.
― Willow, você tem vinte e dois anos e age como uma menina de treze. É sexo, não é o fim do mundo.
― Eu prometi a ela e vou cumprir ― falo séria.
― Essa história de sexo só após o casamento para agradar mortos deve ser um pretexto pra me fazer casar logo ― reclama.
Não gosto quando Ricardo me olha assim, como se eu fosse uma jogadora tentando seduzi-lo. Ele sabia as minhas condições desde o momento em que me pediu em namoro.
― Vou fingir que não ouvi essa merda. ― Viro as costas e vou até o balcão pegar a água mineral que abri mais cedo.
Ele só bufa.
Sim, eu quero transar tanto quanto qualquer outra pessoa na minha idade. Mas prometi no leito de morte da minha mãe que só me entregaria depois do casamento. Ela sofreu muito para me criar sozinha depois de ter sido enganada pelo meu pai e abandonada grávida. Quando ela descobriu que era amante de um homem casado já era tarde demais, a barriga já aparecia sob a roupa. Por isso ela me fez prometer que esperaria até o casamento, só assim garantiria que eu não caísse na lábia de nenhum aproveitador como meu pai. Eu prometi. E não me arrependo. É difícil, mas não me arrependo.
Termino de beber a água e me viro para ele.
― Ricardo, se você pretende se casar comigo apenas para transar, devo dizer que está perdendo tempo. É um objetivo muito pequeno para tamanha responsabilidade.
Ele vem até a mim e me puxa de volta para o sofá.
― É claro que não! Eu te amo, ovelhinha. Venha aqui.
Eu vou e me sento em seu colo, fingindo não sentir a ereção. Ainda estou irritada por ele achar que sou de ferro e estou apenas me fazendo de difícil. Ricardo acha que não quero transar, só pode. E só pode estar louco também. Estou subindo pelas paredes há anos. Só que não posso ― e não vou ― quebrar a promessa que fiz.
― Não vamos brigar por isso outra vez. Estou cansada. Não vejo a hora de nos casarmos e resolver nossas briguinhas na cama. — Abraço seu pescoço e o beijo suavemente.
Dessa vez não briguei por ele me chamar de “ovelhinha”. Odeio esse apelido e não faço ideia de onde ele tirou.
― Eu também ― beija meu ombro.
― Você sabia onde estava se metendo quando nos conhecemos. Não reclama.
― Achei que estava brincando. Confesso.
― Estamos namorando há quase um ano. Acho que é tarde demais para se arrepender.
Ricardo começa a beijar e morder meu pescoço. Já sei que é mais uma tentativa de me seduzir. Não vai rolar.
― Preciso ir. Vou dormir mais cedo. Te falei que trabalho amanhã. ― Me afasto do seu toque.
Na verdade, praticamente não vou dormir. Tenho que dar aula em uma cidade vizinha e para isso sairei praticamente de madrugada.
Ricardo aperta minha coxa e me abraça.
― Dorme aqui, ovelhinha. Esse lugar é tão seu quanto meu. Não precisa mais ficar naquela pensão.
― Ainda não somos casados. Me sentiria mal em me enfiar na sua vida assim.
― Pois eu adoraria me enfiar na sua.
― Tarado! ― saio do seu colo rindo.
Ricardo não tem jeito.
Namoramos mais um pouquinho e ele me leva até o Brás, onde fica a pensão onde moro desde que minha mãe morreu há pouco mais de dois anos. Na época eu havia começado a faculdade de pedagogia. Minha vida virou um caos. Não bastava a dor de perder a pessoa mais importante da minha vida, ainda tive que lidar com gastos inesperados, ao ponto de ter que vender até nossos moveis e abandonar a casa onde cresci. Não havia a quem pedir ajuda, minha mãe nunca falou sobre seus parentes, e eu nem cheguei a conhecer meu pai.
Estava totalmente sozinha. E para piorar, ao ver minha situação o dono do imóvel decidiu me despejar. Foi graças ao estágio remunerado que consegui me manter na pensão para onde fui após ser despejada. Divido o quarto com outra garota desde então. Não tenho vergonha da minha vida, vou me reerguer. Assim que terminar a faculdade vou poder trabalhar em dois empregos e juntar dinheiro para financiar o meu cantinho. Esse era o plano, até conhecer Ricardo. Ele diz que como meu futuro marido sua obrigação é me sustentar. Claro que vou trabalhar e ajudar, mas é bom saber que tenho em quem me apoiar e dividir dores e alegrias.
Ricardo vem sendo meu apoio e melhor amigo. O conheci em um bar karaokê onde minhas colegas de pensão me arrastaram. Ele é quarentão, com corpo normal, um pouco mais alto que eu, e sei que mantem os cabelos pretos com tintura, mesmo que não confesse eu sei. É bonito ― nenhum deus grego, mas bonito ― e gosto muito dele, faz de tudo para me agradar.
