Capítulo 2: O Dever de um Mafioso
Mateus
Minha vida nunca foi fácil. Cresci imerso em um mundo de violência e poder, onde a fraqueza não era tolerada e a lealdade era comprada com sangue. Como filho do capo, Francisco, fui treinado desde cedo para assumir responsabilidades que poucos poderiam imaginar. E agora, com o casamento, essas responsabilidades pareciam se multiplicar.
Ainda me lembro daquele dia. O sangue ainda fresco em minhas mãos enquanto me preparava para conhecer minha noiva, Júlia. A expressão no rosto do homem que matei sob as ordens de meu pai ainda assombra meus sonhos. Mas isso era a vida que conhecia, o mundo que herdei. E agora, tinha que mostrar que era digno do legado que me foi deixado.
Quando vi Júlia pela primeira vez, meu coração, acostumado a brutalidade, foi atingido por algo novo. Ela estava ali, uma visão de cabelos negros e olhos cheios de temor e tristeza. Ela era um anjo, puro e delicado, jogado no meio de nossa realidade sombria. Naquela noite, enquanto me aproximava dela, fiz uma promessa silenciosa: não tomaria dela nada que não estivesse disposta a dar.
A noite de núpcias foi um rito necessário, uma demonstração de força e tradição. Mas para mim, foi mais do que isso. Apesar da obrigação, havia um desejo genuíno de protegê-la, de fazer com que aquele momento fosse o mais respeitoso possível, dadas as circunstâncias. A partir daquele momento, sabia que esperaria o tempo que fosse necessário para ganhar sua confiança, para mostrar que, apesar do mundo em que vivíamos, eu poderia ser um homem digno de seu amor.
Os dias que se seguiram foram preenchidos com a rotina impiedosa dos negócios da família. Reuniões intermináveis, confrontos violentos e a necessidade constante de estar um passo à frente dos nossos inimigos. Cada tarefa, cada missão, era um lembrete do peso que carregava como filho do capo. E a cada volta para casa, sujo de sangue e cansaço, encontrava um alívio momentâneo na visão de Júlia.
À noite, quando o silêncio finalmente caía sobre a propriedade, eu me encontrava observando-a de longe. Ela caminhava pelo jardim, seus cabelos escuros balançando ao vento, uma visão serena em contraste com a tempestade que era minha vida. Sabia que ela estava lutando com seus próprios demônios, tentando se ajustar a essa nova realidade. E, de alguma forma, queria aliviar essa carga para ela.
— Mateus, temos um problema — disse meu pai uma tarde, interrompendo meus pensamentos.
— O que houve? — perguntei, já esperando o pior.
— Um dos nossos homens foi capturado. Precisamos agir rápido antes que ele abra a boca.
A notícia era um lembrete brutal de que não havia espaço para erros ou fraqueza. A missão de resgatar nosso homem se desenrolou rapidamente, e mais uma vez, me vi mergulhado em sangue e violência. Cada golpe, cada disparo, era um passo a mais em direção à sobrevivência de nossa família, mas também um afastamento maior da paz que secretamente desejava.
Quando finalmente voltei para casa naquela noite, exausto e com o gosto amargo da morte nos lábios, procurei a visão reconfortante de Júlia. Encontrei-a no jardim, iluminada pela luz suave da lua. Ela levantou os olhos e me viu, sua expressão misturando alívio e preocupação.
— Mateus, você está bem? — perguntou, sua voz um sussurro que cortou a noite.
— Sim, estou — respondi, tentando esconder a exaustão. — Apenas um dia longo.
Aproximei-me dela, sentindo uma necessidade inexplicável de estar perto, de compartilhar um pouco da sua paz. Ela não sabia, mas sua presença era um farol na escuridão que eu chamava de vida.
Apesar das obrigações e das matanças, um pensamento constante me atormentava: a noite que passamos juntos. Sabia que nossos familiares estavam esperando o resultado daquela união. Mas para mim, havia algo mais em jogo. Queria que Júlia encontrasse felicidade, mesmo nesse mundo sombrio. E estava disposto a esperar o tempo que fosse necessário para que ela visse em mim algo mais do que um mafioso.
