AlexandreFlashes do passado...Hoje completa exatos três meses que meus pais saíram de casa sem dizer para onde iriam e não voltaram. No começo eu fiquei feliz com a ausência, cansado de apanhar e de ter que pedir dinheiro na rua para sustentar o álcool deles.Depois que as coisas acabaram dentro de casa, voltei a fazer o que fazia todos os dias: pedir dinheiro na rua. Só que dessa vez sobrava para mim, eu podia comer e beber em paz sem apanhar por qualquer coisa.Comecei a gostar da ausência deles. Eu tinha a casa só para mim. Um cômodo com banheiro só meu e todo o dinheiro que eu pedia era gasto comigo.Ainda ia para a escola todos os dias, porque não queria ficar burro.Às vezes me perguntava se eles ― onde quer que estivessem ― ainda usavam o dinheiro que o governo dava por sermos pobres, já que eu não tinha idade para sacar e muito menos os dados.Assim os dias passavam.Estava contando o meu dinheiro que ganhei no dia quando bateram na porta. Abri e encontrei dois homens vestid
WillowComo não existe nenhum milagre que possa me desengravidar, comecei a correr atrás de resolver minha vida. Receberia algumas parcelas do seguro-desemprego, mas não duraria para sempre então é procurar emprego. Até descobri que podia procurar judicialmente voltar a escola pelo fato de estar grávida, porém optei por não fazer. Será um ambiente péssimo se voltar assim. E há muitas escolas onde posso trabalhar. Felizmente tenho muitos contatos.Enviei alguns currículos e entrei em contato com alguns colegas da área. A cada dez minutos olhava meu e-mail e meu WhatsApp ansiosa por uma resposta positiva.Uma semana se passou e todos que responderam foi só lamentando e desejando boa sorte. Comecei a me arrepender de não ter brigado pelo meu emprego. Sorte é bom, mas eu também precisava de um trabalho, de preferência com todos os benefícios por causa da gravidez.Por fim recebi um convite para uma entrevista em uma escola particular em Osasco, graças a indicação de uma colega. Finalmente
WillowPara minha alegria, a diretora da escola adorou meu currículo e adorou a forma como me apresentei.― Estou encantada com seu carinho com os alunos. ― É o seu veredicto.― Obrigada! Eu amo ser professora. ― Sorrio em agradecimento.― Preciso apenas conversar com o conselho dos pais e professores ― informa.― Da minha parte pode ter certeza de que já está aprovada. ― O representante dos pais, que também está presente na entrevista, faz meu sorriso crescer com suas palavras.― No máximo em duas semanas te daremos retorno, mas pode ir preparando a documentação.Saio da escola saltitando. Estou tão feliz que fica até mais fácil enfrentar os olhares das pessoas na pensão depois do barraco na porta do lugar.― Tudo bem, Willow? Soube que foi atacada aqui na porta. ― Bia tenta puxar assunto.― Estou sim. Era um homem que me persegue e a mulher ciumenta dele. Espero que me deixem em paz ― respondo.A pensão não é um ambiente onde eu tenha amigos. Sem contar que em breve terei que me mu
Willow― Me recordo que transamos algum tempo atrás.Fico olhando para ele por alguns segundos, admirada que fale tão abertamente diante de sua secretária e que me reconhecesse. Pois eu acho que não o reconheceria tão facilmente na rua. Ser tão lindo quanto naquela noite não é bem uma referência. Eu lembro dos seus olhos me encarando, mas agora posso ver o quão belos são, de um castanho intenso. O rosto másculo, os lábios um pouco grossos.Como se interpretasse minha expressão, ele diz:― Tenho facilidade em absorver imagens, principalmente rostos. ― Se levanta e anda um pouco, se escorando na mesa. ― Só não sei ainda o que te dá o direito de entrar na minha sala assim. ― O tom de voz baixo me faz recordar de outras palavras, de outro momento.A maldita secretária quebra o encanto entrando na sala como se eu fosse um homem bomba próximo a explodir seu mestre.― Desculpe por vir assim ― peço olhando para ele. ― Eu não tinha seu telefone e nem como conseguir marcar um horário. ― Me viro
