Willow
Acordo às três e meia, me arrumo em meia hora e saio correndo para pegar o primeiro ônibus para uma cidade vizinha.
É duas horas até lá e tenho que estar na escola às sete.
Se tudo der certo, vou poder dar aula lá todos os sábados. Vai ser mais um dinheiro para ajudar no casamento e não precisar deixar tudo nas costas do Ricardo.
Por isso farei o meu melhor. Nem contei para Ricardo. Minha mãe sempre falava que dá azar contar as coisas antes de acontecer, então só contarei depois de acontecer, depois que se torne oficial as minhas aulas.
Fiz um coque para ficar o mais profissional possível e coloquei meu vestido cor de rosa. Ele é para trabalho mesmo, com a diferença que não me deixa com cara de professora chata para os alunos. Isso faz um contraste legal com o coque. Tenho que agradar alunos e colegas. Além de amar dar aulas para crianças, preciso do emprego, então não custa esforçar um pouco para agradar meus chefes e colegas.
Logo que chego, cumprimento todos na sala dos professores. Todos são amáveis, isso já me deixa mais tranquila. A diretora me leva até a minha sala e fico esperando os alunos que começam às 07:30.
A turma é de alunos entre seis e sete anos. Como já havia programado com a diretora, assim que todos chegam, distribuo os materiais e ensino os alunos a fazer cofrinhos em forma de animais com garrafas pet.
Para minha alegria, eles adoram. Nem vejo o tempo passar.
No fim da aula, tenho certa dificuldade em convencê-los a deixar suas criações na escola até a comemoração de Natal. Todos eles querem levar para casa para mostrar aos pais.
Depois que os convenço e eles se vão, fico distraída organizando os cofres. É quando sinto um puxão no meu vestido. Logo uma voz infantil se faz ouvir.
― Professora, posso mostrar meu cofre de bichinho aos meus pais?
Me viro para a menina com um sorriso no rosto e um sonoro sim. Mas meu sorriso some aos ver o casal com ela.
― Ricardo? ― o nome sai como uma pergunta da minha boca.
Na verdade, várias perguntas. O que está acontecendo? Por quê? Como?
― Conhece o meu marido? ― a mulher loira pergunta com desconfiança no olhar.
Ricardo me olha com os olhos arregalados. Eu vejo pavor neles. Medo de que eu dizer a essa mulher que além de seu marido ele é meu noivo, que a porra do anel na minha mão foi ele quem deu.
Mas eu não posso fazer isso sem destruir a minha vida sendo taxada de amante, enquanto essa família continuaria seguindo seu caminho. Sem contar que essa criança ― que ainda espera ansiosa pelo que criou mais cedo ― seria a mais prejudicada entre eles. Em fração de segundos minha mente soma as consequências de enfiar a mão na cara do desgraçado a minha frente.
Abro a boca sem nem saber o que responder, mas o desgraçado é mais rápido.
― Senhorita Fernandes? Não sabia que dava aula nessa escola. ― Se vira para a mulher ao seu lado. ― Amor, vendi um dos planos para ela.
Amor. Ele a chamou de amor. Essa merda de palavra confirma o que já estava mais que claro; fui amante desse desgraçado por todo esse tempo.
― Sim, foi isso. Me vendeu planos. ― Não suporto mais a presença desses dois. Me viro e pego o cofre em forma de porquinho. ― Tome, querida. Pode mostrar aos seus pais.
― Obrigada! — a pequena agradece com um sorriso.
― Se me derem licença. Tenho que ir à secretaria.
Sem esperar resposta, pego minha bolsa e saio da sala.
Não vou para a secretaria. Saio da escola e vou direto ao ponto do ônibus. Nunca mais volto a esse lugar. Não existe chance que eu fique ensinando a filha do homem que me enganou por quase um ano.
Me sento no fundo do ônibus e choro pelas quase duas horas em que passo nele.
Todos os meus planos idiotas de um casamento simples, de uma primeira vez inesquecível, de uma vida de casal... Ele já tinha tudo isso.
E agora?
Terei que recomeçar. Abrir meu coração outra vez, mesmo com medo de ser machucado novamente. Essa história de passar um tempo comigo mesma já está me deixando louca. Eu não vou achar alguém para casar de um dia para o outro. E quero desesperadamente descarregar minha frustração em sexo. Ando cada dia mais desesperada por transar. E agora minha esperança se foi.