O tempo passava, e eu me perguntava: seria capaz de equilibrar o dever com a máfia e a promessa de felicidade para minha esposa?
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Meu pai, Francisco, era um homem duro, forjado pelas mesmas ruas que agora dominávamos. Ele me observava com olhos críticos, sempre avaliando se eu estava à altura da herança que ele moldara com sangue e sacrifício. Para ele, eu era tanto uma esperança quanto um risco — a continuação de seu legado, mas também uma variável incontrolável.
— Mateus, sente-se — disse ele, com um gesto brusco da mão.
Estávamos no escritório, cercados por paredes repletas de memórias e segredos. Eu sabia o que estava por vir. As operações recentes, os desafios que enfrentávamos, tudo precisava ser discutido.
— Os negócios estão prosperando, mas temos problemas no norte — ele começou, sem rodeios. — Os Moretti estão se expandindo. Precisamos dar um jeito nisso antes que se tornem uma ameaça maior.
— O que sugere, pai? — perguntei, já antecipando a resposta.
— Uma mensagem clara. Precisamos agir rápido e decisivamente. Você deve liderar a operação.
Assenti, entendendo a gravidade da situação. Era uma oportunidade para mostrar minha força, mas também um risco enorme. Qualquer erro poderia custar caro.
Naquela mesma noite, reuni meus homens — Luca, Marcello e Antonio — os melhores que tinha. Cada um deles confiava em mim, mas também sabia que suas vidas estavam em jogo a cada missão.
— Temos uma tarefa difícil pela frente — comecei, encarando cada um deles. — Os Moretti estão se expandindo e precisamos contê-los. Isso vai ser rápido e limpo. Entenderam?
— Entendido, chefe — responderam em uníssono.
Luca, o mais antigo do grupo, me olhou com uma mistura de respeito e cautela. Ele sabia que, apesar da minha idade, eu tinha a determinação e a crueldade necessárias para liderar.
— Mateus, qualquer plano específico? — perguntou Marcello, sempre o mais prático.
— Vamos atacar os armazéns deles. Derrubem tudo, mas mantenham os civis fora disso. Quero uma mensagem clara, mas não desnecessariamente sangrenta.
A missão se desenrolou como esperado, mas o peso das decisões e das vidas tiradas sempre me acompanhava. Cada golpe era uma lembrança do mundo em que eu vivia, um mundo que não perdoava fraqueza.
Depois da operação, voltei para casa. O sangue ainda manchava minhas mãos, e o cansaço estava começando a pesar. Encontrei Júlia no jardim, sua presença um bálsamo para a minha alma desgastada.
— Você está bem? — ela perguntou, seus olhos escuros refletindo preocupação genuína.
— Sim, só mais um dia longo — respondi, tentando não mostrar o quanto aquilo me afetava.
Nos dias seguintes, o cotidiano se misturava entre o dever e a presença reconfortante de Júlia. Sabia que a amava mais do que estava disposto a admitir, mesmo para mim mesmo. À noite, observava-a dormir, sua respiração tranquila contrastando com a tempestade que era minha vida.
Meu pai, entretanto, nunca deixava de me lembrar das responsabilidades. Em uma tarde, estávamos discutindo estratégias quando ele parou e me olhou profundamente.
— Mateus, você tem um coração, apesar de tudo. Não deixe que isso se torne uma fraqueza — ele disse, sua voz grave carregando uma mistura de conselho e aviso.
— Eu sei, pai. Mas também sei que preciso proteger o que é meu, de todas as formas possíveis.
— Boa. Isso é o que faz de você um verdadeiro líder. Mas lembre-se, este mundo não perdoa indulgências.
As palavras dele ficaram ecoando na minha mente. Sabia que estava preso entre dois mundos — o do dever e o do desejo de uma vida diferente, talvez mais pacífica. No entanto, a realidade era implacável.
Naquela noite, enquanto observava Júlia caminhar pelo jardim, pensei sobre o futuro. Estava disposto a fazer o que fosse necessário para protegê-la, mesmo que isso significasse continuar na espiral de violência e poder que minha vida se tornara.
O tempo passava e uma pergunta me atormentava: seria capaz de equilibrar o dever com a máfia e a promessa de felicidade para minha esposa?
