Willow
As revistas de vestidos de noiva riem da minha cara sobre a cômoda. Não que eu fosse usar um desses vestidos caríssimos, mas eu gostava de me imaginar caminhando em direção do altar com um deles, depois deixando que meu marido o tirasse de mim e me fizesse sua pela primeira vez. Algo que nunca vai acontecer, pelo menos não com Ricardo.
Faz dias que descobri que meu noivo já é casado. Inclusive tem uma filha linda e inteligente. É difícil aceitar que fui enganada por todo esse tempo.
Ricardo insistia sem parar. Com aquela história ridícula de que se divorciaria para ficar comigo. Nem respondo. Bloqueio todos os números que ele usa. Uma hora vai acabar os números que pode usar.
Enquanto isso, o aguento sempre se fazendo presente. Eu amava esse miserável. Não vai ser de uma hora para outra que vou apagar os bons momentos grudados em mim, mesmo que cada um deles seja mentira. Meus planos de ter uma família continuam na minha cabeça, mesmo que agora seja só mais um motivo para me deixar mal.
Ah, ainda perdi a chance no trabalho por causa dele. A diretora me queria fixa todos os sábados, mas tive que recusar para não ter o risco de descobrirem e prejudicar minha carreira como professora, além disso não tenho condições de ver novamente a família dele.
Preciso de algo que me faça apagar ele da mente. Não existe mais chance para sermos um casal. Eu não aceitaria nem se ele se divorciasse. Esse tipo de mentira, não sei perdoar.
― Vai fazer o que hoje? ― Bia, uma das meninas da pensão, entra na cozinha onde eu estou fazendo um macarrão instantâneo e pensando nos últimos acontecimentos.
Todos nós dividíamos a mesma cozinha e alguns banheiros.
― Ler um livro sem nenhum romance e dormir — respondo.
Ela senta em uma cadeira diante de uma pequena mesa e já pega o celular.
― Nossa, que desamino em pleno sábado! Podia me fazer um favor. E de quebra se divertir ― propõem.
― Que favor? ― se for algo que envolve álcool estou tentada a aceitar. Sou super fraca para bebidas, porém ainda não extravasei de nenhuma forma o que o miserável do Ricardo fez comigo, preciso colocar para fora.
― Ganhei entrada com consumação em uma das boates mais caras de São Paulo e a Livia está com Covid. Bora? ― diz animada.
Livia é outra garota aqui da pensão. Ela é a que adora uma festa. As duas estão sempre saindo.
― Boate? ― É o lugar ideal, mas há um lado meu que quer ficar em casa sofrendo. ― Não sei se serei uma boa companhia.
― Companhia ruim é melhor que companhia nenhuma — ela brinca, logo em seguida me encara de forma séria. — Você parece mesmo triste há alguns dias, quer conversar?
— Obrigada, mas ainda não estou pronta para falar sobre isso.
— Quando estiver, pode contar comigo.
Apenas sorrio em resposta.
— E ai, topa a balada?
Penso bem e ignoro o lado que quer sofrer. Talvez eu até me divirta. Faz tempo que não saio para baladas, sempre ficando a disposição do Ricardo.
― Tá bom! Devo ter alguma roupa que presta.
― Eba! Vamos sair daqui umas onze da noite.
Combinamos, termino de fazer e comer meu macarrão, vou para o meu quarto e depois tomar banho. Dar uma caprichada no visual para levantar a autoestima.
Às onze e meia, com um vestido prata decotado e curto, cabelos soltos e uma maquiagem mais noturna que Bia fez, me vi em um lugar com pessoas animadas já na fila. Que não é pequena.
Na fachada se vê o nome Rodrigues em neon. Nome estranho para uma boate, mas é um lugar famoso, frequentado por pessoas com muito dinheiro. Jamais sonhei em entrar aqui, nem mesmo sabia que poderia ter entrada vip.
Bia está com um vestido vermelho e o cabelo escovado. Sorri para todos. Mais feliz que pinto no lixo. É uma negra linda. Daquelas que deviam estar em capas de revista. Confesso que gosto mais quando ela usa seus cachos, fica covardemente linda.
