Capítulo 4: No Labirinto de Palermo
Palermo é uma cidade de contrastes violentos. As ruas estreitas e sinuosas do centro histórico parecem sussurrar segredos de um passado turbulento, com prédios de pedra que parecem erguer-se como sentinelas de uma era antiga. As sombras projetadas pelos prédios de arquitetura barroca e os mercados movimentados nas praças me lembram constantemente da linha tênue entre poder e fragilidade. É aqui que o poder se manifesta em cada esquina, onde a máfia molda o destino dos que vivem e morrem na cidade.
Minhas responsabilidades vão além do óbvio. Tenho que manter o controle das operações e resolver disputas com precisão cirúrgica. As reuniões com meus homens são intensas, e hoje não foi exceção. Reunido com Luca, Marcello e Antonio, discuti os desafios em nossa jurisdição.
Luca estava claramente irritado. Sua voz ressoava na sala pequena e enfumaçada.
— Mateus, a situação está se deteriorando. A concorrência está se infiltrando nas nossas áreas. Precisamos de uma ação decisiva.
Marcello, com seu olhar duro e calculista, acrescentou:
— Concordo com Luca. As últimas semanas foram um caos. Se não mostramos força agora, vamos perder a vantagem que temos.
— A fraqueza nunca foi uma opção. Se as coisas não melhorarem, estaremos no fundo do poço antes que possamos reagir. — Respondi, minha voz fria e firme. — Temos que enviar uma mensagem clara.
Antonio, sempre o mais pragmático, analisava a situação com um olhar imperturbável.
— E o que você sugere, Mateus? Aumentar a presença de nossos homens? Ou talvez intensificar a pressão sobre nossos rivais?
— Um pouco de ambos — falei, decidindo. — Devemos reforçar nossas patrulhas e também mostrar que não hesitamos em tomar medidas extremas. Vamos usar um exemplo para deixar claro que nossa tolerância tem limites.
Saí da reunião, o peso das responsabilidades ainda me pressionava. As ruas de Palermo, com suas fachadas imponentes e praças históricas, não ofereciam consolo. A noite estava fria e silenciosa, e a sensação de estar sendo observado nunca desapareceu.
Enquanto caminhava por uma rua deserta, com o som distante de passos ecoando nas paredes de pedra, uma sensação de alerta percorreu minha espinha. O ar estava pesado, e as sombras dos edifícios pareciam se esticar e encurtar à medida que eu passava.
Então, de repente, a sensação de uma coronhada esmagadora atingiu meu crânio. A dor foi imediata e implacável. Caí no chão, o mundo girando ao meu redor. Meu último pensamento consciente foi de Julia. A imagem dela, com seus cabelos escuros e olhos tristes, apareceu em minha mente. Era um pensamento breve, mas significativo, antes de tudo escurecer.
Acordei desorientado, sentindo um balançar irregular. Olhei ao redor e percebi que estava sendo transportado, amarrado e imóvel. O cheiro de um ambiente úmido e o som abafado indicavam que estava sendo levado para algum esconderijo. O medo e a incerteza se misturavam enquanto eu tentava processar o que estava acontecendo.
Enquanto a escuridão se fechava novamente, uma pergunta persistia em minha mente: Qual seria o preço real da traição e do poder em Palermo? O que me aguardava na escuridão do desconhecido?
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A consciência voltou a mim com um peso esmagador. Senti-me pendurado, amarrado de ponta cabeça, o sangue correndo para minha cabeça e os batimentos cardíacos acelerados. O frio cortante e a dor lancinante na barriga indicavam que os meus captores não haviam hesitado em me torturar. O cheiro forte de um lugar úmido e a luz fraca de uma lâmpada incerta foram os primeiros sinais de que minha situação era grave.
Uma sombra se aproximou. O rosto do homem era um borrão, mas seu tom de voz era inconfundível. Era um dos Moretti, um dos maiores rivais da minha família, o inimigo que operava no Norte. A brutalidade dos Moretti era famosa e temida em toda a Itália, e agora eu era um prisioneiro deles, pendurado e vulnerável.