Capítulo 3: Segredos no JardimJúliaA noite parecia ser a única aliada em minha vida. O jardim se tornara meu refúgio, um lugar onde eu podia caminhar e tentar organizar meus pensamentos confusos. O luar iluminava as plantas exóticas que decoravam a propriedade, criando sombras dançantes que acompanhavam meu andar inquieto. O peso da responsabilidade e do segredo que carregava era quase insuportável, e cada dia que passava, minha preocupação com a gravidez se intensificava.Caminhava lentamente, sentindo o frescor da grama sob meus pés descalços. Cada passo parecia aliviar a pressão em minha mente, mas não podia ignorar os sintomas que começavam a se manifestar. Náuseas matinais, tonturas repentinas, uma sensação constante de cansaço. Estava grávida e precisava contar a alguém. Mas a quem? A Mateus? Não, não podia. Não ainda.Meu segurança era a única pessoa com quem eu podia compartilhar minhas angústias. Sabia que nutria por ele uma paixão proibida, algo que nunca poderia ser revel
Capítulo 4: No Labirinto de PalermoPalermo é uma cidade de contrastes violentos. As ruas estreitas e sinuosas do centro histórico parecem sussurrar segredos de um passado turbulento, com prédios de pedra que parecem erguer-se como sentinelas de uma era antiga. As sombras projetadas pelos prédios de arquitetura barroca e os mercados movimentados nas praças me lembram constantemente da linha tênue entre poder e fragilidade. É aqui que o poder se manifesta em cada esquina, onde a máfia molda o destino dos que vivem e morrem na cidade.Minhas responsabilidades vão além do óbvio. Tenho que manter o controle das operações e resolver disputas com precisão cirúrgica. As reuniões com meus homens são intensas, e hoje não foi exceção. Reunido com Luca, Marcello e Antonio, discuti os desafios em nossa jurisdição.Luca estava claramente irritado. Sua voz ressoava na sala pequena e enfumaçada.— Mateus, a situação está se deteriorando. A concorrência está se infiltrando nas nossas áreas. Precisamo
Capítulo 5: O Medo Que TransformaO som de vozes elevadas na sala ao lado me despertou de meu torpor noturno. Era tarde da noite, e a casa estava silenciosa, exceto pelo murmúrio intenso e preocupado que vinha do escritório do meu sogro. A curiosidade me impulsionou a me aproximar da porta, movendo-me em silêncio para não ser notada. Encostei-me à porta entreaberta, a respiração lenta e o coração acelerado.— O que você quer dizer com "Mateus desapareceu"? — a voz de meu sogro, Francisco, era uma mistura de raiva e desespero.— Não temos confirmação, mas os rumores são sólidos. Ele foi capturado por um dos Moretti, lá no Norte. — A voz de um dos homens de confiança de Francisco estava tensa, carregada de uma preocupação que eu nunca havia ouvido antes.Senti um frio intenso se espalhar pelo meu corpo. As palavras pareciam ecoar em minha mente, cada sílaba pesada como um golpe no estômago. Mateus havia sido sequestrado? O pânico tomou conta de mim, misturado com um sentimento de impotê
Capítulo 6: A Fuga SilenciosaO peso do silêncio na casa me fez sentir que cada parede estava me observando. Eu sabia que precisava partir antes que fosse tarde demais. Não tive coragem de me despedir de ninguém, principalmente de minha mãe. Ela estava tão envolvida com a sua própria agitação, com a vida que eu havia deixado para trás, que a ideia de dizer adeus parecia insuportável.Após me certificar de que tudo estava pronto, esperei o momento certo e, com a noite caindo, deixei a casa sem fazer barulho. Marco me esperava com o carro, e a cada passo que dava, meu coração batia mais rápido, pulsando com uma mistura de medo e alívio. A estrada à frente parecia interminável, mas eu não podia parar.Cheguei ao hotel em uma cidade distante, onde a familiaridade das ruas era substituída pela estranheza do novo ambiente. O edifício era discreto, mas confortável. Ao entrar no quarto, a solidão se fez presente de forma implacável. Eu não tinha Marco comigo e, embora soubesse que ele estava
