Era um lugar incomparável, de beleza indescritível. Algo que lembrava uma redoma no meio do mar, mas não era feita de ar e sim de fogo. Chamas esverdeadas com labaredas que lutavam contra as águas e o resultado era um jogo de luz, praticamente um arco-íris com centenas de tonalidades de cor.
A Rainha das Águas se aproximava das chamas e quando chegou bem próximo, parou. Começou a se despir até ficar completamente nua. Uma alga pousou em seu braço e a dor que a rainha sentiu foi enorme. Ela gritou tão alto que as ondas sonoras moveram a água. Uma infinidade de algas vieram instantaneamente e começaram a cobrir seu corpo. Cada toque lhe causava a sensação de que um pedaço de seu corpo era arrancado.Parecia que o que ainda a mantinha em pé eram as próprias algas. Mas quando ela já estava toda coberta, como se um enxame de abelhas brilhantes a tivesse atacado, ela conseguiu, com um grande esforço, mexer seu pé para frente e caminhar alguns poucos passos em direção às chamas.Ao entrar completamente no fogo uma grande explosão de luz aconteceu e as chamas se extinguiram, como se tivessem sido tragadas pela rainha. As algas agora respondiam aos seus comandos, aos seus movimentos. Ela, então, vestiu-se e, com um sinal, comandou as algas que a carregaram numa velocidade incrível até a entrada de seu Castelo, através de um jato de água.O palácio tinha paredes brancas, azuis e transparentes, compostas por um material que parecia em constante movimento. Quando a Rainha se aproximou do portão, ele abriu um buraco no meio para que ela passasse e algumas goteiras não deixaram dúvida. Toda aquela construção magnífica e enorme era feita de água em constante movimento.Pelos corredores onde passava, apenas algumas poucas guardiãs, vestindo maiôs, segurando espécies de lanças curtas que aparentemente eram feitas de pedra e na ponta uma das algas da rainha presa.- Natane, não precisarei dos seus serviços mais hoje, pode ir descansar, avise as guardiãs do palácio que a noite é de folga. - Disse a Rainha ao se aproximar da porta de seus aposentos, se dirigindo a uma das guardiãs, provavelmente a líder delas, uma mulher muito alta, de quase dois metros de altura.- Sim, minha Rainha, obrigada! - Respondeu a fiel guardiã, preocupada em deixar sua amada rainha sozinha, mas sem coragem de questionar suas ordens.A Rainha tocou em sua porta e com movimentos suaves de suas mãos foi tirando as águas de seu caminho. A torre era protegida e apenas ela conseguia abrir aquela porta.Se dirigiu a uma das paredes e apontou para ela. Uma das algas transformou a parede em uma tela líquida. A imagem de um homem apareceu.- A Rainha tem novidades para mim? - Indagou calmamente o homem, um senhor de poucos cabelos grisalhos, com o rosto bem liso, olhos pequenos, queixo pontudo.- Lorde Poseidon, os templos de fogo estão muito poderosos. Dessa vez consegui centenas, talvez milhares de algas, uma quantidade que nunca vi antes. - Respondeu a mulher, que não se dirigia ao Lorde como uma rainha. Falava em um tom bem sereno, não mais como antes, a cabeça levemente inclinada, evitando encarar a figura que se formava na tela.- Excelente, Raquel, excelente! Isso significa que aquela garota é realmente quem nós esperávamos! Você sabe o que tem que fazer! Preste muita atenção! Qualquer falha pode colocar em jogo todo nosso plano e tirar de você todo seu poder. O nosso sucesso fará de você não só Rainha do Inferno das Águas, mas sim de toda uma galáxia de Mundos Aquáticos. Você terá poder para sair desse planeta e voltar, quando e como quiser, poderá alcançar o seu tão almejado nível 4.- Meu Lorde, seguirei todas as suas ordens! - Respondeu a Rainha com um sorriso e pela primeira vez olhando nos olhos de Poseidon.- Se fizer isso não se arrependerá! Não me decepcione, Raquel! Você tem o sangue dos Homens do Destino. Tem o poder para mudar as antigas profecias. Mas não se esqueça que mudar o que está escrito é como nadar contra uma forte correnteza. Você terá que ser muito forte! Conto com você, Raquel, espero que em breve venha até mim pessoalmente.Os olhos da Rainha brilharam como estrelas. Ela se resplandeceu como provavelmente apenas em tempos remotos tenha feito igual, tempos onde sua ignorância ainda a permitia acreditar na felicidade. Ela era uma mulher de sonhos destruídos, de lutas banhadas de dor e sofrimento e de conquistas que nunca a fizeram alcançar a felicidade, algo que acreditava que não existia. Mas ali, naquele momento em que o Lorde Poseidon sumiu e a tela se desfez, por uns segundos seu semblante era de alguém que voltava a imaginar que ser feliz era possível.