Sobre Bia, não temos muita intimidade, apenas a que acaba acontecendo por morarmos na mesma pensão. Eu acho ela um tanto misteriosa, como se analisasse tudo e todos enquanto se esconde atrás de um sorriso frívolo. Mas deve ser apenas coisa da minha imaginação, afinal eu nem tenho moral para procurar mistérios onde não tem, se eu fosse tão esperta assim não teria caído nas mentiras de Ricardo. Pensando bem, ele sempre deu sinais de que algo estava errado. Os finais de semana que não podia me ligar, evitar falar por telefone, quase sempre só trocávamos mensagens... Não, eu não vou por esse caminho. Não tinha como adivinhar e não vou ficar me cobrando. Estou aqui para me divertir e esquecer o traste traidor.
Depois de dez minutos, finalmente entramos.
Podíamos beber cerveja e alguns drinks específicos na nossa consumação gratuita que Bia ganhou. Comecei com um drink de gin.
Bia está animada. Fez amizades com algumas pessoas e logo esqueceu da minha existência. Não entendi muito bem o jeito como eles conversavam, agiam como se Bia fosse uma socialite, se em algum momento ela inventou isso me passou despercebido.
— Você é solteira? — um dos cara da turma pergunta no meu ouvido. É loiro e magro, usa roupas claras e tem uma expressão de compro tudo com o dinheiro da família. O típico filhinho de papai.
Já reparei nele, assim como nos outros dois e nas duas meninas com eles. Nenhum deles é interessante. São bonitos sim, porém não me empolga. Talvez por eu estar ainda sóbria e pensando no quanto fui enganada.
— Sou noiva — minto.
Ele só assente e se afasta, volta a conversar com os amigos. Se acreditou ou não, nem ligo.
— Bia, vou dar uma volta — aviso tentando sobrepor a música.
Ela assente e eu saio. Ao contrário dela, não tenho assunto para conversar com essas pessoas. Poderia mentir que sou de uma família rica... mas para que? No fim da noite estaríamos na pensão. Aquelas pessoas não mudariam isso.
Sozinha, logo eu estava tão perdida que só queria um lugar para sentar. Foi difícil chegar ao balcão atravessando o mar de gente suada na pista de dança.
Terminei meu drink e pedi outro do mesmo. Não quero perda total por álcool, mas preciso ficar bêbada e aproveitar a noite. Essa chance de estar aqui é única na vida de alguém como eu.
Para não parecer deslocada, peguei o drink e fui para o meio da pista. Algumas pessoas(homens) tentavam uma aproximação muitas vezes exageradamente ousada, mas eu ainda não estava bêbeda o suficiente para sequer sorrir para suas cantadas.
Enquanto me sentia deslocada na pista, a luz ofuscante desviou meu olhar para o único camarote do lugar, onde havia algumas poucas pessoas. Me fixei em um homem sentado em uma poltrona preta. Na minha cabeça pensei em piscar para ver se ele sumia. Era lindo demais para ser real. Estava um pouco distante e a luz da boate não era essas coisas, mas eu podia ver, até quase podia sentir o poder da sua beleza e de sua presença.
E... o mais estranho... ele parecia olhar para mim.
