João CollinsO sol já se escondia no horizonte quando chegamos ao resort, a pouco mais de uma hora do hospital onde trabalho. Era um lugar tranquilo, cercado por montanhas e com um lago que refletia o céu alaranjado do final de tarde. Anna estava radiante, e Alexander corria de um lado para o outro, fascinado com as novidades do lugar. Eu me sentia aliviado de estar ali, finalmente longe das paredes brancas e da correria interminável do hospital. Por alguns momentos, tudo parecia perfeito.Passamos a manhã explorando o resort, entre mergulhos na piscina e brincadeiras na área de recreação infantil. Pela primeira vez em meses, pude aproveitar a presença da minha família sem a constante sombra das responsabilidades profissionais. No fim da tarde, exaustos, voltamos para o quarto. Anna e Alexander adormeceram rapidamente, e eu fiquei sentado na varanda, admirando o pôr do sol, sentindo um raro momento de paz.Meu celular vibrou em cima da mesa, quebrando o silêncio. Olhei para a tela e v
João CollinsJá fazia um mês desde o velório, e a dor continuava esmagadora. Cada dia parecia um borrão de horas que se arrastavam, sem propósito, sem direção. Eu acordava e ia dormir com o mesmo peso no peito, uma sensação constante de vazio que parecia impossível de preencher. A ausência de Anna e do nosso filho era uma ferida aberta, que doía a cada respiração. Meus pais e minha tia Helena vieram me visitar, e eu sabia que estavam preocupados, mas eu não tinha energia para tranquilizá-los. Era como se eu estivesse preso em um ciclo interminável de tristeza.Sentados na minha sala de estar, todos nós parecendo desconfortáveis, eles me observavam como se procurassem algo de João que já não estava mais lá. O silêncio era denso, interrompido apenas pelos ocasionais sons da cidade lá fora. Finalmente, Helena quebrou o silêncio com uma voz suave, mas firme. —João, nós entendemos o quanto isso tudo está sendo difícil, mas você não pode se entregar dessa forma.—ela disse, sua expressão er
Alexander Muller Estava sentado no consultório do diretor do hospital, as luzes fluorescentes lançando um brilho frio que combinava com a atmosfera da conversa. O diretor, um homem de meia-idade com óculos finos e uma expressão de cansaço, me observava do outro lado da mesa. Ele folheava alguns papéis, mas seu olhar estava fixo em mim, avaliando.— Alexander, eu entendo sua dedicação ao trabalho. Todos nós aqui reconhecemos o quanto você tem se esforçado, especialmente depois do que aconteceu. — Ele fez uma pausa, como se tentasse escolher as palavras certas. — Mas você não pode continuar assim. Trabalhando sem parar, cobrindo todos os plantões... você está se matando aos poucos.Eu me remexi na cadeira, sentindo o peso de suas palavras, mas ainda resistindo à ideia de desacelerar. Trabalhar era a única coisa que me mantinha longe dos pensamentos que me atormentavam.— Eu estou bem. Prefiro me manter ocupado — respondi, tentando parecer convincente.Ele suspirou, empurrando os óculos
Zara MillerA luz suave da manhã entrava pela janela da sala, refletindo nas plantas que decoravam o canto e criando um ambiente tranquilo, exatamente como eu gostava. Eu estava organizando algumas coisas na mesa quando ouvi a porta do apartamento se abrir e Stefan entrar. Ele largou as chaves no balcão e olhou para mim com aquela expressão típica de quem tinha algo importante para dizer.— Zara, preciso falar com você sobre um trabalho — começou, nem ao menos me dando tempo de dizer bom dia. Ele se jogou no sofá, o rosto mostrando uma mistura de cansaço e urgência.Suspirei, largando o que estava fazendo e me sentando na poltrona oposta a ele.— Stefan, já falamos sobre isso. Eu decidi tirar uma folga, lembra? Dois meses de férias, nada de reuniões, nada de novos clientes. Só eu e um tempo para descansar. — Cruzei os braços, tentando manter minha resolução.Ele assentiu, mas sua expressão não mudou.— Eu sei, eu sei. Você merece isso mais do que ninguém. Mas escuta, esse caso é difer