— Olhe quem decidiu aparecer, o ilustre Mateus — a voz do Moretti soava como um sussurro gelado. Ele andava lentamente em minha direção, o som de seus passos ecoando na sala de pedra.
— Moretti... — minha voz estava rouca e fraquejante. — O que você quer de mim?
Ele se aproximou e puxou uma cadeira para se sentar de frente para mim, um sorriso cruel nos lábios.
— Não é exatamente um encontro social, Mateus. Estou aqui para me divertir um pouco. E você, meu caro, é a atração principal.
Ele fez um sinal e um dos homens atrás dele se aproximou, segurando uma faca pequena e afiada. Sentir a lâmina fria e o aço afiado se aproximando de minha pele fez meu corpo se tensionar involuntariamente.
— O que deseja? — perguntei, forçando-me a manter a voz firme apesar da dor. — Você sabe que minha família não negocia sob coerção.
Moretti riu, um som que era mais um rosnado do que uma risada.
— Ah, Mateus, sempre tão rígido. Sua família pode ser implacável, mas nós também sabemos como tratar com esses grandes senhores. Veja, este não é apenas um recado. É uma mensagem para seu pai. Eu ouvi que você tem uma esposa nova. Uma bela jovem, pelo que dizem.
O frio cortante no meu estômago aumentou com a menção de Julia. O desejo de protegê-la e garantir que ela estivesse segura foi uma força poderosa em meio à minha agonia.
— Não toque nela — forcei minhas palavras. — Ela não tem nada a ver com isso.
Moretti inclinou-se para frente, o sorriso malicioso ainda no rosto.
— Vamos, Mateus. Você realmente acha que pode barganhar? Estou aqui para mandar uma mensagem e você vai dar um exemplo de como lidamos com os adversários.
Ele fez um sinal e um soco desferido com força atingiu meu rosto, a dor explodindo na minha cabeça. O sangue escorreu dos meus lábios, misturando-se com a dor aguda na barriga. Cada golpe parecia durar uma eternidade, e a sensação de impotência era esmagadora.
— Agora, vamos ver se você tem algo mais a dizer antes que eu me canse de você — Moretti continuou, seu tom penetrante e frio.
Eu tentei ignorar a dor e focar em qualquer possível meio de escapar. A realidade estava começando a se esclarecer, e o medo se transformou em uma preocupação palpável. A partir das conversas e do ambiente, percebi que não estava mais na Itália. O lugar tinha o cheiro e a frieza de uma estrutura na Suíça, e a confirmação só veio quando um dos captores mencionou algo sobre “os Alpes”.
O desespero se instalou. Julia estava a centenas de quilômetros de distância, e eu estava longe de casa, preso e torturado. A sensação de que algo terrível poderia acontecer com ela enquanto eu estava aqui era quase insuportável.
A dor continuava a martelar minha mente, e a última coisa que pensei antes de desmaiar novamente foi a minha esposa, sozinha e desprotegida, em um mundo que se tornava cada vez mais hostil. Qual seria o preço que ela teria que pagar pela minha ausência? E o que aconteceria com minha família enquanto eu lutava para sobreviver neste inferno?
