Capítulo: Segredos e Sintomas
Júlia
Um mês se passou desde aquela noite em que minha vida mudou para sempre. Desde que me casei com Mateus, meu mundo virou de cabeça para baixo. Eu me encontrava num emaranhado de emoções e obrigações que mal conseguia compreender. E agora, para complicar ainda mais, meu corpo começava a dar sinais de uma mudança que eu precisava desesperadamente esconder.
Os enjoos matinais foram os primeiros a aparecer. Acordava cedo para evitar que Mateus percebesse algo, correndo para o banheiro antes que ele acordasse. No começo, ele não notou. Estava sempre ocupado com os negócios da família, as reuniões secretas e os deveres que seu pai lhe impunha. Mas eu sabia que não poderia enganá-lo por muito tempo.
Minha mãe se mudou para a nossa casa logo após o casamento, como parte da tradição de unir as famílias. Sua presença era um misto de conforto e pressão. Ela observava cada movimento meu, procurando sinais de que eu estava me adaptando à nova vida. Ela sabia que não tinha sido fácil para mim, mas também esperava que eu cumprisse meu papel sem questionar.
— Júlia, você está bem? — perguntou minha mãe uma manhã, enquanto eu tentava disfarçar mais uma onda de náusea.
— Estou, mãe. Só estou um pouco cansada, a noite foi longa — menti, dando-lhe um sorriso fraco.
Eu não poderia contar a ela. Não agora. Não quando eu mesma ainda estava tentando processar o que estava acontecendo comigo. O único a quem confiei meu segredo foi ao meu segurança, Marco. Ele era mais do que um simples protetor. Para mim, ele era uma âncora, uma figura constante e confiável em meio ao caos.
Desde o primeiro dia, senti uma atração por ele que tentei esconder. Mas, naqueles momentos de fragilidade, ele era o único em quem eu podia confiar completamente. Marco notou as mudanças em mim antes mesmo que eu dissesse algo.
— Júlia, você não parece bem. Está pálida — disse ele, com preocupação nos olhos enquanto me ajudava a subir as escadas do jardim.
— Marco, preciso falar com você — sussurrei, segurando seu braço para me apoiar.
Ele me levou até um banco afastado, onde ninguém poderia nos ouvir. Lá, finalmente confessei o que estava acontecendo.
— Eu acho que estou grávida — disse, sentindo as lágrimas se formarem nos olhos. — Não conte a ninguém, por favor. Especialmente não ao Mateus ou à minha mãe.
Marco ficou em silêncio por um momento, processando a informação. Então, colocou a mão sobre a minha e disse com suavidade:
— Não se preocupe, Júlia. Seu segredo está seguro comigo. Vou cuidar de você e garantir que ninguém desconfie de nada até que você esteja pronta para contar.
Seu apoio era um alívio imenso. Eu sabia que ele estava arriscando muito ao me ajudar, mas também sabia que ele faria qualquer coisa para me proteger. A atração que sentia por ele só aumentava, mas eu sabia que não poderia deixar isso transparecer. Pelo bem de todos, precisava manter minhas emoções sob controle.
Os dias passavam devagar, e os sintomas da gravidez se tornavam mais difíceis de esconder. O cansaço me consumia, e eu tinha que inventar desculpas para evitar os olhares curiosos da minha mãe e dos empregados. Mateus, por sua vez, estava cada vez mais envolvido com os negócios da família, e seu pai exigia muito dele.
Em uma noite particularmente difícil, Mateus chegou em casa tarde, exausto e com uma expressão sombria no rosto. Eu estava na cozinha, preparando um chá para tentar aliviar a náusea, quando ele entrou.
— Boa noite, Júlia — disse ele, com um sorriso cansado.
— Boa noite, Mateus. Tudo bem? — perguntei, tentando esconder meu próprio desconforto.
— Apenas um dia difícil. Negócios de família — respondeu, sentando-se à mesa e passando as mãos pelo cabelo.
Eu queria perguntar mais, queria entender melhor o homem com quem me casei, mas sabia que certas coisas eram melhor deixadas de lado. Em vez disso, servi o chá e me sentei ao seu lado.
— Se precisar de algo, estou aqui — disse, tentando oferecer algum consolo.
Mateus olhou para mim, e por um momento, vi uma suavidade em seus olhos que raramente aparecia.
— Obrigado, Júlia. Eu sei que tudo isso não é fácil para você. Mas quero que saiba que estou tentando. Quero que seja feliz.