Nós ficamos no carro quando nos conhecemos, ele insistiu, mesmo após eu ― sob efeito do álcool ― ter confessado que não pretendia transar antes do casamento. Não foi um FICAR, apenas nos beijamos e depois trocamos contatos. E assim estamos juntos até hoje, noivos.
Não sou burra de achar que ele é fiel nas condições que ofereço, mesmo que ele insista que sim, só deixei claro que depois do casamento não aceitarei que fique com mais ninguém. Serei a única na sua vida.
Depois de namorarmos um pouco, deixamos seu apartamento na Barra Funda e ele me leva para pensão. Ele diz que vamos morar no apartamento depois que nos casarmos. Tem apenas um quarto, sala conjugada com cozinha e um banheiro. Mas acho perfeito. É gigante perto do meu quarto na pensão. Ele quer que eu fique aqui mesmo quando viaja a negócios, mas não quero. Só vou morar com ele depois que nos casarmos e faço questão de ajudar nas despesas. É para isso que trabalho. Nunca viverei as custas de homem nenhum. Mesmo ele agindo como o melhor homem do mundo, ainda preciso da certeza que não vou passar por nada parecido com o furacão que me assolou nos dias seguintes a morte da minha amada mãe.
Na porta da pensão, em seu carro, nos despedimos com um beijo e ele volta para o apartamento.
E eu trato de dormir o mais rápido possível, pois levantarei em poucas horas para enfrentar aulas em uma escola onde nunca trabalhei.
RicardoDeixo Willow na porta da pensão, frustrado por ela não ceder.Antes de arrancar com o carro, vejo uma senhora encarando o interior do veículo. Paranoias já começam a surgir. Medo que minha mulher tenha mandado alguém me seguir. Tolice, já que a senhora que deixo para trás ao arrancar com o carro nada mais é que uma fofoqueira de bairro.Ainda assim está perigoso, preciso ter mais cuidado.Não sei mais por quanto tempo consigo levar essa relação com Willow. Karina já está desconfiada das minhas constantes reuniões depois do horário comercial. Minha sorte é que moramos em uma cidade mais afastada da capital ou é certo que já teria descoberto.Sei que estou colocando minha família em risco, mas não consigo me controlar. Eu quero Willow. Ela com essa história de sexo apenas depois do casamento só me deixa mais tarado e decidido a tê-la como minha amante. Para isso preciso que ela ceda uma única vez, depois disso ficará mais fácil de dobrá-la.Mais uma vez estou chegando em casa de
WillowAcordo às três e meia, me arrumo em meia hora e saio correndo para pegar o primeiro ônibus para uma cidade vizinha.É duas horas até lá e tenho que estar na escola às sete.Se tudo der certo, vou poder dar aula lá todos os sábados. Vai ser mais um dinheiro para ajudar no casamento e não precisar deixar tudo nas costas do Ricardo.Por isso farei o meu melhor. Nem contei para Ricardo. Minha mãe sempre falava que dá azar contar as coisas antes de acontecer, então só contarei depois de acontecer, depois que se torne oficial as minhas aulas.Fiz um coque para ficar o mais profissional possível e coloquei meu vestido cor de rosa. Ele é para trabalho mesmo, com a diferença que não me deixa com cara de professora chata para os alunos. Isso faz um contraste legal com o coque. Tenho que agradar alunos e colegas. Além de amar dar aulas para crianças, preciso do emprego, então não custa esforçar um pouco para agradar meus chefes e colegas.Logo que chego, cumprimento todos na sala dos prof
WillowAs revistas de vestidos de noiva riem da minha cara sobre a cômoda. Não que eu fosse usar um desses vestidos caríssimos, mas eu gostava de me imaginar caminhando em direção do altar com um deles, depois deixando que meu marido o tirasse de mim e me fizesse sua pela primeira vez. Algo que nunca vai acontecer, pelo menos não com Ricardo.Faz dias que descobri que meu noivo já é casado. Inclusive tem uma filha linda e inteligente. É difícil aceitar que fui enganada por todo esse tempo.Ricardo insistia sem parar. Com aquela história ridícula de que se divorciaria para ficar comigo. Nem respondo. Bloqueio todos os números que ele usa. Uma hora vai acabar os números que pode usar.Enquanto isso, o aguento sempre se fazendo presente. Eu amava esse miserável. Não vai ser de uma hora para outra que vou apagar os bons momentos grudados em mim, mesmo que cada um deles seja mentira. Meus planos de ter uma família continuam na minha cabeça, mesmo que agora seja só mais um motivo para me de