Capítulo 7: Refugio e RevelaçõesA limusine deslizou silenciosamente pela estrada sinuosa que levava à casa de campo, e eu me permiti uma breve pausa para refletir sobre a última semana. O peso das últimas decisões estava ainda fresco na minha mente, e a realidade do que havia feito começava a se assentar com mais clareza.Quando meu sogro, Francisco, me encontrou em meu novo refúgio, o tom de sua voz era uma mistura de reprovação e alívio. Ele expressou sua desaprovação pela rapidez com que eu havia fugido, mas também parecia aliviado por eu ter tomado uma decisão tão drástica. O que ele não sabia era que minha fuga não foi apenas uma tentativa de escapar da situação imediata, mas também um esforço desesperado para proteger a mim mesma e ao bebê que ainda não havia revelado sua presença.Francisco entrou na limusine com uma expressão de autoridade e uma postura rígida que me fazia sentir como se estivesse constantemente sendo vigiada. Sua presença era imponente, e o silêncio que pair
Capítulo 8: O Capo AtacadoEstava a caminho de casa, com a mente imersa em pensamentos sobre como manter minha família e minha organização seguras. A viagem pelo centro da Itália, normalmente uma rotina tranquila, parecia estranhamente inquietante naquela tarde. Meu motorista, Lorenzo, um homem de confiança que esteve ao meu lado por anos, dirigia com a precisão de sempre, enquanto meus homens, atentos, mantinham a vigilância.A segurança era prioridade máxima. Em cada curva e em cada rua, meus olhos observavam os arredores, procurando qualquer sinal de perigo. Era uma vida de constante alerta, um fardo pesado, mas necessário. A tensão era quase palpável, mesmo que não houvesse uma ameaça visível.De repente, o silêncio foi quebrado pelo som ensurdecedor de explosões. O carro foi sacudido violentamente, e eu fui jogado para frente, meu corpo impactando o assento com força. Gritos de dor e surpresa ecoaram ao meu redor enquanto os veículos da escolta eram engolidos por chamas e destroç
Capítulo 9: Decisão ImpensadaA manhã estava incrivelmente silenciosa, um contraste absoluto com a tempestade de emoções que me assolava. Estava na sala de estar da casa de campo, tentando me distrair com a vista tranquila dos jardins, mas minha mente estava longe, perdida nas preocupações e incertezas. O telefone tocou, quebrando o silêncio e meu coração quase parou. Atendi rapidamente, sentindo uma onda de alívio e medo ao mesmo tempo.— Senhora Julia, temos notícias — disse um dos homens de confiança de Mateus. — O Capo Francisco foi libertado. Mas... precisamos falar sobre o motivo disso.O sangue deixou meu rosto. Francisco tinha sido libertado? Isso deveria ser uma boa notícia, mas o tom da voz do homem indicava que havia algo mais, algo muito sério.— Libertado? — perguntei, tentando manter a voz estável. — O que aconteceu?— Ele foi libertado pelo inimigo. Moretti. — O homem hesitou, claramente desconfortável. — O senhor Francisco não queria que a senhora soubesse, mas achamos
Capítulo 10: Um Encontro InesperadoJúliaMinha vida havia se tornado uma montanha-russa de emoções e segredos. Desde a captura de Mateus, e as tentativas frustradas de me comunicar com o tal Moretti, eu tentava manter a normalidade, mesmo sabendo que minha gravidez estava se tornando cada vez mais evidente. Decidi sair para fazer compras no shopping, uma tentativa de esquecer a realidade por algumas horas.Enquanto andava pelas lojas, avistei uma loja de roupas infantis e, sem pensar duas vezes, entrei. Escolhi um pequeno pagão, imaginando o nosso bebê usando aquela roupinha. Estava prestes a pagar quando senti uma presença atrás de mim.— Senhora Julia, acho melhor irmos embora agora — sussurrou Marco, meu segurança, visivelmente tenso.Antes que pudesse responder, uma voz fria e sarcástica interrompeu.— Pagão, hein? Planejando algo que seu marido desconhece?Virei-me devagar, encarando um homem alto e elegante. Seus olhos carregavam um brilho malicioso que me fez gelar.— Quem é v