Suas palavras me surpreenderam. Por trás da fachada de durão, havia um homem que realmente se importava. E naquele momento, minha resolução se fortaleceu. Eu encontraria uma maneira de lidar com tudo isso, de proteger meu segredo até o momento certo. E, de alguma forma, faria de tudo para encontrar meu próprio caminho para a felicidade, mesmo em meio ao caos.
Será que conseguirei manter meu segredo e encontrar uma forma de viver minha própria vida em meio a tantas expectativas e pressões?
Capítulo 2: O Dever de um MafiosoMateusMinha vida nunca foi fácil. Cresci imerso em um mundo de violência e poder, onde a fraqueza não era tolerada e a lealdade era comprada com sangue. Como filho do capo, Francisco, fui treinado desde cedo para assumir responsabilidades que poucos poderiam imaginar. E agora, com o casamento, essas responsabilidades pareciam se multiplicar.Ainda me lembro daquele dia. O sangue ainda fresco em minhas mãos enquanto me preparava para conhecer minha noiva, Júlia. A expressão no rosto do homem que matei sob as ordens de meu pai ainda assombra meus sonhos. Mas isso era a vida que conhecia, o mundo que herdei. E agora, tinha que mostrar que era digno do legado que me foi deixado.Quando vi Júlia pela primeira vez, meu coração, acostumado a brutalidade, foi atingido por algo novo. Ela estava ali, uma visão de cabelos negros e olhos cheios de temor e tristeza. Ela era um anjo, puro e delicado, jogado no meio de nossa realidade sombria. Naquela noite, enquan
Capítulo 3: Segredos no JardimJúliaA noite parecia ser a única aliada em minha vida. O jardim se tornara meu refúgio, um lugar onde eu podia caminhar e tentar organizar meus pensamentos confusos. O luar iluminava as plantas exóticas que decoravam a propriedade, criando sombras dançantes que acompanhavam meu andar inquieto. O peso da responsabilidade e do segredo que carregava era quase insuportável, e cada dia que passava, minha preocupação com a gravidez se intensificava.Caminhava lentamente, sentindo o frescor da grama sob meus pés descalços. Cada passo parecia aliviar a pressão em minha mente, mas não podia ignorar os sintomas que começavam a se manifestar. Náuseas matinais, tonturas repentinas, uma sensação constante de cansaço. Estava grávida e precisava contar a alguém. Mas a quem? A Mateus? Não, não podia. Não ainda.Meu segurança era a única pessoa com quem eu podia compartilhar minhas angústias. Sabia que nutria por ele uma paixão proibida, algo que nunca poderia ser revel
Capítulo 4: No Labirinto de PalermoPalermo é uma cidade de contrastes violentos. As ruas estreitas e sinuosas do centro histórico parecem sussurrar segredos de um passado turbulento, com prédios de pedra que parecem erguer-se como sentinelas de uma era antiga. As sombras projetadas pelos prédios de arquitetura barroca e os mercados movimentados nas praças me lembram constantemente da linha tênue entre poder e fragilidade. É aqui que o poder se manifesta em cada esquina, onde a máfia molda o destino dos que vivem e morrem na cidade.Minhas responsabilidades vão além do óbvio. Tenho que manter o controle das operações e resolver disputas com precisão cirúrgica. As reuniões com meus homens são intensas, e hoje não foi exceção. Reunido com Luca, Marcello e Antonio, discuti os desafios em nossa jurisdição.Luca estava claramente irritado. Sua voz ressoava na sala pequena e enfumaçada.— Mateus, a situação está se deteriorando. A concorrência está se infiltrando nas nossas áreas. Precisamo
Capítulo 5: O Medo Que TransformaO som de vozes elevadas na sala ao lado me despertou de meu torpor noturno. Era tarde da noite, e a casa estava silenciosa, exceto pelo murmúrio intenso e preocupado que vinha do escritório do meu sogro. A curiosidade me impulsionou a me aproximar da porta, movendo-me em silêncio para não ser notada. Encostei-me à porta entreaberta, a respiração lenta e o coração acelerado.— O que você quer dizer com "Mateus desapareceu"? — a voz de meu sogro, Francisco, era uma mistura de raiva e desespero.— Não temos confirmação, mas os rumores são sólidos. Ele foi capturado por um dos Moretti, lá no Norte. — A voz de um dos homens de confiança de Francisco estava tensa, carregada de uma preocupação que eu nunca havia ouvido antes.Senti um frio intenso se espalhar pelo meu corpo. As palavras pareciam ecoar em minha mente, cada sílaba pesada como um golpe no estômago. Mateus havia sido sequestrado? O pânico tomou conta de mim, misturado com um sentimento de impotê