AlexandreFaz poucos minutos que cheguei e já estou cansado dessa boate. Pensei que seria interessante ter minha própria boate, mas não vejo nada de especial. Parece ser sempre as mesmas pessoas a frequentar. E as mais interessantes já provei, aqui mesmo nesse camarote. O lugar é reservado e consigo deixar as luzes do jeito que eu quiser, além de ter um lugar ainda mais reservado logo atrás. Apesar de que nem ligo se virem. Um showzinho para os clientes não faz mal. Aqui não é lugar para puritanos.Entediado, quase me levanto para encerrar a noite. É quando percebo um vestido prata entre os dançarinos bêbados na pista. É uma garota bonita, que nunca vi. Seus cabelos são como cascatas sobre suas costas. Quando ela se virava e a via de costas, instantaneamente tinha vontade de segurá-la pelos cabelos e puxar para mim.Pelo seu jeito, ela parece meio perdida. Não parece se encaixar no cenário.Exótico. E adoro coisas exóticas. Será ótimo ter uma coisa tão exótica como aquela mamando meu
WillowEstou indignada com Bia. Ela me chamou para vir aqui e simplesmente me abandonou. Eu até tentei me aproximar da turma que estava com ela, mas não consegui acompanhar a conversa sem inventar sobre ser o que não sou, e desisti de vez quando eles começaram a trocar “balas”. A única droga que entra nesse corpo é álcool.Ela não parecia confortável com isso, até a vi esconder a droga, fingindo que usou. Já disse o quanto Bia é estranha? Pois é, isso me deixou muito intrigada, porém decidir não me meter.Quando sai de perto da turma, ela nem se deu conta. Estava ocupada perguntando por uma pessoa desaparecida. Se eu pelo menos tivesse intimidade para perguntar qual a dela. Sou curiosa, mas nem tanto.Só sei que nunca mais aceito convite dela para nada, nem para boates caras. O ambiente é legal, mas não sou uma pessoa fácil de enturmar e ficar rodando sozinha por uma boate é bem chato, nem álcool ajuda.O homem misterioso que vi no tal camarote ainda parecia me olhar. Seria ilusão min
WillowEle vem para cima de mim e enquanto me envolve em um beijo gostoso e safado, até me esqueço de quem eu sou. Esse homem é perigoso. Estranhamente, com esse desconhecido eu não tenho tanto controle quanto tinha com Ricardo. Percebo isso ao literalmente esquecer onde estou e me entregar ao seu beijo safado.Sua língua começa a brincar com a minha, que logo se torna atrevida, querendo provocar nele o mesmo que provoca em mim. Quando morde o meu lábio, eu juro que tenho vontade de abrir sua calça, subir meu vestido e “sentar”. Sentar muito.― Que boca deliciosa! ― são suas palavras após o beijo, enquanto me encara.Eu estou prestes a sorrir e dizer que a dele é ainda mais, quando vejo seu segurança na entrada segurando o balde de champanhe. Ele estava esperando. Quanto tempo estávamos nos beijando? Perdi total a noção.Envergonhada, por sei lá qual motivo, sento direito consertando meu vestido para cobrir um pouco mais das minhas pernas.O dono da minha falta de lucidez faz um sinal
WillowAtrás da cortina é meio que parecido com a frente do camarote. Só que há apenas um sofá, onde cabe uma pessoa deitada, e uma mesa de centro. Sei que cabe uma pessoa deitada porque me imagino deitada ali com esse homem por cima ― ou por baixo. Imaginar não quebra promessas.Ele se senta, me levando junto para o seu colo, e coloca a garrafa sobre a mesa.― Levante ― diz com tom de ordem.― O que? ― pergunto levantando.― Ficará mais à vontade assim ― responde me fazendo sentar de pernas abertas em seu colo.Meu vestido sobe todo. Tento puxar, mas não adianta muita coisa.― Era assim que eu queria te sentir, só que menos tensa ― fala com um sorriso canalha.― Não estou acostumada a fazer essas coisas com desconhecidos ― confesso.― Serei seu primeiro? Ótimo, adoro ser pioneiro.Não será o primeiro porra nenhuma!Só beijos. Willow, você fez uma promessa.Pego a garrafa de champanhe e bebo direto nela. O que faz ele perceber que eu realmente estou tensa. Cadê o efeito do álcool quan