Capítulo 5: O Medo Que TransformaO som de vozes elevadas na sala ao lado me despertou de meu torpor noturno. Era tarde da noite, e a casa estava silenciosa, exceto pelo murmúrio intenso e preocupado que vinha do escritório do meu sogro. A curiosidade me impulsionou a me aproximar da porta, movendo-me em silêncio para não ser notada. Encostei-me à porta entreaberta, a respiração lenta e o coração acelerado.— O que você quer dizer com "Mateus desapareceu"? — a voz de meu sogro, Francisco, era uma mistura de raiva e desespero.— Não temos confirmação, mas os rumores são sólidos. Ele foi capturado por um dos Moretti, lá no Norte. — A voz de um dos homens de confiança de Francisco estava tensa, carregada de uma preocupação que eu nunca havia ouvido antes.Senti um frio intenso se espalhar pelo meu corpo. As palavras pareciam ecoar em minha mente, cada sílaba pesada como um golpe no estômago. Mateus havia sido sequestrado? O pânico tomou conta de mim, misturado com um sentimento de impotê
Capítulo 6: A Fuga SilenciosaO peso do silêncio na casa me fez sentir que cada parede estava me observando. Eu sabia que precisava partir antes que fosse tarde demais. Não tive coragem de me despedir de ninguém, principalmente de minha mãe. Ela estava tão envolvida com a sua própria agitação, com a vida que eu havia deixado para trás, que a ideia de dizer adeus parecia insuportável.Após me certificar de que tudo estava pronto, esperei o momento certo e, com a noite caindo, deixei a casa sem fazer barulho. Marco me esperava com o carro, e a cada passo que dava, meu coração batia mais rápido, pulsando com uma mistura de medo e alívio. A estrada à frente parecia interminável, mas eu não podia parar.Cheguei ao hotel em uma cidade distante, onde a familiaridade das ruas era substituída pela estranheza do novo ambiente. O edifício era discreto, mas confortável. Ao entrar no quarto, a solidão se fez presente de forma implacável. Eu não tinha Marco comigo e, embora soubesse que ele estava
Capítulo 7: Refugio e RevelaçõesA limusine deslizou silenciosamente pela estrada sinuosa que levava à casa de campo, e eu me permiti uma breve pausa para refletir sobre a última semana. O peso das últimas decisões estava ainda fresco na minha mente, e a realidade do que havia feito começava a se assentar com mais clareza.Quando meu sogro, Francisco, me encontrou em meu novo refúgio, o tom de sua voz era uma mistura de reprovação e alívio. Ele expressou sua desaprovação pela rapidez com que eu havia fugido, mas também parecia aliviado por eu ter tomado uma decisão tão drástica. O que ele não sabia era que minha fuga não foi apenas uma tentativa de escapar da situação imediata, mas também um esforço desesperado para proteger a mim mesma e ao bebê que ainda não havia revelado sua presença.Francisco entrou na limusine com uma expressão de autoridade e uma postura rígida que me fazia sentir como se estivesse constantemente sendo vigiada. Sua presença era imponente, e o silêncio que pair
Capítulo 8: O Capo AtacadoEstava a caminho de casa, com a mente imersa em pensamentos sobre como manter minha família e minha organização seguras. A viagem pelo centro da Itália, normalmente uma rotina tranquila, parecia estranhamente inquietante naquela tarde. Meu motorista, Lorenzo, um homem de confiança que esteve ao meu lado por anos, dirigia com a precisão de sempre, enquanto meus homens, atentos, mantinham a vigilância.A segurança era prioridade máxima. Em cada curva e em cada rua, meus olhos observavam os arredores, procurando qualquer sinal de perigo. Era uma vida de constante alerta, um fardo pesado, mas necessário. A tensão era quase palpável, mesmo que não houvesse uma ameaça visível.De repente, o silêncio foi quebrado pelo som ensurdecedor de explosões. O carro foi sacudido violentamente, e eu fui jogado para frente, meu corpo impactando o assento com força. Gritos de dor e surpresa ecoaram ao meu redor enquanto os veículos da escolta eram engolidos por chamas e destroç