Se eu não posso me vestir como mulher fatal e me vingar nos braços de outro, que merda posso fazer com toda essa decepção dentro de mim?
Mãe, é muito difícil cumprir essa promessa. A senhora não devia ter morrido. Sinto tanto a falta dos seus conselhos e do seu amor.
Choro. Simplesmente choro. É tudo que posso fazer.
Ricardo
Que inferno!
Por que Willow estaria dando aula no sábado e na escola da minha filha?
Claro, ela me falou alguma coisa sobre trabalhar, mas eu estava mais concentrado em tentar tirar sua roupa que ouvir sobre seu trabalho chato de professora.
Eu queria dizer a ela que a amava, mas não faria isso na frente da minha mulher e filha. Tive que fingir que ela não era nada para mim. Mentir que era uma cliente. Pude ver a decepção em seu olhar, a raiva, a mágoa.
Preciso resolver isso. Não pode acabar sem ela ser minha.
Esperei até segunda-feira e sai do trabalho direto para a pensão. Onde parei o carro na porta e mandei uma mensagem.
Ricardo: “Willow, saia. Estou te esperando na porta.”
Não houve resposta por dez minutos.
Mandei outra mensagem.
Ricardo: “Saia ou vou começar a buzinar e fazer escândalo.”
Ai veio a resposta.
Willow: “Faz. Talvez assim chame a atenção da sua esposa.”
Ricardo: “Quero te explicar.”
Willow: “Não há nada para explicar. Vá embora!”
Ricardo: “Vou te esperar.”
Ela não respondeu mais. Esperei por duas horas. Como tinha que voltar para casa, decidi sair do trabalho mais cedo no dia seguinte e esperar ela voltar da escola no horário de sempre.
Foi o que fiz. Estou estacionado em sua porta há vários minutos.
Quando penso em desistir, a vejo se aproximando, com sua pasta e sua bolsa, o terninho creme e o rabo de cavalo. Linda como sempre. Adoro seus cabelos castanhos e volumosos, suas curvas suaves e seios pequenos. Tão perfeita! Não posso abrir mão dela assim.
Ela vem de cabeça baixa, por isso não reconhece meu carro.
Abro a porta e a espero.
― Precisamos conversar. ― Seguro seu braço assim que se aproxima.
Ela me encara com seus olhos cor de mel faiscando ódio.
― Não temos nada para conversar. Se quer o anel de volta vai procurar no esgoto porque dei descarga naquela merda ― fala alto o bastante para chamar a atenção de quem estava próximo.
― As pessoas estão olhando ― alerto. Não quero um escândalo. Se chegar até Karina eu estou ferrado.
― E daí? Não tem ninguém aqui que vai perder o sono por descobrir que a idiota aqui foi amante por quase um ano sem saber. E que amante, hein?! ― ri e limpa os olhos impedindo as lágrimas de descerem. ― Nem sexo teve. Patético!
― Eu te amo. Vou ficar com você. Só preciso de um tempo para resolver minha vida.
― Típica fala de cafajeste. Só tem um erro nesse seu plano, Ricardo, eu não vou quebrar a promessa que fiz a minha mãe. Teria que se casar comigo para ter sexo. Ou seja, a história de ter uma amante não daria certo no seu plano.
― Se eu esperei esse tempo todo é porque te amo ― insisto.
Ela ri com amargura. Nunca a tinha visto assim. Parece outra mulher. Não tem mais o brilho em seus olhos, a expressão serena que a seguia mesmo quando falava dos seus problemas financeiros ou da morte de sua mãe.
― Não. Você tem esperança de me fazer mudar de ideia e não quer largar o osso. Tenho uma novidade para você; o osso te largou.
― Willow, por favor...
Ela puxa o braço que eu segurava.
― Se afaste de mim. Nunca mais vai conseguir nem um bom dia meu. Minha maior alegria é saber que vai sair dessa traição sem ter conseguido o que queria, o que insistia para ter todas as vezes que nos encontrávamos. Porque era só sexo que você queria. Só desejava me comer, descartar e voltar pra sua família.
― Já disse que quero mais que sexo. ― Aumento o tom de voz, irritado, e logo me arrependo. Nada de escândalos.
― Não vai ter é nada. Me deixe em paz. ― Ela começa a ir em direção a pensão sem olhar para trás.
Penso em seguir, mas há pessoas olhando a nossa cena. Decido ir embora e insistir de outra forma.