Zara Miller Dois dias se passaram em um piscar de olhos enquanto eu fazia as malas e me preparava para a viagem para Cambridge. Parte de mim ainda não sabia se realmente encontraria João, mas a esperança teimava em crescer. Eu me lembrava vagamente da casa da tia dele, onde João passava os verões, e também sabia o local onde ela trabalhava. Com um misto de ansiedade e nostalgia, embarquei no voo com a sensação de que algo importante estava prestes a acontecer.Assim que cheguei a Cambridge, fui direto para o hotel onde ficaria hospedada. A cidade estava exatamente como eu me lembrava das fotos que João costumava mostrar: encantadora, com suas construções antigas e ruas cheias de história. Depois de me instalar no quarto, decidi passar o primeiro dia apenas explorando a cidade, absorvendo cada detalhe e tentando encontrar alguma tranquilidade nas ruas movimentadas.Ao cair da noite, o cansaço começou a bater, e eu decidi descer para o bar do hotel para relaxar. Estava tranquila, toman
Zara Miller No dia seguinte, acordei com o som do despertador tocando suavemente ao lado da cama. Espreguicei-me, ainda sentindo o peso da conversa com Harry na noite anterior, mas rapidamente lembrei o motivo da minha viagem: encontrar João. Com um misto de ansiedade e nervosismo, me levantei, tomei um banho rápido e escolhi uma roupa simples, mas elegante, algo que combinasse com a atmosfera sofisticada de Cambridge.Ao descer para o saguão do hotel, peguei um táxi e pedi para ser levada ao endereço que era onde ficava a mansão de Helena e Joseph Collins. O motorista seguiu pelas ruas estreitas e arborizadas da cidade, e eu observava atentamente as paisagens familiares, tentando encontrar alguma tranquilidade enquanto minha mente voava em direções opostas. Será que João estaria lá? Será que ele se lembrava de mim como eu me lembrava dele?Ao chegar à imponente mansão dos Collins, respirei fundo e toquei a campainha. A porta se abriu quase imediatamente, revelando, um homem alto,
Zara Miller Minha empolgação era palpável enquanto aceitava o convite. Clark chamou o motorista, e seguimos juntos para a editora Collins. Durante o trajeto, conversamos sobre as histórias da família Collins, e ele me contou sobre como a editora foi criada pelo avô dele e como se tornou uma parte fundamental do legado da família.Assim que chegamos à editora, fiquei encantada. Clark, mesmo sendo o CEO, fez questão de me mostrar cada canto do lugar com entusiasmo, explicando cada detalhe. Vi paredes repletas de capas de livros, fotos antigas dos primeiros autores e uma equipe que parecia apaixonada pelo que fazia. Era um ambiente inspirador, e eu me senti grata por estar ali.— Aqui estão alguns dos nossos livros e uns brindes. — disse Clark, entregando-me uma sacola com vários livros e mimos da editora. Agradeci, sentindo um calor no peito por estar cercada de histórias que, de certa forma, faziam parte da vida de João.Depois da visita à editora, Clark me levou a um restaurante char
Zara Miller A Alemanha me recebeu com o clima cinzento e úmido de sempre, como se até o tempo estivesse alinhado com a incerteza e o aperto que eu sentia no peito. Eu estava determinada, mais do que nunca, a encontrar João. Com o nome do hospital em mãos, segui direto para lá, tentando manter a calma e o foco. Cada batida do meu coração parecia mais forte, como se me lembrasse da importância daquele momento. Tudo o que eu tinha era a esperança de que finalmente o reencontraria.Cheguei à recepção do hospital, o ar estéril e silencioso ao meu redor, enquanto enfermeiras e médicos passavam apressados. Fui até o balcão e, tentando soar confiante, perguntei:— Olá, estou procurando o doutor João Collins. Ele trabalha aqui?A recepcionista olhou para mim por um segundo, surpresa, antes de verificar o sistema.— Me desculpe, mas não temos nenhum doutor com esse nome aqui no hospital.Essas palavras caíram sobre mim como um balde de água fria. A pequena chama de esperança que eu carregava s