Capítulo 9: Decisão ImpensadaA manhã estava incrivelmente silenciosa, um contraste absoluto com a tempestade de emoções que me assolava. Estava na sala de estar da casa de campo, tentando me distrair com a vista tranquila dos jardins, mas minha mente estava longe, perdida nas preocupações e incertezas. O telefone tocou, quebrando o silêncio e meu coração quase parou. Atendi rapidamente, sentindo uma onda de alívio e medo ao mesmo tempo.— Senhora Julia, temos notícias — disse um dos homens de confiança de Mateus. — O Capo Francisco foi libertado. Mas... precisamos falar sobre o motivo disso.O sangue deixou meu rosto. Francisco tinha sido libertado? Isso deveria ser uma boa notícia, mas o tom da voz do homem indicava que havia algo mais, algo muito sério.— Libertado? — perguntei, tentando manter a voz estável. — O que aconteceu?— Ele foi libertado pelo inimigo. Moretti. — O homem hesitou, claramente desconfortável. — O senhor Francisco não queria que a senhora soubesse, mas achamos
Capítulo 10: Um Encontro InesperadoJúliaMinha vida havia se tornado uma montanha-russa de emoções e segredos. Desde a captura de Mateus, e as tentativas frustradas de me comunicar com o tal Moretti, eu tentava manter a normalidade, mesmo sabendo que minha gravidez estava se tornando cada vez mais evidente. Decidi sair para fazer compras no shopping, uma tentativa de esquecer a realidade por algumas horas.Enquanto andava pelas lojas, avistei uma loja de roupas infantis e, sem pensar duas vezes, entrei. Escolhi um pequeno pagão, imaginando o nosso bebê usando aquela roupinha. Estava prestes a pagar quando senti uma presença atrás de mim.— Senhora Julia, acho melhor irmos embora agora — sussurrou Marco, meu segurança, visivelmente tenso.Antes que pudesse responder, uma voz fria e sarcástica interrompeu.— Pagão, hein? Planejando algo que seu marido desconhece?Virei-me devagar, encarando um homem alto e elegante. Seus olhos carregavam um brilho malicioso que me fez gelar.— Quem é v
Capítulo 11: A Jogada de MorettiMorettiO shopping estava lotado, um mar de rostos anônimos passando apressadamente de loja em loja. Meu olhar, porém, estava fixo em um alvo específico. Julia, a esposa de Mateus, estava comprando roupas de bebê. Um sorriso irônico se formou em meus lábios ao vê-la esconder a pequena peça de roupa em sua bolsa. A ironia do destino era inegável.Observava Julia de longe, vendo-a escolher um pagão. Quem diria que a esposa de Mateus estava grávida? Aproximar-me dela no shopping foi um movimento calculado. Precisava descobrir até que ponto ela sabia do que estava acontecendo.Aproximei-me silenciosamente, observando a tensão do homem de terno e gravata que a acompanhava sendo um servo fiel, aquela observância crescia cada vez que minha presença se fazia valer naquele antro. Ele olhou ao redor, procurando uma saída, mas eu já estava ali, bloqueando seu caminho.— Senhora Julia, acho melhor irmos embora agora — ouvi o segurança dela sussurrar.Aproveitei a
Capítulo 12: A Rendição de MorettiMorettiDepois do acordo, trouxe Mateus de volta para sua terra natal, a Itália.Os gemidos de dor de Mateus ecoavam pelas paredes do esconderijo subterrâneo em Palermo. Eu estava sentado em uma cadeira, observando-o com um sorriso cruel enquanto ele lutava contra as cordas que o imobilizavam. A cena era quase teatral: um mafioso endurecido, agora reduzido a uma pilha de fraqueza e sofrimento.— Olhe para você, Mateus — minha voz era uma mistura de ironia e desprezo. — Acha que ainda tem algum poder aqui?Mateus ergueu a cabeça, seus olhos inflamados de raiva e dor. Ele tentou gritar algo, mas a frustração apenas fez com que sua voz saísse como um sussurro impotente.— Recentemente, eu tive o prazer de encontrar sua esposa, Julia — continuei, minha expressão, uma máscara de falsa simpatia. — Ela estava passeando alegremente por uma loja, escolhendo roupas para o bebê.A expressão de Mateus mudou para um misto de confusão e raiva. Ele estava clarament