Capítulo 6: A Fuga SilenciosaO peso do silêncio na casa me fez sentir que cada parede estava me observando. Eu sabia que precisava partir antes que fosse tarde demais. Não tive coragem de me despedir de ninguém, principalmente de minha mãe. Ela estava tão envolvida com a sua própria agitação, com a vida que eu havia deixado para trás, que a ideia de dizer adeus parecia insuportável.Após me certificar de que tudo estava pronto, esperei o momento certo e, com a noite caindo, deixei a casa sem fazer barulho. Marco me esperava com o carro, e a cada passo que dava, meu coração batia mais rápido, pulsando com uma mistura de medo e alívio. A estrada à frente parecia interminável, mas eu não podia parar.Cheguei ao hotel em uma cidade distante, onde a familiaridade das ruas era substituída pela estranheza do novo ambiente. O edifício era discreto, mas confortável. Ao entrar no quarto, a solidão se fez presente de forma implacável. Eu não tinha Marco comigo e, embora soubesse que ele estava
Capítulo 7: Refugio e RevelaçõesA limusine deslizou silenciosamente pela estrada sinuosa que levava à casa de campo, e eu me permiti uma breve pausa para refletir sobre a última semana. O peso das últimas decisões estava ainda fresco na minha mente, e a realidade do que havia feito começava a se assentar com mais clareza.Quando meu sogro, Francisco, me encontrou em meu novo refúgio, o tom de sua voz era uma mistura de reprovação e alívio. Ele expressou sua desaprovação pela rapidez com que eu havia fugido, mas também parecia aliviado por eu ter tomado uma decisão tão drástica. O que ele não sabia era que minha fuga não foi apenas uma tentativa de escapar da situação imediata, mas também um esforço desesperado para proteger a mim mesma e ao bebê que ainda não havia revelado sua presença.Francisco entrou na limusine com uma expressão de autoridade e uma postura rígida que me fazia sentir como se estivesse constantemente sendo vigiada. Sua presença era imponente, e o silêncio que pair
Capítulo 8: O Capo AtacadoEstava a caminho de casa, com a mente imersa em pensamentos sobre como manter minha família e minha organização seguras. A viagem pelo centro da Itália, normalmente uma rotina tranquila, parecia estranhamente inquietante naquela tarde. Meu motorista, Lorenzo, um homem de confiança que esteve ao meu lado por anos, dirigia com a precisão de sempre, enquanto meus homens, atentos, mantinham a vigilância.A segurança era prioridade máxima. Em cada curva e em cada rua, meus olhos observavam os arredores, procurando qualquer sinal de perigo. Era uma vida de constante alerta, um fardo pesado, mas necessário. A tensão era quase palpável, mesmo que não houvesse uma ameaça visível.De repente, o silêncio foi quebrado pelo som ensurdecedor de explosões. O carro foi sacudido violentamente, e eu fui jogado para frente, meu corpo impactando o assento com força. Gritos de dor e surpresa ecoaram ao meu redor enquanto os veículos da escolta eram engolidos por chamas e destroç
Capítulo 9: Decisão ImpensadaA manhã estava incrivelmente silenciosa, um contraste absoluto com a tempestade de emoções que me assolava. Estava na sala de estar da casa de campo, tentando me distrair com a vista tranquila dos jardins, mas minha mente estava longe, perdida nas preocupações e incertezas. O telefone tocou, quebrando o silêncio e meu coração quase parou. Atendi rapidamente, sentindo uma onda de alívio e medo ao mesmo tempo.— Senhora Julia, temos notícias — disse um dos homens de confiança de Mateus. — O Capo Francisco foi libertado. Mas... precisamos falar sobre o motivo disso.O sangue deixou meu rosto. Francisco tinha sido libertado? Isso deveria ser uma boa notícia, mas o tom da voz do homem indicava que havia algo mais, algo muito sério.— Libertado? — perguntei, tentando manter a voz estável. — O que aconteceu?— Ele foi libertado pelo inimigo. Moretti. — O homem hesitou, claramente desconfortável. — O senhor Francisco não queria que a senhora soubesse, mas achamos