- Precisamos levar a garota até a Rainha logo, Leiva! - Dizia uma mulher no meio do grupo. As outras guerreiras estavam contrariadas.- Leiva, eu vou! Já percebi que é a única saída! - Consegui dizer aquilo no meu momento de maior coragem e idiotice, até então. Leiva me olhou, sorriu pra mim, enquanto acariciava minha face e disse:- Certo, se vamos fazer isso, vamos pelo menos levá-la pelo centro da cidade até o castelo de água, pegamos a rota das quedas. Acredito que ela, junto da rainha, não terá mais uma oportunidade de aproveitar a nossa única diversão por aqui.- Rota das quedas? Ebaaa! Precisamos que mais condenadas apareçam por aqui mais vezes - disse uma das garotas que, até então, parecia tão tímida. Negra, rosto como se fosse de porcelana, quase uma boneca. Ela, imediatamente após o comentário, tomou um tapa atrás da cabeça de outra que estava ao seu lado, que fisicamente era o oposto desta: grande, forte, pele mais amarelada, cabelos escuros cortados na altura d
Não conseguia imaginar para onde eu poderia estar indo.No fundo daquelas águas, entradas que pareciam cavernas. Quando eu já não conseguia mais segurar a respiração, eu tentei puxar o ar e, mais uma surpresa, eu consegui respirar. Não me afoguei como antes. Mais algas foram se aproximando, se amontoando sobre mim e quando finalmente parei de ser sugada eu estava dentro de uma enorme gruta com milhões de algas brilhantes que pareciam fazer uma festa para minha chegada. A visão era como de um caçador de tesouros encontrando milhões de milhões de moedas de ouro em uma caverna gigante escondida.As algas foram me empurrando e me levaram perto de uma rocha, onde se juntaram e criaram um formato de trono. Outras também se juntaram e formaram uma imagem humana que resultaram num corpo brilhante. Duas vieram aos meus ouvidos e grudaram neles.- Agora você pode nos escutar, Salvadora! - Disse uma voz estridente. Eu me espantei, estava ouvindo as algas.- Eu acho que fiquei louca
As algas seguiam contra a forte correnteza das cachoeiras invertidas e pela primeira vez eu sentia que não podia me mover livremente. As águas batalhavam contra mim. Me impediam de continuar.- Lute, não com seu corpo, mas com sua mente. Ninguém pode fluir contra esse fluxo na base da força, muito menos revertê-lo, por mais poderoso que seja. Mas se você se concentrar, poderá passar por entre suas moléculas, fazendo com que ele desvie de você. É o primeiro passo para você conseguir controlar esse elemento. – Conseguia ouvir as algas falando comigo mesmo distantes e foi a primeira vez que percebi que as escutava não com os ouvidos, mas telepaticamente.No momento em que parei de lutar contra o fluxo de água, fui levada por ele, como um tronco de árvore despencando de uma cachoeira, mas permaneci calma. Como as algas ensinaram, tentei me concentrar, sentir a força e ao mesmo tempo a leveza como tocavam em minha pele. Era como se aquela matéria inanimada fosse alguém com sentimen
Seguimos para o Castelo da Rainha. Realmente as paisagens modeladas por água nas mais diferentes situações eram estonteantes, uma natureza que parecia inexplicável para os meus padrões de entendimento. Sinceramente, não me parecia um inferno, na verdade era algo visualmente bem distante do que minha imaginação estava acostumada a respeito de um submundo como eu acreditava que seria isso, após a morte. Quando pudemos avistar o Castelo, no horizonte, foi a coisa mais impressionante que eu já tinha visto de uma construção, toda feita de água em movimento. Como isso era possível? Passamos por uma ponte sobre um rio, com mais quedas d’água ao redor e avistamos um outro grupo de mulheres que vinham em nossa direção.Ao se aproximarem, a que estava a frente se dirigiu a Leiva:- Leiva, o que faz indo em direção ao Castelo? - Natane, se sua Rainha não disse a você sobre os negócios que tenho com ela, não serei eu quem direi. Aliás, se as guardiãs estão indo na direção contrári
