Capítulo 4

Willow

As revistas de vestidos de noiva riem da minha cara sobre a cômoda. Não que eu fosse usar um desses vestidos caríssimos, mas eu gostava de me imaginar caminhando em direção do altar com um deles, depois deixando que meu marido o tirasse de mim e me fizesse sua pela primeira vez. Algo que nunca vai acontecer, pelo menos não com Ricardo.

Faz dias que descobri que meu noivo já é casado. Inclusive tem uma filha linda e inteligente. É difícil aceitar que fui enganada por todo esse tempo.

Ricardo insistia sem parar. Com aquela história ridícula de que se divorciaria para ficar comigo. Nem respondo. Bloqueio todos os números que ele usa. Uma hora vai acabar os números que pode usar.

Enquanto isso, o aguento sempre se fazendo presente. Eu amava esse miserável. Não vai ser de uma hora para outra que vou apagar os bons momentos grudados em mim, mesmo que cada um deles seja mentira. Meus planos de ter uma família continuam na minha cabeça, mesmo que agora seja só mais um motivo para me deixar mal.

Ah, ainda perdi a chance no trabalho por causa dele. A diretora me queria fixa todos os sábados, mas tive que recusar para não ter o risco de descobrirem e prejudicar minha carreira como professora, além disso não tenho condições de ver novamente a família dele.

Preciso de algo que me faça apagar ele da mente. Não existe mais chance para sermos um casal. Eu não aceitaria nem se ele se divorciasse. Esse tipo de mentira, não sei perdoar.

― Vai fazer o que hoje? ― Bia, uma das meninas da pensão, entra na cozinha onde eu estou fazendo um macarrão instantâneo e pensando nos últimos acontecimentos.

Todos nós dividíamos a mesma cozinha e alguns banheiros.

― Ler um livro sem nenhum romance e dormir — respondo.

Ela senta em uma cadeira diante de uma pequena mesa e já pega o celular.

― Nossa, que desamino em pleno sábado! Podia me fazer um favor. E de quebra se divertir ― propõem.

― Que favor? ― se for algo que envolve álcool estou tentada a aceitar. Sou super fraca para bebidas, porém ainda não extravasei de nenhuma forma o que o miserável do Ricardo fez comigo, preciso colocar para fora.

― Ganhei entrada com consumação em uma das boates mais caras de São Paulo e a Livia está com Covid. Bora? ― diz animada.

Livia é outra garota aqui da pensão. Ela é a que adora uma festa. As duas estão sempre saindo.

― Boate? ― É o lugar ideal, mas há um lado meu que quer ficar em casa sofrendo. ― Não sei se serei uma boa companhia.

― Companhia ruim é melhor que companhia nenhuma — ela brinca, logo em seguida me encara de forma séria. — Você parece mesmo triste há alguns dias, quer conversar?

— Obrigada, mas ainda não estou pronta para falar sobre isso.

— Quando estiver, pode contar comigo.

Apenas sorrio em resposta.

— E ai, topa a balada?

Penso bem e ignoro o lado que quer sofrer. Talvez eu até me divirta. Faz tempo que não saio para baladas, sempre ficando a disposição do Ricardo.

― Tá bom! Devo ter alguma roupa que presta.

― Eba! Vamos sair daqui umas onze da noite.

Combinamos, termino de fazer e comer meu macarrão, vou para o meu quarto e depois tomar banho. Dar uma caprichada no visual para levantar a autoestima.

Às onze e meia, com um vestido prata decotado e curto, cabelos soltos e uma maquiagem mais noturna que Bia fez, me vi em um lugar com pessoas animadas já na fila. Que não é pequena.

Na fachada se vê o nome Rodrigues em neon. Nome estranho para uma boate, mas é um lugar famoso, frequentado por pessoas com muito dinheiro. Jamais sonhei em entrar aqui, nem mesmo sabia que poderia ter entrada vip.

Bia está com um vestido vermelho e o cabelo escovado. Sorri para todos. Mais feliz que pinto no lixo. É uma negra linda. Daquelas que deviam estar em capas de revista. Confesso que gosto mais quando ela usa seus cachos, fica covardemente linda.

Sobre Bia, não temos muita intimidade, apenas a que acaba acontecendo por morarmos na mesma pensão. Eu acho ela um tanto misteriosa, como se analisasse tudo e todos enquanto se esconde atrás de um sorriso frívolo. Mas deve ser apenas coisa da minha imaginação, afinal eu nem tenho moral para procurar mistérios onde não tem, se eu fosse tão esperta assim não teria caído nas mentiras de Ricardo. Pensando bem, ele sempre deu sinais de que algo estava errado. Os finais de semana que não podia me ligar, evitar falar por telefone, quase sempre só trocávamos mensagens... Não, eu não vou por esse caminho. Não tinha como adivinhar e não vou ficar me cobrando. Estou aqui para me divertir e esquecer o traste traidor.

Depois de dez minutos, finalmente entramos.

Podíamos beber cerveja e alguns drinks específicos na nossa consumação gratuita que Bia ganhou. Comecei com um drink de gin.

Bia está animada. Fez amizades com algumas pessoas e logo esqueceu da minha existência. Não entendi muito bem o jeito como eles conversavam, agiam como se Bia fosse uma socialite, se em algum momento ela inventou isso me passou despercebido.

— Você é solteira? — um dos cara da turma pergunta no meu ouvido. É loiro e magro, usa roupas claras e tem uma expressão de compro tudo com o dinheiro da família. O típico filhinho de papai.

Já reparei nele, assim como nos outros dois e nas duas meninas com eles. Nenhum deles é interessante. São bonitos sim, porém não me empolga. Talvez por eu estar ainda sóbria e pensando no quanto fui enganada.

— Sou noiva — minto.

Ele só assente e se afasta, volta a conversar com os amigos. Se acreditou ou não, nem ligo.

— Bia, vou dar uma volta — aviso tentando sobrepor a música.

Ela assente e eu saio. Ao contrário dela, não tenho assunto para conversar com essas pessoas. Poderia mentir que sou de uma família rica... mas para que? No fim da noite estaríamos na pensão. Aquelas pessoas não mudariam isso.

Sozinha, logo eu estava tão perdida que só queria um lugar para sentar. Foi difícil chegar ao balcão atravessando o mar de gente suada na pista de dança.

Terminei meu drink e pedi outro do mesmo. Não quero perda total por álcool, mas preciso ficar bêbada e aproveitar a noite. Essa chance de estar aqui é única na vida de alguém como eu.

Para não parecer deslocada, peguei o drink e fui para o meio da pista. Algumas pessoas(homens) tentavam uma aproximação muitas vezes exageradamente ousada, mas eu ainda não estava bêbeda o suficiente para sequer sorrir para suas cantadas.

Enquanto me sentia deslocada na pista, a luz ofuscante desviou meu olhar para o único camarote do lugar, onde havia algumas poucas pessoas. Me fixei em um homem sentado em uma poltrona preta. Na minha cabeça pensei em piscar para ver se ele sumia. Era lindo demais para ser real. Estava um pouco distante e a luz da boate não era essas coisas, mas eu podia ver, até quase podia sentir o poder da sua beleza e de sua presença.

E... o mais estranho... ele parecia olhar para mim.

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