AlexandreEstou tendo uma semana péssima. Um dos meus assassinos deixou uma vítima escapar e agora estamos com nosso anonimato por um tris. Ninguém consegue achar o miserável. Até pensei em voltar na boate e viver uma nova aventura gostosa como a última. Pensei até em procurar Willow para descarregar nela toda tensão e lhe mostrar mais algumas coisas do mundo que ela ainda não conhecia. Afinal não realizei o desejo de ter sua boquinha gostosa no meu pau. Não paro de pensar nisso desde aquela noite.E do nada, ela me aparece na minha empresa dizendo que está grávida de um filho meu e pedindo um emprego. Será que acha que sou burro?― Não estou falando sério, Willow. Você sabe muito bem as implicações da paternidade no Brasil. Você vai tirar esse feto ― ordeno.― Só por cima do meu cadáver ― ela levanta o queixo me desafiando. Se não fosse um assunto tão sério, eu a colocaria no meu colo e a castigaria por sua ousadia com muitos tapas em sua bunda redonda. ― Não me dê ideias. Posso ac
Willow“Você vai tirar esse feto.”“Não me dê ideias.”“Você não vai embora assim depois de aparecer dizendo estar grávida.”Cada palavra que saia da boca desse homem me deixava um pouco mais apavorada. Me lembrei dos seguranças na boate, de como pareciam assustadores. Isso me fez pensar no quão fácil seria para ele desaparecer comigo e com meu bebê.Por que eu vim aqui? Posso ter nos sentenciado a morte.Todo trabalho que tive para entrar nessa empresa e agora só quero sair. Eu faria o que ele quisesse, sumiria, assinaria qualquer papel se nos deixasse em paz.Ele riu quando pedi que não me matasse. Mas se pensa que isso me tranquilizou, se engana.Ele disse que me procuraria quando decidisse o que faria comigo, depois disse que não era um assassino.A única palavra que ficou na minha cabeça foi assassino.Sai da empresa quase correndo, olhando para trás e para os lados. Todos pareciam me olhar pelo caminho.Por fim, cheguei em casa e me joguei na cama. Mas me levantei. Não seria fic
AlexandreEm menos de vinte e quatro horas tive mais informações sobre Willow do que gostaria de saber.Recebo a ligação e meu primo descreve:― A moça tem vinte e dois anos. O pai é desconhecido e a mãe morreu há poucos anos. Vive em um quarto de pensão no Brás e está desempregada. Sua profissão é como professora, mas hoje fez uma entrevista de emprego para trabalhar com atendimento de telemarketing. ― Ele fala pausadamente e sem parar. Se eu quiser mais detalhes de algo o costume é perguntar depois. ― Como se trata de um golpe de gravidez, fui atrás de confirmar. Está grávida de menos de um mês. Ao que tudo indica, caso não seja do senhor, pode ser de um tal de Ricardo, um pai de uma aluna com o qual ela teve um relacionamento mesmo ele sendo casado. Ainda não tenho detalhes do relacionamento ou quanto tempo durou. É isso por enquanto. Continuo investigando?― Não precisa, primo. É o bastante. Obrigado.Uma amante? Se essa garota estiver me empurrando o filho de um homem casado, eu
WillowMenti que o filho era de Ricardo. É melhor evitar problemas. Nem a tentação de uma casa só minha e uma pensão me fez voltar atrás. Esse homem falou em aborto mais de uma vez. Ele não quer ser pai, só quer seguir a lei ou talvez só queira a chance de me ludibriar para conseguir um aborto. Nenhuma das opções me agrada.O que me agradou é saber que tenho um emprego garantido. Vou esperar a resposta da entrevista de telemarketing, se for positiva nem piso mais naquela empresa, se for negativa fico lá até me resolver.Foi o que fiz; esperei. Mais dois dias após a data combinada e nada de resposta nem mesmo para dizer que não passei.Eu me inscrevi em mais de trinta vagas e nenhuma me deu uma resposta positiva. Antes de perder o emprego garantido como faxineira, me armei de coragem e fui até a empresa de Alexandre.Por sorte não o vi. A mulher que ele me pediu para procurar me deixou na mão de outras três que me ensinaram basicamente como funciona o trabalho.No dia seguinte, eu come