WillowEu dizia que não podíamos transar, mas não parava de deixar ele me tocar, de tocá-lo, deixava ele ir cada vez mais longe.Logo que ele percebe que desvirginou uma desconhecida, fica imóvel dentro de mim.― Porra! Por que não me disse que era virgem? — cobra.Me desespero ao pensar em minha mãe e na possibilidade de ficar grávida desse homem.― Preservativo... Pelo menos tinha que ter colocado ― minhas palavras saem confusas, assim como eu estou.― Eu coloquei. Não viu? ― ele fala. ― Você tem vinte e dois mesmo?― Tenho — respondo simplesmente, envergonhada porque realmente não vi. — Desculpa por não dizer. É que... eu... eu... — tento virar o rosto novamente, mas ele não permite, segurando seu queixo. — Eu achei que não aconteceria.Ele ri.— Não ria de mim — resmungo brava. — Já me basta essa dor do inferno.Para minha surpresa, ele para de rir.― Parei. A primeira vez é dolorosa mesmo. Dizem que muito.― Dói mais do que pensei ― confesso.O que eu faço agora? Saio correndo?E
Willow Sentada nesse carro luxuoso, sem calcinha, suja do meu sangue e da porra dele, livre da sua hipnose, começo a me sentir uma prostituta descartada depois do sexo. Minha mente faz uma retrospectiva de tudo que aconteceu hoje.Droga, eu senti aquela coisa quente derramando dentro de mim, mas eram tantas sensações que nem consegui me concentrar. Sem contar a dor.Juro que nem vi a hora em que ele colocou o preservativo. O pior foi passar por aquelas pessoas imaginando que podem ter ouvido o meu grito quando fui literalmente rasgada pelo pau monstruoso daquele homem. Não, o pior foi ter quebrado a promessa. E de forma tão vulgar. Como pude levar aquilo até onde chegou? Na hora me pareceu tão urgente sentir aquele homem, tudo que ele me oferecia. Agora só me sinto fria e vazia, usada. E nem posso colocar a culpa nele. Eu deixei que fosse longe demais para parar. Ele não me obrigou a nada.Me perdoe, mamãe. Ele foi tão gentil enquanto me tinha. Não se preocupou só com ele, como já
WillowQuanto mais perto dos fins das aulas, mas agitado fica tudo. O colégio está uma loucura. Nem mesmo tive tempo de pensar no tal Alexandre, o homem misterioso da boate. Só a noite os sonhos eróticos com ele me faziam acordar de madrugada com tanto desejo que precisava me masturbar para conseguir voltar a dormir. Não entendo esse efeito todo quando foi uma primeira vez extremamente dolorosa.No dia seguinte a aventura na boate, Bia quis falar sobre me ver no camarote, mas desconversei. Ela aceitou bem. Não insistiu.Se passaram quinze dias daquela noite e ainda sonho com aquele homem. Só que no meu sonho o sexo não dói. É tanto prazer que às vezes tenho medo de estar fazendo barulho enquanto sonho. Só falta o pessoal da pensão achar que estou trazendo homens e transando no quarto. Às vezes me arrependo de não ter pego o telefone daquele homem. Quando o tesão falta me enlouquecer, me arrependo muito. Acabo resolvendo sozinha.Até sai com algumas colegas do trabalho para ver se conh
Alexandre“Encontrado morto o senador Lucas Moscovis.”Esse é o título da notícia.Na tela da televisão, uma repórter fala:“O senador foi encontrado morto em sua cobertura hoje de manhã. Segundo os legistas, o motivo da morte foi um ataque cardíaco fulminante. O senador vinha sendo investigado por várias fraudes com o dinheiro público e sofria pressão para deixar o partido. Devido a seu histórico cardíaco, acredita-se que a pressão levou ao ataque. Notícias completas em nosso jornal logo após a novela Caminho para um sonho.”Me sento ouvindo, com minha caneca de café na mão. Excelente notícia para começar o dia.Adoro quando é político. Tem que haver muita deliberação, pesar prós e contras, analisar cada detalhe. Mas é por isso que tenho os melhores profissionais.― Senhor Rodrigues, seus irmãos vieram fazer uma visita. ― Minha governanta avisa tirando a minha atenção da notícia sobre eu ter mais um cliente satisfeito.― Obrigado, Nina ― falo, e senhora baixinha e rechonchuda de cabe