Com minha fúria, consegui explodir longe todo líquido que estava à minha volta como um epicentro de um maremoto. O impulso dessa explosão me atirou alto e eu caí em algum lugar que eu não reconhecia. Uma penumbra me indicava que eu estava em outro lugar, completamente diferente. Ainda não tinha percebido nenhum local com pouca luz naquele planeta. Os dois Sóis mal eram percebidos, pareciam quase alinhados ao horizonte em diferentes direções. Olhando melhor eu pude perceber enormes construções em ruínas. Grandes sombras surgindo, deixando o cenário ainda mais escuro e assustador e um barulho de passos como que de enormes dinossauros não me pareceram animadores. O pensamento do que havia acontecido com Leiva e a Rainha e de como eu estava naquele lugar conseguiam ser mais fortes do que a expectativa a respeito do que vinha em minha direção. Eu continuava com Namos e ele me fazia entender que havíamos morrido.Fui agarrada por uma mão que logo se revelou de uma gigante, que me ergue
Um planeta inteiro e apenas eu, ali. Comecei a repetir as cenas do que tinha acontecido, em minha cabeça e me perguntava se minhas decisões haviam sido as mais acertadas. Passei a caminhar, vagar, sem rumo. Em algum momento, depois de não saber mais quantos dias se passaram, sem sequer ter a noção de tempo, que o dia e a noite talvez pudessem me dar ali, apenas me joguei na margem de um lago. Eu tentava conversar com Namos, mas nem o sentia mais em mim, era como se ele tivesse se escondido completamente. Procurei por algas, mas aparentemente todas elas haviam desaparecido no processo.Adormeci e o que aconteceu não dava pra eu distinguir se era um sonho ou realidade. Um homem alado simplesmente se materializou ao meu lado. Eu vi seus pés, primeiro, e em seguida, me virando, pude ver a sua silhueta, contra o Sol.- Emma, você não está nada bem. Levante-se, não vai querer que suas amigas a vejam assim quando eu trouxe-lás para cá, não é? - Dizia, uma voz masculina. Quanto tempo
Aquilo era absolutamente incrível. Todas estavam reunidas novamente. E salvas! As guerreiras começaram a contar detalhes desconexos, de tudo que aconteceu com elas. Eu acreditava que muito tempo tinha se passado, mas para elas passou muito mais. Elas experimentaram coisas completamente diferentes, situações que nunca imaginaram. Seus corpos, apesar de um pouco diferentes, mais adaptados a uma outra realidade, principalmente com o detalhe de uma pele mais espessa, de uma realidade gélida, também tinham a necessidade da alimentação. Algumas estavam com problemas que desenvolveram por conta do ar, que possuía gases tóxicos naquele planeta e ainda estavam abaladas por uma guerra na qual foram forçadas a participar. Apesar de machucadas ou doentes, nenhuma delas havia morrido. Nenhuma. Mesmo diante de alguns momentos separadas, se mantiveram unidas o máximo que conseguiram. Disseram que meu sacrifício as inspiraram a unirem-se. Criaram até um lema, uma frase que identificava-as como
O tempo foi passando e eu comecei a ficar um pouco preocupada. Não que fosse ruim ter tranquilidade, ter recursos, poder acompanhar a recuperação de todas as que se feriram. Mas, o fato era que eu tinha ficado com uma promessa de algo que eu não sabia o que era. As meninas começaram a perguntar o que deveriam fazer, se podiam voltar a tentar ter uma rotina, formar um lar, tentar viver. E eu não fazia a menor ideia do que responder pois a qualquer momento uma nova guerra poderia cair em suas cabeças. Na verdade, era o mais provável de acontecer. Incentivar que elas pudessem sonhar, fazer planos, me parecia injusto. Dizer não parecia ainda mais injusto. Fui pedindo um pouco mais de paciência, que ainda precisávamos cuidar umas das outras, mas praticamente não tínhamos mais o que esperar. Mesmo as que ainda estavam em recuperação já se sentiam plenamente capazes e dispostas. Achei que deveria desenvolver um plano. Criar uma espécie de treinamento. Mantê-las ativas. Chamei aquelas que c