Ela vai ser minha. Não existe chance de não ser.
WillowAs revistas de vestidos de noiva riem da minha cara sobre a cômoda. Não que eu fosse usar um desses vestidos caríssimos, mas eu gostava de me imaginar caminhando em direção do altar com um deles, depois deixando que meu marido o tirasse de mim e me fizesse sua pela primeira vez. Algo que nunca vai acontecer, pelo menos não com Ricardo.Faz dias que descobri que meu noivo já é casado. Inclusive tem uma filha linda e inteligente. É difícil aceitar que fui enganada por todo esse tempo.Ricardo insistia sem parar. Com aquela história ridícula de que se divorciaria para ficar comigo. Nem respondo. Bloqueio todos os números que ele usa. Uma hora vai acabar os números que pode usar.Enquanto isso, o aguento sempre se fazendo presente. Eu amava esse miserável. Não vai ser de uma hora para outra que vou apagar os bons momentos grudados em mim, mesmo que cada um deles seja mentira. Meus planos de ter uma família continuam na minha cabeça, mesmo que agora seja só mais um motivo para me de
AlexandreFaz poucos minutos que cheguei e já estou cansado dessa boate. Pensei que seria interessante ter minha própria boate, mas não vejo nada de especial. Parece ser sempre as mesmas pessoas a frequentar. E as mais interessantes já provei, aqui mesmo nesse camarote. O lugar é reservado e consigo deixar as luzes do jeito que eu quiser, além de ter um lugar ainda mais reservado logo atrás. Apesar de que nem ligo se virem. Um showzinho para os clientes não faz mal. Aqui não é lugar para puritanos.Entediado, quase me levanto para encerrar a noite. É quando percebo um vestido prata entre os dançarinos bêbados na pista. É uma garota bonita, que nunca vi. Seus cabelos são como cascatas sobre suas costas. Quando ela se virava e a via de costas, instantaneamente tinha vontade de segurá-la pelos cabelos e puxar para mim.Pelo seu jeito, ela parece meio perdida. Não parece se encaixar no cenário.Exótico. E adoro coisas exóticas. Será ótimo ter uma coisa tão exótica como aquela mamando meu
WillowEstou indignada com Bia. Ela me chamou para vir aqui e simplesmente me abandonou. Eu até tentei me aproximar da turma que estava com ela, mas não consegui acompanhar a conversa sem inventar sobre ser o que não sou, e desisti de vez quando eles começaram a trocar “balas”. A única droga que entra nesse corpo é álcool.Ela não parecia confortável com isso, até a vi esconder a droga, fingindo que usou. Já disse o quanto Bia é estranha? Pois é, isso me deixou muito intrigada, porém decidir não me meter.Quando sai de perto da turma, ela nem se deu conta. Estava ocupada perguntando por uma pessoa desaparecida. Se eu pelo menos tivesse intimidade para perguntar qual a dela. Sou curiosa, mas nem tanto.Só sei que nunca mais aceito convite dela para nada, nem para boates caras. O ambiente é legal, mas não sou uma pessoa fácil de enturmar e ficar rodando sozinha por uma boate é bem chato, nem álcool ajuda.O homem misterioso que vi no tal camarote ainda parecia me olhar. Seria ilusão min
WillowEle vem para cima de mim e enquanto me envolve em um beijo gostoso e safado, até me esqueço de quem eu sou. Esse homem é perigoso. Estranhamente, com esse desconhecido eu não tenho tanto controle quanto tinha com Ricardo. Percebo isso ao literalmente esquecer onde estou e me entregar ao seu beijo safado.Sua língua começa a brincar com a minha, que logo se torna atrevida, querendo provocar nele o mesmo que provoca em mim. Quando morde o meu lábio, eu juro que tenho vontade de abrir sua calça, subir meu vestido e “sentar”. Sentar muito.― Que boca deliciosa! ― são suas palavras após o beijo, enquanto me encara.Eu estou prestes a sorrir e dizer que a dele é ainda mais, quando vejo seu segurança na entrada segurando o balde de champanhe. Ele estava esperando. Quanto tempo estávamos nos beijando? Perdi total a noção.Envergonhada, por sei lá qual motivo, sento direito consertando meu vestido para cobrir um pouco mais das minhas pernas.O dono da minha falta de lucidez faz um sinal