AlexandreFaz poucos minutos que cheguei e já estou cansado dessa boate. Pensei que seria interessante ter minha própria boate, mas não vejo nada de especial. Parece ser sempre as mesmas pessoas a frequentar. E as mais interessantes já provei, aqui mesmo nesse camarote. O lugar é reservado e consigo deixar as luzes do jeito que eu quiser, além de ter um lugar ainda mais reservado logo atrás. Apesar de que nem ligo se virem. Um showzinho para os clientes não faz mal. Aqui não é lugar para puritanos.Entediado, quase me levanto para encerrar a noite. É quando percebo um vestido prata entre os dançarinos bêbados na pista. É uma garota bonita, que nunca vi. Seus cabelos são como cascatas sobre suas costas. Quando ela se virava e a via de costas, instantaneamente tinha vontade de segurá-la pelos cabelos e puxar para mim.Pelo seu jeito, ela parece meio perdida. Não parece se encaixar no cenário.Exótico. E adoro coisas exóticas. Será ótimo ter uma coisa tão exótica como aquela mamando meu
WillowEstou indignada com Bia. Ela me chamou para vir aqui e simplesmente me abandonou. Eu até tentei me aproximar da turma que estava com ela, mas não consegui acompanhar a conversa sem inventar sobre ser o que não sou, e desisti de vez quando eles começaram a trocar “balas”. A única droga que entra nesse corpo é álcool.Ela não parecia confortável com isso, até a vi esconder a droga, fingindo que usou. Já disse o quanto Bia é estranha? Pois é, isso me deixou muito intrigada, porém decidir não me meter.Quando sai de perto da turma, ela nem se deu conta. Estava ocupada perguntando por uma pessoa desaparecida. Se eu pelo menos tivesse intimidade para perguntar qual a dela. Sou curiosa, mas nem tanto.Só sei que nunca mais aceito convite dela para nada, nem para boates caras. O ambiente é legal, mas não sou uma pessoa fácil de enturmar e ficar rodando sozinha por uma boate é bem chato, nem álcool ajuda.O homem misterioso que vi no tal camarote ainda parecia me olhar. Seria ilusão min
WillowEle vem para cima de mim e enquanto me envolve em um beijo gostoso e safado, até me esqueço de quem eu sou. Esse homem é perigoso. Estranhamente, com esse desconhecido eu não tenho tanto controle quanto tinha com Ricardo. Percebo isso ao literalmente esquecer onde estou e me entregar ao seu beijo safado.Sua língua começa a brincar com a minha, que logo se torna atrevida, querendo provocar nele o mesmo que provoca em mim. Quando morde o meu lábio, eu juro que tenho vontade de abrir sua calça, subir meu vestido e “sentar”. Sentar muito.― Que boca deliciosa! ― são suas palavras após o beijo, enquanto me encara.Eu estou prestes a sorrir e dizer que a dele é ainda mais, quando vejo seu segurança na entrada segurando o balde de champanhe. Ele estava esperando. Quanto tempo estávamos nos beijando? Perdi total a noção.Envergonhada, por sei lá qual motivo, sento direito consertando meu vestido para cobrir um pouco mais das minhas pernas.O dono da minha falta de lucidez faz um sinal
WillowAtrás da cortina é meio que parecido com a frente do camarote. Só que há apenas um sofá, onde cabe uma pessoa deitada, e uma mesa de centro. Sei que cabe uma pessoa deitada porque me imagino deitada ali com esse homem por cima ― ou por baixo. Imaginar não quebra promessas.Ele se senta, me levando junto para o seu colo, e coloca a garrafa sobre a mesa.― Levante ― diz com tom de ordem.― O que? ― pergunto levantando.― Ficará mais à vontade assim ― responde me fazendo sentar de pernas abertas em seu colo.Meu vestido sobe todo. Tento puxar, mas não adianta muita coisa.― Era assim que eu queria te sentir, só que menos tensa ― fala com um sorriso canalha.― Não estou acostumada a fazer essas coisas com desconhecidos ― confesso.― Serei seu primeiro? Ótimo, adoro ser pioneiro.Não será o primeiro porra nenhuma!Só beijos. Willow, você fez uma promessa.Pego a garrafa de champanhe e bebo direto nela. O que faz ele perceber que eu realmente estou tensa. Cadê o efeito do álcool quan
WillowEu dizia que não podíamos transar, mas não parava de deixar ele me tocar, de tocá-lo, deixava ele ir cada vez mais longe.Logo que ele percebe que desvirginou uma desconhecida, fica imóvel dentro de mim.― Porra! Por que não me disse que era virgem? — cobra.Me desespero ao pensar em minha mãe e na possibilidade de ficar grávida desse homem.― Preservativo... Pelo menos tinha que ter colocado ― minhas palavras saem confusas, assim como eu estou.― Eu coloquei. Não viu? ― ele fala. ― Você tem vinte e dois mesmo?― Tenho — respondo simplesmente, envergonhada porque realmente não vi. — Desculpa por não dizer. É que... eu... eu... — tento virar o rosto novamente, mas ele não permite, segurando seu queixo. — Eu achei que não aconteceria.Ele ri.— Não ria de mim — resmungo brava. — Já me basta essa dor do inferno.Para minha surpresa, ele para de rir.― Parei. A primeira vez é dolorosa mesmo. Dizem que muito.― Dói mais do que pensei ― confesso.O que eu faço agora? Saio correndo?E