3. As Algas Mágicas

Era um lugar incomparável, de beleza indescritível. Algo que lembrava uma redoma no meio do mar, mas não era feita de ar e sim de fogo. Chamas esverdeadas com labaredas que lutavam contra as águas e o resultado era um jogo de luz, praticamente um arco-íris com centenas de tonalidades de cor.

A Rainha das Águas se aproximava das chamas e quando chegou bem próximo, parou. Começou a se despir até ficar completamente nua. Uma alga pousou em seu braço e a dor que a rainha sentiu foi enorme. Ela gritou tão alto que as ondas sonoras moveram a água. Uma infinidade de algas vieram instantaneamente e começaram a cobrir seu corpo. Cada toque lhe causava a sensação de que um pedaço de seu corpo era arrancado.

Parecia que o que ainda a mantinha em pé eram as próprias algas. Mas quando ela já estava toda coberta, como se um enxame de abelhas brilhantes a tivesse atacado, ela conseguiu, com um grande esforço, mexer seu pé para frente e caminhar alguns poucos passos em direção às chamas.

Ao entrar completamente no fogo uma grande explosão de luz aconteceu e as chamas se extinguiram, como se tivessem sido tragadas pela rainha. As algas agora respondiam aos seus comandos, aos seus movimentos. Ela, então, vestiu-se e, com um sinal, comandou as algas que a carregaram numa velocidade incrível até a entrada de seu Castelo, através de um jato de água.

O palácio tinha paredes brancas, azuis e transparentes, compostas por um material que parecia em constante movimento. Quando a Rainha se aproximou do portão, ele abriu um buraco no meio para que ela passasse e algumas goteiras não deixaram dúvida. Toda aquela construção magnífica e enorme era feita de água em constante movimento.

Pelos corredores onde passava, apenas algumas poucas guardiãs, vestindo maiôs, segurando espécies de lanças curtas que aparentemente eram feitas de pedra e na ponta uma das algas da rainha presa.

- Natane, não precisarei dos seus serviços mais hoje, pode ir descansar, avise as guardiãs do palácio que a noite é de folga. - Disse a Rainha ao se aproximar da porta de seus aposentos, se dirigindo a uma das guardiãs, provavelmente a líder delas, uma mulher muito alta, de quase dois metros de altura.

- Sim, minha Rainha, obrigada! - Respondeu a fiel guardiã, preocupada em deixar sua amada rainha sozinha, mas sem coragem de questionar suas ordens.

A Rainha tocou em sua porta e com movimentos suaves de suas mãos foi tirando as águas de seu caminho. A torre era protegida e apenas ela conseguia abrir aquela porta.

Se dirigiu a uma das paredes e apontou para ela. Uma das algas transformou a parede em uma tela líquida. A imagem de um homem apareceu.

- A Rainha tem novidades para mim? - Indagou calmamente o homem, um senhor de poucos cabelos grisalhos, com o rosto bem liso, olhos pequenos, queixo pontudo.

- Lorde Poseidon, os templos de fogo estão muito poderosos. Dessa vez consegui centenas, talvez milhares de algas, uma quantidade que nunca vi antes. - Respondeu a mulher, que não se dirigia ao Lorde como uma rainha. Falava em um tom bem sereno, não mais como antes, a cabeça levemente inclinada, evitando encarar a figura que se formava na tela.

- Excelente, Raquel, excelente! Isso significa que aquela garota é realmente quem nós esperávamos! Você sabe o que tem que fazer! Preste muita atenção! Qualquer falha pode colocar em jogo todo nosso plano e tirar de você todo seu poder. O nosso sucesso fará de você não só Rainha do Inferno das Águas, mas sim de toda uma galáxia de Mundos Aquáticos. Você terá poder para sair desse planeta e voltar, quando e como quiser, poderá alcançar o seu tão almejado nível 4.

- Meu Lorde, seguirei todas as suas ordens! - Respondeu a Rainha com um sorriso e pela primeira vez olhando nos olhos de Poseidon.

- Se fizer isso não se arrependerá! Não me decepcione, Raquel! Você tem o sangue dos Homens do Destino. Tem o poder para mudar as antigas profecias. Mas não se esqueça que mudar o que está escrito é como nadar contra uma forte correnteza. Você terá que ser muito forte! Conto com você, Raquel, espero que em breve venha até mim pessoalmente.

Os olhos da Rainha brilharam como estrelas. Ela se resplandeceu como provavelmente apenas em tempos remotos tenha feito igual, tempos onde sua ignorância ainda a permitia acreditar na felicidade. Ela era uma mulher de sonhos destruídos, de lutas banhadas de dor e sofrimento e de conquistas que nunca a fizeram alcançar a felicidade, algo que acreditava que não existia. Mas ali, naquele momento em que o Lorde Poseidon sumiu e a tela se desfez, por uns segundos seu semblante era de alguém que voltava a imaginar que ser feliz era possível.

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