WillowAtrás da cortina é meio que parecido com a frente do camarote. Só que há apenas um sofá, onde cabe uma pessoa deitada, e uma mesa de centro. Sei que cabe uma pessoa deitada porque me imagino deitada ali com esse homem por cima ― ou por baixo. Imaginar não quebra promessas.Ele se senta, me levando junto para o seu colo, e coloca a garrafa sobre a mesa.― Levante ― diz com tom de ordem.― O que? ― pergunto levantando.― Ficará mais à vontade assim ― responde me fazendo sentar de pernas abertas em seu colo.Meu vestido sobe todo. Tento puxar, mas não adianta muita coisa.― Era assim que eu queria te sentir, só que menos tensa ― fala com um sorriso canalha.― Não estou acostumada a fazer essas coisas com desconhecidos ― confesso.― Serei seu primeiro? Ótimo, adoro ser pioneiro.Não será o primeiro porra nenhuma!Só beijos. Willow, você fez uma promessa.Pego a garrafa de champanhe e bebo direto nela. O que faz ele perceber que eu realmente estou tensa. Cadê o efeito do álcool quan
WillowEu dizia que não podíamos transar, mas não parava de deixar ele me tocar, de tocá-lo, deixava ele ir cada vez mais longe.Logo que ele percebe que desvirginou uma desconhecida, fica imóvel dentro de mim.― Porra! Por que não me disse que era virgem? — cobra.Me desespero ao pensar em minha mãe e na possibilidade de ficar grávida desse homem.― Preservativo... Pelo menos tinha que ter colocado ― minhas palavras saem confusas, assim como eu estou.― Eu coloquei. Não viu? ― ele fala. ― Você tem vinte e dois mesmo?― Tenho — respondo simplesmente, envergonhada porque realmente não vi. — Desculpa por não dizer. É que... eu... eu... — tento virar o rosto novamente, mas ele não permite, segurando seu queixo. — Eu achei que não aconteceria.Ele ri.— Não ria de mim — resmungo brava. — Já me basta essa dor do inferno.Para minha surpresa, ele para de rir.― Parei. A primeira vez é dolorosa mesmo. Dizem que muito.― Dói mais do que pensei ― confesso.O que eu faço agora? Saio correndo?E
Willow Sentada nesse carro luxuoso, sem calcinha, suja do meu sangue e da porra dele, livre da sua hipnose, começo a me sentir uma prostituta descartada depois do sexo. Minha mente faz uma retrospectiva de tudo que aconteceu hoje.Droga, eu senti aquela coisa quente derramando dentro de mim, mas eram tantas sensações que nem consegui me concentrar. Sem contar a dor.Juro que nem vi a hora em que ele colocou o preservativo. O pior foi passar por aquelas pessoas imaginando que podem ter ouvido o meu grito quando fui literalmente rasgada pelo pau monstruoso daquele homem. Não, o pior foi ter quebrado a promessa. E de forma tão vulgar. Como pude levar aquilo até onde chegou? Na hora me pareceu tão urgente sentir aquele homem, tudo que ele me oferecia. Agora só me sinto fria e vazia, usada. E nem posso colocar a culpa nele. Eu deixei que fosse longe demais para parar. Ele não me obrigou a nada.Me perdoe, mamãe. Ele foi tão gentil enquanto me tinha. Não se preocupou só com ele, como já
WillowQuanto mais perto dos fins das aulas, mas agitado fica tudo. O colégio está uma loucura. Nem mesmo tive tempo de pensar no tal Alexandre, o homem misterioso da boate. Só a noite os sonhos eróticos com ele me faziam acordar de madrugada com tanto desejo que precisava me masturbar para conseguir voltar a dormir. Não entendo esse efeito todo quando foi uma primeira vez extremamente dolorosa.No dia seguinte a aventura na boate, Bia quis falar sobre me ver no camarote, mas desconversei. Ela aceitou bem. Não insistiu.Se passaram quinze dias daquela noite e ainda sonho com aquele homem. Só que no meu sonho o sexo não dói. É tanto prazer que às vezes tenho medo de estar fazendo barulho enquanto sonho. Só falta o pessoal da pensão achar que estou trazendo homens e transando no quarto. Às vezes me arrependo de não ter pego o telefone daquele homem. Quando o tesão falta me enlouquecer, me arrependo muito. Acabo resolvendo sozinha.Até sai com algumas colegas do trabalho para ver se conh